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On this episode of Advances in Care , host Erin Welsh and Dr. Craig Smith, Chair of the Department of Surgery and Surgeon-in-Chief at NewYork-Presbyterian and Columbia discuss the highlights of Dr. Smith’s 40+ year career as a cardiac surgeon and how the culture of Columbia has been a catalyst for innovation in cardiac care. Dr. Smith describes the excitement of helping to pioneer the institution’s heart transplant program in the 1980s, when it was just one of only three hospitals in the country practicing heart transplantation. Dr. Smith also explains how a unique collaboration with Columbia’s cardiology team led to the first of several groundbreaking trials, called PARTNER (Placement of AoRTic TraNscatheteR Valve), which paved the way for a monumental treatment for aortic stenosis — the most common heart valve disease that is lethal if left untreated. During the trial, Dr. Smith worked closely with Dr. Martin B. Leon, Professor of Medicine at Columbia University Irving Medical Center and Chief Innovation Officer and the Director of the Cardiovascular Data Science Center for the Division of Cardiology. Their findings elevated TAVR, or transcatheter aortic valve replacement, to eventually become the gold-standard for aortic stenosis patients at all levels of illness severity and surgical risk. Today, an experienced team of specialists at Columbia treat TAVR patients with a combination of advancements including advanced replacement valve materials, three-dimensional and ECG imaging, and a personalized approach to cardiac care. Finally, Dr. Smith shares his thoughts on new frontiers of cardiac surgery, like the challenge of repairing the mitral and tricuspid valves, and the promising application of robotic surgery for complex, high-risk operations. He reflects on life after he retires from operating, and shares his observations of how NewYork-Presbyterian and Columbia have evolved in the decades since he began his residency. For more information visit nyp.org/Advances…
Pergunta Simples
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O Pergunta Simples é um podcast sobre comunicação. Sobre os dilemas da comunicação. Subscreva gratuitamente e ouça no seu telemóvel de forma automática: https://perguntasimples.com/subscrever/ Para todos os que querem aprender a comunicar melhor. Para si que quer aprender algo mais sobre quem pratica bem a arte de comunicar. Ouço pessoas falar do nosso mundo. De sociedade, política, economia, saúde e educação.
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×O conselho que sempre ouvimos foi: antes de falar, pense. Normalmente acompanhado de alguma história mais ou menos lendária de alguém que falou de mais, que disse o inconveniente ou que foi demasiado vocal para os ouvidos sensíveis da plateia. Esta edição é para todos os que tem capacidade de comunicar e vontade de pensar. De pensar bem. Neste caso da arte do pensamento crítico. Com José Maria Pimentel . Pensar bem é difícil. Mas alguém tem de o fazer. Até diria mais: todos temos de o fazer. O mundo está cada vez mais confuso. Somos bombardeados por informação constantemente, por todos os lados. Mas entre tanta notícia, opinião e ruído, há uma pergunta que vale a pena fazer: estamos a pensar bem? Estamos a tomar boas decisões? Estamos a ver o mundo como ele realmente é – ou apenas como queremos que ele seja? O nosso convidado de hoje dedica-se a responder precisamente a estas questões. José Maria Pimentel é economista, professor e autor do podcast 45 Graus , um espaço de reflexão onde tenta fazer o que as redes sociais e os debates televisivos raramente fazem: parar para pensar. Nesta conversa, falamos de pensamento crítico – essa coisa difícil, mas essencial, que nos obriga a questionar aquilo que sabemos e a forma como chegamos às nossas conclusões. Falamos de como a escola, sem querer, pode estar a treinar-nos para aceitar respostas fechadas, em vez de nos ensinar a pensar por nós próprios. Falamos das redes sociais e do efeito bolha, que nos leva a ouvir apenas quem confirma aquilo em que já acreditamos. E falamos, claro, de decisões. Porque pensar bem não é um exercício teórico. Na vida real, tomamos decisões todos os dias – algumas pequenas, outras enormes. Mas será que sabemos mesmo decidir? Será que conseguimos resistir à pressão, à pressa, ao ruído, ao ego? Será que conseguimos, de facto, ver a realidade como ela é – e não apenas como gostaríamos que fosse? José Maria Pimentel explica porque é que nem sempre o argumento mais sonante é o mais forte. Porque é que nem sempre o especialista tem razão – mas também porque é que confiar cegamente no primeiro influencer que nos aparece no feed pode ser um erro monumental. Falamos também da inteligência artificial. Vamos confiar nela para pensar por nós? Ou será que, ao automatizar tarefas, a IA nos está a deixar apenas com os problemas realmente difíceis, aqueles que nenhuma máquina pode resolver por nós? E, claro, falamos de podcasts. Do 45 Graus, um projeto que nasceu da necessidade de ter conversas mais pausadas, mais fundamentadas, menos apressadas. Um espaço onde a pressa dá lugar à profundidade e onde as perguntas são mais importantes do que as respostas fáceis. Se gosta de pensar – e de pensar bem – esta conversa é para si. No Pergunta Simples, exploramos os desafios da comunicação e do pensamento. Neste episódio, José Maria Pimentel ajuda-nos a perceber porque é tão fácil cairmos em armadilhas mentais e porque é tão difícil pensar de forma verdadeiramente crítica. Entre a lógica, a emoção e a desinformação, há um campo de batalha onde cada um de nós precisa de aprender a mover-se melhor. Falámos de argumentação, de vieses cognitivos, do impacto das redes sociais e da dificuldade em distinguir factos de narrativas. E falámos de decisões – essas escolhas que fazemos todos os dias, quase sempre sem tempo para refletir. Pensar bem é como comunicar bem: dá trabalho, mas será que podemos dar-nos ao luxo de não o fazer? LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO 0:13 Vivam bem vindos ao pergunta simples, o vosso podcast sobre comunicação. O conselho que sempre ouvimos foi, antes de falar, pensa normalmente acompanhado. De alguma história mais ou menos lendária? De alguém que falou de mais, que disse o inconveniente ou que foi demasiado vocal para os ouvidos sensíveis de uma plateia que tem, no fundo, o coração ao pé da boca? 0:36 Nesta edição, é para todos aqueles que têm capacidade de comunicar e vontade de pensar, de pensar bem. Neste caso, de aprender um pouco mais sobre a arte. Do pensamento crítico. 0:59 Pensar bem é difícil, mas alguém tem de o fazer a teatiria mais. Todos temos de o fazer. O mundo está cada vez mais confuso. Já o notaram? Somos todos bombardeados por informação a toda a hora, de todos os lados, mas entre tanta notícia, opinião e ruído. 1:16 Há uma pergunta que vale a pena fazer, estamos a pensar bem? Estamos a tomar boas decisões? Estamos a ver um mundo como ele realmente é ou apenas como queremos que ele seja? O nosso convidado de hoje dedica se a responder precisamente a estas questões. 1:31 José Maria Pimentel é economista, professor e autor de um podcast ou 45°, um espaço de reflexão onde tenta fazer o que as redes sociais e os debates na televisão raramente fazem. Parar para pensar nesta conversa, falamos do pensamento crítico, essa coisa difícil, mas essencial, que nos obriga a questionar sobre aquilo que sabemos e a forma como chegamos às nossas conclusões. 1:57 Falamos de como escola sem querer pode estar a treinar nos para aceitar respostas fechadas ao invés de nos ensinar a pensar pela nossa própria cabeça. Falamos das redes sociais, falamos do efeito da bolha que nos leva a ouvir apenas. Quem confirma aquilo em que já acreditamos? 2:14 E falamos, claro, de decisões, porque pensar bem não é só um exercício teórico na vida real, tomamos decisões todos os dias, algumas pequenas, outras gigantescas. Mas será que sabemos mesmo decidir? Será que conseguimos resistir à pressão, à pressa, ao ruído, ao ego? 2:32 Será que conseguimos, de facto, ver a realidade Como Ela É e não apenas? Como gostaríamos que fosse. O José Maria Pimentel explica porque é que nem sempre o argumento mais sonante é, afinal, mais forte, porque é que nem sempre o especialista tem razão ou mais razão na esfera pública, mas também porque confiar segmento no primeiro influencer que nos aparece no feed pode ser, afinal, um erro monumental. 2:57 Falamos também da inteligência artificial, vamos confiar nela para pensar por nós ou será que ao automatizar tarefas? A inteligência artificial nos está a deixar apenas com os problemas realmente difíceis aqueles que nenhuma máquina pode resolver por nós. 3:13 E, claro, falamos de podcasts. Afinal, isto foi uma conversa entre podcasts do 45°, um projeto que ele criou e que nasceu da necessidade de ter conversas mais pausadas, mais fundamentadas e menos apressadas. Um espaço onde apressa, dá lugar à profundidade e onde as perguntas são, afinal? 3:32 Mais importantes do que as respostas fáceis. Se gosta de pensar e de pensar bem, esta conversa é para si. José Maria Pimentel economista, professor, podcast autor tens passado a tua vida a tentar ensinar nos. 3:50 Como é que se pensa bem, como é que se pensa bem? A minha vida, pelo menos a vida é mais recente. E antiga. A antiga era a fazer o quê? O que é que? O que é que? A antiga eu eu sou economista, não é como disseste e trabalhei na banca durante muito tempo. Na banca, primeiro banca privada, ou seja, um banco, o banco comercial, e depois No No banco de Portugal, portanto no banco central. 4:09 Porque teve teve que ser ou porque me dava gozo? Não porque me dava gozo. Foi. Foi a minha carreira original e lá podia ter ficado. Podia ter seguido por aí. Mas depois eu sempre, eu sempre. Gostei de estar ligado à academia, portanto essa ligação já vem de muito de trás e depois lancei o 45° no final 2017 e depois esses 2 terrenos foram expandindo, depois foram se unindo e foram ficando maiores do que o outro. 4:35 E pronto. A certa altura tomei essa decisão, mas, mas, mas, enfim, mas, mas foi uma coisa que gostei de fazer durante muitos anos. Há uma coisa de que tu falas muito e eu e eu estava a falar a propósito do do do pensar, da maneira como nós, como nós, pensamos ou não pensamos que tem, que tem a ver com o pensamento crítico. 4:57 Todos tivemos aquela experiência Na Na Na escola, onde nós estamos no fundo, quase a ser educados como ovinhas que em princípio, se tu pensares a mesma coisa que os teus coleguinhas do lado. Até merecerás mais elogios do senhor professor, salvo alguns professores que são são muito especiais, mas esta coisa de ver o mundo de uma maneira diferente ou divergente é logo uma carga de trabalhos ou não. 5:23 Dá, dá muito mais trabalho, de facto. E o e o ensino, como tu estavas a dizer, a maior parte do ensino é feito para te de uma maneira que não te estimula exatamente o pensamento crítico e não é em parte. Isto é compreensível. 5:39 OOOO ensino basicamente está feito para te treinar a lidar com problemas fechados e não com problemas abertos. Quando eu digo problemas fechados é problemas que já tem uma solução e portanto, trata se de tu compreenderes a solução na melhor das hipóteses. Na pior das hipóteses, decorares a solução. 5:54 Portanto, existem aqui um conjunto de problemas que todos nós enfrentamos. Meus caros alunos, não se molestem muito a pensar soluções muito criativas, porque a. Resposta é esta. A resposta é esta, a matemática é esta, o primeiro rede de Portugal é aquele e a gramática é aquela, e, portanto, façam o favor de cumprir os objetivos. 6:11 Isso exato, sim, desde 3 bons exemplos. Por acaso e porque exatamente podemos? Isso aplica se a todo esse esse espectro? E no caso da matemática, até enfim, eu acho que até. De certa forma, até até uma disciplina que treina um tipo de criatividade, porque treina te a pensar e a resolver problemas. 6:31 Mas, por exemplo, na, no, no, no português ou na história, não é bem assim, não é? Tu aprendes que esta é a maneira correta de escrever ou esta é a maneira correta de seja de escrever a palavra, seja de de AA, gramática, Oo ou a sintaxe correta daquela frase, por exemplo. E na história é a mesma coisa, não é tu dizes, por exemplo, determinada, sei lá. 6:50 Imagina o 25 de abril aconteceu porque x ou as invasões francesas ocorreram porquê? Ou a revolução francesa ou o que quer que seja, e tu aprendes aquela resposta lá está, na pior das hipóteses, decoras aquela resposta e, passado uma semana, não te lembras. Na melhor das hipóteses, compreende se de facto aquela explicação, mas em nenhum momento estás a ser treinado para pensar por ti próprio quando não há uma explicação prévia, que são os problemas abertos. 7:14 Ou autarquia, porque eu estou a pensar, e que são já agora? Desculpa interromper, porque é que eles são relevantes, os problemas abertos? Porque são 99% da nossa vida prática. Porque as outras, os outros per se já estão resolvidos já. Os os. Quer dizer, quando é que tu hoje? Quando é que é o tu? Hoje em dia, lidamos com problemas fechados. Só se formos ou quem quer ser milionário ou ou o sucedâneo do por acaso é o joker? 7:30 Não é exatamente. Ou se formos a um programa desse. Género, a vida é aberta o. Resto da vida é aberto, não é? Sim. Pá, eu estava a. Pensar, eu não sou necessariamente o convidado certo para estar aqui foi foi a pessoa que tu escolheste? Não, não, mas sim, mas não, mas esse esse é o ponto, porque porque me me interessa percorrer essa essa ideia do do pensamento aberto e daquilo que nós queremos saber. 7:49 E lembro me sempre de uma de uma pequena história do meu filho quando era muito pequeno e em que a professora dele decidiu colocar uma à turma. Um problema clássico que é, estamos aqui a decidir uma visita de estudo x alunos querem ir ao oceanário outros x alunos querem ir, afinal, ver o futebol. 8:10 Como é que EE eles não não, não conseguem entrar em acordo? O que é que nós fazemos? Eu imagino que OOA finalidade do exercício era estimular esse debate e que a resposta certa fosse tornar aqui 11 diálogo entre eles. 8:25 Mas o Martinho e o meu filho simplificou radicalmente a coisa que é, se não estão de acordo, não vão. E isso não foi propriamente muito bem aceito. Lá está porque não não correspondeu à expectativa, ao padrão, à possibilidade. É um problema fechado que, afinal, não se pode abrir. 8:44 Não era um problema, talvez não fosse fechado, podia ser aberto, mas havia determinadas soluções como essa que não eram aceitáveis. Olha, como é que se pensa bem? Olha, eu vou tomar essa pergunta como equivalente a perguntares me, como é que se pensa criticamente, que no fundo eu acho que é? 9:04 Uma pergunta muito próxima a perguntar como é que se pensa bem, não é, pelo menos na minha definição de pensamento crítico, qual é a tua? Definição de pensamento crítico, podemos começar por aqui? Exatamente para simplificar muita coisa via visto. Podia se descascar em mais, em fatias mais pequenas. Mas para mim, há essencialmente 2 componentes de de pensamento crítico. 9:20 Nós podemos associar as 2 componentes da palavra pensamento e crítico. Podemos começar pela segunda, que é que eu acho que é a mais intuitiva. Pensar criticamente é sermos. Críticos e críticos a que é no sentido de sermos criteriosos de distinguir OOO que está certo, o que está errado, não necessariamente o que o dizer mal de tudo e críticos tanto para fora como para dentro, ou seja, críticos para fora, no sentido de não acreditar à primeira em algo que nos dizem numa coisa que vimos dizer na televisão, num é numa notícia que recebemos do telemóvel é algo que um amigo nos envia por WhatsApp, portanto, é. 9:54 É um ceticismo, um certo ceticismo. Exatamente, não, não tomar paticamente o que nos dizem. Mas também implica pensar, ser crítico, sermos críticos, connosco próprios. Oh diabo que é mais difícil. Isso é que é isso é mais difícil. Então, mas eu sou inteligente, o esperto. 10:10 OE, sou neutro, não é? Sou. EEE, quanto mais alto na escala social. Porque é que eu hei de duvidar da minha própria luminescência? Intelectual exato. Exato, então, EE. Essa é mais difícil, não é? Porque é muito difícil nós termos noção. 10:26 Dos, do, dos nossos vieses cognitivos, que são transversais à natureza humana, mas expressam se de maneira diferente a cada um de nós. É relativamente fácil. Vê Los nos outros, nem nós, não, não tanto. E é difícil. Por exemplo, imagina na política, nós temos noção dos preconceitos que trazemos para a discussão ou dos pressupostos valorativos dos valores que nós trazemos para uma discussão e que veio influenciar a conclusão que vamos chegar, não. 10:49 É, e isso irrita os outros logo à cabeça, independentemente, antes de qualquer argumentário. O que é que irrita aos outros? Desculpa. Esse, esse, esse pressuposto. Olha, lá está aquele tipo de direita. Olha, lá está aquele tipo de esquerda. Independentemente de nós colocarmos na mesa um primeiro argumento, eu já tenho um preconceito sobre o outro. 11:05 Eu? Já por isso é que eu dizia, é mais fácil nós termos um preconceito, é mais fácil nós avaliarmos a parcialidade se quisermos do outro lado do que em nós próprios. No outro, é fácil nós identificarmos isso. Por exemplo, o outro é o tipo de direita ou o tipo de esquerda, nós somos a pessoa imparcial, claro, não é, naturalmente não é, portanto, esta esta é uma componente, esta componente crítica, tanto para fora como para dentro, mas isto para mim não chega porque isto tem sobretudo a ver com atitude, não é uma questão de atitude, nós podemos treinar, mas tem tem a ver com atitude. 11:33 Para mim, há outra componente importante que tem que ver com o pensamento propriamente dito, com com a palavra pensamento, neste caso, No No termo pensamento crítico, e isso. É muito importante porque não basta nós termos esta atitude crítica ou criteriosa. Nós temos também que ter ferramentas para pensar bem, para conseguir ter um raciocínio lógico, para conseguir resolver problemas. 11:52 Lá está para conseguir ter uma abordagem, digamos, científica, no sentido lato à realidade, para explicar porque é que as coisas acontecem, tomar decisões de maneira de maneira racional. Nem isso aqui já estamos a entrar em algo mais difícil que demore mais tempo. 12:10 E que não é só uma questão de atitude, é algo que se aprende, não é? E que nós aprendemos, olha, com o sabendo mais, lendo mais, pondo nos áreas diferentes, porque aí já é uma coisa mais difícil. E o pensamento crítico era, na minha visão, é a combinação entre as 2 é quase entre esta, entre a primeira que é uma soft skill e a segunda que é uma hard skill e. 12:29 E então, nessa árvore que tu tens sobre o pensamento? Quais são as capelinhas que temos que percorrer? O que é que? Quais são os níveis? Quais são as estações que nós temos que ter para ir produzindo bons pensamentos? Isto não é um julgamento moral. 12:44 Presumo o bom ou o mau. Não, não é. É aqui. Bom é no sentido de. Válido. Válido EE válido, racional, no sentido de estar de acordo com com os nossos objetivos, mas também de ser. De corresponder à realidade não é não formar crenças que não correspondam ao estado do mundo, digamos assim. 13:05 Nós podíamos cortar AAOO peixe impostas de maneira diferente, não é? Podemos cortar na horizontal, podemos cortar na vertical, na diagonal. Há várias maneiras de organizar de do fundo as subcomponentes de pensamento crítico se quiseres para mim ou do bom pensamento, como tu dizias no início, eu no, No No meu curso de pensamento crítico, tu falavas no início, eu divido o em. 4 componentes, a primeira tem a ver com a primeira. 13:30 É a mais clássica de todas, tem a ver com argumentar bem, ou seja, temos um raciocínio argumentativo lógico. Espero que os programas de futebol, onde tudo se discute, não entre propriamente nessa. Categoria não entre lá muito não. Então, o que é que são? São mais exercícios retóricos do que há, há. 13:46 Há momentos em que há argumentos Fortes ou fracos, válidos ou inválidos, apesar de tudo, numa discussão, quantas vezes nós vemos que? Até parece que os argumentos mais sonantes são mais Fortes do que aqueles que aparentemente são válidos. 14:02 Como é que se prova a validade? Esse é o problema, não é? Sim, bom, isso é uma questão da da da filosofia, mas basicamente tem que ver com podemos dividir em 2 partes, uma tem que ver com as premissas do teu argumento. Já para para para explicar rapidamente. 14:19 Um argumento é basicamente composto por 2 peças, premissas e conclusões ou premissas e conclusão. Penso, logo existo. Exatamente, por exemplo, nesse caso, penso é a premissa e existe é a conclusão. Penso é a premissa. Logo deriva desta premissa à conclusão de que eu existo enfim, pelo menos Na Na, na, no, de acordo com OCD cartaxava. 14:40 Vai daí. Se as premissas estiverem levemente inquinadas, a conclusão pode sair uma desgraça ou fazermos um Salto quântico. É perante estas premissas, nós concluímos uma coisa. Que não tem nada a ver? Exato, justamente. O problema pode estar nas 2 coisas. 14:55 O problema pode estar ou ou dizer de outra forma para um argumento estar correto para nós podermos ser persuadidos por ele, tem que ter premissas aceitáveis, verdadeiras, no limite, mas pelo menos aceitáveis. E também tem de dar um Salto das premissas para a conclusão. 15:11 Que seja lógico. Portanto, o que tu dizias está correto. Não é? Acho que nestes tempos isto não se está a praticar muito, não é? Quer dizer, temos umas premissas que dão uns saltos quânticos para conclusões que são estranhas, ou conclusões baseadas em premissas que são falsas ou que ou que não são válidas. E é muito, sobretudo com a overdose de informação que nós temos. 15:28 O grande problema eu acho que está na que está nas premissas. Ou seja, não é que as pessoas pensem menos logicamente hoje do que no passado. Também não pensam mais, mas não pensam. Não acho que pensem menos o problema. É que há tanta informação que é difícil perceber em que é que nós podemos confiar, seja se se esta informação está certa ou errada, ou verdadeira, ou falsa, seja se seja qual é a informação relevante para a conclusão que eu, que eu que eu quero tomar quando há informação conflituante? 15:54 Mas olha quando quando nós temos problemas complexos, com muitos argumentos e com muitas ideias e muita informação. Torna se muito difícil separar o trigo do joio. Torna se bastante difícil, por isso é que por isso é que por isso é que isto é um jogo, quer dizer, é um desafio que nunca, nunca acaba. 16:12 Não, porque eu estou a pensar e quer dizer, e estou, estou a pensar é quê? Quantas vezes nós temos especialistas em coisas que nós estamos a ouvir e que, em princípio, nós devemos validar, como a pessoa que sabe daquilo, o padeiro sabe de pão, um médico de medicina. 16:28 Mas ao mesmo tempo, parecemos estar AA validar que o vendedor da banha da cobra, aquele que bem fala sobre um tema EEE, bem articula e argumenta, parece às vezes que que vale mais do que do que quem sabe sobre a coisa. Há uma desconfiança sobre. 16:44 O sábio do saber e ao mesmo tempo uma compra do do velho gaiteiro, que conta a história mágica e que vende AA banha da cobra. Sim, eu. A minha intuição é que há aí há aí mais do que uma causa. Uma é que há uma diferença entre argumentação e retórica. 17:02 Ou. Seja AA argumentação, tem que ver com a lógica do raciocínio. Tem que sempre ter uma lógica. Sim, tem que ver com a qualidade das premissas e com a lógica. Com aqui, quando se fala da lógica, é a ligação entre as premissas e a conclusão se é a lógica ou não é lógica. Mas isto não é a única maneira de perfudir. Há outras maneiras, por exemplo, a retórica. 17:18 E a retórica tem a ver com a maneira como tu falas as palavras, que escolhes que sentimentos é que quer dizer como claro, tu és, a que sentimentos é que é que geram do outro lado as palavras que tu escolhes. E a retórica pode ser muito mais eficaz do que do que a argumentação pensa. Por exemplo, EE pode ser usada para bem ou para mal. 17:35 Pensa, por exemplo, no pá, nos discursos mais marcantes da história do Martin Luther King, por exemplo. Aquilo é muito mais um exercício de retórica do que um exercício argumentativo, embora também seja um exercício argumentativo e, portanto, há ali 111 argumento de base por trás, no qual nós hoje nos revemos. 17:52 É uma filosofia política que está ali. Há ali, há exatamente há uma filosofia. Portanto. Um metaargumento se quiseres, mas há sobretudo um exercício retórico. Eu tenho um sonho. Exatamente. É isso que nos fica na cabeça. Ele é a. Repetição, eu tenho um sonho. Eu tenho um sonho. É um exercício, é um. 11 enfim, um truque retórico, diríamos, truque parece uma coisa negativa, mas é um é um. 18:10 É um artifício pediante, exatamente. 11 artifício retórico e, portanto, essa é uma. Eu acho que essa é uma das razões pelas quais muitas vezes os especialistas não são confiados porque têm uma maneira mais seca de falar. Por outro lado, nós vivemos numa altura também em que há cada vez menos confiança na informação, cada vez menos confiança nas. 18:31 Instituições nas Fontes de autoridade, digamos assim, clássicas e, portanto, Ah, sim, é um. Problema, às vezes ser. Especialista joga contra time. Hum, então, mas espera lá. Mas aquilo que nós, quando na nossa vida vou sair de casa, preciso saber se vai chover ou não. 18:49 Em princípio, um meteorologista vai me oferecer. Um bocadinho mais de boa informação do que propriamente o entertainer que está na televisão a contar me uma história. Se eu me doer um pé, se calhar dá me jeito ir ir ir a um médico. E o que tu estás a dizer, e que eu eu também sinto é que, em princípio, há uma espécie de ceticismo venenoso em relação à à referenciais que até agora nós considerávamos como confiáveis se quisermos ir de uma forma muito básica. 19:21 O padre, o médico, o jornalista OOOO. Cientista. O cientista e o político pronto, vamos aqui escolher estes 5, arriscando, arriscando qualquer coisa, mas que em princípio a coisa é sempre é pá, conversa da treta. 19:39 Lá me estão a dizer esta coisa que não diz nada com a minha verdade. Eles não sabem de que é que estão a falar e em princípio e eu não confio neles. É um descrédito. É. É, há uma confiança menor, claramente, em todas essas entidades que tu referiste. 19:55 Os políticos provavelmente já não partiam com grande confiança de início. Na base? Na base não é, mas, mas ainda tem, ainda tem menos e é um fenómeno engraçado. Eu acho que tem, enfim, a minha explicação que não é não é propriamente original minha, em que isto tem muito que ver com as modificações que houve na paisagem informativa EE. 20:16 Porque é que nos aconteceu? Esse tipo de desconfiança sempre existiu, já agora não. Ou seja, os em relação às políticas, é fácil ver. Mas em relação a todas as profissões, sempre houve algum tipo de desconfiança? Será em relação ao médico? Sempre houve pessoas que iam a terapias alternativas em relação à meteorologia que tu dizias há pouco. Sim, provo aquela coisa do eu não preciso de ver a meteorologia que erra sempre eu olho. 20:35 Para o céu, eu? Olho para o céu ou quando me dói, os ossos ou qualquer coisa, não é? Ou seja, isso. Está me aqui o joelho vai chover? Exatamente, sempre. Isso sempre existiu. Ou ou aquela senhora da minha aldeia previa ou previa o tempo sempre impecavelmente. Portanto, essa a desconfiança em relação à autoridade faz parte da natureza humana e é saudável, porque senão porque a autoridade representa poder, não é e portanto, nós estamos. 20:54 Nós somos um bocado refratários em relação a. Há alguém que possa ter poder sobre nós? Um certo ascendente, não é. Há uma. Espécie de contrapoder é o que tu estás. Há uma reação nossa, nós, seres humanos, temos esta, este instinto de reagir à à, à, à autoridade. 21:12 Eu acho que temos. Aliás, temos as 2 coisas. Temos, por um lado uma certa tendência para venerar a autoridade e, por outro lado, também reagimos em relação. AAAA como é que hei de dizer depositar nos outros essa autoridade, porque isso no fundo é uma fonte de poder. Mas isto é o isto é o pano de fundo, isto sempre existiu. 21:28 O que é que aconteceu? Entretanto, aconteceu que com a internet e sobretudo com as redes sociais, tu passaste a receber. Acho que aconteceu 2 coisas ao mesmo tempo. Primeiro, os erros destas Fontes de autoridade foram postos a nu. O rei vai nu? Eu não digo que o rei vai nu, não acho que o rei vai nu, mas digamos que o rei é menos vestido do que se achava. 21:48 E hoje em dia nós percebemos isso. E percebemos isso até de certa forma, provavelmente com algum exagero. Ou seja, parece nos que o rei vai menos vestido ainda do que vai. Ou seja, parece que que estas instituições erram ainda mais do que erram Na Na realidade, porque os erros dão muito nas vistas. Até porque depois nós também não conseguimos lidar bem com esta ideia da incerteza e, portanto, perguntar ao sábio qual é a solução para isto tudo e obter do outro lado um olhe que eu ainda não sei ou não sei bem, é uma coisa que nos desampara. 22:16 EE ver, o sábio. Errar, não é que nós assumimos como, sei lá, pensa nos médicos, não é. Quer dizer, o. A culpa é tua? Não. Muita gente tem uma relação com com os médicos, de achar que eles são basicamente infalíveis quando são seres humanos. Como é óbvio, não é EAEAEA noção de que um médico pode errar ou um determinado especialista pode errar. 22:34 Pode ser uma coisa que deita completamente a baixa confiança das pessoas. Portanto, nós, por um lado, endeusamos aqueles que são depositários da nossa confiança. E, por outro lado, desconfiamos levemente deles ou fazemos como os tubarões. 22:52 E quando achamos que aquilo não está a funcionar, os políticos é um bom exemplo. Então o nosso efeito é um efeito que cobra mais, mais, mais caro. EEE eu? E esse ponto é que tu tocaste é interessante porque tu dizias. Nós ainda usamos aqueles que merecem a nossa confiança e, de facto, nós nós temos essa tensão, como eu dizia há pouco. 23:11 E o que tu vês hoje em dia é uma transferência dessa confiança para. Outras pessoas, outras entidades, o que quer que seja, porquê? Porque as redes sociais também permitiram ao ao desintermediar a circulação de informação. Todos podemos dizer tudo a todo o momento, todos. 23:26 Podemos dizer tudo e chegar a qualquer pessoa, não é? E, portanto, de repente, tu, por exemplo, para falar do dos jornais, que é um que é um caso eu acho muito evidente hoje em dia tu deixas de seguir Oo jornal que seguias ou a televisão e vais passar a seguir as opiniões da pessoa x. Que segues no Twitter ou da página y que tu segues noutra rede social qualquer ou de um podcast, por exemplo, sem qualquer curadoria, sem qualquer sim, enfim, com curadoria, mas mas com uma mais limitada sim e quer dizer, com com depende. 23:56 Isso é um tema engraçado, por acaso, porque para para muitas pessoas eu ouço dizer 2 coisas contraditórias entre si, com muita gente, com o que eu falo, sobretudo ligada, ligada ou ligada aos média ou pessoas que se habituaram. Quer dizer que foram socializadas num ambiente de muito de consumo de jornais e de e de televisão, embora as pessoas possam ser críticas em relação a muitas coisas que os jornais e os jornalistas fazem, é completamente inconcebível que alguém vá substituir um jornal de referência por uma pessoa mais ou menos aleatória que a pessoa segue nas redes sociais. 24:28 É, é, é concebível exatamente pelo que tu dizias quer dizer, a preparação, os standards de exigência não tem nada a ver e, portanto, por muito que o primeiro possa errar. É completamente inconcebível e substituí lo e substituí lo pelo pelo segundo. E no e numa redação, por exemplo, há uma árvore não só hierárquica, mas também interpares e, portanto, em princípio, há ali logo um malhar no ferro para para que as coisas. 24:50 Não é só uma pessoa, exatamente. Já ali, qual e quer dizer então? EE, portanto, há. Há um controlo interpares, há os provedores, há, há uma. Reputação para manter ao longo do tempo, et cetera, mas depois há outras pessoas com quem tu falas. Eu não sei se tu, enquanto jornalista, talvez estejas um pouco protegido dessa experiência, mas mas imagino que já tenha acontecido. 25:09 Há pessoas com quem tu falas e, dizem, têm uma perspetiva completamente oposta. E qual é o pressuposto de que eles em que é que eles acreditam? Eles acham que os jornalistas não só não têm lhes falta, em muitos casos, de capacidade para compreender determinado tema, enquanto há outras pessoas online que compreendem esse tema, como em muitos casos têm uma determinada agenda, estão comprados. 25:28 Etcétera etcétera e mas aqui, ao contrário que é. Estão a manipular a realidade. Estão a manipular a realidade. Eu não, jamais. Quer dizer, não faz qualquer sentido eu eu confiar no que me aparece na televisão ou no ou no que eu leio nos jornais, porque estes tipos não só são ineptos como estão comprados. E portanto, eu vou é obter informação de pessoas em quem eu confio online e que eu próprio escolho, não é? 25:48 Tenho essa Liberdade de escolher, no fundo, fazer quase a minha curadoria própria e escolher pessoas que não só na minha opinião, são mais isentas. Como sabem mais do assunto do que é que, do que aqueles, do que aqueles tipos estão a falar na televisão? E depois entra aí uma coisinha que é se sou eu a escolher e se são personalidades e não no fundo estruturas mais ou menos institucionais, e eu tendo a escolher uns amarelos que pensam amarelo como eu, ou uns vermelhos com pensam vermelho como obviamente estas pessoas estão a pensar muito bem. 26:17 E então vou segui las porque a maneira como estas pessoas me estão a contar a realidade. Como evidente, faz mais sentido do que o raio dos jornalistas vendidos e por aí fora, como tu estavas a dizer. Excelente ponto. Exatamente porque isso isso é 11. Isso é uma, digamos, uma contradição deste, desta ala. 26:34 Enfim, não, não será verdade para toda a gente, mas mas para muita gente. Esta esta segunda aula que eu falava, ou seja, antissistema, digamos assim, é que Oo que seria racional se aquela premissa estivesse correta, ou seja, se de facto os jornalistas fossem ineptas estivessem compradas. E eu fizesse a minha própria curadoria, o que seria normal é que eu fizesse essa curadoria do ponto de vista ideológico, diversificada. 26:56 Com o mesmo filtro. Com com exatamente eu. Não sei melhor ou melhor. Eu não sei se tu tens esse incertíssimo, mas eu eu gosto muito de mesmo nas redes sociais, Na Na imprensa, de ir ler e ouvir. Pessoas que pensam diantralmente o posto que eu, que eu penso eu, eu, eu gosto desse exercício, eu, eu gosto de me de me irritar com olha o que é que ele está a pensar? 27:16 Ele pensa exatamente ao contrário, que tem valores que são completamente contrários aos meus. Defendo coisas que eu que eu não defendo e eu digo assim não, mas este é um bom exercício para mim, para eu me confrontar lá está com com, com as possibilidades, com a paleta inteira das cores. Escolher só amarelos é muito aborrecido. 27:32 Sim, é aborrecido, mas é. Mas está bem, não é? EE é o que é. E é o que a maior parte das pessoas acaba por fazer, não é porque que é que é uma contradição. Se o objetivo era ter melhor tu, tu tenderias a ir, diversificar. Mas a maior parte das pessoas não tende a fazer isso, não é? 27:48 Ou seja, tende a ver o amarelo como tu dizias, não é? E eu percebo porquê, até certo ponto, atenção, porque se tu tu dizes isso, eu também tenho esse gosto por porque é uma das coisas que precisamente que estimula o pensamento crítico a nós, contactarmos com com perspetivas diferentes sobre o mesmo tema, mas isso era mais. 28:06 Fácil de fazer no paradigma anterior, porque hoje nós somos bombardeados com tanta informação e com visões opostas e tão contraditórias. Afogamo nos. E temos a nossa vida. Quer dizer, temos a nossa, temos Oo. Digamos que a maior parte de nós não é não vive uma vida diletante em que se possa dedicar simplesmente a pensar sobre estes temas e andar a ler jornais. 28:24 E isso é tão torna se tão ruidoso que é muito desconfortável e portanto, é muito tentador nós. Procurarmos alguma ordem e procurarmos pessoas que tenham um pensamento mais ou menos univo, que é mais ou menos direcionado. As coisas que eu que eu li sobre a propósito das notícias falsas ou ou que estão completamente inquinadas, aquele velho comentário que é, mas porque é que isto que eu estou aqui a ler, ler nas redes sociais é mentira. 28:52 Se eu penso, isto não quer dizer que é. Não tem a ver com a realidade, tem a ver com a perspetiva que que alguém tem sobre sobre aquela matéria. Sim. Olha, uma das coisas nós já falamos da questão do do argumentar, o argumentar com lógica. Seres humanos e emocionais para lá. Temos aqui 11 risco. 29:07 A segunda é desvendar a causa das coisas. Já, já lá diria, Oo Miguel Esteves Cardoso, descobrir a causa das coisas, ir ao fundo da da questão, como é que é? Como é que se mergulha aqui? Deixa me ir à pergunta, uma pergunta que tu fizeste há um bocadinho e que tu, tu tu perguntavas me, porque é que era? 29:22 Tão difícil as pessoas entenderem se no fundo era um pouco isso e depois nós. Porque sabes se tu tu respondes de forma organizada e em caixinhas, e eu sou aqui, o anarca de Cristo é só. É que não eu. Eu digo voltar a essa pergunta porque liga liga ao ponto que tu fizeste agora, não é? Nós depois acabámos por falar da retórica e da questão da das informação, e o desafiou um pouco esse. 29:42 Ou seja, há há razões de sempre estruturais para para nós não nos entendermos. E por isso é que o desafio da argumentação é um desafio. Enfim, pren, não é que vai acompanhar nos para sempre. E há razões particulares do tempo em que vivemos, não é a razão. 29:58 As razões particulares do tempo em que vivemos tem a ver com esta questão da de da overdose de informação, de confiar. Temos nem todos confiamos nas mesmas Fontes de informação, não é? E isso e isso lida exatamente um dos eu eu disse há pouco que o meu curso está estruturado em 4 pilares. Já agora, quais são os 4 que é para a gente, portanto? 30:14 Os 4 pilares é, o primeiro é argumentação, o segundo é. Factos e números e tem exatamente a ver. Com esta questão. Que falávamos? Agora não é que como é que eu posso obter factos em que confiar? Tu és economista, portanto, os números torturam se e dizem a verdade que nós queremos. É no fundo isto é este este Pilar. 30:29 Esta este módulo tem 2 elementos, um tem que ver com Fontes de informação que era o que falámos agora, e o outro é ver com a literacia estatística, se quiserem depois o terceiro Pilar, o terceiro módulo é esse da das explicações causais das causas, 2 coisas já lá vou, e o quarto é da tomada de decisão, como como tomar boas decisões. 30:47 E isso também ajuda a explicar porque é que nós não nos entendemos muitas vezes e porque é que o raciocínio argumentativo não é suficiente. Porquê? Porque Oo raciocínio argumentativo é uma, é uma espécie de chave mestra de de de ferramenta genérica, mas ele depois depende do que lá está dentro, depende de nós. 31:03 Temos o pensamento lógico, até aí tudo bem, mas também depende do que está nas premissas e o que está nas premissas pode ser, como nós já vimos informação, factos e nós não, nem nem todos confiamos na mesma fonte de informação e, portanto, temos factos diferentes. E pode ser também alguns casos de explicações causais, que era aquilo que tu falavas. 31:20 Agora, a propósito do Miguel Esteves Cardoso e do o que é que eu quero dizer com explicações causais, a maior parte do uma grande parte do nosso raciocínio, na verdade, nem é tanto a um tipo de raciocínio argumentativo no sentido em que nós estamos a argumentar com os outros ou até para nós próprios, estamos a conjugar informação que temos na cabeça para produzir uma conclusão nova. 31:43 Isso é o tipo de raciocínio argumentativo. Grande parte do nosso raciocínio é de outro tipo. É raciocínio causal, digamos assim. É. Nós tentamos explicar porque é que alguma coisa aconteceu, alguma coisa que acontece, e nós vamos à procura da explicação da causa para essa coisa seja faz sentido, seja na nossa vida pessoal, no nosso trabalho. 32:00 Então, mas e como é que a gente resolve aquela pequenina coisa de tentar saber que uma determinada coisa? Se esta caneca cai ao chão porque eu empurrei causa efeito, ou se eu olhei para ali, a caneca caiu e, portanto, algo coincidiu com um movimento EE não tem nada a ver com a causa das coisas. 32:18 Aconteceu, aconteceu naquela altura e tu dizes não como vês, não coincide no tempo. Há uma causa e o efeito é, é, é sempre difícil de provar a causa das coisas não é sempre linear. Não é bastante difícil. EEE é não só isso nos é útil. 32:36 Já, já, já explico como se faz. Mas não só isso nos é útil em si mesmo para resolver problemas, como muitas vezes é precisamente para nós discordarmos em relação às causas que não, que depois essa explicação vai servir de input num argumento, não é uma das é uma premissa e isso partimos de premissas diferentes. 32:51 Não vamos concordar em conclusão. Imagina se nós temos opiniões diferentes sobre porque é que a economia portuguesa ou o PIB de Portugal não tem crescido muito nos últimos anos que há como quem diz este século, se temos uma explicação diferente? Então, jamais vamos concordar com a com a conclusão do argumento, onde essa explicação vai entrar? 33:09 Então temos uma carga de trabalhos, porque assim é muito difícil encontrarmos um caminho comum ou não. Pronto, ajuda vai ser impossível. Por isso é que Oo nós continuamos sem nos entender ao fim destes séculos e milénios todos. 33:25 E não melhora com com quando ficamos mais velhos. Isso não é uma. Boa. Há razões? Há há razões que tornam impossível em alguns temas que nós entendemos já lá vou, que é a última coisa que nos falta falar. Agora, no caso das explicações, há maneiras de de nós termos 1111 pensamento mais sofisticado quando procuramos explicações. 33:43 E de novo, tem a ver com atitude e tem que ver com técnica, digamos assim. Se calhar, começando pelo segundo, a técnica tem que ver com no. Aprender algumas ferramentas que os cientistas usam a olhar para a realidade, porque o trabalho dos cientistas, seja um cientista de ciências naturais ou de ciências sociais, é encontrar as causas das coisas. 34:06 É. É provar a realidade, é provar a realidade. É provar porque é que isto aconteceu por isto e não por aquilo. Despistar uma causa como tu dizias há pouco, a propósito da do teu exemplo do da caneca. Uma causa que, na verdade, não é real e, portanto, há, há há um lado de há. Há ferramentas que a ciência usa. Para despistar essa essas causas que que muitas vezes não são causas reais com que nós podemos aprender e depois também há a questão da atitude. 34:28 E aí a atitude passa muitas vezes por fazer as perguntas certas, como quase sempre No No no pensamento crítico, é perguntar que alternativas é que existem desde logo. Será que eu estou a desconsiderar? Será que não estou a pensar numa alternativa que pode ser a explicação correta? Porque se não considerares falhas logo que que evidência é que existe a favor de uma alternativa ou da outra? 34:50 E por em diante, não é ou. Seja não, não vale a pena dizer, Ah, isto não, eu nem penses nisso. Isso não pode ser. Vamos pôr de caminho, mas mas nós a. Questão é que este este primeiro passo requer parar para pensar, porque muitas vezes nós com a pressa e seguindo a nossa intuição. Focamo nos numa explicação. 35:06 E é só para essa ou é necessidade da economia? Lá está a nossa vida. Dá 1000 à hora. Nós. Temos que sim, é para essa tem a ver com isso. Tomar decisões muito rápidas sobre várias coisas baseadas em 1000 coisas que temos na nossa cabeça e, portanto, tomamos uma decisão ou outra muito rapidamente se tivermos que usar esse método de parar para pensar em toda a pequena coisa que queremos que fazer. 35:27 Ufa. É complicado, claro. Dá trabalho, não dá trabalho, dá trabalho. E é uma espécie de. Meta, meta, pensamento crítico, digamos assim. Que é tu? Tu no fundo, esse é o segredo e é tu perceberes. Quando é que se justifica? 35:44 Tu parares para pensar. E quando é que podes seguir a tua intuição, mesmo que ela possa estar errada em alguns? Casos mas a intuição não é uma forma de pensamento para ti? Sim, quando desculpa a intuição é uma forma de pensamento, mas quando eu digo parar para pensar. É validar aquilo. Isso isso convoca outro tipo de pensamento, ou seja, Oo. Na Na literatura desta área distingue se entre sistema um sistema 2. 36:02 Não sei se já ouviste estes. Temas não, mas quero saber. Pá, isto é, tem por base a uma investigação nas ciências comportamentais do do 2 psicólogos, o amesterversky e o Daniel Kannemann? Pela qual o este último ganhou o prémio Nobel da economia no em 2008, salvo. 36:20 Erro não sei se é bom para a tua classe um psicólogo ganhar um prémio de economia. Foi a economia, é a Malta da economia comportamental, que é de que é exatamente 11 área nova, Oo ultra vers que não ganhou porque morreu. Entretanto, e o Kannemann? Depois escreveu um livro muito conhecido chamado pensar depressa e devagar, em que ele explica exatamente este estes 2 sistemas que o nosso cérebro tem, que ele chamou, enfim, de uma maneira muito criativa, sistema, um sistema 2. 36:43 No sistema, um é a nossa intuição é este, é é esta maneira rápida de pensar. De facto, é um pensamento só que é rápido. É quase um mecanismo de sobrevivência. É, é. Exatamente porque nós temos que pensar rapidamente. É intuitivo, é inconsciente, dá nos logo a resposta. O sistema 2 é o Tel, sistema ponderado, em que nós paramos para pensar. 36:58 Convocamos recursos para pensar racionalmente sobre o tema. Qual é o problema? Demora tempo? Demora tempo e cansa nos quando nós estamos a fazer 11 trabalho exigente ou se calhar, o exemplo mais puro disto é. Quando nós na escola ou na faculdade, fazíamos um exame, fazíamos aquele exame de 2 horas e saías de reado e não querias fazer mais nada do durante o resto do dia vazio, vazio, porquê? 37:22 Porque tu tinhas estado a usar exclusivamente o teu sistema de hoje durante 2 horas, que é uma coisa que nós não fazemos no nosso dia a dia, não é o que fazemos nosso dia a dia. Sei lá, imagina, eu vim para aqui, estacionei o carro e depois, enquanto estou no caminho para cá, vou pensar em qualquer coisa meio automaticamente e o cérebro vai, está me? 37:39 Não está a descansar 100%, mas está mais ou menos descansado a fazer um exame? Não, tu estás 2 horas a fio a gastar aquele sistema que é finito. É tão finito que que que nós saímos do exame e dizíamos. Com a cabeça em água, é? A água exatamente, dizia com o cérebro em papa, como às vezes se diz, não vou fazer mais nada o resto do dia. 37:54 Agora é para agora. Vou, sei lá, vou. Vou espairecer, ou vou ver televisão ou vou estar com amigos, mas vou estar em Descanso. Basicamente há aqui. Já falamos dos argumentos, já falamos aqui da maneira de provar a realidade, a causa das coisas. E depois chegamos, de facto, à coisa que para mim é absolutamente fundamental, que é o momento da escolha. 38:13 Hum, do dilema EEEE. Isto toca com aquela ideia que nós temos em relação aos políticos, que é nós e os políticos, como se fosse se fossemos entidades diferentes. É curioso. Mas todos aqueles que são decisores, sejam políticos, sejam de de das empresas, seja seja na nossa vida profissional, enfrentamos dilemas de escolha. 38:39 No fundo, coisas que têm valores equivalentes e contraditórios. Só a lógica basta para para resolver isso. Não ajuda, mas não basta AAA lógica. Ajuda e, portanto, ter um bom raciocínio argumentativo. 38:56 Um raciocínio lógico é é útil para tomar decisão, mas isso não chega porque quando tu Tomas decisões, tu tens de lidar com toda a complexidade do mundo. Quando se tenta encontrar, lá está explicações causais para um mundo que é ultra complexo. Quer dizer e. Volátil. EE já, já lá vou exatamente era exatamente onde eu IA. 39:13 Portanto, complexidade do mundo, informação imperfeita, falámos. Há bocadinho a incerteza, essa volatilidade, essa incerteza em relação ao futuro. E depois, em muitos casos, temos de tomar decisões rapidamente e por cima de tudo isto temos as nossas próprias limitações. 39:30 Mais um espaço e um tempo limitado e uma cabeça que não dá para tudo. Eu, a cabeça, não dá para tudo. Uma intuição que é falível e temos outra, outra, outro aspeto da nossa mente, que a que a investigação do que eu referi há pouco demonstrou que é a nossa tendência para cair em viesos cognitivos, que são basicamente quando esta nossa intuição para além de ser falível. 39:52 Se desvia tendencialmente a racionalidade, por exemplo, um viés, o talvez o viés mais conhecido de todos é o viés da confirmação. EE toca exatamente num ponto que nós falamos, há bocadinho é o viés da confirmação. É a nossa tendência para não ir à procura da informação de maneira neutra, mas ir à procura da informação que confirma as nossas criações prévias. 40:11 E é exatamente o que muita gente incluindo quer queiramos, quer, quer, não nós, os 2. Tendemos a fazer o nosso dia a dia por muito que queiramos contrariar isso. Portanto, agora que nós tínhamos feito aqui 40 minutos de grande inteligência e de e auto elogio, tu acabaste de dinamitar e dizer, estão aqui 2 pobres falhados a discutir uma coisa, há uma intuição, lá está. 40:36 Vamos até às ideias autoconfirmatórias que é quem manda. Quem é líder hoje em dia está a pensar e a decidir melhor do que o que estava, o que seria um processo normal de evolução. Ou tem dias? Tu falas com muitos líderes. Diria que tem dias, diria que tem 111. 40:57 Conclusão interessante desta de de pensar sobre esta área EEE investigar é que tu percebes que as nossas limitações individuais sempre existiram, sempre existiram e, portanto, a chave está no processo. E aí em defendermos, em em organizarmos um processo? 41:13 Em termos um processo organizado de tomada de decisão? Estruturado e em poderes, utilizar os outros, ou seja, a as uma diversidade de perspectivas, para para no fundo, minimizar estes nossos viés individuais. Pimentel e o ego o Pimentel e o ego. 41:30 Por isso é que é difícil. O ego do inteligente, o ego do que vê mais longe, o ego do que faz as contas melhores. O ego do que foi o melhor aluno, o ego que diz. O meu príncipe, és tu, o eleito para poderes, definir o futuro dentre todos nós, como é que é? 41:48 Pois é difícil, não é? Como é que é difícil tu estares a fazer isto com seres humanos, não é? Como é que essa? Como é que como é que nós podemos criar um processo em que nos possamos calibrar? Acho que a palavra é essa. Como é que nos podemos calibrar? 42:04 É difícil e é uma dificuldade aqui. De todo este processo, no caso da da tomada de decisão, é que não é nada fácil perceber isto. Só que, no ponto dos problemas abertos que falávamos no início, não é uma decisão, é um problema aberto. E, portanto, e quando com um problema fechado como como o quem quer ser milionário ou os exames na escola, tu sabes se acertaste ou erraste, é possível verificar, é possível verificar e, portanto, tu tens uma chave, tu sabes se tomaste a decisão certa, digamos assim, com as decisões do mundo real, não é assim. 42:36 E portanto, o que tu sabes é se ela correu bem ou correu mal, e isso podes saber iá os casos, não tens a certeza, mas podes conseguir saber isso em muitos casos consegues, mas não sabes se Ela Foi bem tomada ou mal tomada. Ou seja, o que é que acontece? Tu podes tomar uma decisão mal vítima do teu ego, precipitadamente sem usar os factos todos sem parar para pensar e ela correu bem e podes tomar uma decisão corretamente, da maneira mais estruturada possível, recolhendo toda a informação necessária. 43:05 E é um corrente da informação dos outros e corre lá e isso é tramado, não? É, mas isso é um desamparo? Quase. Então o que é que a gente faz à nossa vida? OOO. É uma coisa parece aleatório. Não, a questão é, mas o aleatório é. É interessante falares nisso porque é importante se nós decidirmos bem ou estou a dizer de outra forma, tendencialmente. 43:26 Decidir bem, aumentar a probabilidade da decisão correr bem e decidir mal, aumentar a probabilidade da decisão correr. Mal já é, já é mais descansado, pronto, isso o. Problema é que nos casos individuais, precisamente porque há fatores aleatórios como tu dizias, tu não sabes que nós controlamos, tu não sabes, há um exercício muito engraçado que que lia isto no outro dia, No No livro, que era uma pessoa que estava, estava a fazer uma, mas há uma palestra, pedia às pessoas para pensarem um bocado e escreverem a melhor decisão que tinham tomado na vida e a pior decisão que tinham tomado na vida. 43:51 As pessoas escreviam e tal partilhavam e em todos os casos, sem exceção. A melhor decisão que tinha sido uma decisão que tinha corrido bem, e a pior decisão, uma decisão que tinha corrido. Mal, portanto, estás a isto. Não faz isto, não faz sentido. Mas as pessoas viram assim, não é o. 44:07 O pondé não faz sentido que todas as decisões. Mas porquê? Porque essas deixaram uma impressão, não? Porque nós não conseguimos. É muito difícil para nós destrinçar um fator de outro. Ou seja, é muito difícil eu fazer te a pergunta ao tu a mim, qual foi a melhor decisão que tomaste na vida? E tu dizeres, olha, a melhor decisão que tomei foi, foi esta decisão. 44:26 Que depois não correu mal por fatores que eu não controlei, mas foi claro, é claramente a decisão de que eu mais me orgulho, porque pensei. Não, não quer dizer, nós podemos sempre ter ter uma escapatória para isso. Então qual foi a melhor decisão da tua vida? Não fui eu que tomei, foi a minha mulher. Estávamos aqui. Isso é possível? 44:42 Isso é possível? É possível. Olha, OOOO, estamos no mundo das redes sociais, claro, mas estamos num mundo em que esse maravilhoso ou ameaçador mundo da inteligência dita artificial aí está. Ela é rápida, ela tem um acervo de informação gigantesco. 45:00 Que diabo, então, devia acertar sempre. Acerta muitas vezes. Como é que tu te confrontas com? Com, com a, com a, com a, com esta, com estas novas fórmulas de organização do conhecimento dentro de computadores. Eu acho que esse é um dos grandes desafios para de futuro. 45:16 E é engraçado perguntar porque ainda ainda hoje que escrevi uma coisa sobre isso, a inteligência artificial, ou seja, estes, os 7 chip e afins, por um lado correm o risco de destreinar o nosso pensamento crítico, por nós confiarmos a certa lamento no que sai de lá. 45:34 E por outro lado. Ao estar a automatizar as coisas mais automatizáveis, vai deixando crescentemente para nós os problemas abertos. Lá está multidimensionais onde o pensamento crítico é mais relevante. É 11 aspeto curioso, ou seja, por um lado concorremos o risco daquilo destreinar o nosso pensamento crítico e por outro lado, os os problemas que vão sobrando cada vez mais para nós seres humanos, são os que requerem pensamento. 45:56 Crítico é o problema da calculadora. É um bocado o problema da calculadora. Quer dizer, na verdade, essa essa questão de destreinar o nosso pensamento crítico, ou seja, no fundo nós perdemos competências. É uma preocupação que existe desde a as primeiras tecnologias que foram inventadas, desde que se inventou a escrita e é. Verdadeira ou é uma falácia? 46:12 Não é. É verdadeira. Pensa no seguinte, eu e tu. Bem, eu vou. Eu só posso falar sobre mim, poder me as surpreender agora. Mas eu sei poucas coisas de cor. Quer dizer, não sei poemas, não sei, não sei mais do que uma frase ou 2. 46:29 O máximo que eu conseguiria recitar de um texto seria uma frase ou 2 ou sei lá, uma estrofe do talvez dos lusíadas com alguma sorte. Está descansado, porque eu também sou do mesmo tu. E a maior parte das pessoas, mas. Conseguimos lembrar nos do do referencial de qual é o livro do. Que é que? Mas não é a mesma coisa não se tu recuasses à idade média ou e sobretudo, ou seja, pré invenção da imprensa e sobretudo se recuasse, a antiguidade das pessoas sabiam, em alguns casos, quase livros completos de cor. 46:52 Essa é uma competência que se perdeu quase completamente. Embora houvesse muito menos livres, não é e muito menos informação, mas. Era por isso, tinham que secorar porque não havia livros. Claro, e tinha que ser a boca à boca, tinha. Tinha que estar na nossa cabeça ali, pronto e. Depois inventamos a escrita e depois. Inventamos a escrita e essa competência deixou de ser necessária. 47:08 Externalizamos a competência. Externalizamos que, no fundo, é o que a tecnologia tem feito ao longo da história, não é? E, portanto, perde se umas coisas e ganha se outras. EE nós agora que já vivemos neste mundo, é fácil olhar para trás e achar que ganhamos mais do que perdemos. Mas quando? Quando estamos a lidar com o desafio da inteligência artificial, tendemos a achar que corremos o risco de perder mais do que do que vamos ganhar, eu não. 47:29 Acho. E se um dia alguém te desliga a ficha, não é? Quer dizer, eu acho. Para mim, a inteligência artificial é um problema da ficha, não é que é o primeiro problema é, alguém tem a mão na ficha, não vá isto descambar de alguma maneira e, portanto. Estás assim? Essa parte de tirar a ficha da, da, da, da máquina e por outro lado, outra que é o que é que acontece quando que quando antigamente era se falhar a luz, isto a gente não vê. 47:51 Televisão agora é se falhar a luz. A gente já não tem internet, já não tem nada claro. EE, portanto, é o problema contrário. Mas isso é como alguém poderia dizer o mesmo em relação aos livros, não é? Então alguém, alguém, enfim, vinda do passado, poderia dizer, então, vocês não sabem nada de cor. Um dia destes ficam sem livros e sem computador. 48:07 E agora? E agora, não é? E depois lá está. Não tem nada para dizer uns aos outros, não é? Não temos que inventar sempre umas. Ninguém decorou Os Maias para poder, para poder, conta. Contar à volta da fogueira, não. É, olha, quero fechar este este programa, a melhor decisão. 48:22 Tu tu tens tens esquematizado na tua cabeça qual foi a tua melhor decisão? Ah, estava a ficar essa impressão. Não, não, não quer dizer, é porque eu não tenho. E agora estava aqui, estava a pensar aquela. Pessoa teria de passar, de parar um pouco para pensar, mas é inevitável que eu fosse escolher uma decisão que tinha corrido bem, uma consequência. 48:37 Boa, claro, em. Princípio, mas não é, mas é perfeitamente possível que a minha melhor decisão, ou seja, a decisão que eu tomei. Em que o processo tenha sido mais cuidado, tenha sido uma decisão que correu mal. É perfeitamente possível. Hum, e. Vice versa, tu és um podcaster escreves escreves fazes Oo 45°, que agora faz parte da rede do do do expresso. 48:59 Onde tu encontras pessoas para para falar exatamente sobre esta questão do do, do pensamento? Para fazer isto no fundo? Para fazer isto exatamente eu, eu apenas fui. Fui copiar aqui uma boa ideia. Fui, fui. Aqui não era isso que eu queria dizer o que? É que o que é, o que é que o que é que te ofereceu? O podcast quando, quando, quando, quando tu pensaste? 49:16 O que Oo que é que o podcast me tem oferecido? Sim, ao longo dos anos e imensas coisas. Tem sido uma experiência incrível porque. É, eu dizia no início que o que o pensamento crítico nesta aceção mais abrangente que eu lhe dou, que inclui a parte da de ter uma atitude criteriosa, mas também ter um pensamento estruturado, se aprende contactando com áreas diferentes e falando com com pessoas de perspetivas diferentes. 49:42 E o podcast tem medado isso. O 45° tem medado. Isso é um é um. Eu dizia AA certa altura a brincar que era uma técnica de engate intelectual, ou seja. Tens uma boa desculpa para ligar alguém e dizer, venha cá conversar? Exatamente. É isso? Calma aqui, eu imagino que sintas o mesmo. Só isso é um pretexto, não é? É um Belo pretexto, não. 49:57 Se a gente ligasse alguém a dizer, olhe que eu queria falar aqui contigo durante 40 minutos sobre uma coisa qualquer, as pessoas não ficam 40 minutos a falar. Agora vamos aqui gravar um podcast, então vamos gravar. Exatamente, é isso mesmo. EE, para mim, funciona também como um como algo que me obriga a ler sobre determinado tema e preparar determinado tema para para mim. 50:17 Metade do ganho de cada episódio está na preparação. Eu peço sempre aos convidados para enviarem coisas e pode ser só podemos estar a falar de um livro, de artigos, de podcast, whatever, e isso obriga me a mesmo, antes da conversa, a aprender mais sobre aquele tema, e depois há a conversa e depois a conversa. 50:33 Na conversa vou aprender mais ainda, mas há até aspetos que eu preparei que não vou, não vou abordar na conversa, mas isto é cada tema. É quase como se a cada tema eu fizesse um vá Mini minicurso sobre aquele tópico. O que é maravilhoso. E isso é interessante, não é? E a pessoa vai somando, somando, somando EE, isto vai vai criando aqui um efeito cumulativo que é interessante. 50:54 Numa pergunta simples, exploramos os desafios da comunicação e do pensamento neste episódio. José Maria Pimentel ajudou nos a perceber porque é tão fácil cairmos em armadilhos mentais e porque é tão difícil pensar de forma verdadeiramente crítica. Entre a lógica, a emoção e a desinformação, há um campo de Batalha onde cada um de nós precisa de aprender a mover se melhor. 51:16 Falamos de argumentação, de vieses cognitivos, do impacto das redes sociais e da dificuldade em distinguir factos de narrativas. E falamos, claro, de decisões, essas escolhas que fazemos todos os dias. Quase sempre sem tempo para refletir. 51:32 Pensar bem é como comunicar bem. Dá trabalho, mas será que podemos dar nos ao luxo de não o fazer até para a semana? https://vimeo.com/1058041788/b2f3c3b7c2?share=copy…
Quiseram os deuses da chuva e do sol fazer coincidir com a publicação deste episódio a chegada de um comboio de tempestades ao nosso país. Já vos explico o que quer dizer a expressão “comboio” de tempestades embora a coisas seja mais ou menos intuitiva de entender. Quero deixar duas notas: a primeira é que quando ocorrem estes fenómenos típicos é mais difícil prever o tempo que vai fazer. A segunda é que esta conversa foi gravada há semana e meia e por isso é importante situar no tempo, o do relógio, quando foi criado este episódio. Em todo o caso a conversa é muito interessante e aprendi muito sobre a fascinante ciência meteorológica. E o que tem a vez com comunicação? Tudo. Dizer que vai chover, que vem ventania ou vai ficar um calor de. Rachar cria uma expectativa. E na nossa cabeça a previsão passa rapidamente a certeza absoluta e não a uma probabilidade mais ou menos certa. Em caso de dúvida vá à janela e observe com atenção. Isso ajuda. Se ainda tiver incertezas inultrapassáveis, leve o guarda-chuva. Se não chover batize o instrumento como guarda-sol. A meteorologia é uma ciência de precisão… mas também de incerteza. Ouvimos a previsão na rádio, vemos os mapas na televisão, conferimos a ‘app’ no telemóvel–e, no final, ou confiamos, ou desconfiamos. “Mas afinal vai chover ou não?” é talvez a pergunta mais repetida a um meteorologista, e esta semana traz-nos um cenário perfeito para explorar essa questão: um verdadeiro “comboio de tempestades” está já a chegar a Portugal. Se nos últimos dias tem sentido o tempo instável, prepare-se porque a tendência não vai mudar tão cedo. Um bloqueio anticiclónico sobre as ilhas britânicas está a funcionar como um muro invisível, empurrando depressões diretamente para a Península Ibérica. Os ingleses quiseram experimentar o clima algarvio e mandaram chuva cá para baixo. O resultado? Uma sequência de tempestades que nos vão atingir quase dia sim, dia não, com chuva intensa no sul já que começou nesta terça-feira e previsões de instabilidade pelo menos até ao fim de semana. E a questão que se coloca é: podemos confiar totalmente nas previsões? Se tudo depende de modelos matemáticos e observações, porque é que por vezes a chuva anunciada nunca chega ou, pelo contrário, uma tempestade inesperada varre tudo sem aviso? Para responder a isto, convidei Bruno Café, meteorologista do IPMA , um dos rostos da previsão do tempo em Portugal. Se já o viu na televisão ou ouviu na rádio, sabe que tem o dom de explicar a meteorologia claramente e sem rodeios. E nesta conversa, ele ajuda-nos a perceber como tudo funciona nos bastidores: como se fazem previsões, que instrumentos são usados, o que mudou na meteorologia nos últimos anos e por que motivo a incerteza nunca desaparece completamente. A pergunta chave é: Como se prevê o tempo? Sabia que diariamente são lançados balões meteorológicos que sobem na atmosfera para medir pressão, vento, temperatura e humidade? E que os radares meteorológicos conseguem detetar em tempo real a formação de tempestades? Mas mesmo com esta tecnologia, há fatores que tornam algumas previsões mais difíceis do que outras–como os famigerados aguaceiros isolados, que podem cair forte num local e deixar outro completamente seco a poucos quilómetros de distância. O que permite o desejo de poder ter afinal chuva no nabal e sol na eira. Bruno Café explicou-me como os meteorologistas trabalham com milhares de dados e recorrem a modelos matemáticos complexos, mas também precisam de experiência e análise humana para interpretar a informação. A meteorologia não é um jogo de certezas absolutas, mas sim de probabilidades bem calculadas. Então e os fenómenos atípicos.? O impacto das alterações climáticas. Afinal, temos mais fenómenos extremos ou apenas mais atenção sobre eles? Bruno Café explica como os dados mostram um aumento real de temperaturas e eventos severos, mas também como as redes sociais e a mediatização dos fenómenos fazem com que estejamos mais conscientes do que nunca. As tempestades datuaissão mais fortes do que as de há 30 anos? As cidades estão mais vulneráveis à chuva intensa? E o que acontece quando um ano inteiro de precipitação cai em apenas um dia, como já aconteceu em algumas regiões da Península Ibérica? Volta e meia recebemos alerta, nnos ‘media’ou no nosso telemóvel.. São os chamados alertas ou avisos de tempo severo. Estes avisos meteorológicos: são úteis ou alarmistas? Quando o IPMA emite um aviso laranja ou vermelho, há sempre quem critique: “Disseram que vinha tempestade e afinal não aconteceu nada!” Mas, como Bruno explica, os avisos são feitos com base na probabilidade de risco, não numa certeza absoluta. E se a tempestade acabar por não ser tão grave num determinado local, é sinal de que as previsões falharam – ou de que simplesmente tivemos sorte? Falamos ainda da inteligência artificial na meteorologia, uma tecnologia que já começa a ser usada para prever padrões climáticos de forma ainda mais rápida e precisa. Será que um dia a IA poderá substituir os meteorologistas humanos? Ou continuará a ser necessário alguém para interpretar os dados e traduzir a incerteza da ciência para o público? E claro, não podíamos deixar de perguntar: será que os meteorologistas conseguem ir a um jantar sem que alguém lhes pergunte ‘Como vai estar o tempo amanhã?’ Este episódio é essencial para quem quer entender como se faz a previsão do tempo e por que motivo a incerteza nunca desaparece totalmente. E com um cenário meteorológico tão instável como o desta semana, é quase como se tivéssemos marcado esta entrevista de propósito… mas juro que foi apenas coincidência! Nós os humanos queremos sempre a certeza e nem sempre há essa resposta. Em princípio no verão está melhor tempo, sem contar com as ondas de calor, e no inverno chove mais. No meu norte diz-se que o primeiro de agosto é o primeiro de inverno. O meu amigo Zé Terra , que é um optimista meteorológico anunciam-me sempre que “isto vai levantar” quando chove a cântaros e o céu está negro. E o Rui Teixeira, que é do Porto sempre enunciou, com graça, que o norte é tão acolhedor que até o inverno decidiu passar por lá as férias de verão. Na minha praia, a de Moledo, é certo e sabido que a nortada pode desgraçar qualquer dia de bangos. Mas que quando nem vento corre, é o melhor dia de praia do ano. O problema é saber qual é esse dia. Sim, os metrologistas que usam grandes números para prever o tempo escrevem com letras miudinhas que há uns sítios especiais onde há os chamados micro-climas. Em caso de profunda irritação ou neura com o mau tempo há sempre uma expressão que podem usar: “vai la fora ver se chove” Não é bonito mas ajuda a aliviar o espírito. Sejam optimistas, afinal já falta mês e pico para a primavera. Isto vai levantar. LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO 00:00:00:00 – 00:00:23:14 Viva, Bruno Café Meteorologista. Vemos te na televisão, ouvimos te na rádio a contar como é que vai estar o tempo. Essa devia ser a primeira pergunta. Se isto não fosse um ponto gasto, que é como quem no fim de semana vai chover e já te aborrece quando te fazem essas perguntas 500.000 vezes não me aborrecem. 00:00:23:16 – 00:00:44:18 Eu percebo por que é que as pessoas fazem pergunta Quer dizer, não, não é perfeitamente normal e tu levas o telemóvel na previsão do dia? Ou então dizes as pessoas vão lá mas é ver ao site. Exacto, é o que apetece dizer muitas vezes. Bom ver o site porque a informação está atualizada e normalmente não fazem perguntas. Está de folga e quer dizer mas, mas porque é que estão a aborrecer? 00:00:44:18 – 00:01:10:10 Quer dizer, mas então o que é que vai acontecer? E depois perguntam te quando a coisa não corre bem, isto é, quando tu que vai, que vai chover e afinal não chove, ou que vai estar sol e afinal chove de cobram te. Não por acaso as pessoas são muito simpáticas, As interações são sempre muito, muito cordiais, simpáticas. Pode ser de uma piada em relação a isso, mas não, não passa muito disso. 00:01:10:15 – 00:01:38:22 Até porque eu diria que essas falhas também são. São, são raras. Ao menos são. São menos usuais do que eram aqui. E a nossa expectativa, sempre quando ouvimos a previsão meteorológica, é e isso é que é considerar que aquilo não é uma probabilidade, mas que aquilo é, em princípio, uma certeza. Como é que? Como é que? Como é que o meteorologista olha para para essa ideia de incerteza? 00:01:38:24 – 00:02:09:14 Bem, uma previsão nunca é. Nunca tem uma resposta preta ao branco Sim ou não, Não raramente existe. Tem sempre alguma incerteza associada. Muitas vezes a incerteza é baixa. Temos de tempos, temos previsões que são muito mais fidedignas e muito mais mais fáceis de fazer. E tem outras vezes em que a incerteza é muito mais elevada. Normalmente, quanto mais próximo está do período de fazer a previsão, menor a incerteza é, por exemplo. 00:02:09:16 – 00:02:33:03 Mas podes ter situações em que situações de aguaceiros. Os aguaceiros são sempre um exemplo clássico, porque tens precipitação que pode ocorrer com intensidade moderada. Dez quilómetros daqui e aqui não caiu uma pinga, mas a previsão que tu tens que fazes para a Grande Lisboa é uma previsão da água saíres, mas depois se calhar uma pessoa vem ter contigo e diz então mas ia chover e a chover aguaceiros? 00:02:33:08 – 00:02:54:15 Não, não, não, não tem uma pinga na cabeça. Está cá sempre aquela expectativa que é uma estação sol na eira e chuva no nabal que quer ser para aquilo que acontece. Como é que o teu dia a dia tu estás a falar daqui de afinada previsão, com com absoluto rigor? O que é que tu tens? Que instrumentos é que tu tens? 00:02:54:17 – 00:03:18:19 Mas nós quando chegamos ao nosso local de trabalho, estamos a receber normalmente uma altura em que se começa a receber a informação do centro Europeu, que é aquela com que nós trabalhamos, mas depois temos também informação que é gerada no próprio IPMA com com um deles, que tem uma resolução um bocadinho mais melhor, tanto para para outro tipo de fenómenos que são fenómenos mais localizados. 00:03:18:21 – 00:03:54:04 E é aí, e com isso que nós trabalhamos, podemos, recebemos, começamos a receber cartas de depressão, de precipitação, de vento, aos vários níveis de humidade relativas. É uma em homem e uma coisa, enfim, não são infinitos, como é óbvio, mas são muitos, muitos, muitos produtos que temos para analisar, que também. Portanto, fazemos um filtro que, de acordo com a situação que temos, sabemos mais ou menos para onde é que temos que nos virar em termos de análise de produtos, porque é diferente, por exemplo, fazer uma previsão no verão ou no inverno. 00:03:54:06 – 00:04:20:08 É diferente fazer uma previsão para diferentes tipos de situação. Sempre no verão tens normalmente um anticiclone que que predomina, que é ele que afeta normalmente o estado do tempo. É óbvio que vais ter alterações, pode aparecer uma depressão que é o tal dos Açores, é o tal anticiclone dos Açores. Normalmente sim que a gente gosta. Não é porque nos traz o bom tempo para nós, dependendo onde aquele onde que eu estiver, o que é que faz que o raio do anticiclone suba? 00:04:20:12 – 00:04:50:09 Já temos, Já temos alguma ideia científica sobre isto? Sim, tem muito a ver com a corrente. Já tem a altitude que uma quantidade está mais nas latitudes mais a norte e depois tem a ver com as depressões que são são geradas mais a oeste e que normalmente atravessam o Atlântico e que são pressões mais cavadas, podem afetar a presença do anticiclone e, por assim dizer, é uma luta entre centros de ação. 00:04:50:11 – 00:05:12:12 O anticiclone com as pressões elevadas e pressões com as pressões baixas e é normalmente o anticiclone é o que predomina no verão aqui. Como é que tu explicas isto às pessoas? Porque tu, quando tens que aparecer na televisão ou na rádio, o que é que é que tu dás? A ênfase quer dizer, tu tens esses dados todos, faz esta previsão, já quer falar outra vez os dados? 00:05:12:14 – 00:05:43:00 Mas. Mas depois tens que conta. Vamos lá Bruno, tens 30/2 aqui para contar toda a verdade sobre a meteorologia nas próximas, nas próximas horas. Normalmente a previsão meteorológica não, não carece de muita explicação. Ou seja. Vais dizer que o amanhã vai estar céu pouco nublado, limpo. O vento está fraco, moderado no quadrante norte, temperatura máxima, baixa mínima e. 00:05:43:02 – 00:06:17:21 Ou seja, essa informação principal que passas não normalmente não carece de muita explicação. É obvio que isso pode acontecer em determinados é alta, qualitativa. No fundo não seja auto explicativa, mas. Normalmente uma previsão que tu queres rápida e clara e sucinta, que é o que acho que é o que nós queremos que é, que essa informação passe de maneira clara, que as pessoas percebam a informação não carece de explicação a dizer a minha vai estar a ser um pouco de água limpa porque tens um anticiclone localizado nos Açores, está em crista sobre o continente e gera uma situação de instabilidade. 00:06:17:21 – 00:06:44:00 Quer dizer, aqui em processos físicos que não são necessários estar a explicar é que tu não explica, é que sim, É que normalmente poderá ser aflorado por exemplo, na apresentação do programa Bom Dia Portugal. Isso é feito de uma maneira simples, rápida e também no contexto em que está inserido. Essa apresentação não é não carece de grande elaboração em relação a essa. 00:06:44:00 – 00:07:21:02 Essa olha o que que pode fazer com que uma previsão seja mais certa ou mais aproximada é o tempo fator tempo. Podemos acreditar numa previsão quantas horas antes de sair de uma forma mais ou mais clara? Isso depende daqui a cinco minutos. Depende do tipo de situação. A previsão para daqui a uma semana e iremos ter uma previsão para daqui uma semana, com uma incerteza, com uma certeza, e levá la pode acontecer se essa precisamente for uma situação de estabilidade, com o predomínio do anticiclone, Pode ser. 00:07:21:05 – 00:07:53:08 Pode ser uma previsão mais certa do que se está a fazer. Uma previsão para amanhã em que temos a aproximação de uma depressão a Portugal continental e que, pronto, com ela traz aquela geração de aguaceiros, mas que depois está muito dependente de quão próxima a depressão vai estar de Portugal, porque pode fazer toda a diferença de teres um dia em que tens aguaceiros, se calhar durante todo o dia, ou então estar um bocadinho mais afastada e os aguaceiros acabaram por ficar um pouco sobre sobre o mar e não chover. 00:07:53:08 – 00:08:17:12 E lá está, é altura da gente dizer mal dos meteorologistas. Obviamente é como lá Deus inventou os economistas. Não é para não deixar os meteorologistas sozinhos. Frisando o Isto significa que estamos a falar dos dados. Imagino cartas de satélite, como aquelas imagens que nós costumamos ver, mas a densidade de dados que lá estão é muitíssimo maior. E depois, o que é que tu fazes com esses dados? 00:08:17:12 – 00:08:41:22 Lá está vento, humidade, pressões atmosféricas, O que fazes? Há também nisso? Pois na Bimby, pois numa mesma panela de pressão mexes o caldo. O que é que o que sai? Isto é algo a discricionaridade, Que tu tenhas no teu trabalho e sensibilidades diferentes entre os meteorologistas ou de todo é uma receita que é uma receita universal e é um processo automatizado. 00:08:42:03 – 00:09:15:03 Não há sempre alguma subjectividade. Até porque depois, quanto mais nos afastamos do período em que estamos, mais trabalhamos com probabilidades. Para resumir, para resumir o que é, como é que funciona o nosso, o nosso trabalho, eu posso dizer onde nós chegamos lá, o que nós fazemos primeiro? Observar habitualmente às 08h00, às 20h00, tudo são turnos de 12h00 ou 12h00. 00:09:15:05 – 00:09:44:16 Então chegas lá às 08h00, às 08h00. Portanto, a primeira coisa que nós fazemos para já é passar a passagem de turno. E os nossos colegas dizem o que é que se passou nas últimas horas? Qual é a previsão das previsões que foram elaboradas e nessa altura é uma altura começarmos a receber os novos produtos. Portanto, cá normalmente duas atualizações por dia dos produtos do centro Europeu e quatro do produto. 00:09:44:18 – 00:10:09:12 Que é que é que é um produto especializado? Quando tu estás a falar do produto, estás a falar de de informar de tudo? Sim, toda a informação. O que nós fazemos depois é então observar o que é que se está a passar através de imagens de satélite, de estações metereológicas, de bóias, de sondas. E instrumentos de observação distribuídos pelo país? 00:10:09:14 – 00:10:37:03 Sim. Portanto, temos estações distribuídas pelo país. Temos também sondas que são lançadas normalmente ao meio dia, também de vários locais. O Sondas o que são sondas? Sondas ecológicas, portanto, são são. São instrumentos de medida que são lançados num balão automaticamente. Neste caso aqui, o de Lisboa é lançado do topo do edifício do IPMA e por lá está um bocadinho antes das 12. 00:10:37:03 – 00:11:10:04 É usado para onde o balão vai, vai subir na atmosfera e esse instrumento que vai agarrado ao balão vai medindo pressão, vento, temperatura e humidade e vai criar um perfil da atmosfera ao longo de 01h00, 01h00, 01h00 depois dá para recuperar essa estação Sim, normalmente, pois o balão acaba por rebentar e a sonda vai cair algures em Portugal, em Espanha, no mar depende um pouco. 00:11:10:09 – 00:11:32:18 E como é que vais recuperar isso com esse raio tão grande? Quer dizer, dependendo do estado dos ventos, dependendo dos ventos, normalmente vai mais para o interior. Por que é que os ventos sopram predominantemente contra? Então? É uma curiosidade com o tamanho desse dessa pequena sonda, diria que deve ser qualquer coisa. Não sai 20, 30 cêntimo, portanto ao meio dia convém. 00:11:32:18 – 00:11:39:04 E tem paraquedas ao menos. Ou convém a gente não esquecer? 00:11:39:06 – 00:12:17:04 Tanto medo do vento e da humidade sim, vai levar isso para os parâmetros e é essa informação. Conforme a sonda vai subindo, vai transmitindo essa informação que depois no final é agregada e é mostrada em forma de um gráfico em que nós podemos analisar como é que estava a atmosfera, neste caso a troposfera, que é onde são feitas as medições sobre nesta região, tanto aqui da região de Lisboa, embora muitas vezes chovendo tiver muito intenso, podem ter a Espanha e portanto temos um perfil e qual é a utilidade desse perfil? 00:12:17:04 – 00:12:46:02 Desses desses dados em comparação com os outros? Os grandes dados que dentro da Europa fazer comparação com o que o modelo está a prever. Ver zonas de estabilidade, de instabilidade, zonas em que camadas de tropas possam estar mais secas e que para além de fazer a comparação com o modelo que está, está a dar e perceber se um deles está a apanhar bem alguma situação. 00:12:46:02 – 00:13:10:12 É uma calibração, é para isso que aquilo serve. Uma comparação vai se juntar uma coisa a outra para várias coisas. Para o metrologia está observares saber o que é que está a atmosfera naquele local é uma informação que também entra para para os modelos, ou seja, que os modelos funcionam todos com com o início o início do processo de criação de uma previsão pelos modelos e através de observação. 00:13:10:12 – 00:13:45:03 Uma observação é superimportante sem ela não, não, não há previsão. E os modelos? Tem, tem, tem observação, tem a observação que é maioritariamente de satélite, mas depois tem a observação das redes de estações meteorológicas. Todo o mundo tem as sondas, tem bóias, há muita informação, informação, radar, radar meteorológico, como aquilo quer no aeroporto que que consegue medir. É praticamente tempo real do que é que está a acontecer aqui à volta. 00:13:45:05 – 00:14:03:22 O radar do aeroporto é específico para o aeroporto. Nós, nós aqui em Portugal Continental temos. Temos um radar em Arouca, outra em Coruche e outra em Loulé. Três são os três radares meteorológicos em Portugal, mas que são são diferentes daqueles que estão no mundo assim assim. São diferentes? Sim. E o que é que mede? O que é que o menu do aeroporto é mais e mais fino? 00:14:03:22 – 00:14:46:05 Vai para cima, Já tem um raio de mais pequeno, mas. Mas sinceramente não conheço bem. São dados que eu nunca vi. A informação que é dada a qualidade dos aviões é do Instituto de Meteorologia ou são dados específicos que aquilo que que são colhidos automaticamente são dados aos aviões? E as previsões? As previsões para os aeroportos são são feitas pelo IPMA e tem alguma especialidade aeronáutica e têm alguma especificidade pelo facto de os eventos ser possíveis, imagino que com maior rigor, porque os ventos são são obviamente críticos ou na realidade usam os mesmos modelos e depois ajustar. 00:14:46:05 – 00:15:08:18 Não são os dados dos mesmos modelos. Sim estados, porque a previsão é feita. É uma previsão muito específica para o aeroporto, enquanto a previsão geral tem que ter previsão para Portugal inteiro e as previsões para usar muito específico. E é mais fácil para tu estavas a dizer que tu dizes ok, aqui vai chover ou vai virar bastante? Pode ser aqui, pode ser assim. 00:15:08:18 – 00:15:36:11 Quilómetros pode ser a dez quilómetros. O que é que mudou nos últimos anos para que essa finura, essa eficiência da previsão, tivesse melhorado? Porque? Porque ela de facto melhorou O que nós todos, todos, vivemos? O que acontece, aliás, vemos quando há os alertas laranja, os alertas vermelhos e de facto, nós, os avisos, os avisos, os avisos, os avisos são mais úteis ou assustam mais? 00:15:36:13 – 00:15:59:03 Fico sempre a pensar nisso, porque quando aquilo acontece dá me jeito completamente de saber. Atenção que isto vai ficar, vai ficar complicado. Por outro lado, se não acontecer, eu vou ter de que? Porque é que? O que é que aconteceu? Para que? Para que não tivesse acontecido? Mas aconteceu. Se calhar ali, ali ao lado. Pronto, Os avisos, os avisos são sempre e são sempre uma situação de risco. 00:15:59:05 – 00:16:22:15 O que avisa, no fundo, é vejam lá. Isto quer dizer atenção, não é? Vá em frente e veja utilizando atenção. Pode acontecer durante este período. Pronto! Está organizado em quatro níveis o verde, o amarelo, laranja e o vermelho da pessoa que a severidade. E também entramos muito em conta com a probabilidade de um evento acontecer. É óbvio que os avisos. 00:16:22:17 – 00:16:46:02 Por exemplo, um aviso para Lisboa numa situação de água sério, Vamos pensar em que PDM Em que? Em que sabemos que a situação da água sete podem operar a ser de forte, é emitido um aviso e os aguaceiros forte podem acontecer a norte de Lisboa. Mas o aviso foi emitido um aviso amarelo para todo o distrito e depois calhar aqui na Grande Lisboa não viu nada e pronto, lá vão eles bater no botão. 00:16:46:04 – 00:17:12:12 Mas isso é um clássico. Quer dizer, eu acho que essa parte já está à frente, sendo que lá está, os avisos são são interessantes. É minha sensação de que os episódios de mau tempo, aquele mais mais severo, um existem mais ou é só uma perceção de alguém que não tem sequer uma escala de tempo para pensar? Tipicamente tem ficado. 00:17:12:14 – 00:17:43:20 Tem havido mais severidade. Mas há aqui, e principalmente para quem não, para quem não está dentro da meteorologia, para quem só observa, só só vê o que acontece ou segue através das redes sociais. Há aqui outros fatores que hoje em dia, quer dizer, toda a gente tem um telemóvel, toda a gente é capaz de filmar um algo que aconteceu e pôr nas redes sociais e automaticamente fica disponível para milhares ou milhões de pessoas. 00:17:43:22 – 00:18:07:19 Temos também a questão dos nomes das tempestades. Também chamam muito mais atenção para os fenómenos. Quem está aqui é que decidiu batizar esta canalização problemática. Se quer dizer quando era, quando, quando era pequena, pequena. Mas nasci em Belém. Em Viana vivi sempre em caminha e temporais por amor da santa. Quer dizer, aquilo acontecia ter temporais. O Inverno era inverno, era bastante agreste. 00:18:07:21 – 00:18:26:15 Não, não há. Não há aqui grande diferença. Se calhar hoje as cidades estão pior organizadas, há mais trânsito por aí fora. Mas essa é a minha curiosidade de saber se a frequência destes fenómenos está a aumentar ou a nossa atenção sobre estes fenómenos. É o batismo que estamos a dar, está a aumentar a nossa nossa atenção sobre eles. 00:18:26:17 – 00:19:00:11 Penso que é uma mistura dos dois, é uma mistura dos dois. É típico. Tipicamente temos temos visto episódios que não são, ou seja, que já aconteceram. Por exemplo, ainda há pouco tempo tive que tive uma reunião com três meteorologistas espanhóis e falou sobre sobreviventes de Valência de setembro e foram mostrados vários casos em que aconteceram precipitações semelhantes, não com o mesmo impacto que que teve, que teve desta vez, mas com quantidades semelhantes de precipitação. 00:19:00:11 – 00:19:23:07 São fenómenos que já aconteceram. Portanto, o problema não foi a chuva, o problema foi o próprio, o ambiente e a maneira como o ar, como o urbanismo tinha, que tem construído a cidade também. Sim, sim, sim. E depois há uma diferença de de onde é que vai cair a precipitação naquele caso, naquele caso, a precipitação. A maior parte da percepção ocorreu. 00:19:23:09 – 00:19:48:21 Foi muita precipitação, porque foi uma situação em que temos uma precisão que é normal acontecer durante um ano inteiro. Aconteceu durante um dia. Então é uma quantidade absurda de precipitação e não é possível prever com um grau de finura que aquilo vai acontecer exactamente naquele ponto. É possível. É possível prever que vai acontecer um evento daquele daquela magnitude. 00:19:48:23 – 00:20:19:07 É possível prever uma zona onde pode acontecer aquele tipo de evento. Depois os impactos são mais, são mais difíceis de prever. Neste caso, aconteceu numa zona que estava muito vulnerável, junto a um rio, muita construção, onde antes passava passava um rio que era muito, mas agora passa cimento claro e é aquele aquele fenómeno que não, que eu não compreendo, que é o fenómeno de células, uma célula outra. 00:20:19:08 – 00:20:42:23 O que uma célula, uma célula, célula metereológica, célula convertida é o que é aquilo que nós utilizamos. E agora em português, o que é que é uma célula activa que no fundo é uma nuvem com um desenvolvimento vertical, portanto, que se estende bastante em altitude e que é capaz de tirar precipitação. Normalmente precipitação é escura e conseguimos vê la visualmente. 00:20:43:00 – 00:21:11:16 Sim, sim, sim. Olha para ela. Sim, sim, sim, conseguimos Numa gigantesca com uma quantidade olímpica de água. Não pode ser uma célula convertível. Pode ser uma nuvem simples de desenvolvimento vertical, que é capaz de gerar um aguaceiro moderado. Não, não precisa ser um aguaceiro forte. Isso, pois, a organização das células da severidade diferente se tu tiveres. Se tu olhar para o teu computador e vires, não sei se consegue ver no computador. 00:21:11:16 – 00:21:44:04 Vamos ver. É um conjunto de muitas células muito vermelhas, carregadas com muita água. Em princípio tu consegues olhar para isso e dizer vem chuva da grossa aqui sim, Não, nós não observamos as células, percebe? Portanto, podemos ver a nebulosidade. Podemos ver o quanto é que o modelo está a prever precipitação em determinados locais. É sim. E nessa altura nós conseguimos saber que ao criar uma situação de alguma severidade é que pode dar. 00:21:44:06 – 00:22:17:21 Pode ter impacto com modos de precipitação elevados à superfície e nessa altura pega se no telefone. Não sei como é que funciona essa comunicação. Ligas para protecção Civil e dizes Temos aqui um fenómeno que pode acontecer com este determinado risco. Sim, o contacto de proteção civil é diário. Portanto, nós todos os dias de manhã fazemos um briefing para a Proteção civil e quando nós chegamos e fazemos a análise da situação, do que é que se passou, das observações do modelo, que é, o que é que o modelo está a dar, que é que está a prever. 00:22:17:23 – 00:22:43:24 O passo seguinte é fazer a previsão descritiva e fazer um um briefing para a Protecção Civil, que ocorre por volta das dez e meia e sentir todas as manhãs. Sim, é. E nessa altura nós passamos a informação à Protecção Civil, normalmente dos três dias do próprio dia e dos dois dias seguintes e E damos também uma tendência para os dias seguintes, às vezes até uma ou duas semanas. 00:22:44:01 – 00:23:14:17 E isso é feito com outra regularidade. Quando tu estás aqui, observas, obviamente, a zona de Portugal Continental, Madeira e Açores também é uma zona que que tu cobres habitualmente. Aí as meteorologistas que estão lá a fazer a previsão usando os modelos mais locais, não madeira, madeira. Fazemos também a previsão aqui no continente. Os Açores é que têm uma população regional com os seus meteorologistas que faz a previsão para para quem foi dos Açores, percebe quanto o quão aquilo muda muito rapidamente. 00:23:14:17 – 00:23:38:22 Ainda bem que não tem que fazer previsão para a criação. São milhares de quilómetros, não é que há ali e há muito ali. Tem muitas variações durante durante o dia. É uma previsão. Eu nunca fiz a previsão. É obvio que vejo muitas vezes a previsão, até porque na apresentação do Bom Dia Portugal temos que fazer a apresentação para para para o arquipélago dos Açores. 00:23:38:24 – 00:24:04:07 Mas. Mas pronto, tem as suas dificuldades, como também tem o Continente e como também tem a Madeira, que os arquipélagos são complicados. Para quem tem razão os negacionistas que dizem que isto afinal não está a mudar nada ou aqueles que dizem está aí uma catástrofe. O número de alterações climáticas são muito notórias. E não é consensual, mas é quase consensual. 00:24:04:07 – 00:24:29:23 Como é que tu vês? Como é que tu vês no teu dia a dia? Como é que tu vês este estas alterações? No fundo, no dia a dia a gente não vê muito essas alterações, ou seja, na previsão, quem faz a previsão para cinco dias normalmente, que é aquilo que nós fazemos, se nós não é visível, é nas médias, nas médias, ao longo do ao longo do tempo, uma subida sucessiva um dois graus depois. 00:24:29:23 – 00:24:56:03 Lá está, mais uma vez, esta nossa sensação quase absurda que é tu. Mas eu estou a dizer que em média subiu dois graus por mês e este raio deste Junho foi ventoso e eu não tive nem deu Ir à praia parece um contrassenso, não é? Sim, sim, eu compreendo que às vezes é difícil perceber e relacionar os números que são veiculados com aquilo que nós vemos no dia a dia. 00:24:56:05 – 00:25:22:00 Mas, por exemplo, agora, 2024, saiu um relatório do Copernicus em que o valor médio da temperatura global ficou acima de 1,5 por um meio, um grau e meio em relação aos períodos de há o período pré industrial. Isso é uma ciência, Isso está lá, está. Sim, sim, é verdade. Sim, sim, sim, sim. É tudo feito com dados de observação, observação. 00:25:22:02 – 00:25:47:12 Eles são trabalhados no sentido de depois retirar a informação que é que que é importante deles. Quando tu vais às tuas redes sociais e vês aquilo que se diz de quem não olha para a ciência, mas dá um bitaite, afinal somos todos meteorologistas. Como é que tu te sentes? As pessoas sentem as pessoas hoje em dia e isso é um paradigma que mudou. 00:25:47:12 – 00:26:10:00 O que mudou nos últimos anos e é dos institutos fornecerem os dados de observação e os dados de previsão estão estão abertos. Não são todos os dados, como é óbvio, mas tem muita informação. Quem quiser fazer, tem de fazer. Exato. Quem quiser fazer contas, quem quiser fazer uma previsão, tem. Tem muitos dados Por onde? Por onde pode usar. 00:26:10:04 – 00:26:48:16 Isso é um amador? Consegue fazer isso? Sim, sim, sim. Hoje em dia o centro europeu que está está aqui. É o modelo que nós utilizamos. Disponibiliza imensos produtos de metrologia, de dados, de dados, de previsão a vários dias, de um de assembly, que é portanto utilizado para as probabilidades aí em produtos que podem ser consultados e que é importante Também há mais pessoas hoje em dia nas redes sociais a dar os seus bitaites e não se angustiar antes e não, não acho que eu acho que é uma situação normal. 00:26:48:18 – 00:27:17:06 A zanga fica um bocado irritada às vezes se se veja que querem tirar partido de da sua posição, porque muito por aqui muitas redes sociais têm um peso muito grande. Tem muitos, tem muitos seguidores. Exato. E é a ver e às vezes, como não tem estes, estas pessoas não têm a responsabilidade que o IPMA tem, não é? Não tem a obrigação de rigor e ciência que nós temos. 00:27:17:08 – 00:27:39:11 Podem dizer o que quiserem, podem fazer uma previsão. Lá está na sua rede como quiser e dizer vejam aqui que vai acontecer isto ou aquilo. E não é nunca. Eu tenho, eu tenho. Acho que todos temos a experiência, a democratização dos telemóveis, de despertos. Tenho para isso dez aplicações na meteorologia e nem sempre estão de acordo umas com as outras. 00:27:39:11 – 00:28:03:23 Tal é uma discussão no meu telemóvel dizer lhe que vai chover. Olha que não vai. Porquê? Porque é sempre que haverá essas. Estas diferenças usam um modelo diferentes, podem usar cores diferentes, podem usar modelos diferentes e por exemplo, a aplicação do IPMA baseada no modelo do cinto europeu. Mas tem um algoritmo próprio que não é algoritmo. Foi criado por muitos lojistas do IPMA. 00:28:04:00 – 00:28:25:13 O algoritmo é que é maneira de calcular sim o peso que dão a determinados produtos para a previsão da nebulosidade ou da precipitação. Como uma receita é como fazer uma receita simples. Sim, sim, mas o trigo disto -1 cadinho daquilo e depois vais afinando, O enfezado vai fazendo. Exato. E pronto. E temos a vantagem de ter acesso a todas as nossas observações. 00:28:25:13 – 00:28:56:24 E é elas também entram neste jogo de afinar a previsão em si e depois junta dados reais, porque depois vais sabendo o que é que chove verdadeiramente em determinadas pontos meteorológicos. Como é que está o vento, como é que está a pressão e tu consegues recalibrar isto tudo? Sim, isso é um processo que é feito cada vez que cada vez que são, que são produzidos esses dados para para aplicação e depois, lá está, tiras esta informação toda e lá vens tu com o papel debaixo do braço. 00:28:56:24 – 00:29:27:01 Aqui para a RTP, para o Bom Dia Portugal e dizer como é que, como é que a coisa está, como é que corre essa experiência, como é que ele se lembra das primeiras vezes que tiveste que enfrentar lá estar com o ecrã? Saudoso António de Azevedo quer dizer, sempre o mestre a nível de extraordinário comunicador. Fantástico mesmo. Como é que é e como é que essa experiência de falar, de falar para uma câmera está no ar? 00:29:27:01 – 00:29:55:02 Não há uma reação do outro lado a apenas contar as coisas das reações das pessoas? Sim, sim, sim. De vez em quando, muitas vezes pelos olhares, notas. Às vezes sou mesmo interpelado. Se precisar, já tive alguma histórias engraçadas. Sei o que acontece. Uma vez fui interpelado por uma senhora que veio ter comigo num café e já sei quando vem com aquela história do eu nunca sei, não sei, já sei o que é. 00:29:55:04 – 00:30:08:10 Ah, e a minha mãe gosta muito se assim. Ai que bom você olha você, você não faz ideia, mas ela tem um gato e o senhor sabe bem que se chama o gato. Eu sei, já estou, já estou a ver. 00:30:08:12 – 00:30:14:08 Bruno que é feio, então que foi logo o nome todo. 00:30:14:10 – 00:30:49:05 E pronto, é isso. Muitas, muitas vezes, algumas vezes interpelado na rua, as pessoas vêm ter comigo e, como disse, já são simpáticas, outras não. São muito cordiais, muito simpáticas. Nunca tive uma má experiência. Olha, mas diz olhando. E quando eu olho para o outro lado do Atlântico, para para Los Angeles e para aqueles fogos que lá aconteceram, fiquei a pensar como é que não há maneira de controlar estes fenómenos absolutamente extremos quando se conjugam baixa humanidade, vento, fogo. 00:30:49:07 – 00:31:23:22 Acontece nos também aqui alguma coisa que possas fazer para tentar ajudar. No fundo, ao contrário, vais dizendo que vai acontecer, não é? Sim, vai acontecer. E quando a celeridade desta magnitude é muito difícil haver um combate que seja que seja muito eficaz. Em Portugal, pronto, sofremos um pouco também no mesmo, um período de grandes, sem precipitação, depois com ventos mais intensos, humidade relativa às baixas e é pronto. 00:31:23:22 – 00:32:07:12 E a partir do momento em que se inicia um incêndio, o combate pode ser muito complicado se as situações. Se as condições meteorológicas forem forem severas, os modelos em Portugal já conseguem prever depois como é que o próprio fogo se pode desenvolver? Ou isso e os bombeiros e protecção civil que fazem essa parte? E portanto o que nós fazemos e é uma previsão do risco de incêndio, do perigo de incêndio rural, ou seja, se existem as condições que até, por exemplo, tem aí se houve uma situação de seca, se os combustíveis estão estão muito secos, os combustíveis finos, os médios e os grossos caruma que existe na nome das árvores que cai se durante. 00:32:07:13 – 00:32:27:11 Se nos próximos dias não houver precipitação solvente for intensa humidade relativa se forem baixas o perigo ou o perigo de incêndio rural é muito elevado. É óbvio que não há incêndios se não houver ignição. Sim, mas normalmente há sempre algumas ignições, sejam elas criminosas ou acidentais, e, portanto, a partir desse momento, então o processo tem tudo para correr mal. 00:32:27:11 – 00:32:56:22 No fundo, é para se espalhar rapidamente. Exato. Nós, nós na nossa interação com a protecção civil, portanto, temos. Temos esse briefing diário em que falamos precisamente na altura da época dos fogos. Falamos muito nas condições. O que, Como é que vai estar, como é que vai ser, como é que não está as condições para os próximos dias. Temos também um boletim específico que é elaborado durante a noite para o apoio ao combate aos incêndios rurais e é pronto. 00:32:56:24 – 00:33:25:14 E depois, a partir do momento em que a ignição é zero, existem estas ferramentas que ajudam no combate aos incêndios. Olha como é que é a tua relação com a inteligência artificial? Já é usada e ou ainda não? Ou ainda ou ainda este modelo já já estão a usar isso? Sim ou não? Já já começam a ser disponibilizados e previsões para tudo produzidas pela inteligência artificial? 00:33:25:15 – 00:34:01:02 E o que é que aparecem? Ainda são incipientes? Ou já ou já são para levar a sério? Já começam a apresentar resultados interessantes? O que é que aquilo faz que um ser humano não faça? No fundo, isto porque, em princípio, os computadores são bons a fazer contas? Claro que sim. Neste momento, neste momento, o que está a acontecer é a produção de produtos, a produção de produtos semelhantes àqueles que são feitos, que eram feitos anteriormente, só que de uma maneira muito mais rápida. 00:34:01:03 – 00:34:24:24 E. É e que assenta muito na observação, Ou seja, em que sentido eu estou, em que sentido? É um mastigar e um mastigar da informação que já existe a outra forma? Exato. Portanto, a inteligência artificial, os motores, a inteligência artificial, o que fazem e vão ver as observações todas que estão disponibilizadas? O que é que aconteceu com determinadas situações? 00:34:24:24 – 00:34:47:07 Estavam estavam com a mesma determinada situação? Ele compara Okay, hoje temos esta situação. Houve alturas em que a situação era a mesma. O que é que aconteceram? Os padrões X, a procura de padrões e portanto, inteligência artificial tem muito a evoluir no sentido em que quanto mais melhorarmos a rede de observação de observações, melhor será o resultado final da inteligência. 00:34:47:12 – 00:35:19:17 E quanto mais dados lá puseres, quanto mais contexto lá puseres, mais ela vai conseguir fazer essas correlações e depois mostrar te dados, que é quando é que entra a subjetividade e objetividade de um cientista meteorologista. Entra um pouco quando começa a haver mais incerteza. Como é que tu lidas com incerteza e incerteza, faz parte de. A atmosfera é um sistema dinâmico, com compra. 00:35:19:19 – 00:35:45:18 Aprendi estabilidade limitada e, portanto, há sempre alguma incerteza. Mesmo num dia de céu pouco limpo. Às vezes pode chover, não. Nós temos. Não chove, não chove? Não, Mas pode haver. Pode ser um dia de céu limpo. Pode ter algumas nuvens que estão a parecer que já criam um dia de céu pouco nublado. Há uma incerteza que é pouco importante neste caso, não é? 00:35:45:24 – 00:36:09:16 E, pois, tens as certezas que são muito importantes, que a precipitação forte que ocorre em determinados locais e que não ocorre noutros e que muitas vezes são, são difíceis de prever e Bruno Bruno, o que é que O que é um bom dia de sol para ti? O que é um bom dia de sol para mim? Sim, porque eu não sei quem batizou agora o nosso Instituto do Mar e da Atmosfera. 00:36:09:16 – 00:36:28:05 Aquilo devia se chamar Instituto do Sol do Vento e da Chuva e quer dizer muito mais Instituto do Sol Mais engraçado que é um bom dia de sol para partir. Não sei como é que tu estás com mau tempo. E tu estás com mau tempo? Depende se vou trabalhar ou se não estou a trabalhar. 00:36:28:07 – 00:36:52:17 Se se estiver a trabalhar e se gosta. Gosto das duas coisas que tanto gosto de um dia de céu limpo para descansar um pouco. Como gosto de um dia que dá muito mais pica trabalhar e fazer a previsão. Deve ser muito difícil lá no Instituto marcarem férias e termos todos a mesma altura. Toda a gente. 00:36:52:19 – 00:36:54:09 No café muito obrigado. https://vimeo.com/1055752820?share=copy…
A relação entre cientistas e jornalistas, entre investigadores e comunicadores é uma relação de amor-ódio. Os cientistas tentam sempre chegar à descoberta que sonham revolucionar o mundo. São escravos do método e adoradores do rigor absoluto. Nem que para isso tudo se diga com tal complexidade que só eles entendem. Os jornalistas, pelo seu lado, buscam a história que vai fazer a próxima manchete. E confrontados entre o rigor absoluto e a máxima comunicação, tendem as escolher a simplicidade radical. É bom de ver que apesar de precisarem uns dos outros para que a ciência e o conhecimento chegue mais longe, a relação tem alguma tensão. No meio desta batalha estão os comunicadores da ciência, Uma espécie de tradutores da complexidade dos cientistas e advogados. Da simplificação quase absurda da comunicação para o grande público. Uma edição para se falar de histórias e factos, mitos antigos e pós-verdades. E de desvendar finalmente porque são tão poderosas as histórias, mesmo aquelas que contrariam a mais elementar evidencia científica. Sara Sá é hoje comunicadora de ciência. Mas traz a bagagem de 20 anos de jornalismo. Além disso, começou por estudar engenharia espacial. Hoje, no Pergunta Simples, falamos de ciência, de jornalismo e de boas histórias. Ou melhor, falamos de como se conta uma boa história. E para isso, quem melhor do que Sara Sá? A Sara é jornalista, ou foi jornalista, é comunicadora de ciência e alguém que passou os últimos 20 anos a contar histórias sobre saúde, ciência e inovação. Agora, trabalha no INESC- ID , onde ajuda cientistas a comunicar melhor o que fazem. Mas a essência do seu trabalho continua a ser a mesma: procurar a lógica que faz uma boa história funcionar. Como rigor, e simplicidade. Mas sempre uma boa história. E isso leva-nos ao primeiro dilema da conversa: o jornalismo e a ciência são amigos ou inimigos? De um lado, os jornalistas que querem simplificar, traduzir conceitos complicados para toda a gente perceber. Do outro, os cientistas, rigorosos, meticulosos, nem sempre muito pacientes para explicar os detalhes. Durante muito tempo, estes dois mundos desconfiaram um do outro. Mas hoje, mais do que nunca, precisam de trabalhar juntos. O problema é que, no meio disto, há sempre um risco: até onde se pode simplificar sem deturpar? Como se pode contar uma boa história sem perder o rigor? A Sara diz que o truque está na coerência e na lógica. Se um argumento não faz sentido, se um mito não bate certo, o cérebro dela dispara um alerta. E esse radar já evitou muita asneira. Depois, claro, falamos de inteligência artificial. No INESC, a Sara acompanha projetos que aplicam IA à saúde, como o Halo — um sistema que ajuda pessoas com doenças graves que impedem a fala a voltarem a comunicar, recriando digitalmente a sua própria voz. A IA está a transformar tudo, mas será que sabemos mesmo o que estamos a fazer? A Sara diz que há dois tipos de pessoas neste debate: os otimistas, que veem a IA como uma ferramenta incrível, e os pessimistas, que acham que estamos a brincar com fogo. No INESC, onde se trabalha com os conceitos de base da IA há mais de 25 anos, a perspetiva é clara: é preciso separar o mito da realidade. E, já que falamos de mitos, entramos num dos temas mais divertidos da conversa. Será que só usamos 10% do nosso cérebro? Será que o frio causa constipações? E, já agora, será que fazer sexo queima tantas calorias como um treino no ginásio? (Alerta expectativas: não, exceto caso estejamos a fazer algo mesmo muito inovador. E atlético. ) A verdade é que adoramos acreditar em histórias simples. E é por isso que os mitos sobrevivem. Porque encaixam bem, porque explicam o que não conseguimos entender e, muitas vezes, porque dão jeito a alguém. Como aqueles cursos que te prometem desbloquear os outros 90% do seu cérebro. A Sara escreveu um livro sobre isto — Cem Mitos, Sem Lógica — onde desmonta estas histórias com ciência e bom humor. Mas o problema das fake news e da desinformação vai muito além dos mitos do dia a dia. Com a IA generativa, os vídeos e áudios falsos tornam-se cada vez mais convincentes. Como nos protegemos disso? Como ensinamos os mais novos a distinguir o que é real do que é falso? No final, a conversa com a Sara Sá é sobre como percebemos o mundo à nossa volta — seja através do jornalismo, da ciência ou das histórias que escolhemos contar. As boas vitórias têm sempre que começar bem, forte, de forma direta ou enigmática. Podemos contar logo o fundamental na primeira linha ou deixar correr a narrativa oferecendo novos dados. Se começar bem é crítico para que nos ouçam, fechar bem é garantir que ficamos na memória dos outros. Pode ser uma frase que ressoa. Pode ser um riso franco. Nem precisa de ser explicado. É universal. Tal como as grandes histórias. LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO 00:00:00:00 – 00:00:24:10 A Sara Sá, jornalista, comunicadora de ciência, tem passado a tua vida nos últimos 20 anos, pelo menos na visão do jornalismo. E agora tratar de comunicação de saúde. E isto é mais ou menos uma uma conversa entre entre, entre juristas reformados nem reformados ainda não saudosistas de vista, saudosistas do jornalismo nacionais. 00:00:24:12 – 00:00:47:20 Tens saudades do jornalismo? Sim e não. Eu fui muito, muito feliz no jornalismo e não consigo imaginar outra profissão que me fizesse tão feliz e que me trouxesse tanto que me enriquecesse tanto. No entanto, penso que o meu trabalho, minha missão, está cumprida e sou feliz no que está a fazer e, portanto, saltamos a seguir para para fazer. 00:00:47:22 – 00:01:15:20 Agora, neste momento, estás numa instituição chamada INESC e vê o nome sexismo lá já lá vamos e escrever isso que é escrever te um curioso livro de que vamos falar que são sem mitos, sem lógica, como se a lógica contasse a lógica que conta para contar uma boa história. Para mim é essencial. Aliás, eu acho que não tenho um defeito, É quase uma compulsão. 00:01:15:22 – 00:01:44:07 Se uma história não tem lógica, eu fico completamente orientada. É uma coisa que me perturba mesmo e tenho dificuldade em lidar com a falta de lógica, com o défice de lógica. Isso é que se eu tenho coração cientista, para as pessoas que não sabem, é o meu cérebro cientista, eu diria tudo. Escolhi isto estudar engenharia aeronáutica, aeroespacial e oficial espacial da Primeira Turma da Aeroespacial. 00:01:44:09 – 00:02:13:16 O que que deu na cabeça e deu pouco na cabeça, porque foi e foi coração. Aí foi uma decisão muito mais emocional do que propriamente racional, porque eu gostava de espaço, de astronomia, de estrelas, dos programas do Carl Sagan e tinha muito boas notas, o que pode ser uma vantagem, mas no meu caso, acabou por ser um problema que eu podia escolher praticamente do que quisesse e isso foi difícil de gerir e acabei por entrar para este curso. 00:02:13:16 – 00:02:35:15 Ao escolher este curso, porque era novo, abriu naquele ano e porque havia essa magia do espaço para mim, da astronomia, de ver estrelas como o meu pai, de ver os eclipses quando era miúda no terraço de casa. Portanto, nada, nada do que estou a dizer é muito racional e completamente emocional. E o que é que se aprende num curso? 00:02:35:17 – 00:02:59:02 Olha se muito pouco de astros e essa foi a minha decepção. O curso é muito mais sobre mecânica e aerodinâmica e propulsão e termodinâmica e matemática e física e química do que propriamente astronomia. Aliás, não tem nada de astronomia. Aprende se o que aprende se como fazer aviões, Como é que os aviões voam, como é que se controlam aviões? 00:02:59:04 – 00:03:22:08 No fundo, é um curso muito parecido com engenharia mecânica, sendo que a mecânica está mais virada para os carros e outro tipo de máquinas é o era espacial, está virado para aviões e é aeronave. Outro tipo de aeronaves é foguetões e satélites e portanto podia estar agora neste momento a trabalhar para o senhor, mas quer construir para aí uns foguetões para o dia a dia E por acaso acho que não tenho nenhum colega ou colega no México, mas tenho colegas na Agência Espacial Europeia. 00:03:22:08 – 00:03:48:03 O número base e empresas do setor. E ainda me fascina aquela ideia de não ser só uma vez, de fazer o céu e as estrelas. Sim, já percebi que sim, mas se calhar não. Não. Mecânica da coisa não é Também se calhar já não de uma forma tão romântica. Hoje em dia vejo o espaço mais como um setor comercial de grande crescimento, de crescimento exponencial, económico e de atração de talentos. 00:03:48:05 – 00:04:29:03 Mas acho que perdeu um bocadinho daquela magia que eu acho que não só sentimos quando somos adolescentes e jovens inconscientes. Depois foste encontrar esse fascínio. Quando vens fazer jornalismo? Sim, o que conta no jornalismo que fizeste muitas vezes? Jornalismo de saúde. Fizeste muito jornalismo de ciência também a procura de como é que se conta uma boa história. Eu acho que a história no jornalismo, ou melhor, no jornalismo de ciência, de saúde, existe ou tem o poder de captar a atenção, porque tipicamente os temas de saúde e de ciência são complicados, como são os da economia ou até os da política, que uma história, uma boa história ajuda. 00:04:29:08 – 00:04:49:15 Ou pelo menos era assim que eu via, ou ainda hoje o vejo, ajuda a captar a atenção do leitor. Nós somos viciados em histórias, mas nós crescemos e a nossa evolução dependeu da nossa capacidade de contar histórias. E em pequeninos nós é assim que aprendemos a linguagem simples vinculamos. É assim que aprendemos na escola através da história. E eu penso que para os adultos se mantém. 00:04:49:15 – 00:05:22:10 Isso é uma boa história. Ajuda nos a fazer passar depois aqueles temas mais complicados ou aqueles conceitos mais complicados, de uma forma a prender o leitor. Mas sendo que gosta de contar uma boa história, comer uma vez, funcionar sempre bem, um personagem, um herói, um inimigo, obviamente. Mas depois há isso, a substância das histórias, aquilo que nós temos que contar, que temos que pôr lá dentro, que é complexo, cada vez mais complexo, cada vez mais difícil, cada vez mais difícil de contextualizar. 00:05:22:12 – 00:05:41:17 Lembro me sempre que contávamos aos jovens estagiários em modo de piada. Espero que tenha sido assim entendido que é. Não deixes que a verdade estrague uma boa história, porque fica a tua fronteira. Como é que? Como é que depois, de que ferramentas é que tu usavas para para conseguir fazer essa autópsia? Eu acho que nunca fiz deixar que é verdade. 00:05:41:18 – 00:06:02:17 Quando muito, podia não contar a história se a história não me parecesse boa o suficiente. Podia não contá la, manipulá la de forma a que deixasse de ser verdadeira. Acho que nunca o fiz, pelo menos duma forma consciente, porque este também é o primeiro compromisso do jornalismo. E é verdade. É verificar e verificar. É uma utopia. Nós sabemos que a verdade absoluta, a filosofia, diz isso não é verdade absoluta. 00:06:02:17 – 00:06:28:00 Não existe. O conceito de verdade varia, é subjetivo, acaba por ser subjetivo, mas deve ser um objetivo. Deve ser o que nós procuramos. E porque é que eu gosto tanto de jornalismo, de ciência? Porque este também é o objetivo principal da ciência. A ciência procura verdades que são verdades, pelo menos naquele momento. No estado em que nós estamos à luz da evidência, aquilo é o que se acredita que é verdadeiro. 00:06:28:01 – 00:06:52:05 Mesmo que amanhã o cientista descubra outra coisa dentro da mente oposta. E isso é que é o interesse principal da ciência é estar sempre presente na vida dos cientistas e, até certo ponto, também na vida dos jornalistas. Nós retratamos o momento atual. O que é verdade hoje é que amanhã pode parecer não estar, em que nos obrigam a pensar, a repensar tudo aquilo que nós pensamos. 00:06:52:07 – 00:07:26:22 Então, apesar de tudo, tu, jornalista, agora tu, comunicadora de ciência e ajudando os cientistas a comunicar melhor. Sempre houve uma atençãozinha, para dizer o mínimo, entre os cientistas mais ortodoxos e os jornalistas mais teimosos que, por um lado, o jornalista em busca da história, da facilitação absoluta daquilo que é complexo para que qualquer pessoa consiga entender e depois o cientista da caixa, que acha que o rigor absoluto, tremendo e detalhado é a verdadeira substância da história para contar. 00:07:26:24 – 00:07:50:06 E estes dois mundos nem sempre andam a par aqui. Uma tensão pode haver, mas sabes, acho que o que eu vivi ao longo dos mais de 20 anos de contacto quase diário com cientistas e que vivo hoje em dia na minha instituição de trabalho no Instituto de Investigação, é que há uma abertura cada vez maior para a necessidade de comunicar e até porque as regras do financiamento assim obrigam, não é? 00:07:50:11 – 00:08:19:05 Todos os financiamentos públicos obrigam a que haja uma participação, uma comunicação daquilo que se está a fazer. Portanto, é preciso haver visibilidade, é preciso visibilidade. E esta ideia de que há dois níveis de comunicação, portanto, uma comunicação entre pares e uma comunicação para o público em geral é cada vez mais bem aceite pela comunidade científica. Existe. Os cientistas falam entre eles coisas complicadas que só eles entendem, numa linguagem muito própria e que cada um na sua área de especialidade. 00:08:19:07 – 00:08:41:16 Sim, é isso que existe. Nós fomos lá espreitar. Nós leigos, coitados de nós, não vamos perceber nada do que é que é assim que eles falam nos congressos em que escrevem, nas publicações científicas, escrevem para os pares com os pares em mente. Mas há cada vez mais cientistas envolvidos em atividades de comunicação para o público em geral, até projetos com escolas em feiras, com jornalistas. 00:08:41:18 – 00:09:05:17 E aí esse esforço é o que eu tenho percebido é que há uma grande consideração e um grande respeito pelas pessoas que fazem essa ponte, que conseguem, como eles dizem, traduzir informação complicada em coisas simples e apetecíveis com açúcar. Outro método de lá no INESC e vê já agora, o que quer dizer INESC, que é para Nacional de Engenharia, Sistemas de Computadores, Investigação e Desenvolvimento. 00:09:05:17 – 00:09:26:19 Portanto, não ter enganado a malta inteligente que está a fazer, está a fazer o que? O que é que tu queres? Nós acabamos de celebrar 25 anos. Foi esta esta semana o evento de comemoração e uma das coisas que podemos constatar é que as áreas que lançaram com que nos lançámos em 2000, no ano 2000, são exatamente as áreas da moda hoje em dia. 00:09:26:19 – 00:09:58:01 Foi quase. Até parecia que os fundadores tinham uma bola de cristal e queriam adivinhar em que adivinharam o que é que viriam a ser as áreas de topo hoje em dia que são Que inteligência artificial? A inteligência artificial aplicada à medicina blockchain, portanto, machine learning? Todos estes chavões que hoje em dia quase se tornaram de conhecimento comum e aquilo em que trabalham os investigadores do INESC e começaram há 25 anos a pensar em 2000, no ano de 2000. 00:09:58:03 – 00:10:24:14 Na altura não se falava tanto inteligência artificial como falo hoje em dia, mas ela já existia. As redes neuronais, que são a base também de boa parte dos sistemas de inteligência artificial, estavam exactamente na área de trabalho, área principal. Na altura já se estudava muito concretamente a questão da linguagem. Qual é a palavra que vem a seguir, que é base se é processamento de sinal, fala, processamento de fala eram áreas que já existiam. 00:10:24:17 – 00:10:52:12 Telecomunicações também é comunicação. Qual é a tua fé na inteligência artificial? Não é uma fé nas obras de fé e inteligência artificial? É óbvio. Vou dizer aqui banalidades tem um potencial gigantesco. É uma área onde a evolução e as dores avassaladora. Basta pensar que há dois anos ninguém tinha ainda o Viagra. Pelo menos o cidadão comum não tinha ouvido falar sobre o site PT Origens Artificial e hoje em dia está nas bocas do mundo. 00:10:52:12 – 00:11:17:11 Toda a gente fala em PT. Sabendo com mais conhecimento ou menos conhecimento de causa, temos surpresas a cada passo, como tivemos esta semana os chineses com o chinês, que foi um salto, podemos dizer um salto quântico, provavelmente no uso da inteligência artificial. No entanto, isso as pessoas que discutem ou que trabalham na área de interessar se anualmente dividem se entre os otimistas e os pessimistas. 00:11:17:11 – 00:11:45:03 E eu sou, como sempre, uma pessoa otimista em geral. E o qual é que é? O receio é que o mito, ou aquela ideia de que é necessário social, vai sobrepor se ao humano e tomar conta disto. E eu sinceramente não acredito que isto venha a acontecer, porque o cérebro humano continua a ter uma capacidade incomparável e imensurável quando comparado com o sistema físico. 00:11:45:03 – 00:12:12:20 Não precisa da máquina da criatividade. Estamos a falar da mediocridade e até outras funções que para nós são óbvias e imediatas que um bebé de um dia consegue fazer e que num sistema computacional são muito difíceis de programar. Um exemplo crucial, paradigmático é o reconhecimento de formas e de objetos para ensinar um sistema de inteligência artificial a reconhecer um gato que um gato e um gato são precisas horas e horas e horas e horas de treino. 00:12:12:20 – 00:12:35:06 É preciso mostrar milhões de fotos de gatos até que um sistema de luzes artificial consiga identificar. Está aqui. Um gato está em todos os sentidos. Sinais que evidenciam que é um gato é uma criança, uma pessoa. Ver um gato, duas, dois. Ficar a ver um gato num livro e as crianças novamente Aprender a ver animais nos livros. E aprende e reconhece. 00:12:35:08 – 00:13:03:04 O que significa que lá está que nós somos máquinas altamente sofisticadas, com uma capacidade de desaprender e em infinita capacidade. Lá está, de organizar o pensamento e de conseguir imaginar o futuro para Para uma filha de um poeta que é o teu caso, imagine que é uma coisa que tu aprendeste desde desde muito cedo. E lá dentro, lá em casa, no INESC, esse debate entre os otimistas e os pessimistas estão estão que dados é que estão em cima da mesa? 00:13:03:04 – 00:13:21:04 O que é que eles falam? Porque se eles há 25 anos estão a inventar isto alguma coisa verão mais do que eu. Acho que a balança está mais do lado dos otimistas do que eu tenho podido perceber. Há um discurso muito racional sobre a inteligência artificial e há até uma tendência de se fugir, de trazer um bocadinho da água. 00:13:21:04 – 00:13:41:01 A fervura desse, toda essa excitação, toda esse entusiasmo talvez um pouco desmesurado relativamente à inteligência artificial e ao seu potencial. Penso que nós, lá na Casa, tentámos ser muito concretos, muito racionais e objetivos relativamente a esse assunto. E todos já falam o que é que é que investigam a seguir. Agora têm curiosidade para saber o que é que vai acontecer daqui a 25 anos? 00:13:41:03 – 00:14:09:04 E eu penso que uma das áreas é esta é uma área. Uma das nossas áreas temáticas é a aplicação à saúde e eu acho que será uma das áreas que mais beneficiará e já está a beneficiar da utilização de sistemas de inteligência artificial para diagnóstico médico, para realização de cirurgias à distância, para encontrar padrões no tratamento de doenças e agrupar pacientes de acordo com o seu património genético. 00:14:09:04 – 00:14:32:12 As patologias de que sofrem as suas condições físicas e sociais e, dessa forma, melhorar e conseguir o tão almejado tratamento direcionado. Não é que algo de que se fala já há uns 20 anos, mas ainda não é bem a realidade e portanto, a procura de, através dos grandes números, encontrar padrões muito pequenos e repetidos, personalizar de alguma maneira as pessoas. 00:14:32:14 – 00:14:59:05 Isso implica um acervo gigantesco de dados, obviamente grande computação e insegurança, porque quando nós olhamos para isto, fico sempre a pensar que volta e meia nós ouvimos falar que há um hacker qualquer que um pirata informático que conseguiu entrar num sistema. Quanto mais potentes forem estes temas, de alguma maneira podemos pôr nos melhor De outra maneira. Os sistemas podem ter uma vulnerabilidade que pode ser mais perigosa para nós enquanto seres humanos. 00:14:59:10 – 00:15:24:02 Sim, a questão da ética e da segurança é essencial, pelo menos na Europa. É um tema que está em cima da mesa e há muitas iniciativas no sentido de assegurar que não só o sistema desenvolvido na Europa o cumprem, como aqueles que são utilizados na Europa, desenvolvidos noutros países ou noutras regiões do globo, como a Ásia, por exemplo, que se forem utilizados na Europa, têm que cumprir. 00:15:24:04 – 00:15:50:12 E nós, mulheres, que até fazemos parte de um consórcio financiado pelo PRR, que é o Centro for Espaço balear e, portanto, o Centro para a Emergência Social Responsável, em que uma das premissas é precisamente que tudo o que seja desenvolvido no âmbito do projeto cumpra os critérios da da inteligência artificial, responsável pela articulação não parcial. Uma regulação, mas que é independentemente da lei. 00:15:50:14 – 00:16:32:10 Portanto, por princípio, tudo o que vier a ser desenvolvido, inclusivamente aplicações médicas, pois se quiseres, posso dar alguns exemplos. Tem que cumprir estes princípios que passam por ser transparente, não ser enviesada, ou seja, ser imparcial. Não escolheria 15 pessoas uma pessoa relativamente a outras e no fundo cumprir o que é a Constituição. Porque se nós quisemos pensar o que são as regras para uma inteligência artificial responsável e uma inteligência artificial que cumpra os princípios da constituição dos direitos humanos, além da obviamente reserva dos dados europeus em servidores europeus, que também está nas regras. 00:16:32:12 – 00:17:04:05 Sim, que aplicações vêm aí? Que aquilo que é que olha neste centro, nesse projeto que está a falar? Uma das aplicações que tem tido mais destaque, que talvez seja mais impressionante e até já foi referenciado em publicações fora de Portugal, é o Halo, que é uma tecnologia que permite a pessoas com esclerose lateral amiotrófica ou outras pessoas com que já não consigam falar que tenham perdido a capacidade de falar por alguma doença ou acidente, consigam comunicar com a família, inclusivamente com a sua própria voz. 00:17:04:07 – 00:17:35:12 E isto é feito com um sistema de inteligência artificial a partir de gravações que as famílias possam entregar ou que a pessoa tenha feito enquanto ainda consegue falar e depois cria se uma persona do indivíduo com os seus gostos, o seu passado, o seu histórico familiar. E depois é possível através através de um sinal que a pessoa da franzir a testa, por exemplo, responder a perguntas e ter até uma ligeira conversa com com alguém. 00:17:35:17 – 00:18:01:00 E porque é uma criação de uma personagem em digital, quase um robô de uma persona digital que tem as características da pessoa em questão. Portanto, a pessoa que tem a patologia para que esta, Para que as perguntas que lhe são feitas possam ser. Responder que as respostas que são dadas relativamente às perguntas que lhe são feitas estejam de acordo com aquilo que ela é e o que ela quer com os gostos. 00:18:01:02 – 00:18:27:22 Vou dar um exemplo buscar Não estou explicar muito a evitar um exemplo concreto. A mulher. Isto foi uma situação real. Um senhor com esclerose lateral amiotrófica estava a conversar com a mulher e ela perguntou lhe O que quer jantar hoje? E aparecem três ou quatro opções E quando surge a opção que ele quer, basta fazer um sinal e essa mensagem é transmitida pelo telemóvel ou pela voz. 00:18:27:22 – 00:18:48:16 Pode ser. E eu quero jantar bife com batatas fritas, apesar de eu não estar a mexer, eu não estar a falar e portanto pode declarar aquilo que quer, aquilo que não quer, o que é uma coisa supostamente formidável. Algum dia poderão haver uns robôs, umas personas dessas que vão trabalhar para nós e quiçá nós podemos passar algum tempo mais a ler os livros que nos é que nos interessam duplicar. 00:18:48:16 – 00:19:26:07 Estão a uns tempos um livro muito engraçado de seu nome, sem mitos, sem lógica, portanto A nossa Cara está com um livro amarelo e podem podem ver que é um livro muito, muito curioso. Lá está, nós falamos do jornalismo, falamos agora da ciência do amanhã que será melhor. Todos esperamos que que que que hoje é. Todavia, as pequenas histórias ditas virais podem ser desde as fake news que agora tanto se fala, mas podem ser mitos mais ou menos urbanos que, apesar de tudo, apesar de toda a ciência do mundo, sobrevivem e estão aqui e são contados. 00:19:26:09 – 00:19:50:01 Sim. Que raio de mecanismo é este que torna uma, enfim, um mito? Uma uma informação que já foi várias vezes não comprovada ou desmentida, mantém se à tona e é continuar a fluir. Olha, eu acho que uma das razões é algo de que já falamos aqui que as histórias e esses mitos estão associados às histórias e estórias têm esse poder. 00:19:50:03 – 00:20:15:20 Nós estávamos a falar no início e perpétuo nós por causa disso, a um dos mitos que temos aqui que não se pode beber cerveja, vinho, quantos como melancia e. E essa história normalmente vem associada a alguém que conheci, alguém que estava num piquenique e que teve uma congestão e teve uma congestão. E isso penso que torna estes mitos mais fortes. 00:20:15:24 – 00:20:40:03 O facto de haver uma história associada torna nos mais reais. Outra razão porque eu acho que as pessoas acreditam em mitos é porque é uma forma de justificar ou de compreender o incompreensível, Vamos supor. Voltando ao caso da melancia com vinho, terá havido realmente uma situação em que alguém estava num piquenique, feliz e contente e a seguir morreu e não sabe porque? 00:20:40:03 – 00:21:11:11 Provavelmente teve um AVC? Não sabemos se foi ou não. As pessoas não encontraram uma razão para estava tão bem, Fui tão feliz, tão feliz e de repente morre. Pode ter tido medicina, pode ajudar e várias razões um aneurisma, um AVC, um enfarte. Fui lá mais ou menos, o que é uma resposta que está mais próxima e então, portanto, é no fundo, a procura de tentarmos encontrar respostas simples para problemas complexos ou para coisas que inexplicáveis sobre humanos que nós sabemos. 00:21:11:16 – 00:21:39:16 Há vários mitos, alguns eu fiz aqui uma coleção. Eles são sim mitos, mas há alguns que para mim são são muito curiosos. E o primeiro tem a ver com o cérebro, exatamente com o nosso intelecto, que é um mito que diz assim só usamos 10% do nosso cérebro e depois a internet está pejada de coisas que e faça aqui este curso ou faça aqui esta meditação, esse teste, faça se para conseguir alargar os 90% para para os 100 isso. 00:21:39:16 – 00:21:58:17 E depois há um outro aspecto é que nos mitos é que muitas vezes esses mitos são criados também porque há interesses comerciais por trás. É um negócio, é um negócio. Alguns serão. Portanto, essa história for boa e eu disser assim em princípio não és tão burro como parece que só estás a usar um bocadinho da tua inteligência e tem interesse em perpetuar os mitos. 00:21:58:17 – 00:22:21:12 Porque? Porque dar dinheiro a ganhar, não é? É outra das explicações possíveis. Mas há também aqui alguma base de que não, não há base nenhuma. Nós usamos todo o potencial do nosso cérebro, exceto tenhamos intenções ou défices, não é? Mas à partida usamos. Nós precisamos. O corpo humano e a natureza em geral está feita de acordo com o princípio de mínima. 00:22:21:12 – 00:22:43:24 Nós não temos estruturas, no caso, órgãos para não usar, não há tralha, não atualizar, ter uma maneira de dizer que existe isso, que não existe. Isto é o teu cérebro de cientista que é tu a dizer me sobre isso. É tudo em sítio da inteligência, da energia. É muito simples, é mínimo. Gastamos o mínimo de energia possível para cumprir as tarefas que temos que cumprir, expressa. 00:22:43:24 – 00:23:02:12 Num tratado otimizado, isso parece uma coisa, não é uma otimização para a energia e o cérebro é o órgão que consome mais energia de todo o corpo humano. E não sei como é que tu vês, mas eu sou um procrastinador. Portanto, aquela coisa que se calhar posso fazer mais tarde do que faço agora, também sou, mas tento combater no dia a dia, no dia a dia. 00:23:02:14 – 00:23:21:20 Nós temos que combater essa paz, porque ela está lá, ela está lá sim, porque nós também temos isso também. E podemos pensar que é uma explicação que pelo princípio, tende a mínima. Tendemos a preguiça ou a inércia. Não é não mudar, não mudar o que estamos a fazer, mas para a natureza e para a evolução, isso permitiu nos ser altamente eficientes. 00:23:21:20 – 00:23:53:03 Todos os organismos vivos são altamente eficientes. Na altura em que pelo menos, era difícil encontrar comida e caçar e afins e já temos escassez, Não é por isso é que depois hoje em dia somos obesos. Não é lá muito a obesidade, porque nós estamos preparados, outros menos. Nós. Vamos dizer nomes a um mito que associado a isto, quer dizer que dos 10% que é aquele mito que diz que o cérebro dos humanos é gigantesco, é grande diferença e é o nosso egocentrismo. 00:23:53:03 – 00:24:23:17 E o homem acha sempre nós todos que estamos acima dos outros animais, temos uma visão de superioridade inevitavelmente e para já não é o maior cérebro da natureza. Os cachalotes têm servos muito maiores. O teu coração açoriano já pode ser, Pode ser. Mas isso, além de emocional, é também racional. Mas realmente, obviamente que há aspetos do nosso cérebro que são únicos, que é, por exemplo, o crescimento. 00:24:23:17 – 00:24:53:07 Depois do nascimento, o nosso cérebro cresce muito, de uma forma muito maior do que a dos outros cérebros e também a capacidade de ligações que conseguimos estabelecer. Isso é único entre entre os meus neurónios. Sim, sim, há ligações entre neurónios. Nós conseguimos construí las incomparavelmente mais do que outros seres. Olha, eu quando estive a ler esta história do mito dos 10% do cérebro, depois dediquei me a pensar que não podemos pensar no Einstein. 00:24:53:07 – 00:25:19:06 Não posso pensar num Lobo Antunes, que estas pessoas especiais às tantas e não sei se usam mais cérebro, mas pelo menos aparentam usar melhor o cérebro. Não é porque sabem pensar outras coisas diferentes das nossas. Lá está as ligações, porque o raciocínio tem tudo está relacionado com as tais ligações. Então as sinapses entre neurónios e conseguiram estabelecê los de outra forma. 00:25:19:08 – 00:25:46:06 Obviamente que nós não nos somos todos iguais, isso é um mito e sim, é um mito. Objetivamente, não nascemos todos iguais, mas biologicamente, biologicamente teremos o mesmo. Serve, Mas depois as ligações que estabelecemos não são as mesmas. Isso, aliás, vê se quando são irmãos gêmeos, por exemplo, que estão no mesmo sítio sobre o mesmo ambiente. E todavia, isso são os mesmos estímulos e são pessoas que têm personalidades diferentes, não é mesmo? 00:25:46:06 – 00:25:52:23 Aqueles que se vestem de maneira igual, sim, que são obrigados para isso. Sistema igual. 00:25:53:00 – 00:26:13:00 Mas é sempre uma combinação entre o material, o nosso património biológico e os estímulos a que estamos sujeitos. E depois os nossos interesses. É que nós também temos de achar que falas nisso porque há um outro mito lá, o mito 51, que ainda por cima é um mito. Não sei dizer, mas há 20 anos já dizia que homens e mulheres têm cérebros diferentes. 00:26:13:06 – 00:26:43:08 Ah, pois, não é que dizem não? Mas os os. Os homens têm um cérebro que é tipo gavetas, põem as coisas do lado de cá e as mulheres têm, lá está, no correlativo o condicionalismo social. Nós, pais, professores e educadores em geral, É muito difícil que não tratemos os meninos rapazes de uma maneira diferente do que tratamos. As meninas raparigas não é uma criação social, é um efeito social do ambiente. 00:26:43:10 – 00:27:11:12 Toda a sociedade está construída desta forma, não é? Podemos começar a. Podemos pensar pelas cores e começarmos a vestir, mas isso é algo que tem vindo a diluir se. Mas o menino de azul e a menina cor de rosa, até aos brinquedos que damos, os carros e os legos aos meninos? E as bonecas e as cozinhas, As meninas até o nosso boletim de nascimento é diferente das meninas, é cor de rosa dos meninos. 00:27:11:12 – 00:27:39:07 E isso já começa por aí. Se nós formos analisar a esse condicionalismo social desde que até antes do nascimento entre cérebros, deixa me mais longe. Eu acho que o cérebro das mulheres funciona tendencialmente melhor. Melhor depende de qual é que é o teu critério. Não é melhor que eles pensam mais rápido, correlacionam mais coisas. Não há uma coisa que se diz é essa. 00:27:39:10 – 00:28:08:10 Mas eu volto a dizer que é uma entre o entrevistado interessa em astrofísica e eu não. Mas não tem aqui. Mas não tem ser uma matemática, não é minha. Pois é. Os rapazes tendem a ser mais focados. É aquela coisa de se dizer as mulheres têm capacidade de multi-tarefas e os homens não. Mas quer também porque são condicionados desde pequenos a serem mais focados numa única tarefa e quando a realizam são altamente eficazes contra mulheres. 00:28:08:10 – 00:28:29:12 Têm mais e assim. Mas também porque as mulheres na vida adulta e se calhar até começam antes, têm mais necessidade do multitarefa. Nós sabemos que as tarefas domésticas, as responsabilidades familiares, tradicionalmente estão mais a cargo das mulheres. É uma questão de adaptação e isso obriga a que haja essa multitarefa, o que é péssimo para o cérebro. Já que estamos a falar de cérebro. 00:28:29:14 – 00:28:50:17 É uma das piores coisas que se pode fazer ao cérebro. É estar em multitarefa, desligar e desligar e ligar, desligar. E isso é muito mau para a essência cerebral, para o raciocínio. Portanto, mais valia fazer uma coisinha de cada coisa, de cada vez. Concentrar numa coisa de cada vez. É outra luta. Falamos da procrastinação. Eu fazer tudo é algo que eu tento também combater. 00:28:50:19 – 00:29:13:12 Porque o que é que tu fazes? Como? Como que tácticas deixar de fazer muitas coisas ao mesmo tempo? Tentei, Consegues controlar, Tenho tentado controlar, mas o jornalismo também não ajuda. Também não ajuda. Não, não, não é. Já tinha sempre ali várias coisas, mas trabalhar na Fundação não ajuda, pois não é que seja lá para quem nunca trabalhou numa, numa, numa, numa relação, obviamente as coisas são são muito, muito complicadas. 00:29:13:17 – 00:29:35:03 Bom, há sempre um momento em que podemos ir descansar pelo -1 bocadinho. Embora os jornalistas sejam tidos como o tal mito dos homens sem sono que comecem agora a ter uma profissão bastante assumida. 08h00 é o mínimo que nós precisamos para dormir. Exceto o professor Marcelo K. É um sortudo. Tenho imensa inveja das pessoas que não precisam ficam com mais horas para viver, para viver. 00:29:35:08 – 00:30:00:24 Eu queria imenso. Sim, isto convencionou se ser 08h00, mas. Mas a variabilidade já está. A variabilidade biológicas é qualquer coisa entre 06h30, 07h09 e tal dez. Num adulto estamos bem, estamos bem. Lá está o doutor em cima do professor a dormir, que se fartava e fazia coisas de perto. A pessoa é que tem que saber como é que se sente bem e o que é que é o seu ótimo nível. 00:30:01:00 – 00:30:21:17 E uma das formas é, por exemplo, não acordar com o despertador e ver como é que se acorda, como é que se está durante o dia. Conheço poucas pessoas que acordam assim sem o despertador tocar. A sério. Grandes surpresas só podiam ter duas. Têm um voam. Se essa entrevista tinha sido logo de manhã, provavelmente tinha posto tipo que é para acordar e pronto, Teve a certeza porque minha. 00:30:21:19 – 00:30:52:10 Olhe, olhe para o planeta agora é um planeta cada vez mais rápido, com cada vez mais estímulos, cada vez uma canseira maior de estímulos às 22h00 ou às 23h00, hora em que devíamos estar se calhar a pensar em descansar. Estamos todos ali a fazer isso, com as luzinhas azuis nos olhos. Nós Descansar assim também não é? Pois um dos conselhos para dormir bem é precisamente não estar com com luzinhas azuis antes da hora de ir para a cama. 00:30:52:12 – 00:31:17:03 Olha, amanhã um duche não é? Eu estou a contrariar todas as regras do clickbait das pessoas clicarem para ver. Há um mito sobre o corpo humano. O mito número dois foi tu que escolhi esta ordem? Não fui eu estar no livro que foi o editor. No caso, fui eu a ordem. Fazer sexo é um ótimo exercício físico. E tu põe um carimbo disto a dizer mito. 00:31:17:05 – 00:31:49:21 Por amor de Deus, se se sentir mais confortável, deixa. Acho que é daqueles mitos que não faz mal a outros. Podem ser mais prejudiciais sim, não é. Em termos de gasto calórico, não é muito representativo, é pequenino e o gasto calórico é baixinho. Lá. Mas não quer dizer que o sexo não faça bem e muitos outros aspetos da nossa vida contribui para a longevidade que ajuda a combater a depressão, a aproximar as pessoas a inúmeras virtudes do sexo. 00:31:50:02 – 00:32:19:13 Gastar calorias não é uma delas. Gasto, obviamente, mas andar a pé, por exemplo, fazer uma caminhada gasta mais calorias do que do que aquela que lá está e que estamos a colocar um tema que tem obviamente interesse geral, ligado a um tema que também tem interesse geral, que é não engordar ou emagrecer ciclicamente. Mas o peso é a junção destas duas coisas que claramente torna isto uma história completamente tão apelativa e tão interessante que já ninguém vai discutir. 00:32:19:14 – 00:32:44:02 Ou entre entre um sorriso e outro, entre o crédito absoluto desta história. Obviamente ela vai funcionar sempre. Sim, e é um caso sedutor. Eu vou comer muito bem, Não faz mal, até porque dá uma certa ar de garanhão, não é, suponho eu. Onde eu gasto depois? Logo ali, numa noite tórrida de sexo? Lá está, não tem problema nenhum que a pessoa continua a dizer isso, mas não é verdade. 00:32:44:04 – 00:33:08:17 Está a mentir também. Faz parte destas coisas. Estamos no tempo das fake news. Lá está a das manipulações, umas mais bem intencionadas, outras claramente catastróficas. Como é que tu vive neste neste tempo ou de vez em quando apanha? Está a ler uma história a dizer, mas parece mesmo verdade. E depois de mais um vício no jornalismo, nós temos o vício de procurar a coerência e de procurar a veracidade e as fontes. 00:33:08:23 – 00:33:40:18 E os céticos profissionais de diz também em princípio é mentira e eu acho que faço isso. Inevitavelmente. Eu preocupo mais pelos meus filhos em conseguir transmitir lhes, até porque o mundo deles vai ser muito mais preenchido de fake news, notícias falsas do que o nosso. Foi, felizmente. E nós já temos algumas defesas de algumas estratégias e a minha principal preocupação é passar lhes isso e depois, no geral, para os amigos e para e para os miúdos da idade deles. 00:33:40:18 – 00:34:04:15 Mas eu diria que como é que a gente ensina isso? Porque aquela ideia tão forte e apelativa e agora, com a inteligência artificial, lá está simulando a nossa voz, O nosso é muito difícil, é muito difícil encontrar ali as diferenças e eu acho que não há uma resposta. Andamos todos um bocadinho à procura, não é? As pessoas trabalham nesta área e até os professores, os educadores e é muito difícil. 00:34:04:15 – 00:34:26:11 Até por um ponto que falámos há pouco, é que a evolução é muito rápida. Nós ainda nos estamos a habituar aos 53 e já vem o quatro e já vem o de Psic. Já vem e portanto é o ritmo, é o assinante. Eu acho que uma uma forma, uma base é desconfiar. O que às vezes o que não parece real não é Quando? 00:34:26:11 – 00:34:48:15 Quando nós olhamos. E isto é muito estranho quando vemos o Papa vestido de roupa de luxo. É estranho, não é? Eu acho que, no fundo também o bom senso é que está em causa. Temos de treinar a nossa intuição. Vamos treinar um bocadinho e o bom senso. E é a lógica. E voltamos à lógica. Quando não parece lógico, mas se calhar não é. 00:34:48:17 – 00:35:17:23 Vamos ver como é que fica. Vamos verificar. Está um bocadinho de inteligência natural, um bocadinho de verificar o próprio, O próprio facto, embora eu não sei qual é a tua experiência, a minha, quando quando vou a um chat PT e nós fazemos perguntas. As respostas muitas vezes são obviamente, respostas que foram pesquisadas e são verificáveis. De vez em quando aquilo foge um bocadinho, mas há ali uma que inventa até aquilo que se chama alucinações. 00:35:17:23 – 00:35:48:10 Não é inteligência artificial. Tem afinações, inventa. Porque o chat PT foi concebido para agradar. Ele quer agradar e às vezes, para agradar, inventa essa motivação. Eu que podemos falar de motivação se estamos a falar de um conteúdo francamente humano, esse computador e ele foi treinado para isso e para nunca deixar o humano sem resposta. E portanto, se ele tiver que inventar, vai à procura de uma coisa, inventa. 00:35:48:11 – 00:36:07:19 Olha os nossos seres humanos, Ainda por cima nesta altura que estamos no inverno, a malta agora constipa se, fica com gripe e o que é da vida? Mas alguém disse um dia que se apanhado frio, rodando com os pés descalços na tijoleira fria, faz te constipar. Sim, esse é dos mitos mais difíceis de combater. Veste o casaco, rapaz. 00:36:07:21 – 00:36:37:10 O casaco é o que causa as doenças são os vírus e as bactérias. E pode haver mais concentração de vírus e bactérias nos ambientes no inverno, porque as salas são menos usadas, porque estamos mais confinados, porque os transportes públicos estão com as janelas fechadas e 19 se não mostrarmos isso. Mas é a falta de radiação também pode permitir menos radiação solar, pode permitir que os vírus se desenvolvam mais. 00:36:37:12 – 00:37:00:03 Mas são. E aliás, nós podemos pensar em vários exemplos que comprovam isso. Os nórdicos, que vivem em temperaturas negativas, o inverno interno, não são mais doentes do que nós, não apanham mais constipações do que nós. Oh, eu até posso dar o exemplo da minha vida. O meu filho passou o primeiro ciclo toda a ir para a escola de T-shirt de Verão e de Inverno e a mãe sobreviveu bastante mais. 00:37:00:05 – 00:37:20:04 Mas eu felizmente tenho uma mãe que escreveu este livro para não obrigava a usar casaco, mas depois o que acontecia com as outras mães chateavam imenso porque diziam que os filhos também queriam ir sem casaco, porque diziam que o tear, que é o meu filho, estava sem casaco, que não estava doente e as mães chegavam a vir queixar se, refilar comigo Tu deixas o teu filho sem casaco? 00:37:20:04 – 00:37:41:09 Pois o meu também quer ir sem casaco. Há, portanto, um alerta de saúde pública. Olha este e não gosto deste. É que é o gosto que há dentro do mito 27 O chocolate faz borbulhas. Não gosto. Não é bom não ser um mito. Exacto. É bom como a vontade. Eu Eu digo sempre às pessoas que desmistificar normalmente traz a vida, torna a vida mais fácil ou mais doce. 00:37:41:09 – 00:38:00:10 Neste caso, eu acho que é uma ótima notícia que se pode comer chocolate porque é uma e não é verdadeira essa relação. Não há. Não há qualquer relação de causa e efeito entre a ingestão de chocolate e o aparecimento de uma ou outra. Se calhar ainda é mais popular e mais perigosa nesta maneira que é o mito de que beber álcool mata os neurónios. 00:38:00:16 – 00:38:33:11 Em princípio, o álcool faz mal com isso. Temos de ter cuidado porque de facto o álcool faz mal. Há imensas coisas a dizer nos doenças que são causadas desde as mais óbvias do fígado até problemas de circulação e outras questões. E faz mal e de facto afeta o cérebro. Mas não propriamente os neurónios. Afeta a GLI, que são células de suporte mas não mata neurónios que estão lá dentro do nosso e assim estão no cérebro sim, e portanto, pelo sim pelo não, mais vale ter e manter dosear o consumo de álcool. 00:38:33:11 – 00:38:52:23 Há sempre dois alimentos que são muito curiosos um é os ovos que volta e meia são a pior coisa do mundo. Ou então a coisa mais extraordinária entre nós é alimento preferido, infelizmente é o mito É que os ovos fazem mal à saúde, que não fazem este fármaco é algo que tem vindo a mudar porque se dizia que tinha muita gordura, tinha muito colesterol. 00:38:52:23 – 00:39:12:20 Mas hoje em dia o consenso de que os ovos são um alimento muito bom, que deve ser incluído nas dietas e que se pode comer um ovo todos os dias. Atenção a manteiga que se põe lá a fritar o ovo e que é o problema é da manteiga, não é da luz, não é do ovo, é e aqui é que está é que está a grande e a grande questão. 00:39:12:22 – 00:39:32:16 Há sempre, claro, boas cenouras que nos fazem ver melhor, que também faz parte da essência que os mitos que andamos fortemente por desmistificar. Porque a cenoura faz bem e também sabem ter medo da caroteno e tem imensas coisas boas. Olha o que é que o que é que te falta fazer? Tu andas na vida geral, Enfim, Ai tanta coisa! 00:39:32:16 – 00:40:00:02 Então mas a minha maior ambição é viajar. Pronto, É uma coisa muito básica, são só muito básica as minhas ambições como turista ou como peregrina, que não como tu, embora eu também tenha feito uma peregrinação recentemente. Foi bom, foi ótimo, nunca tinha feito, foi ótimo em termos profissionais. Eu sei que eu posso dizer que tenho uma missão. O que eu sei, o que eu gostava de fazer, é o que eu procuro fazer na minha vida profissional. 00:40:00:04 – 00:40:04:19 É transmitir o encantamento. 00:40:04:21 – 00:40:37:23 E partilhar o encantamento que a ciência me transmite, que é uma coisa que eu sinto desde que me lembro de existir. E gosto. Se contagiar os outros com isso, pelo menos tento. Isso é um objetivo mais abrangente. Outro é mostrar o que se faz nos institutos de investigação portugueses. É uma coisa que eu já dava atenção quando era jornalista, que me preocupava em ir ver o que é que se passava nas diversas universidades de investigação do país e agora faço para o instituto a qual estou associada, porque eu acho que ainda há um grande desconhecimento. 00:40:37:23 – 00:41:01:14 Apesar de haver esse esforço de transmissão, ainda há um grande desconhecimento da sociedade portuguesa relativamente ao que se faz na academia. E eu gostava de poder contribuir para que fosse menor esse desconhecimento. Sara Sá, muito obrigado por ter vindo quando voltarás. Mas a pergunta para não acabarmos nesse tom tão sério vou ficar triste. É muito sério. Não foi no fim do ano, foi. 00:41:01:18 – 00:41:26:17 Não é tudo porque não estou de volta. E mesmo sem ter vontade de ir para o laboratório experimentar coisas que não não, não, não, eu gosto. Contar o que se faz no laboratório lá de fazer. Os cientistas tem mau feitio, como nós, as pessoas em geral. Eu acho que não se pode. Há uns mais ou menos assim como há jornalistas que nos agricultores estamos mais bem dispostos de menos. 00:41:26:19 – 00:41:30:17 Sara, muito obrigada, Obrigada. E hoje acho um prazer. https://vimeo.com/1053154192/3d989f53e6?share=copy…
P
Pergunta Simples

Quando há uma crise de saúde, terramoto, fogo ou inundação de escala cataclismica todos os países de mobilizam para responder. Seja uma pandemia de gripe, um sismo na Turquia ou uma guerra no centro de África. Ou em plena Europa. As primeiras equipas de socorro precisam de chegar e instalar.-se depressa. E esse movimento é um desafio gigantesco em contra relógio. Um desafio de logística e de comunicação. Qual é o melhor sítio para aterrar? Onde se colocam os hospitais de campanha? Como se distribuem as equipas de ajuda? É para resolver rapidamente estes problemas que uma equipa de portugueses criou uma ferramenta com o curioso nome de TERRATACTIX . Mas o que é, afinal, o Terratactix? Imagine um sistema que combina imagens de satélite em 3D, realidade aumentada e inteligência artificial para ajudar equipas médicas de emergência a planear operações em qualquer canto do mundo. É como se juntássemos tecnologia espacial, algoritmos avançados e um guia prático de organização — tudo ao serviço de salvar vidas. O Terratactix permite que estas equipas definam previamente onde colocar tendas de campanha, incineradores, veículos ou outros recursos, tudo com base em dados precisos. Mais do que isso, ele ajuda a prever situações críticas, como cheias, incêndios ou mesmo os efeitos de desastres naturais, permitindo que as decisões sejam tomadas com segurança e eficiência antes mesmo de se chegar ao terreno. Este é apenas um exemplo prático de como a inteligência artificial está a mudar a forma como enfrentamos problemas globais. Afinal, a inteligência artificial já não é apenas um conceito futurista ou algo que vemos nos filmes. Ela é usada para gerir crises de saúde, prever desastres naturais, otimizar a logística de operações em tempo real e até para simular o comportamento humano em situações críticas, como a evacuação de um estádio. Nos próximos minutos, vamos explorar este universo de possibilidades e desafios. Vamos falar sobre como a inteligência artificial funciona, o que está por trás de expressões como “algoritmos” e “nuvem”, e, porque é que estamos tão fascinados — e, ao mesmo tempo, um pouco assustados — com esta tecnologia. Vamos desmistificar o que parece complicado e mergulhar nas questões mais profundas: •Será que estamos no caminho para uma inteligência artificial verdadeiramente independente? •O que ainda falta para a Europa alcançar outros países no desenvolvimento destas tecnologias? •E mais importante: onde é que entra o papel do ser humano neste processo? Se é verdade que a inteligência artificial pode substituir tarefas repetitivas e resolver problemas complexos, também é verdade que nunca deixará de depender da criatividade humana, da visão do “sonhador”. Afinal, máquinas podem processar dados em velocidades impressionantes, mas são os humanos que conseguem imaginar o que não existe e transformar ideias em realidade. Falaremos ainda sobre como esta tecnologia pode ser democratizada. Hoje, com ferramentas como o ChatGPT e outros modelos de linguagem natural, qualquer pessoa consegue interagir com sistemas avançados de IA sem precisar de ser programador. Isso significa que a IA não é apenas para especialistas — ela está acessível a todos, desde que saibamos como usá-la conscientemente. E, claro, não podíamos deixar de discutir a questão da privacidade. Num mundo onde quase tudo está na nuvem — desde as nossas fotografias até dados de saúde, sensíveis por definição —, como protegemos as informações mais pessoais? Será que modelos locais, instalados nas próprias organizações, podem ser a solução para minimizar os riscos? Ao invés das grandes nuvens de servidores? Os servidores são na prática computadores gigantes que armazenam e distribuem informação. Hoje, no Pergunta Simples , vamos descomplicar o complexo, celebrar os avanços tecnológicos e refletir sobre o que ainda precisa de ser feito. O Terratactix, com o seu reconhecimento pela OMS, é apenas uma amostra de como a IA já salva vidas. Mas será que estamos prontos para este futuro tão avançado? LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO 00:00:00:00 – 00:00:24:12 Viva Miguel Ribeiro! Posso apresentá lo como especialista em modelos de inteligência artificial e quejandos. Outras tecnologias aplicadas a esta área da saúde, em particular, podem ajudar a criar operações de resposta emergências públicas. Dedica se a pensar o quê? Ou a pedir ajuda de dita inteligência artificial, seja lá o que isso for. 00:00:24:14 – 00:00:50:04 E também quer saber sobre isto? Certo. A inteligência artificial é o chavão que é usado hoje em dia, em qualquer organização ou em qualquer pessoa que fique com quem falar muito com que falemos hoje em dia. Vai falar Inteligência artificial é esse É um chavão. Mas, na verdade, a inteligência artificial não é mais do que uma série de algoritmos, ou seja, de programas informáticos que vão ocorrendo no computador. 00:00:50:06 – 00:01:09:06 A diferença é que eles não estão a ocorrer na nossa máquina localmente, estão a correr na cloud. E o que é que a cloud é? Um conjunto de máquinas ligadas entre elas, que compõem um datacenter e que têm recursos suficientes para correr. Estes algoritmo? E onde é que está esse cloud? Porque nós ouvimos falar recentemente da cloud, daquela que era em Sines, que iam lá construir lá uma cloud? 00:01:09:08 – 00:01:38:05 Onde é que está essa, essa cloud? Fisicamente. Fisicamente está em datacenters. Em princípio, estará nos datacenter da Microsoft, da Microsoft Azure. Pode estar na WS, pode estar na Google, pode estar em qualquer outra ou outra empresa que que faça disto um negócio. Portanto, são máquinas que estão ligadas num edifício e que estão depois ligadas com o cabo. O resto, aos outros computadores que podem estar em vários sítios do mundo, podem estar, aliás, estão em vários sítios do mundo por várias razões. 00:01:38:05 – 00:02:00:00 Uma delas é a latência, que é o tempo de resposta que nós pretendemos que a máquina que seja o mais curto possível. Entre a pergunta e a resposta, entre a pergunta e a resposta. E, portanto, se esse datacenter tiver mais próximo de nós, a resposta vai ser também mais rápida. E o que o que essas empresas fazem é ter um mesmos algoritmos espalhados em vários datacenters do mundo e nós escolhemos qual é o datacenter que queremos aceder. 00:02:00:00 – 00:02:31:19 E essa é uma razão de segurança e uma razão tecnológica que é. Também estamos a distribuir, ao fim e ao cabo, a informação por mais do que um lado. Por outro lado, temos a questão da privacidade dos dados, que no caso da Europa, os servidores têm que estar obrigatoriamente dentro do espaço europeu, não podem estar fora. Isso para garantir que os dados que os nossos dados dos nossos dados não são usados exatamente e também em termos técnicos, para ser mais rápido, a resposta é mais sim para ser mais eficiente, sendo que já estamos a ver que hoje falamos de computação quântica. 00:02:31:21 – 00:02:51:04 Já coisas muito, muito avançadas já não são. Lá está, os nossos chips em vez de de cobre de silício. Do que lá está, estamos a falar de outra coisa. Mas os países do mundo têm ofertas diferentes, umas mais avançadas, outras menos. E eu suspeito que a Europa está um bocadinho atrás naquilo que são o estado da arte. Então nós preservamos os nossos dados. 00:02:51:04 – 00:03:13:06 Por um lado, por uma questão de segurança, que me parece também em matérias, a saúde é um bom exemplo e, por outro lado, estamos um passo atrás na tecnologia ou não, ou é uma uma ilusão? De facto, a maior parte das empresas de tecnologia situam se nos Estados Unidos, mas já existem empresas como a Mistral. Em França, que produzem algoritmos de grande qualidade. 00:03:13:08 – 00:03:46:04 Também existem. Falo que nos EUA, nos Emirados Árabes Unidos, e há outras mais pequenas e menos conhecidas do público geral e que estão localizadas fora dos Estados Unidos. Mas a esmagadora maioria, como por ai, como, em que, como é qualquer uma destas grandes que normalmente as pessoas conhecem, estão nos Estados Unidos, quando quando nós falamos de algoritmos, parece uma coisa aqui complicada um bicho de sete cabeças, uma máquina pensando o que raio é um algoritmo, um algoritmo e apenas um programa informático? 00:03:46:04 – 00:04:07:16 Está a correr uma fórmula de matemática que está a ser aplicada para resolver um determinado problema. Portanto, pode ser tão simples quanto uma soma. Continuamos a somar dois mais dois. Estamos a usar o algoritmo da soma. E sim, isto é um algoritmo, mas um algoritmo para fazer, para para interpretar um documento, um PDF e extrair daí a informação que aí está continua a ser um algoritmo. 00:04:07:16 – 00:04:24:15 Simplesmente é um algoritmo mais complexo, mas não deixa de ser uma fórmula matemática que está a ser usada, que está a ser, que está a ser convertida para um programa, está a ser desenvolvida numa linguagem que, neste caso da inteligência artificial, é quase exclusivamente o Python. Poderá ser outras, mas normalmente é o pai e eu já estou perdido. 00:04:24:16 – 00:04:47:07 O que é que o Python? O Python é a linguagem de programação que é usada para implementar este tipo de algoritmo. É uma espécie do português, uma espécie do português das máquinas. Tem uma gramática, tem uma gramática, tem uma sintaxe? Sim, tem uma sintaxe, tem uma gramática e existem regras para desenvolver esta linguagem. E há mais linguagens que que podem ser usadas, mas é 90 e tal por cento dos casos. 00:04:47:07 – 00:05:20:11 O Python é a linguagem da inteligência artificial, é a linguagem que é usada para resolvermos implementarmos este tipo de soluções. Então é nós que eu não percebo nada, rigorosamente nada. A maioria dos nossos ouvintes provavelmente também não sabe o que raio é isto do Python. Como é que nós, pessoas normais, um pedimos ou queremos às máquinas para que eles nos dêem e ao mesmo tempo, como é que nós podemos ajudar estes especialistas nestas máquinas tão estranhas e maravilhosas para que nos resolvam problemas e não nos criem problemas? 00:05:20:13 – 00:05:40:24 Cada vez é mais facilitada esta forma de pedir informação, porque a informação que se até agora estava dentro do campo dos programadores, eu queria ter um relatório seja do que fosse. Alguém tinha que programar o código para as bases de dados, trazer informação e mostrar o Z. Esses indicadores não interessa. Eu agora consigo fazer isso em linguagem natural e essa é a grande diferença. 00:05:40:24 – 00:06:00:04 E foi isso que democratizou os lares. Línguas móveis que são estes modelos, como os chats de PT, que existem desde há dois anos para cá, foi a facilidade com que nós podemos pedir essa informação usando apenas linguagem natural e sem conhecimento técnico que está por trás desta máquina. E como é que a máquina que supostamente fala uma língua diferente nos entende? 00:06:00:04 – 00:06:20:15 Nós humanos, como é que foi feita esta ligação e porque a máquina foi treinada com o conhecimento existente não só na internet, mas na Wikipedia, em várias, várias fontes de informação, com todos os documentos, de todos os idiomas que existem atualmente e que estão disponíveis online e portanto, para ela é exactamente igual estar em chinês ou estar em português. 00:06:20:15 – 00:06:49:03 Até porque quando ela é treinada, todos estes documentos são convertidos para números e para vetores e ela aprendeu com vetores, noções de contexto. Já estou perdido. Como é que então há um texto em chinês ou outro em inglês ou em português sobre exactamente a mesma coisa e ele faz a tradução certo da palavra? Vamos supor, a palavra homem em chinês é convertida para o vetor que no espaço multidimensional vai ter a mesma proximidade da palavra homem em português. 00:06:49:05 – 00:07:08:18 Isso nas coisas concretas que nós podemos dizer o que é, é nas abstrações, em qualquer coisa. Estes padrões que são ficção, que são apreendidos pela máquina, quando estão, quando e quando do processo de treino, são sempre vetores que são comparáveis e, portanto, é muito mais fácil para a máquina comparar vetores, uma velocidade muito mais elevada do que procurar palavras. 00:07:08:20 – 00:07:26:23 Por isso é que é um bocadinho diferente. Se nós temos uma palavra com um erro ortográfico, ele vai na mesma encontrar. Por isso é que se nós procurarmos não CV e quisermos interpretar um sistema, devemos olhar para o CV e quisemos extrair informação desse CV e tivemos a procura de uma pessoa que saiba processamento de texto. E nesse CV não diz processamento texto, mas diz Word. 00:07:27:00 – 00:07:47:07 Ainda assim, nós vamos encontrá lo e vamos fazer o match, porque ele vai buscar semanticamente para fazer uma procura semântica e não a procura, como se fazia até há uns anos atrás. Por palavra chave, por procura se encontrar isto vai trazer aquilo, não é por regras, isso deixou de existir e agora procura a semântica, ou seja, pelo conceito, pelo que quer dizer a frase e não pelo que está lá escrito. 00:07:47:10 – 00:08:19:01 Porque todas as frases são previamente convertidas para um vetor multidimensional, que é uma coisa um bocado abstrata, porque é difícil de imaginar um vetor multidimensional. Nós estamos habituados a trabalhar em duas, quando muito em três dimensões, e quando estamos a falar do algoritmos que convertem as palavras e as frases ou os parágrafos para 768 dimensões. E nós não conseguimos imaginar um vetor com 768 dimensões, porque em termos físicos o nosso cérebro não está preparado para isso, nem é preciso nem interessa. 00:08:19:03 – 00:08:40:05 E vamos imaginar que temos uma dimensão qualquer e que a proximidade desses vetores vão nos dar a proximidade das palavras. E, portanto, quando eu lhe faço uma determinada pergunta, ele simplesmente vai buscar a palavra que tem o vetor mais próximo da resposta. Isso parece me uma coisa muito próxima daquilo que nós fazemos seres humanos quando associamos uma coisa à outra. 00:08:40:05 – 00:09:09:02 Olha, isto faz me lembrar aquilo uma espécie de intuição ou não, ou eu estou manifestamente a exagerar. É pedir demais à máquina. Não vamos lá chegar e ainda não estamos lá. Estamos, mas estamos no caminho para isso. Estamos no caminho para isso e cada vez mais isto é maravilhoso ou assustador. E ambos, por um lado, é maravilhoso porque permite nos resolver problemas que até agora eram impensáveis e porque não havia tecnologia nem em termos de hardware, nem em termos de software para resolver este tipo de problemas. 00:09:09:04 – 00:09:29:17 Por outro lado, é assustador porque não se vê bem até onde é que isto pode ir e onde é que isto pode acabar. E pode crescer sozinho nos limites e se pode ou não crescer sozinho. Nós já temos modelos, Já existem modelos como o dois de segmentação da meta ou outros que aprendem sozinhos, em que eles próprios vão gerar o eu. 00:09:29:17 – 00:09:53:14 Estes. Este exemplo que eu dei da meta é o modelo de competição vigente, portanto, que quer é preparado para detetar objetos, mas não é preciso ensiná lo a detectar os objetos. Ele próprio vai pegar no objeto, vai gerar cópias do objeto de vários ângulos diferentes e várias formas, com luz diferente e vai aprender ele próprio variações do objeto para depois o reconhecer automaticamente e, portanto, não supervisionado. 00:09:53:16 – 00:10:19:01 E ele, neste caso sim, já aprende sozinho. E é a tendência é que cada vez mais os algoritmos deixarem de ser supervisionados e passarem a ser não supervisionados e, portanto, aprenderem sozinhos com eles próprios. Não se fica descansado com isso. Significa que o passo seguir pode ser não só a visualizar, a visualizar, enquadrar, criar no fundo, um catálogo quase da biblioteca das coisas que existem no mundo. 00:10:19:03 – 00:10:50:24 Mas depois começar a recriar e a criar um universo completamente diferente, com linguagem diferente, com objetos, eventos, com uma criatividade diferente, Poderá ser. Aliás, houve aqui um exemplo, há uns tempos atrás, em que dois algoritmos de inteligência artificial foram posta, comunicaram um com o outro. Eles começaram de comunicar como nós comunicamos usando o texto convencional, mas depois acharam que havia uma forma mais eficiente de comunicar e começaram eles próprios a um idioma. 00:10:51:01 – 00:11:10:15 Um dialeto entre eles para comunicar entre eles. Chegou a uma altura que o humano que estava a supervisionar deixou de conseguir controlar o que estava a ser passado de um para o outro. Eles continuavam a comunicar um com o outro, mas de uma forma que gera opaca para o utilizador humano, o que pode significar que a páginas tantas, o ser humano seja deixado de fora da conversa. 00:11:10:17 – 00:11:33:12 Se calhar já foi, Também não. Ainda não foi. E hoje ainda tem lá o botão para desligar ou para puxar. O fio elétrico é indeterminado. Ainda temos. Neste momento ainda temos, mas a tendência é chegar a agir e agir. É artificial, Género ou intelligence, que é o patamar em que a inteligência artificial vai ser melhor do que o humano em tudo que se estima que seja. 00:11:33:12 – 00:11:57:08 Algumas pessoas dizem que nunca lá chegaremos, outras dizem que chegámos lá nos próximos dois anos e já não chega. E a criatividade, porque aquilo que nós nos habituamos é que à frente da execução, do planeamento, da realização, existe sempre um sonho. Existe o criativo, aquilo que pensou que era possível chegar à Lua era aquele que pensou que era possível fazer uma ponte. 00:11:57:10 – 00:12:21:07 Aquilo que era, que pensou que era possível escrever um poema é, no meu ponto de vista, essa pessoa continua a fazer falta e continua a ter que existir. Enquanto por um lado, e por exemplo, no campo da programação, no meu ponto de vista, os programadores tem os dias contados. O programador que tenha um briefing, um trabalho a desenvolver, tem os dias contados porque a máquina vai fazer isso muito mais depressa, com muito menos erros. 00:12:21:09 – 00:12:52:14 A pessoa que o que, que tem a ideia para desenvolver a solução ainda não pode ser dispensável, porque agora não consegue fazer isso. O sonhador ainda tem o seu senhor direito. Aliás, cada vez vai ter mais importância na organização. O sonhador do que propriamente usa a pessoa que vai desenvolver, porque essa sim pode ser dispensável. E eu tenho aqui à minha frente um sonhador que um dia sonhou que era possível criar um modelo matemático e dos artificial. 00:12:52:16 – 00:13:25:13 Já vamos saber em pormenor exatamente o que isto é. Para ajudar equipas de emergência na saúde pública. Estamos a pensar na equipa endémica, seguramente numa crise no centro da África, mas criar um modelo a que deu um curioso nome de Terra Tactics é quase o Asterix acabou de chegar à saúde. É que a OMS acaba de premiar como uma das melhores ideias para ajudar seres humanos médicos, neste caso equipas de emergência, a actuar em qualquer sítio do mundo. 00:13:25:15 – 00:14:16:01 O que é que faz essa terra? Tactics? O Tactics é uma ferramenta de planeamento de treino para as equipas de emergência médica, quando tem que que responder a uma emergência médica em qualquer ponto do mundo. Eles são convocados, portanto, vêm de várias partes do mundo e é o que esta ferramenta permite. É que elas, antes de chegar ao terreno, consigam planear a localização exata usando imagens por satélite em 3D, usando realidade aumentada para visualização prévia, usando inteligência artificial para analisando as imagens de satélite, escolherem qual é o sítio mais adequado para a localização das tendas dos carros de luxo, dos incineradores, seja do que for, e permitem saber a priori qual é a organização mais 00:14:16:01 – 00:14:47:08 eficiente. E se não tiverem a certeza dessa organização, a própria máquina, o próprio software vai aconselhar, De acordo com os guias do Redbook, que é que é o Guia da Cruz Vermelha deste tipo de organizações vai aconselhar qual é a melhor localização e orientação no terreno real para pôr esses acampamentos e ao mesmo tempo permite permite ver. Vemos logo em satélite em 3D a localização desse projeto. 00:14:47:10 – 00:15:18:19 Sabemos qual é o consumo de lixo, o consumo da água, qual é o perímetro que que está envolvido, quais são, qual é qual, Qual é o número de caches que é preciso para fazer esse envio para o terreno do antes sequer de partir? No caso dos coordenadores destes centros de emergência, eles podem ver a localização de todos os centros em simultâneo, fisicamente ligados aos locais onde os telemóveis conseguem ver os carros e as pessoas em tempo real no terreno em 3D. 00:15:18:21 – 00:15:44:05 Portanto, eu coordenador, consigo estar a ver onde é que as minhas equipas estão no momento exato onde elas estão neste momento. Isto serve para quê? Isto serve precisamente para uma melhor, um melhor planeamento e para não duplicar o número de elementos que são disponibilizados neste tipo de acampamentos e plantar de uma forma para, duma forma muito mais eficiente, tirar partido destas deslocações de emergência. 00:15:44:09 – 00:16:06:07 Nós estamos a pensar aqui naquilo que é o muito grande, uma campanha, enfim. Por exemplo, para responder um sismo grave que tivemos aqui em Marrocos há uns anos estivemos em vários sítios do mundo. Podemos guiar agora para para outro lado, para Estados Unidos, com os incêndios e no nosso país, por exemplo, entidades como os bombeiros ou no cinema, certo? 00:16:06:09 – 00:16:35:01 E ainda bem que pergunta porque uma vez uma das funcionalidades que estão neste momento no terreno Tactics. As duas diferentes são as cheias, a simulação de cheias em que nós conseguimos ver o nível das águas a subir em qualquer lugar, em qualquer local em Portugal, em 3D e em real time. E conseguimos ligar também as previsões metereológicas para poder saber daqui a x horas onde é que o nível de água vai estar visualmente uma santa medida daqui. 00:16:35:01 – 00:16:56:01 Sabendo de antemão que essa informação vem da informação, do satélite, da informação meteorológica e depois da posição da localização real dos carros de bombeiros ou das pessoas que nós sabemos que estão no terreno. Ao mesmo tempo, também conseguimos fazer simulações de fogos porque também temos os fogos em 3D e que podemos localizar no sítio real onde eles estão a acontecer. 00:16:56:03 – 00:17:20:00 Vai permitir que as corporações de bombeiros ou quem está a tomar essas decisões consiga definir qual é a melhor localização para o posicionamento dos meios e, portanto, o que isto garante é informação. Quando uma campanha de guerra, informação em tempo real, informação em tempo real, embora a imagem por satélite ainda não seja temporal, de uma questão de custo, só por isso quanto tempo demora uma atualização? 00:17:20:00 – 00:17:43:18 Não faço a mínima ideia, coisa que é possível até fazer isto com um maior de delay, mas não custa. É uma questão de custo. Agora o que eles conseguem ver é, na realidade qual é o terreno onde estamos a atuar e onde é que as pessoas estão e quais são e, portanto, é escolher cenários e alternate IVAs de acordo com determinadas decisões que podem ser tomadas de acordo com o que vemos. 00:17:43:20 – 00:17:51:03 Em termos teóricos, eu posso prever que em determinadas quotas, quanto a água. 00:17:51:05 – 00:18:08:15 Se chover X milímetros por hora ou se as barragens falharem, eu consigo prever nas próximas horas como é que aquilo pode evoluir, certo? No terreno real ou, por exemplo, para simular temos um estádio de futebol e para simular se rebentar aqui uma bomba. Neste momento, o que é que vai acontecer? Porque neste meio estamos a tratar também da simulação. 00:18:08:15 – 00:18:34:08 Portanto vamos ter pessoas com inteligência artificial a fazer o percurso. Tanto elas não vão ser controladas pelo operador, não vão ter vida própria. Cada uma daquelas pessoas que vão aparecer na simulação têm vida própria e vão tomar as suas próprias decisões de acordo com as regras. Não é uma simulação a fingir, É uma simulação baseada num modelo real, num modelo real e, portanto, se simular, por exemplo, que cai aqui uma bomba à entrada do estádio de futebol, vou ver as pessoas todas a fugir para determinado lado. 00:18:34:14 – 00:18:56:12 E se eu simular que esta estrada está cortada, vou ver que as pessoas já não tem para onde ir e vão escolher uma alternativa. E com isto eu posso começar a tomar decisões e escolha cenários diferentes em caso de crise. Sendo certo que habitualmente, se calhar uma fórmula muito à portuguesa desenrasca me lá isso mesmo. Quando nós de temos informação existem várias possibilidades. 00:18:56:12 – 00:19:18:13 Nós tendemos sempre a intuitivamente tomar as decisões para o bem e para o mal. Lidamos mal com esta ideia da imponderabilidade das coisas. Como não saber o que ocorreu ou achar que sabemos é que serve. Por isso é que nós temos e por isso é que estamos a desenvolver ferramentas como estas para nos tirar um bocado a incerteza do que pode acontecer. 00:19:18:15 – 00:19:50:01 Porque de facto, a ideia que temos neste momento é nós, desenrascados nós conseguimos prever isto, vai acontecer isto, vai acontecer aquilo. Porque? Porque eu tenho essa ideia na cabeça? Porque eu já vi. Só por isso eu queria já não acontecer. Eu já cá estou a aviar não sei quantos anos a trabalhar neste pronto. Eu conheço bem este negócio, é o normal cá em Portugal, mas se tivermos assente numa ferramenta como uma ferramenta é que está a ser também algoritmos matemáticos e precisos e que podem ser mensuráveis e conseguimos ter um poder de decisão. 00:19:50:03 – 00:20:08:12 Isto só serve para ajudar a decisão, não é? Não é para tomar decisões sozinho, mas conseguimos ter uma ferramenta que nos apoie nas decisões que tem que ser tomadas neste nestes casos de crise e que são muito difíceis. Mas se não tivéssemos este tipo de ferramentas e nestes modelos eu não estava. Estava a pensar que o país mudou muito nos últimos anos. 00:20:08:16 – 00:20:33:00 Temos redes de autoestradas, redes viárias, boas infraestruturas, por exemplo na saúde, distribuídas pelo país na contagem dos tempos de chegada a um hospital. Outro, Qual é o melhor meio mais próximo para poder ajudar uma determinada população? No caso de uma emergência, seja um ataque cardíaco, seja um incêndio, seja uma inundação na praia? Funciona. Mas isso não é propriamente não é um problema técnico e político. 00:20:33:00 – 00:21:02:17 Isso é um problema político e técnico. Tecnicamente, nós tínhamos muitas soluções para várias dessas questões. Em termos políticos é que é mais difícil chegar a um consenso. Qual é qual é a resistência que os decisores e os líderes têm políticos e não só para poder usar a evidência no processo de decisão, nas suas conversas com quem tem, como e como é que é que conversa consigo por onde quer para não perdermos um bocadinho ou se é ou está aberto. 00:21:02:19 – 00:21:21:03 Este tipo de tecnologia está aberto, Está à vista e tem uma cabeça moderna? Tem. Tem os Vocês agora já tem uma cabeça moderna e eu diria que todas as empresas estão exceção. Onde eu tenho falado ultimamente, são empresas de médio e grande dimensão. Todos estão interessados em introduzir e perguntam o que de alguma forma. E aí acham que aquilo é que vai ser isto a inteligência vai resolver. 00:21:21:03 – 00:21:39:18 O problema é que é que é preciso desmistificar a coisa primeiro. O que é que isto faz? Quais são os limites e o que é que não foi, o que é, o que é que não faz e o que é que vamos ganhar? Se introduzimos isto na organização, o que é que vamos perder? Se nós introduzimos a inclusão artificial, uma organização vai resolver muitos problemas, mas vai criar outros e vai criar outros problemas. 00:21:39:19 – 00:22:01:18 Esta conversa estava a correr tão bem e é verdade, mas vai criar e é. E talvez até há casos em que tu usas artificialmente quem é a solução? E eu Às vezes eu dou aulas no ISEG, na pós graduação de Inteligência Artificial e falo com os meus alunos em Computer virgem. Se eu quiser testar um sinal de stop numa imagem ou num vídeo, eu consigo fazer isso em cinco minutos com código convencional. 00:22:01:20 – 00:22:23:10 Também consigo fazer isso com inteligência artificial. Tenho que levar centenas de imagens de de de sinais de stop. Tem que fazer um datacenter, complicar em treino e complicar a coisa. E estamos estamos a matar uma mosca com uma espingarda, portanto não há necessidade nenhuma disso. Aliás, os resultados até são piores. Entendem o que eu digo? Isto não é o a solução para todos os males resolve muita coisa. 00:22:23:10 – 00:22:45:00 Há muita coisa que só pode ser resolvida Como é que os artificial e numa outra forma para resolver, mas não resolve tudo? É tipo porque nós estamos tão fascinados, apaixonados, estamos fascinados? É, de facto é por estar fascinados mesmo. Eu trabalho e eu trabalho todos os dias com inteligência artificial, como com outras línguas processing, portanto, processamento, linguagem natural e com qualquer televisão. 00:22:45:02 – 00:23:14:12 E mesmo eu fico maravilhado todos os dias com as poucas capacidades que me fascina. Eles fazem tudo A forma com que ele é capaz e este modelo está em modelos novos todas as semanas, mas o tempo está sempre em cima deles, desta tecnologia, porque nós estamos sempre ultrapassados. O que era verdade no passado completamente diferente ou que nos causam problema, o que é principalmente a mim, que tem que dar aulas sobre isto e portanto tem que refazer um ou toda a matéria com que vão selecionar todas e todos os anos, ou quando a empresa ou o senhor diz olha lá o que é que eu compro agora? 00:23:14:12 – 00:23:29:06 O que é que. Mas isso é como tudo e como estamos à espera do último telemóvel e como estamos num caso de um congresso para o próximo, eu vou esperar pelo próximo modelo que vai sair agora, porque sei que vai fazer isso e se for assim nunca compraria. Mas por acaso é curioso o teu telemóvel é humano? É uma boa? 00:23:29:11 – 00:23:52:09 É um bom exemplo de tecnologia que é sim, obviamente aquilo já faz mais qualquer coisinha do que telefonar. Faz muito mais coisas do que isso. Prometeu nos muitas coisas e nós conseguimos obter informação que está no telemóvel vez está no computador. Mas a exceção dessa coisa revolucionária de nós podermos agora passear sem fios, estar contactáveis para o bem e para o mal. 00:23:52:11 – 00:24:12:01 A promessa foi muito maior do que depois a realização telemóvel por nós. E hoje assim foi mesmo grande. Eu acho que o telemóvel é a tecnologia com que a maior parte das pessoas se identifica e tem no bolso neste momento. E a gente entende e faz qualquer coisa. A gente tem um telemóvel, toda a gente voluntariamente tira uma fotografia de um dia para o outro. 00:24:12:03 – 00:24:34:14 Quando eu tinha dez anos, já tínhamos aquelas máquinas fotográficas de rolo que depois tinha que se revelar e, portanto, tirava se uma vez por ano as fotografias, porque os rolos eram caros e apareciam desfocados. Metade delas não é e portanto, nem sequer se usavam. Hoje em dia qualquer pessoa pega no telemóvel e as fotografias? Já agora que me falas nisso, a servia eu tiro todos, tiramos subbacias, muitos tiramos perfis, todos temos alguns com 30.000, 40.000, 50.000 fotografias. 00:24:34:14 – 00:24:54:24 Onde é que nós guardamos isto tudo? Bom, eu guardo as na cloud e guardo. E confias que cada um desses já não confiasse na cloud? Não tinha emails, não tinha e-mails, na cloud não tem. Todos nós estamos serviços, temos um serviço privada que nos trata dos emails. Se não temos um Gmail, temos e temos um. Uma coisa similar, não é? 00:24:54:24 – 00:25:19:05 Portanto, todos os nossos emails já estão lá. Se nós trabalhamos com o Office, todos os nossos documentos estão no WordPress, só não estão na cloud também é impensável hoje em dia vivermos e cloud. Isso é uma ilusão e hoje em dia todos os nossos dados estão na cloud, sejam fotografias, sejam emails, seja o que for, está tudo lá e convém que de vez em quando vamos fazendo umas cópias de segurança que é para para não termos conhecimento de termos uma cópia de segurança, até para termos os dados do nosso lado. 00:25:19:06 – 00:25:37:19 Sim, mas até porque é impensável, dada o volume de dados que quer gerar todos os dias, quer localmente ou no telemóvel, por exemplo. E essas imagens, esses vídeos que nós recebemos, têm que estar armazenadas num sítio com maior dimensão. Estamos a fazer tudo o que podemos para aproveitar já o acervo de dados gigantescos que todos estamos a criar. 00:25:37:21 – 00:26:08:06 Nós estamos nós que os modelos estamos. Porque? Como? Como? Como sabes, estes modelos trabalham com DataSet, portanto trabalham com uma quantidade enorme de dados. Isto não é possível neste modelo também só é possível existirem hoje em dia pela enorme quantidade de dados que nós temos. É que nós geramos também e que produzimos todos os dias. Isto aqui há uns anos atrás não era possível, não só porque o hardware não era o suficiente para isto, mas também porque não tínhamos dados para alimentar os modelos e não tínhamos o software dos modelos, mas não tínhamos essencialmente dados para os modelos. 00:26:08:08 – 00:26:26:07 É que a quantidade de dados que nós temos. Se eu andar com o meu telemóvel e estiver a gerir, por exemplo, as pulsações ligadas ao relógio e saber as minhas pulsações, consegui fazer um modelo que me vai prever como é que vai, como a minha saúde vai estar ao longo do dia. Por exemplo, o que giroscópios do telemóvel também eu consigo saber qual é o ângulo. 00:26:26:07 – 00:26:37:09 É só pulsar, fugir às cópia. Eu consigo saber o que é que estou a fazer, Estou a andar, estão a correr, estão a fazer outra coisa qualquer e essa informação pode passar para o meu médico, por exemplo, para saber o que é que, o que é que está a acontecer, como é que está o movimento. Podes passar para o médico? 00:26:37:09 – 00:26:53:20 Pode, se eu quiser, não é? Essa é outra questão. A questão da privacidade dos dados dados. E essa é a principal. Essa é a principal razão. Aliás, porque é que nem toda a gente usa o chat GPT que até a graça tanto espalha? Por que é que as pessoas não usam chats GPT? Porque o chá de GPT é público. 00:26:53:22 – 00:27:15:08 Nada me diz Salame ter um documento para transmitir. Eu teve um contrato da minha empresa quiser, traduziu para alemão que ele traduz aquilo também em 5/2 é que pode copiá lo. Nada me garante que a seguir, depois pedir um documento do mesmo tema e que ele não vá buscar o meu e que o apresente. Porque informação? Porque informação esteve para ele existir, mas não sabe, portanto, qual é a solução e a solução para isto. 00:27:15:08 – 00:27:34:13 A solução é usarmos modelos que correm localmente, que são modelos que as organizações trazem e correm dentro da própria organização. Mas isso só para grandes empresas, não para nós também. Isso é um mito para nós, cidadãos que têm quatro. No meu maquinetas tem quatro modelos a correr localmente, mas tu és um, Quer dizer, mas aqueles que são exemplo estão a dar um exemplo. 00:27:34:15 – 00:28:03:03 E eu escorreguei no teu comentário aqui no meu computador, mas numa organização eu posso ter um modelo destes a correr dentro da organização e não preciso ter o status GPT porque já tive faz muito mais do que o que normalmente se precisa fazer. Sabe tudo de tudo, mas nós podemos ter modelos direcionados para resolver um determinado problema dentro da organização e para isso temos um modelo pequeno, muito mais pequeno, que foi feito um fan tuning desse modelo, onde aquele tipo de problemas e a resposta pode ser muito superior ao modelo que sabe tudo. 00:28:03:05 – 00:28:31:08 Nos últimos anos fala se cada vez mais da internet das coisas e subitamente este microfone ganhar vida própria e fazer coisas, os carros andarem sozinhos na estrada. E quando esta coisa não corre bem, Quando Quando o carro decidir fazer a coisa errada, sair, sair da estrada, acertar em alguém, tomar uma decisão errada e entre si atropela uma pessoa na passadeira do lado direito, do lado esquerdo apenas porque se enganou no cálculo. 00:28:31:08 – 00:28:51:23 Isto é verdade? Quem é que vai? Mas quem já culpa? O problema de gerir é que tem problemas jurídicos e a quem a culpa é do condutor e do programador. Era o fabricante de automóveis. Ainda está a ser neste momento debatido de quem é que se queixa de alguém? De que forma é que pode alguém ser imputado ou não com essa culpa? 00:28:51:23 – 00:29:24:15 E depois essa máquina que fala linguagens próprias for tão extraordinariamente inteligente que de facto até conduz os carros melhor, com mais segurança. O índice de acidentes na A1 cai dramaticamente. Toda a gente compra os limites de velocidade e um dia se engana, se confunde e causa um acidente gigantesco que ninguém conhece. Sabe conhecer a causa, não consegue entrar no coração da máquina porque ela fala um Mike qualquer que ninguém consegue entender, Pois nós já andamos aqui fora no piloto automático, já demos com aviões com trabalho automático, são comandados por computador, na verdade, mas está lá um, mas está lá dois. 00:29:24:15 – 00:29:42:15 Não é em princípio qualquer, mas a questão é que nós estamos a tentar desenvolver modelos mais explicáveis. A questão é que hoje em dia muitos dos modelos de machine learning são caixas negras. Não se sabe o que é que está lá dentro e de que forma eles dão aquela resposta. Por que é que dando aquela resposta é que se está a tentar fazer? 00:29:42:15 – 00:30:16:06 Agora é tentar fazer com que essas respostas sejam explicáveis. Mas ele diz que fez isto e vai explicar porque é que chegou àquela conclusão. E só assim é que é que eles podem ser transparentes e chegarmos a saber porque é que aquela decisão foi ou não foi tomada no mundo das ideias que também é o teu mundo. Sabendo que estas inteligências estão a basear suas relações, os vetores do pensamento em toda a informação que existe desde já está o contrato que nós não um texto que nós lá escrevemos. 00:30:16:08 – 00:30:42:07 Ainda vale a pena ter ideias e registá las e fazer uma patente ou essa doce ilusão desse edifício, das ideias que se podem reservar numa caixinha durante um tempo. Vale a penas na nossa Europa com alguma proteção dos Estados Unidos, mas no resto do mundo global eu ainda. Eu ainda acredito e eu ainda acredito nas sociedades modernas e ainda acredito na proteção das ideias de propriedade intelectual. 00:30:42:09 – 00:31:08:19 Tanto é que tenho patentes e, portanto, a minha pergunta no fundo, é se tu confias o suficiente na tua próxima grande ideia para fazer correr num cloud lá longe algures, ou se prefere usar aqui apenas o modelo, o teu computador, a tua folha de papel e lápis e guardar para ti a última epifania desse ser. Se esse meu algoritmo fosse para disponibilizar muita gente, eu não teria hipótese de o pôr a correr aqui na minha máquina. 00:31:08:21 – 00:31:32:07 E para eu poder disponibilizar o modem em elevada e vou ter que pôr na cloud obrigatoriamente, poderia era tomar medidas para que esse código não fosse aberto e não fosse replicado, ou seja, encriptar o meu código de forma a não poder ser replicável. Miguel Ribeiro, muito obrigado e vai cuidando para que que o nosso mundo seja mais inteligível na inteligência real. 00:31:32:07 – 00:31:38:18 E obrigado eu por ter convidado. https://vimeo.com/1050948114/3769a5595e?share=copy…
O meu fascínio pelas boas histórias é lendário, E a minha curiosa de sobre a maneira como os escritores trabalham é sempre grande. Por isso vamos lá mergulhar de cabeça na arte de criar estórias, escritas no papel. Nessa fabulosa invenção chamada livro. Sempre quis saber como escrevem os autores os seus livros. De onde nascem as ideias, como se criam personagens e se escorem as histórias. Por isso convidei Patrícia Reis, jornalista e escritora, para nos levar numa viagem ao coração do seu universo criativo. Ela partilha como constrói as suas histórias, como lê os livros que a inspiram e aborda temas que vão além da literatura, tocando questões sociais e culturais atuais. Para Patrícia Reis, a escrita começa sempre com as personagens. Elas não surgem apenas como ideias abstratas, mas como figuras completas — com histórias, personalidades e uma necessidade urgente de serem contadas. É a partir delas que os seus livros ganham forma. Num processo quase intuitivo, ela rejeita esquemas rígidos de narrativa, preferindo deixar as histórias fluírem naturalmente, numa descoberta constante. Por vezes, as personagens assumem tal autonomia que alteram completamente o rumo que ela inicialmente imaginava. A leitura, por outro lado, é descrita como um refúgio, uma fonte de inspiração e, acima de tudo, uma experiência transformadora. Patrícia acredita que cada livro tem um momento certo na vida do leitor que a sua interpretação muda com a idade e a experiência. Alguns livros resgatam-nos em tempos difíceis, outros desafiam-nos a ver o mundo de uma nova perspetiva. E há ainda os que nos deixam órfãos ao terminarem, tamanha é a sua profundidade e impacto. Para além da escrita e da leitura, falámos de temas sociais e culturais que atravessam os dias de hoje. Patrícia Reis é uma voz ativa na defesa do papel da mulher no mundo. O feminismo, por exemplo, surge como uma luta por igualdade e justiça, longe de qualquer polarização. Ela reflete sobre como as mulheres em posições de poder enfrentam ataques específicos, como as críticas diretas e maldosas ao corpo das mulheres na espera pública, e sobre a persistência de desigualdades salariais e sociais. As redes sociais também entram na conversa como um espelho das dinâmicas sociais atuais. Patrícia questiona o impacto que a polarização e o discurso de ódio têm sobre o diálogo e a construção de pontes entre pessoas com opiniões diferentes. Para ela, a falta de espaço para conversas abertas e para a troca de ideias é um dos maiores desafios da era digital. Claro que falamos também de jornalismo, Sobre a importância do jornalismo. Patrícia Reis defende que uma democracia saudável depende de um jornalismo que aprofunde contextos, promova pensamento crítico e mantenha a sociedade informada. Aponta, no entanto, os desafios do setor, como a precariedade das redações e a superficialidade de muitos conteúdos na atualidade. Este episódio é uma oportunidade para explorar o poder transformador das palavras — escritas e lidas. A biografia dos escritores está sempre expressa nos livros que escrevem. Ao escolher os temas, ao imaginar uma história os autores escolhem as armas com que nos vão ora encantar, ora desassossegar. Na página do Pergunta Simples está lá a informação dos livros que Patrícia Reis escreveu até agora. Vale sempre a pena ler. Livros de Patrícia Reis A Desobediente (2024) Da Meia Noite às Seis (2021) As Crianças Invisíveis (2019) A Construção do Vazio (2017) Contracorpo (2013) Mistério no Benfica – O Roubo da Taça dos Campeões Europeus (2012) Assalto à Casa Fernando Pessoa (2012) Por Este Mundo Acima (2011) Mistério no Oceanário (2011) Mistério na Primeira República (2010) Um Mistério em Serralves (2010) Mistério no Museu da Presidência (2009) Antes de Ser Feliz (2009) O Que nos Separa dos Outros por Causa de um Copo de Whisky (2014) No Silêncio de Deus (2008) A fada Dorinda e a Bruxa do Mar (2008) Mistério no Museu de Arte Antiga (2008) Xavier, o livro esquecido e o dragão enfeitiçado (2007) Morder-te o coração (2007) Amor em Segunda Mão (2006) Beija-me (2006) Cruz das Almas (2004) Vasco Santana: o bem amado (1999) Paris 1889 (1994) Conhecer a Arte – Andy Warhol Conhecer a Arte – Mona Lisa O Mistério da Máscara Chinesa A Nossa Separação Carolina gogirls O Diário de Micas LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO 00:00:00:00 – 00:00:36:04 Estás confortável com o jornalista escritor? O perfeito escritor é absolutamente igual e igual. Absolutamente. Olha, tu está desligado. Está tranquilo assim. Provavelmente porque é só porque os momentos chatos dos telefones têm. Tem essa coisa tremenda de zurrar, quando não, quando não devem fazer aquela palminha para vos irritar, aquietar a malta, para irritar a malta, para evitar a malta do do som, que é o que acontece habitualmente aqui é que é que a malta viva. 00:00:36:06 – 00:01:14:23 Patrícia Reis, Jornalista, escritora. Hoje chega aí uma carga de trabalho. Antes de mais nada, isto é uma escritora. Boa pergunta. Não sei se tem dias, tem dias. Eu sinto me sempre uma aprendiz de feiticeiro. Na verdade, para ser sincera, é como eu gosto de muitas coisas. Eu gosto de fazer muitas coisas e gosto de coisas muito diferentes. Portanto, na verdade, eu não sou só jornalista escritora, porque eu faço edição, porque eu faço produção de exposições, que eu faço curadoria, porque eu faço, eu faço coisas, eu gosto, fazer coisas. 00:01:14:23 – 00:01:34:22 Pronto, vamos pôr assim. E não é uma coisa que seja predominante. Não estás no tribunal e dizes. Patrícia Reis declara se desde já como é que no tribunal pergunta nos Não é? Quem é que é? Qual é sua profissão? Eu tenho muita dificuldade em responder a isso, mas claro que sim. Eu digo sempre que sou jornalista. Tenho carteira profissional de jornalista, sou jornalista, uma maneira de olhar para o mundo. 00:01:34:22 – 00:01:55:20 E claro que também sou escritora e outra maneira de olhar para o mundo. Vamos falar do olhar para o mundo. Vamos falar também das tuas escritas, daquilo que tu, daquilo que tu escreves. Como é que se escreve um livro quando? Isso não é charme de escritor, Não é que está tão difícil expressar o seu charme. Isto é muito doloroso. 00:01:55:22 – 00:02:10:23 Há livros mais dolorosos do que do que outros. Eu acabei de escrever um romance que diverti me imenso, divertiu. Pela primeira vez posso dizer aquela coisa de diverti me a Ufa! Como é que se chama? Não sei. 00:02:11:00 – 00:02:29:03 Mas o título no fim e os títulos é sempre um drama para mim. Então mas porquê? Porque tens muitos. Porque é difícil, Porque é difícil encontrar um bandido. É muito difícil encontrar onde é o autor que tem que fazer o título. O editor pode dar a imagem, o editor pode dar uma ajuda, mas neste momento o livro está só comigo. 00:02:29:03 – 00:02:49:05 Portanto é só meu. Neste momento, conta me como é que é a mecânica. Tu tens as ideias sem das árvores ou das ideias nascendo. José Eduardo Agualusa diz que sonhou os livros, que é uma coisa que eu acho muito bonita. Sortudo? Sortudo mesmo. Sonha. Acorda de manhã. Onde é que estava o papel? Onde é que está a minha caneta? 00:02:49:06 – 00:03:08:00 Vamos lá. Imagino que não seja bem assim, mas acho bonito. Lá está o charme. Foi um livro bom, É um homem charmoso, é um facto, mas eu percebo que também assume uma dimensão quase transcendental na forma como os livros chegam. E é lendo os livros dele, eu até tendo a acreditar que ele de facto, de alguma maneira sonhou os livros. 00:03:08:00 – 00:03:36:12 Mas lá está, eu não sonho. Geralmente é uma personagem que me surge. Ele surge com corpo e roupa e tudo. Se for esta personagem, esta personagem tem uma história para contar e geralmente nunca saiu. O fim daquilo que estou a escrever é dificílimo para mim fazer aquelas estruturas à americana. Vamos fazer uma narrativa, estruturas, narrativa, introduções e agora o herói é o anti-herói. 00:03:36:12 – 00:03:56:10 E agora o conflito é agora. Essas coisas para mim são todas uma grande treta. Funcionaram, mas não dá jeito ter de ter mais cuidado. Mas a mim não me dá jeito nenhum buscar essas pessoas que certamente senão as pessoas não fariam. E tu tem um personagem e aparece ali uma pessoa e depois faço o que faço, depois sento me, escrevo, ponto, ponto, interrogação. 00:03:56:11 – 00:04:15:05 O personagem geralmente é porque tem uma história para contar. Os livros mandam muito em nós, mais do que nós mandamos nos livros e nas personagens. As personagens têm vida própria. Eu sei que isto pode parecer uma coisa um bocadinho estranha, mas é verdade que há ali um momento em que a personagem, a história, vai para onde quer, Não é para onde eu quero. 00:04:15:07 – 00:04:41:11 Experimento quando eu dou um exemplo, eu escrevi um livro há uns anos, de que gosto particularmente chamado No Silêncio de Deus. E há uma personagem que é o Manuel Guerra, que é um velhote escritor que traz ganho, traga. Ganhava um prémio muito, muito grande, um Nobel da vida e que tem um cancro e vai morrer. Mais tarde. Instala se no bairro das prostitutas e eu ia matá lo. 00:04:41:16 – 00:05:03:15 Eu tinha. Sabia exatamente o que queria, contar isso e ia matar aula. Ele ia morrer. Mas depois apaixonei me por ele. Acho que ainda hoje estou um bocadinho apaixonada por ele. E ele conseguiu matar. Subverteu de alguma forma e exigiu de mim outra coisa. E tu? Quando foi tão difícil matar um personagem? Então não é isso que os escritores fazem habitualmente? 00:05:03:15 – 00:05:26:18 Quer dizer, matar personagens que se alguns até aquilo que eu tenho a certeza de que cada vez que aparece nunca pintou um personagem, porque eu gosto mesmo, mesmo, mesmo muito, é para morrer de escritor. A escrita está a fazer isso deliberadamente. Não sair não quer dizer não matar muitos personagens ao longo da minha, da minha escrita e dos meus livros, confesso. 00:05:26:20 – 00:05:46:14 E como é que se ouvem os personagens? Porque se interessam? Como é que se ouvem? Como é que se ouve então tu ouvires as crianças que estão a pedir para ir comprar gelados ou rebuçados ou bombons puxando pela manga na tua cabeça? Para mim é um processo muito mental de coleção de ideias e só depois é que me sento a escrever. 00:05:46:14 – 00:06:24:04 E sem correr o risco de repetir, não acreditando, eu em estruturas, acredito muito que a forma como eu vou organizando as coisas na minha cabeça depois terá uma estrutura por si. Mas lá está, mas tu beneficia de um treino. Primeiro, o primeiro romance que tu escreveste obedeceu também a essa mesma métrica. Tu teres uma ideia, uma epifania e depois começar a escrever o primeiro livro que eu escrevi chama se Cruz das Almas e eu vai 12 anos para publicar e escrevi numa máquina de escrever no Brasil, quando havia um surto de cólera e não se podia sair do hotel. 00:06:24:06 – 00:06:48:22 E depois perdi as páginas, depois recuperei as páginas, depois passei para dentro de uma disquete. Havia disquetes, na altura em resina e depois a disquete. É todo um processo e toda, toda uma história. E o que me apareceu foi uma personagem. E tu pensas sempre a mesma coisa, é sempre aquela e é sempre esse o mote. É aparecer aquela, aquela pessoa, homem ou mulher pouco importa. 00:06:48:24 – 00:07:15:10 Geralmente é muito curioso, mas geralmente os meus personagens são homens. Não sei o que é que se diz de mim enquanto feminista, mas são. Não é que não tenha mulheres nos meus livros, mas personagens, enfim. Pois é isso É mais fácil escrever pensando como um homem do que uma mulher nesse dia. E essa é grande. Essa é a grande maravilha de um mundo escritor. 00:07:15:10 – 00:07:40:05 É que podes pensar como tu quiseres. Podes pensar como um homem velho que está de cancro, podes pensar como uma mulher. Que se põe em causa a sua sexualidade e pensa em fazer um processo de transição. Género podes pensar como uma criança que está em vias de ser adoptada e não quer ser adoptada. Podes pensar como tu quiseres. 00:07:40:07 – 00:08:01:04 Essa é a grande coisa da ficção. A imaginação é a possibilidade de tu seres muitos não e não seres apenas tu, Mas seja muito e vem tudo da imaginação. Ou tu vais buscar coisas que eu acho que nós somos todos uns larápios da realidade. Atenção, andamos sempre a roubar ali o pedacinho da cena de outro lado, sempre a roubar um bocadinho daqui, um bocadinho dali. 00:08:01:06 – 00:08:25:02 Os meus filhos às vezes dizem e pronto. E abri o livro da minha mãe. Lá estava o não sei o quê que eu reconheci imediatamente. E tudo é uma salada russa entre a imaginação, aquilo que vamos observando, as histórias que nos vão, que nos vão, não é um decalque da realidade. Isso nunca funcionará. Na minha opinião, a grande literatura não é um total de sete Na biografia isso é diferente. 00:08:25:04 – 00:08:48:09 Não é literatura, é um género ainda. Eu até diria que é um género jornalístico, mais do que literatura, mais do que tradutora. Mas tu fazes assim uma mistura de várias coisas e tu e tu contas uma história que, por exemplo, eu tenho uma personagem que há sempre uma personagem nos meus livros, tem um sorriso torto. Ela pergunta porquê? 00:08:48:09 – 00:09:10:21 Sei lá tu quando eu escrevo e o que é que a pessoa tem um sorriso torto e depois tu interroga te porque é que eu não me interrogo nada? Eu pergunto. Só estou a dizer que se for ler, sei lá, o Arturo Perez Reverte, por exemplo, encontrarás sempre o xadrez e encontrarás sempre humanos, porque há pequenas coisas que são nossas que estão ali. 00:09:10:23 – 00:09:37:20 O Vergílio Ferreira tem uma frase que eu gosto particularmente, que é um romance. É um biombo atrás do qual a gente se despe. E isto, essa de uma coisa, essa maravilhosa, é o Vergílio Ferreira. O que está aqui não é esse seu ponto. Quer dizer, porque estávamos juntos antes de começamos a gravar, falar da psicanálise, de ir para o divã de alguma maneira, é uma forma de expiação dos nossos pecados e desejos mais inconfessáveis. 00:09:37:23 – 00:09:59:24 Eu acho que são, enfim, essa luz que é este monstro da literatura. E digo no presente porque continua a ser um grande monstro da literatura. Dizia que que se escrevia, que se deveria escrever para incomodar e eu concordo com ela. Eu acho que nós devemos escrever para incomodar, para nos incomodarmos a nós próprios enquanto surdos e para incomodar o outro. 00:09:59:24 – 00:10:19:15 Não é só pela história e não só pela história, porque o tópico é para aquilo que tu proporcionas e promove este pensamento sobre qualquer assunto. A E isso é uma coisa na qual eu acredito, então não faz muito bem o que tu queres dizer. Eu vou escrever um livro. Há pessoas que acham que é assim eu vou escrever um livro. 00:10:19:17 – 00:10:37:00 Hoje em dia esse gato cão, o rato piriquito, escreve livros e eu vou é dar estatuto. As pessoas ainda acham que é verdade, estatuto que é uma tanga, que ninguém vive dos livros, que os livros não dão dinheiro, não ganha dinheiro, mas dá estatuto. Depende. É uma coisa de intelectual que é um Não sei se é um intelectual. 00:10:37:00 – 00:10:57:02 Sei que hoje em dia não, não saiu. Acho que para mim, escrever é uma necessidade. Ponto. Desde pequenina, em vez rebentas. Se não escrever, não entendo e não entendo. O mundo é muito mais básico do que isso. Não rebenta coisa nenhuma. Continuo a viver como as outras pessoas são. Os óculos são uma lente para uma lente? São. São uma forma de observar o mundo. 00:10:57:02 – 00:11:14:22 Claro, isso é uma forma de me incomodar e de incomodar os outros com as questões. Quando tu sentes e dizes vou escrever um livro, não é assim. O que eu tenho para dizer começa por aí. Claro que eu tenho que dizer o que é que me perturba. É isso o que é que. Qual é a reflexão que eu quero fazer neste momento? 00:11:14:24 – 00:11:35:15 Essa é uma relação com a verdade. Lá está o que me incomoda. Se eu vou falar sobre a verdade, tenho que me implicar, Tenho que dizer ali eu não gosto daquilo. Ou gosto tudo ou não, ou não. Uma neutralidade não depende dos assuntos. Tu és uma ativista social? Claro que sim. É uma feminista. Fazes fazer barulho, faz muito barulho. 00:11:35:17 – 00:11:57:04 Não faço muito barulho, sou bastante contida e pior que eu, pior. E isso é bom para a causa. Já agora, o que é ser humano? Ser o que? Uma ativista barulhenta, barulhenta? Eu acho que tu não tens outro remédio ou afasta militantes, ou afasta ou afasta os neutros. Não sei se eu faço. Eu acho que as pessoas. Há muita gente que acha que as feministas são umas chatas porque. 00:11:57:06 – 00:12:18:21 Mas depois tu tens uma conversa razoável. Vamos explorar isso porque por que será que há essa perceção? Porque a maioria das pessoas tem uma conceção errada sobre aquilo que é o feminismo. E o feminismo não é uma coisa para diminuir os homens, não é uma coisa para que nós, cães, é apenas e exclusivamente isto é uma causa que advoga a igualdade e a paridade entre os sexos e ponto. 00:12:18:21 – 00:12:38:19 E onde nada é só isto é onde é que está o incêndio da polaridade nesta conversa. Mas isto é por que este tema é o tema. Não em si. É uma questão de poder. Os homens não querem largar o seu poder e os seus privilégios. As mulheres hoje em dia em continuam sem poder confiar nos homens. É simples porque os homens continuam a matar as mulheres, porque os homens continuam a rebaixar as mulheres? 00:12:38:21 – 00:12:59:08 Porque a candidata do Partido Socialista à Câmara de Lisboa aparece e a primeira coisa que fazem é body shaming. A Alexandra Leitão não faria um homem. Ninguém discute a ideia, ninguém discute quem é, quem discute o percurso, ninguém discute, não. O que interessa mesmo é a facilidade da agressão e a facilidade da agressão às mulheres. É mais fácil. 00:12:59:10 – 00:13:23:11 Sempre foi mais fácil, embora nós estamos a falar da política e eu conheço alguns casos. Não vou citar nenhum em particular de políticos homens que são também gozados pela pelo seu aspeto físico, mas é mais raro pelo seu tamanho, mas é mais raro, mas sim certa dizer que o Carlos Moedas é baixinho porque é disso que tu estás a falar, ou que tem uma voz, ou que tem uma voz colocada e não é uma voz colocada. 00:13:23:11 – 00:13:43:00 Ricardo Araújo Pereira passa a vida a gozar com o cu com o Hélio dos Balões. Portanto, é vá lá que o Carlos Moedas tem estrutura para aguentar isso com sentido de humor, não é? Mas não deixa de ser o mesmo, o mesmo sintoma. Não é? Quer dizer, é um ataque direto, certo? Mas acontece muito menos do que acontece aos miúdos. 00:13:43:02 – 00:14:10:14 Estatisticamente, se quiseres, acontece muito menos do que acontece. Aliás, como estatisticamente está mais que provado que nós vamos precisar de 136 anos para chegar à paridade salarial a fazer as mesmas funções Estatística é chato, incomoda, mas é um facto. E para. A grande figura de 2024 para mim é a Giselle. 00:14:10:16 – 00:14:39:07 A mulher que foi, a mulher que foi violentada, violada, enganada, manipulada durante tanto tempo por tantos homens. O que é que aconteceu para as pessoas que porventura distraídas e não o que aconteceu foi ter um marido, Foi ter um A senhora tinha um marido de longa data que a drogava e depois convidava outros homens para virem violar a mulher. 00:14:39:09 – 00:15:04:24 Isto basicamente foi o que aconteceu a Tu não ouves uma história destas com um homem? E mais te digo que esta senhora tem todo o meu orgulho e compaixão pela forma como lidou com isto, porque ela não, não se enfiou na vergonha, não se enfiou na culpa, não duvidou dela própria e assumiu se uma mulher completamente destruída por esta situação. 00:15:05:05 – 00:15:24:03 Mas dizendo A vergonha tem que mudar de sítio. Não sou eu que tenho que ficar envergonhada. E deu a cara e deu a cara. Porventura se uma situação destas acontecesse com uma mãe, não só não daria a cara como não faria as páginas de jornais que fez. Neste caso, porque os homens iriam esconder que é uma questão de poder. 00:15:24:05 – 00:15:51:23 Há coisas que os homens não acontecem e acontecem. Claro que acontecem. É evidente que tu tens estudos que te provam que as agressões sexuais aos meninos e aos rapazes e aos homens existem. Elas existem estatisticamente. No número menos, enfim, menos, menos número menor. Mas elas existem, estão lá, mas lá está. Mas isso tem a ver com poder, tem a ver com tabu, tem a ver com tudo. 00:15:51:24 – 00:16:17:04 Tem não querer discutir. Tu não falas sobre as agressões sexuais aos rapazes e aos homens com tanta facilidade como falas das mulheres, Porque? Porque há muito preconceito ainda e há muita vergonha e há muito silencio à volta das coisas. O que acontece com o movimento feminista é precisamente encontrar um lugar em que se possa dizer as coisas como elas são, porque nem estamos a falar da questão dos salários. 00:16:17:04 – 00:16:44:04 Que é que é curioso? Porque quando? Quando nós lemos, aí quando nomeadamente do Estado, supostamente somos todos iguais, trabalho igual, salário igual, pois também. Não, não acontece, não acontece. E nós sabemos que não acontece, não acontece. As minhas portuguesas são das minhas que mais trabalham na Europa. Sabias disto porque são aquelas que têm, na sua maioria, as minhas portuguesas. 00:16:44:04 – 00:17:04:18 Têm a seu cargo os filhos, os mais velhos, a casa, além do trabalho, estão a pagar a factura de serem as cuidadoras, a pagar a factura, de serem as cuidadoras e estão a pagar a fatura, de não existir um registo de paridade e a razão pela qual o feminismo faz sentido enquanto causa quer dizer atenção, o ser feminista não é uma coisa das mulheres. 00:17:04:20 – 00:17:28:07 Eu conheço muitos homens feministas e ainda bem. Ainda bem que eles existem, porque esta luta e esse caminho não se faz sem os homens. Ninguém quer excluir os homens desta equação e, portanto, voltamos a tal polarização. A polarização pode estar, enfim, a não ser tão favorável à causa. Ou devo perguntar de outra maneira a polarização é boa ou má para a causa? 00:17:28:07 – 00:17:48:03 É necessária ou está? Se não percebo esta tua pergunta, o que é que tu entendes por polarização? Isto é quase uma discussão Benfica-Sporting, não é? Quer dizer, tu estás a colocar a coisa numa ótica que é a ótica dos direitos humanos e da mais elementar justiça, que faz todo o sentido, que é o que é o feminismo. Todavia, a discussão pública nem sempre tem esse padrão. 00:17:48:03 – 00:18:06:18 Quer dizer, quando o tema aparece é tu estavas a dizer Bom, isso é uma questão de poder. Quem? Quem tem o poder, eu diria. Mas no entendimento de ser homem ou mulher, quem tenha o poder não quer, não quer perder o todo, não é. Portanto é isso é que se chama poder. Há mulheres de poder, certo? Há poucas, mas há. 00:18:06:20 – 00:18:24:06 E ainda bem. E como é que se comportam essas mulheres? Essas mulheres comportam se o melhor possível, como é óbvio. E depois, quando estão no poder e querem fazer o seu caminho, são sujeitas a shaming. Tal e qual como eu referi há pouco em relação à Sandra Leitão, do Partido Socialista, e a sua candidatura à eventual candidatura à Câmara Municipal de Lisboa. 00:18:24:12 – 00:18:55:03 Ou o vestido da Assunção Cristas que levantou tanta polémica porque tinha que vir e por acaso até era de uma estilista do Porto que eu gosto bastante de chamar e portanto também era uma maneira de louvar o design português cá para fora. Mas sobre isso ninguém, ninguém quis saber ou interesse. Isabel Moreira, também do Partido Socialista, Assunção Cristas, do CDS, porque apareceu em biquíni ou caramba, nós vimos os mamilos do Marcelo Rebelo de Sousa todas as semanas, quase na praia. 00:18:55:05 – 00:19:23:05 Claro, Ou onde? Onde ele quiser. Mas vimos então e agora vimos uma mulher em biquíni. É um problema apresentar um duplo padrão. Pelo menos se tivéssemos uma mulher presidenciável, tínhamos essa grande alegria. Não tínhamos que gramar com olha para o que tinha esta menina. Numa outra conversa anterior com um amigo, estávamos a falar da. Agora nós devemos ser o país do mundo com mais canais de notícias do planeta. 00:19:23:07 – 00:19:49:20 Mas há uma coisa boa que está a acontecer, que é o número de votos. Infelizmente cresce na área da política. Provavelmente o desejo de não aparecer. Já nos esquecemos da pandemia de aparecerem muitas mulheres comentadoras, felizmente jovens e do e do É do que está a acontecer nas redes sociais, nos facebooks desta vida, das pessoas ficarem a comentar não as ideias, o que estão a defender, o que estão a reflectir em termos políticas. 00:19:49:22 – 00:20:11:17 Mas não está a falar sobre o sobre o corpo, sobre o Instagram delas, sobre a maneira como elas vivem na sua vida real. E não, não, não no universo da política. Lá está, mais uma vez o duplo padrão. Não sei se é um duplo padrão. Eu acho que hoje as pessoas utilizam as redes sociais para dar a ideia de que a vida delas é assim, assado, cozido, frito, ao refogado. 00:20:11:19 – 00:20:36:08 É um markting, é uma selfie, é uma propaganda, É só fumar quem não tem mal nenhum. Há pessoas que usam só as redes sociais para promover o seu trabalho e também está lá. E há pessoas que usam as redes sociais para mostrar as praias onde andam. E também está bem. Está tudo bem, eu precisa, está tudo bem. O problema das redes sociais é que vieram permitir comentários atrozes de uma violência extrema. 00:20:36:10 – 00:21:00:04 E isto não tem consequências. Há uma impunidade e hoje fala se muito liberdade de expressão. Mas eu acho que a liberdade de expressão tem que ter o mínimo da dignidade. Tem que pelo menos obedecer à dignidade. Essa linha, essa linha, tu pode não gostar da pessoa porque ela ideologicamente, por exemplo, é contrária às tuas ideias, mas não quer dizer que não consigas conversar com ela. 00:21:00:06 – 00:21:20:11 O problema é que hoje estamos num mundo que é assim ou estás comigo ou estás contra mim, tal e qual. E eu não estou disposta a debater contigo. Ora, com tu não debates, não há promoção de pensamento, não há promoção de pensamento. As ideias não evoluem. Eu posso discordar de tu podes ser do Benfica por hipótese. Não sei se no topo do mundo, Por Cristo, tu és do Porto, sou do universo. 00:21:20:13 – 00:21:46:10 Não temos conversa. O Belenenses também é uma casa. É uma escolha muito segura, claro. É uma escolha de quem não gosta de futebol, porque assim não tem conversas com ninguém. É uma estratégia minha, Eu gosto pelo menos pronto. E eu gosto muito da cidade do Porto, mas não gosto de futebol. Portanto, já temos aqui uma equipa pronta. A verdade não quer dizer que não possamos conversar e hoje as pessoas não estão dispostas a conversar, estão dispostas a atacar pontos dispostas a crítica. 00:21:46:10 – 00:22:18:04 É tudo muito fácil e muito português e isto porventura será muito da condição humana. E acabou. E não há nada a fazer que nós alcançamos ou criticamos e julgamos com uma facilidade medonha. Nós não sabemos da missa a metade e já estamos a julgar qualquer pessoa e a pandemia veio agudizar este este sentimento de ah, olha, vou te dizer, eu acho que para mim é uma coisa muito terrível, que é o outro, o outro com possibilidade de agente de morte. 00:22:18:06 – 00:22:40:05 Eu não vou buscar aquela pessoa porque ela pode trazer um vírus. Tu és uma ameaça para mim, No fundo, uma ameaça com asma, hipocondria. Sei como é essa hipocondria social manteve se ao longo destes anos pós pós pandemia, salvo seja, porque eu acho que a pandemia veio para ficar de alguma forma, que as pessoas estão mais individualista, estão mais egoístas. 00:22:40:05 – 00:23:04:24 Lembras te no início, quando fazíamos isto? Agora vamos todos ficar. Nós vamos todos valorizar o humanismo, Vamos todos estar sem solidariedade e compaixão pelo outro. Está em guerra. Nós somos uma tanga. Não foi assim que aconteceu. Não é assim que acontece. As redes sociais são um espelho disso mesmo. Portanto, tu estás comigo, estás contra mim. É simples. É esta é a realidade. 00:23:05:01 – 00:23:32:11 É muito limitativa e ao mesmo tempo é muito. É muito simpática, digamos assim. Para certos movimentos que te querem na carneirada. Claro que quanto menos tu pensares, melhor. Eu notei que dois ou três lamiré trabalha aqui para os pontos excelentes dos jornais, das televisões e das rádios. Diga aqui com uma frase e tal e que eu fique. Está bom e vou ao encontro dos receios das pessoas. 00:23:32:13 – 00:24:00:11 Crise económica implica receio. As pessoas têm receio, sustêm o medo. O medo limita se. O medo não é criativo. Se tu tiveres medo, não és uma pessoa criativa. Há uma espécie de uma espécie de cultura narrativa do medo, claro. Fala do medo de fala subrepticiamente. O medo não fala, evidentemente, do medo, mas fala Quando nós atacamos os imigrantes e o e o . 00:24:00:13 – 00:24:18:01 Mas depois dou te um exemplo prático Ai, eu não gostava nada do meu vizinho porque é indiano, mas tive um incêndio cá em casa. Eu fui a primeira pessoa que me veio ajudar e agora somos grandes amigos, mas deixou de ser o . Mas e aquilo? Eventualmente mas deixou de ser o para ser aquela pessoa que foi ajudar? 00:24:18:03 – 00:24:45:01 Isso é uma perspetiva francamente utilitária? Com certeza. Com certeza esse é o problema também não é só que os imigrantes neste país estão cá e ainda bem que estão. E venham mais, se for caso disso. Estão cá para ter uma vida melhor. Estão cá e pagam impostos, estão cá e contribuem para a sociedade e fazem trabalhos que a maioria da malta que se diz portuguesa, seja lá isso o que for, não faz, não quer fazer, não faz e não quer fazer. 00:24:45:03 – 00:25:14:24 Portanto, esta discussão de o outro como agente possível de Dufour de violência de Dufour, não é. É pelo medo e pelo desconhecimento. É o medo e o desconhecimento. Alimentam se porque tu não vês nas televisões e não vês nas rádios. Estamos a falar de imigração. Tu não vês nas televisões e nas rádios ou raramente vês. Vamos lá incorporar então as nossas comunidades de imigrantes e trazer esta malta para a conversa. 00:25:15:01 – 00:25:41:03 Tu fazes discursos sobre racismo na televisão com cinco brancos, Percebes o que eu quero dizer e ninguém pensou nisto. De repente estou no ar. São cinco, são todos caucasianos e tal. Foi o racismo e o racismo. Epa, francamente, Tenham lá paciência. Ninguém quer que haja diálogo, ninguém quer construir pontes, quer tudo. Estar no seu condomínio fechado, viver com arame farpado. 00:25:41:05 – 00:26:01:17 E isto é o pior que pode acontecer ao mundo. Olha, mas em princípio nós somos uma civilização gregária. Nós vivemos uns com os outros, Nós precisamos de estar uns com os outros. Nós queremos estar quando quer dizer que somos uns animais sociais? Em princípio, sim, não é em princípio. Por isso é que vamos, pois neste momento, o que tu tens são são os guetos vizinhos, não é a tua. 00:26:01:17 – 00:26:13:21 Agora eu pertenço a esta bolha. Tu pertença aquela bolha. Tu és daquela tribo ou outra da outra tribo. É isto que eu te estou a dizer. Tu estás num condomínio fechado, não estejas no condomínio fechado. 00:26:13:23 – 00:26:35:03 Não te traz nada de bom fecharmos aqui. Como é que a gente parte esse, esse muro, esse arame farpado? Eu só posso dizer te aquilo que eu faço, que eu faço é falar sobre isto. As pessoas querem falar sobre coisas que não tem importância nenhuma e eu quero falar sobre isto. Quero falar sobre como é que nós estamos a viver a nossa democracia. 00:26:35:03 – 00:26:57:06 Quero falar sobre o futuro dos nossos políticos, como é que nós encaramos, porque é que nós encaramos os nossos políticos sempre com sentido de mediocridade e com uma de descrédito que sim, eles são todos eles juntos, eles, aquela entidade anónima, Eles ou eles somos nós e o eles somos nós, porque o Estado somos nós. Portanto, o que eu faço na minha bolha é tentar abrir a bolha o mais possível. 00:26:57:06 – 00:27:21:13 É falar com o maior número de pessoas, tentar não ter preconceito, tentar estar disponível para o diálogo. Se tens que estar disponível. Se não estivesse disponível. Olha, é impressão minha ou cada vez é mais difícil e menos bem visto? A arte de fazer perguntas, claro, porque é perigosíssimo também. Cada vez é mais difícil fazer jornalismo digno desse nome. 00:27:21:15 – 00:27:57:17 Porque é difícil. Ninguém quer, ninguém quer. As redacções estão como são básicas as redacções que têm pessoas com nível salarial, uma precariedade inacreditável, porque os têm e passam recibo e amanhã não têm. Não tem contrato, não tem perspetiva de futuro. Interessante. São 3500 criaturas de cursos de comunicação social e de jornalismo por ano das faculdades que, coitadas, precisam fazer estágio de aprender, de ter a sua tarimba, chamemos lhe assim, e que são tratadas como carne para canhão e pronto. 00:27:57:21 – 00:28:20:09 E nós não estamos a falar sobre isto, sucinto. E não estamos. E o jornalismo, como política, é essencial para a democracia, é essencial. Tu não tens uma democracia sem jornalismo, não é? Não tens porque é preciso escrutinar. É preciso perguntar o que é, porque é preciso sempre perguntar, porque é preciso sempre ir atrás. Porque é preciso sempre ver o outro lado, ter o contraditório. 00:28:20:09 – 00:28:44:10 O jornalismo é isto. Eu vou vos contar esta história que se passou com a senhora A. Mas com a senhora B. Passou se outra coisa. Percebe se e se irrita. Ela está irritada. Isso não é conveniente para quem não quer que tu pensas. Que chatice! Está aqui esta pessoa aqui a fazer estas perguntas. Quem és tu quando? Quando eu consigo pensar, consigo decidir e consigo pensar. 00:28:44:10 – 00:29:10:17 As pessoas precisam de pensar e para pensarem, precisam de bom jornalismo. E vou dizer uma coisa que é um crime lesa majestade é esquisito. Enfim, crucificam, mas paciência. Precisam de jornalismo escrito, porque as pessoas precisam de contexto. Não é uma notícia de um minuto. As pessoas precisam de jornalismo escrito. As pessoas precisam de voltar a ler, porque ler também promove os neurónios e as células cinzentas do cérebro. 00:29:10:17 – 00:29:35:14 Nós deixamos de ler e nós deixamos de ler os jornais. E isso é muito perigoso. Deixar de ler os jornais é muito perigoso não acompanhar a actualidade. Tu não te podes enfiar a tua boca, dizer eu não quer saber, eu nem vou votar. Então eu vejo aqui, Eu fui lá saber. Eu vejo aqui no meu, no meu, no meu digital, aqui no meu instagram e no meu facebook as gordas que tenho uma vaga ideia. 00:29:35:16 – 00:29:57:22 Apesar de tudo, é curioso que não gostemos se temos filhos relativamente jovens ou mais crescidos, que apesar toda a atualidade, chega lhes de outra maneira, isto é, chega lhes de uma forma diferente e volta e meia eles comentam coisas meus. Os meus filhos não são exemplo para os meus filhos, são são umas criaturas que foram treinadas para estar atentas ao mundo. 00:29:57:24 – 00:30:23:00 São umas criaturas, foram treinadas para ser bons leitores, mas tu fizeste isso. Eu sou uma boa leitora e eu discuto a realidade todos os dias. E as nossas conversas à mesa de jantar eram conversas. Nunca tive a televisão ligada. Nunca. E conversava sobre tudo. E discordávamos e concordávamos que discordávamos e continuamos a concordar que discordamos nisto ou naquilo e que concordamos no outro e olhamos para as coisas e falamos sobre tudo. 00:30:23:00 – 00:30:40:03 Sempre foi assim. Olha, não era tópico desta entrevista, mas tu falaste sobre isso, que é como é que é ser mãe de uma mãe do meu filho? A pergunta é como é que é ser filho de uma mãe como esta? É capaz de ser um bocadinho mais interessante que entretanto eu já cá andava? Então deixa me lá, deixa me lá fazer a pergunta concreta que, como é que é? 00:30:40:05 – 00:31:00:07 Como é que é a tua relação com uma personalidade política? É pública, chamada Sebastião Bugalho. Eu sou a mãe dele. Sou só a mãe dele. Percebe o que eu quero dizer? Eu sou somente eu não sou militante, não sou groupie, não sou chefe de redação, não sou médica, não sou juiz dele, não sou mãe dele, que é a coisa mais importante do mundo. 00:31:00:07 – 00:31:24:05 E, portanto, quando pega no telefone e não, não, não, não. Então não, não, não pego no telefone. Acho que era coisa de puxar a orelha. Não, eu não faço, não faço isso, não faço isso. Tenho demasiado respeito já porque o meu filho não é o meu filho mais velho, assim como o meu filho mais novo. São dois homens, não são duas crianças. 00:31:24:07 – 00:31:47:20 É porque eu tenho respeito pela forma como eles entendem a vida deles e fizeram as suas opções, mesmo que as suas opções não não sejam as mesmas que eu farei. E não tem problema nenhum. E sim, é democrático. Pensam que eu respeito o caminho que cada um deles segue? Acabou, mais nada. Eu não puxo orelhas e não puxo análises a um homem com 29 anos, nenhum com 25. 00:31:47:20 – 00:32:09:14 Estamos malucos. Ok, então que é isto? Então eu fiz o meu trabalho, daí. O pacote com as ferramentas, a caixinha das ferramentas, Dei tudo o que podia, fiz o melhor que consegui. Mas uma mãe a ser mãe não é uma mãe, é sempre uma mãe, mas uma mãe é colo. Eu estou cá, Popó. Portanto, quando alguma coisa não correr bem, eu cá só ao mimo. 00:32:09:14 – 00:32:39:19 Não, não perdi. Não estou cá para puxar orelhas. Olha, voltamos às leituras. O que andas a ler? O que eu ando a ler? Olha, isso é uma boa pergunta. Eu quero um livro incríveis, uma leitura anárquica e tens pilhas de coisas para ler que vais saltando de nenúfar. Eu não farol tanto de nenúfar no farol. Eu pego num livro, leio do princípio ao fim quando estou a ler uma coisa que se chama Our Evening, do Alan de Rolling Yours, que é um escritor inacreditável. 00:32:39:21 – 00:33:06:04 Tem alguns livros publicados em Portugal A Linha da Beleza é um livro que eu recomendo A Linha da Beleza. Gostava muito voltar àquele momento inaugural em que fiz aquela primeira leitura e ele é incrível. E eu pego e leio até ao fim o que eu vou saltitando não farei, não farei. Na poesia. A poesia alimenta muito, muito. Quando é que voltas à poesia? 00:33:06:06 – 00:33:42:19 Na angústia, Quando está mesmo assim, mais de neura. Não é poesia. Depois recupera muito e vai e volta. É tipo de medicamento. Você volta sempre aos poemas de sempre. Não, não, não, não vou lendo várias coisas. Há coisas às quais volto sempre. Mas eu acho, eu acho. A poesia e a literatura muito salvadoras. Recuperam nos. Olha o livro quando é mesmo muito, muito bom que a gente está ali naquelas últimas 30 páginas a pensar e agora vai acabar E eu vou ficar aqui. 00:33:42:21 – 00:34:09:19 Entre o órfão e o ressacado. Não haverá mais nenhum livro tão bonito como este. Como é que é? Como é que fazes? Como eu chego ao fim, Fecho o livro, abro o livro outra vez e volta a ler de novo. Isso já não tem surpresa. É outra maneira de encarar a leitura. Para lá do deslumbramento um E tem o contrário, que é tu dizendo olha, está aqui este escritor é que é este que é o último bolacha do pacote, mas não é o último botão pensar o rabo. 00:34:09:19 – 00:34:35:09 E Marías, por exemplo, no não há e mais não existe. Mas existem tantas bolachas no pacote, são todas tão boas nesse sentido e já estás a ferver e a pensar Já não aguento este texto, Não aguento. Hoje em dia já não tenho nenhum problema em abandonar, mas hoje abandono, pois ao lado ponho, põe, põe de lado. Posso te dizer, aliás, que aos 18 anos pus os 100 anos de solidão ao lado e disse Caramba, não tenho cabeça, não tenho cabeça para isto. 00:34:35:11 – 00:34:55:03 É um livro brilhante que eu li depois já li duas vezes ou três, mas naquela altura não dava. Aquilo era demais para mim. Os livros têm um tempo para ler, para serem livros. São lidos de forma diferente consoante a tua idade e a tua experiência. E se eu tenho a certeza absoluta, não é a mesma coisa ler Os Maias aos 15 anos e ler Os Maias aos 52. 00:34:55:03 – 00:35:15:05 Se ainda por cima tentamos usar a palavra várias pessoas zangadas comigo e impingir Os Maias, Mas eu acho ótimo, sinto eu ajudar e eu não tenho nada contra isso e aquilo. Não parece uma leitura, parece uma autópsia. Eu não tenho nada contra isso. Tudo depende do professor que tu apanhas. Tu apanhares um professor inacreditável que consiga dosear o seu programa. 00:35:15:09 – 00:35:39:04 Tem TV de uma pedra de uma calçada. Ora lá está, pronto é o entusiasmo do próprio professor. É aquilo que vai contagiar a turma. E tu podes ler Os Maias e podes ler o Rui Zink ou a Luísa Costa Gomes, a mesma turma e procurar. Quer dizer, repara como é que, como é que é possível dizerem que os adolescentes não aderem ao Camões. 00:35:39:05 – 00:36:01:21 Escritos de Camões são sonetos de um homem apaixonado, um adolescente e, por inerência, uma pessoa apaixonada que todos os dias quero morrer e viver. E aqueles versos até dá um jeitaço. Portanto, não, não está a ser ensinado. Bem, não sei se não está a ser livros, não posso dizer isso. Eu acho que a profissão mais importante do mundo é ser professor. 00:36:01:23 – 00:36:28:20 É a pessoas que são professores porque não têm outro médico, são obrigados a isso e, portanto, há outras que são por vocação e é, suponhamos, um bom professor. É fundamental saber onde é que a literatura vem. É fundamental saber que existirão outros mundos, outras maneiras de olhar para os mesmos assuntos. Quer dizer, os livros são a melhor. O bilhete de viagem que tu podes ter. 00:36:28:24 – 00:36:51:05 Olha o que vale a pena ler. Eu tenho sempre uma dificuldade que é ora eu apanho as promoções das editoras que está a acontecer isto agora deste novo escritor. Há coisas que eu conheço e portanto é muito fácil de de lá entrar ou de ou de outro descobrir. Mas falta sempre uma curadoria, quer dizer, este aqui implícitas, preguiçoso. 00:36:51:07 – 00:37:13:08 Se calhar não achas que é isso. Eu vou à livraria, leio meia dúzia de páginas, mas há demasiadas coisas lá, certo? Certo, está bem, mas eu pego num. Como paguei a semana passada num livro de uma escritora espanhola cujo nome infelizmente não me vai ocorrer e disseste este é que é. E o livro chama se Maus Hábitos. É um livro maravilhoso, maravilhoso. 00:37:13:09 – 00:37:38:11 Eu li três páginas, li a contracapa e disse olha, eu vou experimentar. Ou seja, sem preconceito e também sem grande expetativa. Gosto? Acho que não acho. Não gosto muito. É mau. Não vem daí mal nenhum ao mundo, mas pelo menos estou disponível. Mas a quantidade de livros é tão gigantesca, a quantidade de autores é tão gigantesca. Que sorte, não é incrível? 00:37:38:13 – 00:37:59:07 É mesmo! Mas a probabilidade da gente ir falhando muitos, não é? É tanta que tinha tanta angústia. Isso não me angustia nada, porque eu acho que falhar faz parte do processo, Não é? Não vejo por que seja um problema. Não gosto deste livro. Ok, há outro que vão ao outro dia. Não existe distinção. Um livro só existe um dez. 00:37:59:07 – 00:38:26:18 A Bíblia não é também? Belíssimo livro, incrível. Lenda por ter E o nome da escritora? Obrigada. Tivemos a ajuda do Google, tivemos a ajuda do povo. Obrigada! E o livro do livro é maravilhoso. Comprem! Chama se Maus Hábitos. É maravilhoso. Só pelo título ainda não li um parágrafo. Pronto, estás a ver? Às vezes o título faz diferença. Voltamos ao princípio se que lá está, como resolver a questão dos títulos? 00:38:26:18 – 00:38:49:02 Quer dizer que um bom título pode, pode, Pode, obviamente, abrir e abrir. E que grandes grandes possibilidades podemos ler mais. Mais um livro na literatura portuguesa A literatura portuguesa. O estudo. Ponto. Tudo por princípio. Eu leio tudo, porque eu gosto muito dos escritores de nova geração. Eu também, porque eu leio todos e posso gostar mais de um. Posso gostar mais de um livro, posso? 00:38:49:04 – 00:39:09:14 A esta coisa os escritores não são regulares. Percebo o que eu dizer. Tu pegas num tu pegas em todos os livros do Vergílio Ferreira, Vou dizer Virgílio, o da Agustina vai na Cristina. Não é possível. São todos bons, mas pegas nos nos livros de um autor. E se não são todos bons, não vão todos ser inacreditáveis para ti enquanto leitor. 00:39:09:14 – 00:39:40:08 Mas podem ser para mim, aqueles que tu não gostas tanto. Se calhar para mim são incríveis. E é esta riqueza que maravilhosa, não é? Mas há alguns que te acertam. Não sei se no gosto geral ou no fado, caem no desassossego geral. O que tu pensar. Eu gosto muito, por exemplo, do João Tordo. Eu também gosto muito do João Tordo e li primeiro algumas coisas mais profundas e afins e um dia tropecei num policial dele que supostamente eu gosto mais das coisas mais profundas e afins. 00:39:40:08 – 00:40:01:06 O João fez filosofia e portanto eu achei esse lado mais interessante. Eu disse o ao alto espera aqui uma porta e depois voltei aos outros a seguir. Quando eu penso no Gonçalo mesmo Tavares Jerusalém, eu digo assim aqui umas coisas que são estrelas. Mas tu estás me a dizer é preciso de cantar. Há aqui uns livros que vão funcionar mais para ti do que outros contos. 00:40:01:06 – 00:40:32:11 O Normandos para ti. Agora há escritores incríveis a Luísa Costa Gomes, a Inês Pedrosa, a Teolinda Gersão, a Maria Teresa Horta, a Joana Berto, a Dulce Maria Cardoso. Somos muito a Tânia Ganho uma escritora incrível e uma tradutora igualmente incrível. Nada dela. Tânia Eu sou grande fã da Tânia. Confesso. Grande, grande fã da Tânia. Acho que a Apneia é um livro extraordinário. 00:40:32:13 – 00:41:01:14 E é. Acho que ela fez um trabalho incrível. De facto, é um tema muito difícil, porque é um tema sobre o mito dentro da família, mas é um livro e não é quase sempre dentro da família. Sim, estatisticamente. Mas isso que é quase sempre dentro da família ou próximo da família. Quais são os teus hábitos de escrita? Não tem, não tens. 00:41:01:16 – 00:41:24:09 E quando é quando calha, é em qualquer sítio. Escreves à mão, escreve no computador, escreve de qualquer maneira, como tu queres introduzir o que escrever aberto, passando por caneta de tinta permanente outra vez e escrevendo. E eu não tenho. Não trago um caderninho como a Inês Pedrosa ministra. Há sempre um livro dentro da mala, um caderninho dentro da mala e é o que ela dizem, porque pode surgir um romance e eu achei este lindo. 00:41:24:09 – 00:41:44:14 Mas isto nunca diria a pessoa. Eu sou uma colecionadora mental e depois escrevo quando escrevo. Pronto. E as ideias não podem escapar se se tu não tomar de uma paciência. Isso é como aquela história do Bob Dylan que vai no carro e de repente tem uma ideia para uma música e abre a janela e diz lá para cima, supostamente para Deus. 00:41:44:16 – 00:42:14:23 Agora, agora que eu não tenho papel e caneta, pronto, eu enfim, eu aceito que quando começo a escrever, o que está lá está lá e o que eu perdi, perdi e estou numa fase de profunda aceitação de algumas coisas. São olha como é que é o momento em que tu decides que o livro já está escrito e que tu tens definitivamente que lhe livrar dele e entregares para que ele possa ser impresso. 00:42:15:00 – 00:42:35:00 É o momento em que começa a escrever outro, começas antes de entregar aquilo. Sim, habitualmente sim. Isso não aconteceu. Quando terminei As Crianças Invisíveis e eu sinceramente achei que tinha secado, que não havia mais nada para contar e fica se com a sensação de vazio. Tanto é que eu andava, andava, andava e não aparecia nada e eu ia ficar órfã de personagens e ficar sozinha. 00:42:35:02 – 00:42:59:18 É muito chato ficar sozinho naquela. Então percebi que não vi nada, não vi nada, não aparecia nada, não aparecia ninguém, não via nada. Então entreguei o livro. Depois no mim surgiu me uma radialista, a Susana, e eu escrevi o da meia noite às seis, assim de uma assentada, com uma velocidade como nunca aconteceu. Quanto tempo demora a escrever um livro despindo as crianças invisíveis? 00:42:59:18 – 00:43:21:15 Eu demorei quatro anos, mas também à noite as saias levaram uns meses, três meses. E é escrever em confinamento e depois reescrever e reescrever e reescrever. E mais ou menos. E eu tenho uma coisa muito complicada na minha cabeça, que começa na terceira pessoa, passa para a primeira, depois volta para sair amanhã. Onde é que está o ponto de vista? 00:43:21:17 – 00:43:40:00 Sim, o que significa que estou sempre a reescrever. E dá para mudar os pontos de vista ao longo dos capítulos? Às vezes sim e aquilo não fica incoerente se tu pensar que não saí transcorrer os livros. E para além disso, acho que é incoerente, porque quer dizer tudo. Eu estou a ver. E voltamos ao início da conversa. Estavas a falar do homem que vai para Amesterdão e por aí fora. 00:43:40:02 – 00:44:04:14 E eu digo que se tu és uma escritora intuitiva e vais fazendo essa e essa quase arqueologia mental, tu corre o risco de chegar ao fim do livro e teres um personagem que exige que escrevas o um e dois. Se tiver que reescrever, que pode um trabalho interno. Olha qual é a melhor coisa que o leitor pode dizer. 00:44:04:16 – 00:44:27:01 Gostei do seu livro porque qualquer coisa tem que haver um porque tem que haver um porquê. Sim, porque eu gosto de perceber onde é que as pessoas se encontraram dentro dos livros e onde é que encontraram uma identificação. O que é que lhes acrescentou? Gostei muito do seu livro. Qualquer pessoa pode dizer isso, Pode ser só simpático, pode ser só simpático e nem ter lido. 00:44:27:03 – 00:44:41:00 Aqui entre nós acontece muito. De certeza que acontece que muita coisa tem que acontecer muito e tal. É uma escritora muito será? Gostei muito seu livro e tu ficas a pensar assim. Bem, não lhe vou fazer duas perguntas porque obviamente. 00:44:41:02 – 00:44:59:05 Corro o risco da pessoa ficar entre o que escrevo, mas o que quero saber é que achas? E depois? De repente, quem? Ah, não, não, não, não, não, não foi outro livro que li há muito tempo. Já não me lembro do título. Era uma era, não era? Portanto, eu agradeço. Mas isso faz parte da mentira social também é uma forma de escrita. 00:44:59:07 – 00:45:15:17 Então nós somos uma hipocrisia constante, andante, com duas perninhas para o lado dos nossos pecados. É verdade. Patrícia Reis. Muito obrigado por teres vindo. Obrigado. Quando é que saiu o livro? Sei lá. Ainda não acabei de escrever. 00:45:15:19 – 00:45:36:09 Já agora, este era a última pergunta. Mas eu tem mais uma muito boa relação com os editores, porque imagino que os editores na sua cabeça tenham tenha uns prazos, tenham uma relação. Eu não tenho nenhum problema com prazos, mas na ficção, felizmente isso não existe e portanto, pode ser quando for, pode ser quando for Não, ficção não é assim, não é o caso da biografia da Maria Teresa Horta. 00:45:36:09 – 00:46:01:24 Havia um caso, mas é diferente porque fazer uma biografia é um trabalho menos romanesco. Lá está, tu vais à procura de fontes e de perspetivas e de ideias e juntas, aquilo tudo é um trabalho mais jornalístico, se quiser. Como é que se faz? Como é que faz? Com dificuldade, com muita dificuldade. E no caso específico da Maria Teresa, estando ela viva, felizmente com um sentido de responsabilidade tremendo, porque há uma linha que tu não podes cruzar e depois mandas lhe mandar te. 00:46:02:01 – 00:46:24:23 Eu disse lhe que ela podia ler, ela não quis ler e ela não quis ler porque a jornalista Isso é muito bonito. Foi a maior prova de confiança de todas as que Teresa, como eu, faz parte daquela daquele grupo de jornalistas que não dá entrevistas a ler. As pessoas que entrevistou, claro, E edita e publica. E a responsabilidade e a responsabilidade dos dois, obviamente, neste caso a história dela. 00:46:25:00 – 00:46:46:16 Mas. Mas és tu que é que conta? Mas ela iria sempre, se calhar ter a necessidade de mudar isto ou aquilo, isto ou aquilo e não quis sujeitar se que isso nela própria. Como é que se escreve sobre? Sobre os lados mais negros ou mais difíceis de admitir da vida de alguém com dificuldade? Outra vez tudo é com dificuldade. 00:46:46:16 – 00:47:10:02 Caramba, não é difícil, É difícil. É difícil perceber a fronteira entre aquilo que pode escrever e o que não pode escrever. E não deixei de dizer que a Teresa é uma pessoa que se alimenta do conflito, que é uma pessoa que violenta, não é uma pessoa consensual. Eu escrevia essas coisas todas. Agora há maneiras. Tu podes dizer tudo juntos, sim, mas depois há uma dimensão de intimidade. 00:47:10:05 – 00:47:37:00 Claro que estando ela vivo, tens que ter esse respeito e sendo eu amiga dela há tantos anos, o respeito ainda é maior. Portanto, aquilo foi uma missão perigosa, muito perigosa, mas. Mas foi incrível de fazer e eu estou muito contente E sobretudo, estou muito contente com a reação das pessoas. Se eu conseguir que as pessoas leiam a história da Maria Teresa Horta e voltem a obra dela, para mim está feito. 00:47:37:02 – 00:47:41:11 Patrícia obrigado, Obrigada. https://vimeo.com/1048953205?share=copy…
Ser o fotógrafo oficial do Primeiro-Ministro é uma missão que mistura dedicação, intensidade e um profundo sentido de responsabilidade. Documentar o dia a dia de uma figura política tão relevante exige muito mais do que técnica; é necessário capturar a essência dos acontecimentos e transmitir, através das imagens, uma narrativa que comunique tanto com a população quanto com os públicos institucionais. O trabalho de Gonçalo Borges Dias envolve acompanhar viagens, eventos diplomáticos e toda a agenda oficial, sempre para criar registos que reflitam a energia, o carisma e a seriedade da função do chefe do governo. Cada fotografia precisa de contar uma história, respeitando as dinâmicas protocolares e, ao mesmo tempo, mantendo a espontaneidade. Só isso pode representar uma tensão no momento de fazer “aquela” fotografia que todos vemos nos canais de comunicação do governo. Tudo é importante. O gesto, o enquadramento, o ângulo, a luz. Tudo vale para contar a história. A experiência acumulada no fotojornalismo mostrou-se crucial para lidar com a pressão e a velocidade do trabalho. Ele traz para o seu dia a dia a capacidade de captar momentos que misturam a beleza da composição com o significado noticioso. No entanto, o ritmo intenso é comparado ao de uma equipa de alta competição, onde cada segundo é precioso. Uma parte essencial deste trabalho é a comunicação com o fotografado. Hoje Luís Montenegro. Como antes com mil pessoas noticiáveis. Ou de fazer retratos mais cuidados e sem a pressão diária da agenda mediática- A necessidade de criar um ambiente de conforto e confiança é constante, especialmente com uma figura que está sempre sob os holofotes. O objetivo é capturar o melhor lado da pessoa, não apenas em termos estéticos, mas também emocionais e humanos. Aprendi que a luz desempenha um papel central na fotografia. Cada tipo de iluminação é pensado para criar imagens que sejam coerentes com o momento e causadoras de impacto para quem as observa. Seja usando luz pontual para destacar o protagonista ou matricial para capturar o todo, a atenção aos detalhes é uma constante. Outro aspeto interessante do trabalho é a narrativa visual. A intenção é construir um registo documental que tenha princípio, meio e fim. Mesmo com as limitações impostas pelos protocolos, há uma busca por retratar não apenas o lado político, mas também o humano. As imagens visam mostrar o Primeiro-Ministro não apenas como uma figura de estado, mas também como pessoa. Este tipo de fotografia tem os seus desafios únicos, principalmente quando comparada ao fotojornalismo tradicional. O trabalho requer um olhar crítico constante para criar imagens que sirvam tanto ao registo histórico quanto à comunicação política. Há uma preocupação em equilibrar o lado estético com o significado político e institucional de cada imagem. Não é jornalismo, é comunicação institucional. O papel do fotógrafo oficial é também um trabalho de equipa. A sintonia com os assessores de comunicação, protocolo e outros profissionais é fundamental para garantir que cada momento seja capturado com qualidade e alinhado à narrativa pretendida. LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO Transcrição automatica 00:00:00:00 – 00:00:44:20 Ora, vivam. Bem vindos ao Pergunta simples o vosso caso sobre comunicação. Imaginem que vossa vida, nos próximos meses ou anos, será como sombra em todos os passos do Primeiro-Ministro. Neste caso, sombra e luz, principalmente luz. Apresento vos Gonçalo Borges Dias, fotógrafo profissional e agora fotógrafo oficial do Primeiro-Ministro Luís Montenegro. Vai a todo lado. Está sempre lá e oferece nos a história ao ritmo de um click da sua máquina fotográfica. 00:00:44:22 – 00:00:57:06 Em todo lugar, a todo o momento. 00:00:57:08 – 00:01:23:02 Ser o fotógrafo oficial do Primeiro-Ministro é uma missão que mistura dedicação, intensidade e um profundo sentido de responsabilidade. Documentar o dia a dia de uma figura política tão relevante como o Primeiro-Ministro exige muito mais do que técnica. É necessário capturar a essência dos acontecimentos e transmitir através das imagens uma narrativa, uma história que comunique tanto com a população em geral como com públicos mais institucionais. 00:01:23:04 – 00:01:52:20 O trabalho de Gonçalo Borges Dias envolve acompanhar viagens, eventos diplomáticos e toda a agenda oficial do Primeiro-Ministro, sempre com o objectivo de criar registos que reflitam a energia, o carisma e a seriedade da função do chefe de Governo. Cada fotografia precisa de contar uma história, respeitando as dinâmicas protocolares e, ao mesmo tempo, mantendo a espontaniedade. Só isso pode representar uma tensão no momento de fazer aquela fotografia que todos vemos nos canais de comunicação do governo. 00:01:53:01 – 00:02:14:21 Tudo é importante. O gesto, o enquadramento, o ângulo, a luz, tudo vale para contar uma boa história. A experiência acumulada do fotojornalismo mostrou se crucial para lidar com a pressão e com a velocidade do trabalho. Ele traz para o seu dia a dia a capacidade de captar momentos que misturam a beleza da composição com o significado noticioso narrativo. 00:02:14:23 – 00:02:43:13 No entanto, o ritmo intenso é comparado ao de uma equipa de alta competição, onde cada segundo é precioso. Uma parte essencial desse trabalho é a comunicação com o fotografado. Neste caso, Luís Montenegro. Como antes, 1000 pessoas noticiadas ou a fazer retratos mais cuidados e sem a pressão diária da agenda mediática. A necessidade de criar um ambiente de conforto e de confiança é constante, especialmente com uma figura que está sempre sob os holofotes. 00:02:43:19 – 00:03:10:11 O objetivo é capturar o melhor lado da pessoa, não apenas em termos estéticos, mas também emocionais e humanos. Aprendi nesta edição que a luz desempenha um papel central na fotografia. Cada tipo de iluminação é pensado para criar imagens que sejam coerentes com o momento e cria um impacto a quem as observa. Seja usando a luz pontual para destacar um protagonista ou matricial mais larga para capturar o todo. 00:03:10:12 – 00:03:38:11 Atenção aos detalhes. Tudo é uma constante no dia a dia de um fotógrafo profissional. Outro aspecto interessante do trabalho é a narrativa visual. A intenção é construir um registo documental fotográfico que tenha princípio, meio e fim. Mesmo com as limitações impostas pelo protocolo, há uma busca por retratar não apenas o lado político, mas também o lado humano. As imagens têm como objetivo mostrar o Primeiro-Ministro não apenas como figura de Estado, mas também como pessoa. 00:03:38:13 – 00:04:07:11 Este tipo de fotografia institucional tem desafios únicos, principalmente quando comparada com o fotojornalismo tradicional. O trabalho requer um olhar crítico constante para criar imagens que sirvam tanto o registo histórico quanto a comunicação política. Há uma preocupação em equilibrar o lado estético com o significado político em sinal de cada imagem e, portanto, não é jornalismo, é comunicação institucional e comunicação política. 00:04:07:13 – 00:04:32:22 Viva Gonçalo Borges Dias, fotojornalista. Atualmente, não consideraria que as fotos não fossem da profissão, mas a decoração continuava a ter aqui 100% nos anos 60 e 100 hard core. O que é que define um fotógrafo? Um fotojornalista de um photo retratista? O que é que O que? Onde é que? Onde está o tempero desta cozinha? O que é? 00:04:32:24 – 00:05:01:14 O que é que os distingue, não é? Ora bem, o fotojornalista trabalha ao segundo. Não é em cima do acontecimento. Na fotografia, é o de cariz noticioso. Não interromper o curso natural dos acontecimentos, Estar sempre em cima da acção é pensar sempre, na minha opinião, que é essa a beleza, arte e notícia. Juntar as duas coisas e fixar um momento da realidade e ser testemunha profissional sem interferir nela, sem fim. 00:05:01:15 – 00:05:25:08 No curso natural dos acontecimentos, sem ferir, mas conseguir aliar arte, compor, embelezar, não dar, como se diz na teoria da perceção da forma. Não dar tudo ao observador, Deixar de viajar um pouco, dar notícia, mas criar arte ao mesmo tempo. Compor, desenhar, criar texturas, gráficos de luz, conseguir criar arte ao mesmo tempo criando o ser no veículo mensageiro da notícia. 00:05:25:10 – 00:05:54:15 É aquela fotografia que nós vemos no jornal ou numa revista que não nos diz tudo, mas conta nos a história toda apenas naquele boneco. Eu seria mentiroso, dissesse que isso costuma acontecer porque é o nosso desejo. Essa é a nossa grande meta. É uma fotografia conseguir ter os cinco dedos de uma mão e termos muito o carro que eu quando ando, porque é forma e o quer dizer, é muito difícil, mas tentamos ao máximo rechear a fotografia com todas as perguntas e questões. 00:05:54:16 – 00:06:22:15 E é difícil. Porquê? Porque? Porque o que é que exige o como é que se consegue essa fotografia perfeita? A fotografia perfeita? Não, não é não. Não é a fotografia que não é, que nós achamos perfeita ou a nossa freguesia favorita. É sempre que fazemos jazz que não existe. Estamos sempre na demanda, na busca da fotografia perfeita. Mas a verdade é que o elemento de é difícil, eu acho difícil. 00:06:22:17 – 00:06:45:10 Eu acho que só quando eu perder o prazer verdadeiro de fotografar é que se calhar já tenho a minha fotografia eleita, porque até à data de hoje tenho fotografias que gosto muitíssimo e que me marcam de forma mais racional e mais emocional. Mas a fotografia com tudo, com todos os cantos, com todos os os, os requintes de malvadez e todas as perfeições, é difícil de escolher e de chegar lá. 00:06:45:10 – 00:07:04:05 Acho que é sempre o dia. Qual é a tua foto perfeita? Quais são as que mais gostas das que tu fizeste? Eu aí vou ter que fugir ao jornalismo e ir para a facção do falecido fotógrafo puro e duro, que também sabes que é um termo que eu não acho. Acho que um pouco, um pouco um pouco leviano, chamado fotografia de rua. 00:07:04:07 – 00:07:26:24 Fotografia A fotografia passa se na rua, é quase depreciativo. Não se fala de rua que se passe na rua, da composição da imagem na rua, no meio da dinâmica do caos urbano. Criar uma composição que tenha harmonia, que tenha e que tenha uma leitura gráfica interessante, com ritmo, com dinamismo. Mas seria uma filosofia de rua perfeita, que envolva texturas de roupas, carros com as mesmas cores, prédios com as mesmas cores. 00:07:27:01 – 00:07:49:09 Há que fazer uma leitura de volumes diferentes, tudo com as mesmas tonalidades, em que há uma harmonia, uma composição, quase quase que uma orquestra e com isso preparas. Sim, podes fazer uma espécie de consulta do terreno, perceber um pouco a dinâmica de pessoas, do tipo de pessoa, tipo de. O tipo de roupa é um pouco mais difícil, mas é um tipo especial que se calhar passa mais em algumas zonas. 00:07:49:14 – 00:08:08:19 Perceber a forma como se vestem, como se movem, como se come, de como interagem e perceber os tons e as texturas dos edifícios, das fachadas, dos carros, o tipo de carro que tu querias ali, uma mesa, a cena que certamente vais congelar e quando congelados consegues criar uma espécie de orquestra e diz que é espetacular. E lá está a história. 00:08:08:19 – 00:08:31:06 E eu quero voltar, obviamente, a falar das fotos dessa beleza estética, dessa história, dessa narrativa. Mas dá se o caso de tu, um fotojornalista, acabares agora, neste momento, por ser o fotógrafo oficial do primeiro ministro. Como é que isto aconteceu? E como é que isto aconteceu? Mas isso aconteceu. É um convite como qualquer outro convite. É um convite. 00:08:31:08 – 00:08:51:02 Encosta na parede e convida nos. E nós temos duas hipóteses dizemos que sim, devemos criar uma intervenção. Eu Não é um convite puro, perfeito. E é uma honra enorme. O que é que tu pensaste? Eu primeiro pensei em dizer que não, porque precisas estar numa espécie de harmonia de cabeça e corpo para entrar nesta pressão sentido missão. Mas não é. 00:08:51:07 – 00:09:14:04 É de fotografar um problema, é uma missão, é um trabalho quase militar. Portanto, tu basicamente acompanhas o primeiro nisto. Como em tudo. Como é que o teu dia a dia, meu dia a dia, é um dia de agenda que quem que vou para a residência oficial do Primeiro-Ministro, como tenho o meu espaço, o meu gabinete onde saio com muita frequência para a agenda toda, desde o Senhor Primeiro-Ministro que é calma como nós temos chama. 00:09:14:05 – 00:09:40:04 Não é uma agenda de milhas e quilómetros, quilómetros e quilómetros. Voamos muito, andamos muitíssimo de carro. É uma entrada e sim, de carro. Discursos, interações, reuniões e que eu, no meu caso, retratar e documentar tudo o melhor que possa e depois ir comendo e com melhor energia que seja possível passar para as pessoas, porque realmente é uma pessoa que tem uma energia e tem um carisma muito interessante. 00:09:40:04 – 00:10:04:07 É uma pessoa muito divertida, muito bem disposta, mas como qualquer ser humano, não é um robô, não é? E fica. Está cansado e fica cansado e temos que tirar partido. O melhor, o melhor lado dessa pessoa que é que é uma pessoa, que é um cão, um executor. Não para, não é um grande atleta, no fundo, porque é um grande atleta e aquilo é a alta competição, não é aquilo é alta competição e seleção mesmo. 00:10:04:07 – 00:10:24:11 E aquilo é cansativo, é muito fácil, é quase que está. Como se quer dizer, manager tem essa, essa experiência de fazer uma campanha eleitoral que é uma loucura, uma lufa lufa e estar nesse ritmo em permanência. E isso é exatamente isso que eu tenho. É um ritmo, não é o ano todo para estamos. Nós temos nove meses de governo, mas de 100. 00:10:24:11 – 00:10:49:15 E houve meses que parece que estamos literalmente em campanha. Não no sentido de linguagem, de mensagem de Primeiro-Ministro, mas no sentido de trabalho, de físico, de ritmo. É impressionante. Olha como é que tu te preparas, porque no fundo tu tens a missão de contar em imagens a história. É quase o diário de bordo do Primeiro-Ministro Come nome. Não te preparas. 00:10:49:17 – 00:11:13:24 Não, não preparo. Acho que a bagagem, a escola do jornalismo, permite que beber um bocadinho do espaço e trabalhar de acordo com o que acontece. E não, não há uma plasticidade, não há um não. Não é um trabalho artificial. Diria que tem um toque menos natural quando eu só me preocupo em apanhar a melhor imagem dele, como é óbvio. 00:11:14:02 – 00:11:38:12 Como é que se faz esperar? Eu imagino em jornalismo, por exemplo, no hemiciclo, na Assembleia, não em dez minutos, discurso ou ritmo de mãos e de corpo permite diverso. Tem linguagens diversas e leituras diversas, não é? Porque nós sabemos que numa notícia nós podemos usar uma mão na cabeça, mamas, esfregar a testa a ver água, a transpirar, a pôr as mãos na cara. 00:11:38:15 – 00:11:59:19 Estou preocupado, estou angustiado. Ou seja, tudo uma coisa. Jornalismo tem uma leitura que, por norma e nós sabemos o que vamos dizer, tem sempre um sentido às vezes mais carregado, mais mordaz, mais crítico, mais crítico, às vezes até um pouco pejorativo. E aqui e aqui há uma dimensão que eu vejo, a que me interessa e me agrada. Às vezes não serve para nada porque não uso fotográfico. 00:11:59:19 – 00:12:28:16 Não é uma situação às vezes possa ser caricata, quiçá divertida. Poderá ser divertida, mas ficará guardada no meu arquivo, não é? E portanto, acho que as fotos tuas rir. Tu fotografas o momento e depois vais editar aquela situação. Transfiro pum, pum, pum, pum, sistema interno do gabinete que depois depois distribui para os canais desnecessários. Lá está os facebooks desta vida, os estrangeiros e os os organismos internos do governo, o que for preciso interno. 00:12:28:16 – 00:12:52:14 Como é que se conta a história do primeiro em imagens? E como é que eu posso isto? Eu tento criar um trabalho documental, que tenha uma narrativa, que tenha um princípio, meio e fim. Só que há uma coisa que não é, não é taxativo, não é a letra, não é a letra é eu posso querer começar a ouvir nessa semana em que quer apanhá lo a ler no gabinete ou ao telefone. 00:12:52:16 – 00:13:11:21 Mas depois há obviamente a retrações em que a porta não está aberta e eu não posso entrar agora. Tenho que esperar. Para já não há tempo que vamos para um trabalho, Então temos a agenda. Quando a porta está aberta não perdes, não, não entro. Eu peço desculpa. Peço a uma das secretárias um ministro, mas mas a tudo há todo um trabalho de protocolo, uma regra. 00:13:11:22 – 00:13:41:03 Mas isso não te dá cabo ou dá do da espontaneidade, daquela coisa de espreitar no gabinete. Talvez com o tempo, com o tempo, acredito que com o tempo, a liberdade dentro de portas seja diferente. Eu estou a pensar, por exemplo, o fotógrafo do do Obama, o Pinto de Sousa. Isso é outra conversa. E não é você, Mitterrand. Não me refiro à qualidade fotográfica, que ele tem um talento imenso e boa, um talento que tem muitos. 00:13:41:09 – 00:14:05:19 E é bom porque sabe fotografar, tem um ótimo gosto, tem uma história enorme em termos de composição de imagem e é um. É um compositor, só que acima de tudo, é uma coisa que é inegável. Não é a imagem que é a Sala oval, imagem que é o presidente dos Estados Unidos, a imagem que é a Casa Branca, os jardins da Casa Branca, os gabinetes, a interacção com pessoas famosas. 00:14:05:21 – 00:14:22:22 A imagem, por si só, já é uma imagem que se torna forte. Isso não é positivo, mas ela é fantástico. Tanto há uma iconografia e com certeza, e é um imaginário que nós temos e portanto isto tem muita força quando eu sei apanhar. E com todo o respeito e gosto muito da minha casa, que eu sou muito, muito português e tenho tem. 00:14:22:23 – 00:14:45:02 Sinto me erradíssimo de trabalhar com o nosso Primeiro-Ministro, mas apanhar o seu primeiro ministro na janela que é o nosso primeiro ministro é muito valor aqui ser mais em falar para fora. Quem é que vai, quem é que vai dar e ninguém conhece, não conhece? Agora apanhámos na janela o Obama a folhear com uma pasta e transferimos para qualquer canto do mundo qualquer pessoa conhece aquilo. 00:14:45:08 – 00:15:11:18 Essa é a questão. Tem muita força, tem muita força. É inegavelmente um homem com talento. É um homem pitosga, tem muitos anos disto. Criou uma agência maravilhosa, trabalha incrivelmente e depois, nos anos é o traquejo, o talento. Com o passar dos anos, cada vez está mais apurado e é um homem que tem um talento e tecnologias icónicas lindas de morrer e é uma referência para nós todos, portugueses, fotógrafos, fotojornalistas, tours. 00:15:11:20 – 00:15:35:01 O que que O que é que gostas dele? Na minha sensação de leigo que eu gosto dele é que ele consegue ir ao âmago da pessoa e consegue ter o homem, o político e o pai e o desportista e o consegue ter. E o presidente fica às vezes em que mais? Há uma? Sim, há ali um aglomerar, uma aglutinação de um ser humano que vai dar ao presidente. 00:15:35:03 – 00:16:02:13 E é a minha tentativa e que todos nós, que tínhamos um papel e queremos perpetuar no tempo que vamos. Documentário Eu tenho vontade de mostrar o Senhor Primeiro-Ministro nas Vertentes, o quase pai que ainda não tive oportunidade, mas marido, quando tem oferta de que esteja com sua esposa, sua mulher, com Dra. Carla, que é simpatiquíssimo. O lado do desportista que ainda não tenho ainda, mas vou ter, certamente que é um homem que adora desporto. 00:16:02:15 – 00:16:28:11 Já o apanhei em momentos mais, mais, mais descontraídos e é muito bom ter o lado do homem, não só o lado político. Há narrativas diferentes na maneira como como está. Eu acho que ele é uma pessoa muito transparente, muito e muito usada. Mas a maneira como eu te como eu te dou a minha imagem para o dia a dia, se eu tiver com os meus amigos em caminha a conversar é completamente diferente. 00:16:28:13 – 00:16:48:23 Estiver de jeans e camisa, a comer uma picanha, ser diferente, estar à mesa numa sala de protocolo de estado, fato e gravata. A sacralização dá cabo desta coisa toda. Mas faz parte. Tem que ser um protocolo. Existe alguma, Tem que existir, tem que haver regras, há coisas, tem que haver. E essas regras que nos permitem que haja uma margem fotográfica mais reduzida. 00:16:49:03 – 00:17:08:02 Mas isso é que eu desafio. O meu maior desafio e isso não ser fácil, pois se fosse fácil eu não queria estar aqui. Qual é a autonomia que tu que tu tens? Porque há uma parte que é a parte criativa? O que é que tu apanhas? Mas depois essa narrativa é incorporada, obviamente, na comunicação política. Por maioria de razão. 00:17:08:04 – 00:17:33:08 No que é que é o gabinete de comunicação? Naquilo que, no fundo, a tua foto serve para dar base e construção a uma ideia política ou eu vou decidir uma coisa? Então eu tenho. Quero ter uma fotografia do Primeiro-Ministro com ar de decisão ou eu estou mais preocupado com aquela coisa? Então eu proponho me para esta sempre ser que existe lá com 100% vincado, como é natural. 00:17:33:10 – 00:17:55:05 Claro que tudo tem uma mensagem, tudo tem uma linguagem, seja em que país, forças em que cimeira, a organização, reunião internacional, seja o que for. Temos que ter. Temos de ter imagens que façam sentido e que representem aquilo que está a acontecer, não é? Como é que tu constrói as coisas? Dou um exemplo europeu que usamos muito junto a Bruxelas. 00:17:55:07 – 00:18:19:18 Temos primeiro ministro onde as pessoas vêm sorrisos e conversa e conversa e conversa amena, boa disposição, boa energia, com quem? Com todos os diversos grandes altas entidades que conhecemos, em amena cavaqueira, como se diz na gíria. E de repente, a imagem que o capitão, em vez de apanhar um momento sorridente de trocas e de contacto físico e de sorriso que é uma preocupação, uma imagem bem mais pesada. 00:18:19:20 – 00:18:40:16 Não, não. Mas, por exemplo, a seguir apanho junto à cadeira de Portugal antes de sentar e apanho sozinho, sem ninguém ao pé. A essa leitura que estou a apanhar. O sentar rodeado de pessoas, de amigos e chefe de Estado que está sozinho, não é má. Uma má leitura jornalística também não tem que ver. Eu sobre mim. Está sozinho. 00:18:40:18 – 00:19:03:13 Claro, eu tenho que pensar nisso. Se bem que fique assim, não deixa de ser bonito esteticamente, ficar sozinho, olhar para cima com uma luz pontual, bonita. Eu posso fazê la, mas fica para mim o que é uma luz pontual. Nós temos luz dos ponderada luz matricial e os pontos de luz Pontual, mas pontual. É uma luz em que o centro, o centro, o centro de luz, está mais focado no protagonista, o resto está mais escurecido. 00:19:03:15 – 00:19:34:05 Temos a luz medida, mas o ponto não é ok. Temos um foco de luz. No fundo, estou num palco. Não é a luz pontual. Em teoria, é a luz que vai ao ponto. É incrível porque temos uma luz mais focada no assunto para convergir o olhar e ser. Sempre estamos mais focados naquela ação. Não, não divergimos. Não, nós não nos referimos o correcto todo da imagem para termos de ponderar que é mais, se é mais centro, pois temos o matricial que é mais no global eh na missão e a luz é absolutamente crítica para aquilo que aflige a luz que sinto. 00:19:34:05 – 00:19:49:14 A luz abraça e eu envolve tudo. Que tudo o que seja textura, volume ao ser humano, a luz e a luz é que gera a luz. Acredito. Só temos corpo, temos luz. Não é só a cor, só a gamas de cores, só um espectro de cor que as explosões que o verde são a ver, porque é porque a luz não. 00:19:49:14 – 00:20:08:00 Mas isso não depende de a luz está lá ou não está A luz não depende de mim que conseguir fazer um retrato coerente do que está realmente a acontecer. O que eu estou a ver, porque eu posso neste momento adulterar completamente o espaço que está aqui. Eu não me refiro em pós produção por erro ou manipulação direta na câmara. 00:20:08:02 – 00:20:29:02 E não, não é um retrato fiel e coerente do que estou a ver. E esse é uma premissa muito importante no meu trabalho. Gonçalo Mel Porque muita gente não tem essa premissa. Eu tenho a sobre mim. Para mim a cor. Para já sou aquele clássico preto e branco. A cor não existe no preto e branco. Na minha cabeça não existe, não existe, Existe, mas preto e branco. 00:20:29:04 – 00:20:50:10 E eu sou muito crítico nestas coisas. Daí a parte que quando feiticeiro não esotérico, muito. És um tecnicista. Em primeiro lugar, eu sou, eu sou muito, Eu sou muito. Eu sou muito fiel ao que vejo. Eu sou muito fiel ao que nós temos que retratar o que vemos na realidade. Tem que haver uma honestidade, tem que ver a luz, se a cor é aquela e aquela cor, se a luz é aquela e aquela luz, nós temos que fazer isso. 00:20:50:12 – 00:21:13:12 E isso para mim é que é a beleza da fotografia. Fotografia retratar o que eu vejo, não retratar aquilo que não está a acontecer é o é A cor tem essa capacidade, o espectro é a gama de tons que existe no espectro eletromagnético visível no espectro visível. A gama de tons é tão grande, a gama tonal é tão grande que permite uma riqueza de expressão, de volume, de leitura dinâmica, de ritmo, de linguagem que o preto e branco não permite. 00:21:13:12 – 00:21:49:10 Apesar do preto e branco ter o preto, branco e a gama de cinzentos que é uma gama gigantesca. Olha lá, é o verde para ti é igual ao verde para mim é porque eu quando vejo as fotos dos grandes fotógrafos o que digo é raio. Este e estas cores deste deste fotógrafo eram bastante diferentes daquelas que aquilo que eu vi que estiveram lá no mesmo sítio, pronto, isso é outra e outra conversa que é a grande fotógrafos da nossa praça que carregam ali, numa escala de cores um bocadinho, que fogem ao neutro ou zero, que pintam aquilo que pintam e que carregam em alguns tons, gostam de uma dominante mais fria ou mais quente. 00:21:49:12 – 00:22:21:08 Gostam? No todo, podemos criar imagens mais quentes ou mais frias e as próprias câmaras por base? E os filmes? Antigamente, nos meus rolos 135, tínhamos as gamas em que o Kodak no Fuji ou no anos Villefort havia de nos Kodak, sobretudo os cromos Mortara e os noivos, os Velvia e os e os pró vida de Fuji e os OS por trás da Kodak eram muito porta 160 e os 60 eram filmes muito coerentes, com tudo muito perfeito, muito, muito perfeito. 00:22:21:08 – 00:22:45:09 Com quente luz, um quente quase com o neutro. E consegues fazer isso no digital, Com certeza. Sim. E as próprias Fuji? Estas, estas bridges, estas, estas sem objectivo interno estável, têm programas exactamente para simular os os filmes todos e que são imagens que nos que nos dão prazer. Falamos do foco focar, não focar. O fotógrafo nisso vai à procura do momento. 00:22:45:09 – 00:23:08:04 Às vezes o grande momento e a foto até nem está perfeitamente focada na composição. Não sei se isto dá cabo dos nervos porque o foco é ficas doido com isso quando a coisa não está acesa. Qualquer fotógrafo que se preze, quando falha o foco e filma é uma dor. Com certeza. A composição é o que permite que a diagonal da nossa imagem tenha uma leitura coerente e harmoniosa. 00:23:08:04 – 00:23:27:14 Não é isso. É ser e ser sempre a demanda do Santo Graal. Acho que estamos mais para para quem não pode. Temos um retângulo, um retângulo tem uma diagonal. Nós, ocidentais, vamos da esquerda para a direita. Logo à partida, a fotografia tem uma composição. Essa composição tem que ter elementos, compor uma fotografia e retirar informação indesejada, não é? 00:23:27:17 – 00:23:52:23 É que compor o enquadramento, o quadro primeiro, as teorias de imagem que colocaram aqui dentro, O que é que eu lá ponho? O que é que eu quer que faça sentido? Eu estando neste momento, nesta sala contigo, o que é que eu quero que o José Correia seja identificável? Faço um primeiro plano a pensar em ti. Não é a tua cara no leve, no LCD e acaba se com um plano que eu meti com a mão na cara ou pelo microfone, ou espero e apanho em passar uma pessoa que saiu da região e que passa aqui em desfoque. 00:23:52:23 – 00:24:15:22 Faça um tempo de exposição mais prolongado para apanhar em fantasma a pessoa arrastada para não tirar a nitidez que estás em terceiro plano e faço ligação de leve para a pessoa passar e tu aí ao microfone. Toda esta composição tem. Um domínio do comum que é levar ao observador o que eu quero convergir pontos, divergir pontos, baralhar lo, concentrá lo. 00:24:15:24 – 00:24:37:11 Eu é que decido o que é que o observador vai usar. Isso faz isso imediatamente antes de clicar no botão, antes de fazer um click. Gostava de dizer que sempre é assim, mas não é Às vezes que nos focamos mais no imediato, imediato. Vamos a um exemplo para o vinil Sai do carro, cumprimenta uma pessoa, estamos num sítio que tem uma luz e que tem que ter um segundo plano. 00:24:37:11 – 00:24:55:21 Background muito interessante. Faz o que podes, faça o que posso. Basicamente vou focar em ter o recorte, nitidez e boa cor e boa luz no aperto de mão. Essa cara está para o sítio certo, se afasta para a luz. Se o convidado ou a pessoa quer filtrando o espaço, está a recebê lo com uma pose minimamente decente. Mas o meu foco é tipo quando chego lá. 00:24:55:21 – 00:25:20:13 O meu foco obviamente que é o primeiro. Claro que em quem é engraçado, nós falamos agora de composição, falamos de luz, de cor e outra coisa é o ponto de vista, a maneira como, porque é que fotografas aqui não se faz de claro, porque é que fotografas de cima para baixo, de baixo para cima, Como é que enfim, tu tem uma lei, Tu tem, tu tem uma leitura, tu tem uma leitura, por vezes mais mais alto, com mais altivez, por vezes um bocadinho mais pejorativa e por vezes um bocadinho mais diminuída. 00:25:20:15 – 00:25:44:12 É bom fotografar pessoas que está de cima para baixo, tem uma leitura de baixo para cima, tem outra diferente, a ideia mais grandiosa. Daí é mais na inferioridade. Sim, Depois tens mais neutralidade. Tu tem uma leitura, tu tem uma leitura, o centro do nosso olhar, tem uma leitura específica. A linguagem, para quem está a observar os observadores, tem sempre um sentido crítico muito ou muito feroz, não é? 00:25:44:14 – 00:26:03:03 Nem sempre é aquela coisa do lado bom e o lado mau que fique melhor para a esquerda, melhor para direita a todos. Assim, todos nós temos um lado melhor. A sério. Sim, todos temos um lado que não somos simétricos, não somos a desgraça, não somos. E esse é o ponto que o ministro vai lá espreitar na Câmara. Vai dentro, desse lado não deixa lá espreitar a ver se fica bem. 00:26:03:03 – 00:26:22:18 Não quer nunca que gere uma trabalheira a melhor o primeiro ministro, porque na área que eu tenho não num problema de nada não comentar assim momentos um bocadinho mais descontraídos no hotel, quando chegamos a um sítio, descansamos e nos sentamos um pouco assim. Uma conversa, às vezes um cadinho mais leve, até sobre o meu trabalho é sempre fotografia nos telemóveis. 00:26:22:20 – 00:26:47:07 Mas não, o primeiro ministro nunca fica muito, muito incomodado ou curioso. Será que fiquei bem? Não. Pode até falar isso, mas comigo nunca falou, não é? Olha, normalmente quando não, não sei como faz pela moda, também fizesse umas coisas na moda. Essa relação entre quem está a fotografar e o retratado, a comunicação, a importância dessa comunicação, desse fundamental. 00:26:47:13 – 00:27:08:11 Eu em miúdo fiz umas coisinhas de moda enquanto no atelier mesmo e então e depois tive a fase toda do DN, fazíamos reportagens. Três dias de moda Lisboa durante anos. O que é que aprendeste nesse tempo? Aprendi nada de especial. Era um miúdo parvos com a mania que. Eu também tive. E o que é que eu percebi para perceber exactamente isso? 00:27:08:11 – 00:27:34:02 Na altura de uma boa imagem Perante o que a gente já conhece podcaster de eventos? Somos, mas também temos vida e portanto, dá para ver a tua imagem. O eu tinha e eu tinha uma necessidade. Eu era muito introvertido, a sério, muito, muito, muito incrivelmente introvertido e achava que não e mostrava aos outros. Mas eu era superado, envergonhado E então estar à frente de uma câmara a ouvir uma data de direções, um fotografia por cima que muito não vou dizer o nome, acho que era muito agressivo. 00:27:34:04 – 00:27:52:02 Tinha era muito agressivo, tinha muitos palavrões, mas usava isso para nos pôr à vontade. Era do Norte, não era de Lisboa. Não interessa. Não, não, não, não, não me. Não ia perguntar. Mas é isso. Respondeu à tua pergunta. Acho que estavas nos bonecos agora no fim. Ou não gostava de algo, não gostava de mim, mas estava lá uns e. 00:27:52:04 – 00:28:13:22 E quando eu passei por outro lado, para trás da câmara. Já era uma pessoa com muita vontade e percebi que a linguagem é absolutamente fundamental. A comunicação é fundamental, é fundamental. É e era exactamente. Muitos colegas meus e amigos na nossa área, da minha área específica, dizem que o meu core mesmo é o retrato. É isso que eu gosto de fazer. 00:28:13:23 – 00:28:38:22 Gosto muito, mas não é o que eu mais gosto. Mas dizem que aquilo que eu sou realmente o melhor é fazer retrato, porque tenho essa capacidade de bloquear pessoas difíceis. E acho que tem porque as pessoas fecham se quando quando seja muito difícil surfar. É invasivo. No primeiro ai não gosto e eu não gosto da sua imagem e eu não estou habituado a ter uma boa fotografia onde são pessoas demasiado sérias em termos profissionais e cargos e não é da uma muito pouco tempo. 00:28:38:22 – 00:29:00:06 Não querem ser o seu boneco, não estão tão bem no seu casulo, na sua bolha. E não é. Esse é o meu corpo mesmo. Então como é que faz isso? Como é que se desbloqueia? Alguém desbloqueia? Isto é muito feio. O que eu vou dizer. Não estou a pensar bem como é que eu vou dizer com como estamos a falar de pessoas e da maneira quiseres e eu estou me um bocadinho a borrifar para o que a pessoa vai achar de tudo sacralizada. 00:29:00:06 – 00:29:21:24 Essa ideia hoje em dia não no cargo em que estou em questão, mas no passado, nas entrevistas para revista e jornal. Tens que ter lata, tens que arriscar e isso não é garantido. Eu fiz em dois automóveis, fiz a minha primeira posição em handicap de número 124 e é uma escola incrível, comercial, uma escola de trato incrível, mas não incrível. 00:29:21:24 – 00:29:42:09 Uma escola incrível e não é garantido, não é garantido. É um artista que lhe diz que não olhe, vou ficar ali, cara ali, encostado e se calhar encostar se, pôr se para trás, quiçá deitar se no chão para uma ou dois anos. Então, pronto, encostou se e é sempre a ganha terreno. Tem que ser, tem que ser. É uma negociação, claro. 00:29:42:14 – 00:30:13:12 É uma aula, é uma permuta. Porque, no fundo, qual é o chavão maior ajuda marginal, lá isso é uma boa tática, uma ajuda. Afinal, tu passaste na venda do ano, mas então ajudo me ajudando. Quando fotografo, ajudo mais. Se você me ajudar, vai ficar bem isto. Mas não, não é tudo. Mas olha lá, mas uma coisa e tu vais fotografar alguém que esteticamente é bonito, seja lá o que isso for, mas convencer se é mais simples e mais fácil ou não. 00:30:13:14 – 00:30:30:10 Ou tu preferes? E depois lá estava aquela velha frase como a mim diz aquela modelo é muito bonita, mas é um bocadinho insensata. Aquela modelo não é tão bonita, mas tem imenso sex appeal. Isto é mesmo real. A mulher às vezes nem os homens, mas eu falo mais de mulheres. Neste caso, em termos retrato é ser miúdo, é o meu crescimento. 00:30:30:12 – 00:30:53:01 Uma rapariga muito bonita não tem que ser nem por sombras. É mais fácil e mais interessante no na tomada de vistas, na fotografia tirada. Não é? Não tem que ser. A linguagem é a comunicação. As pessoas crescem e com esta ideia agigantam se. No momento da fotografia há pessoas que se transformam completamente, têm um carisma especial, especialíssimo. E tu consegues ver isto logo? 00:30:53:03 – 00:31:12:10 Não, não, não, não, não. Eu não sou nenhuma. Pessoas que aceitam o teu jogo, que aceitam e os deixam ir e confiam na conversa. Às vezes é muito importante não ter logo a câmera na cara. É muito importante. Não acordar um bocadinho antes. Sabemos sobre pessoas difíceis, tentar conquistá las um pouco. É muito importante ver o que é que elas têm para dizer. 00:31:12:12 – 00:31:27:06 Isto é muito. É muito romântico. O que eu estou a dizer é muito, é muito bonito. Mas estando num jornal, ou numa agência, ou numa revista e depois vais ficar só distraído não sei de quê, ele tem dois minutos para ti, não dá para andar para namorá lo, não dá para encantá lo lá para aquele sítio. Mas já é para estudos. 00:31:27:06 – 00:31:51:16 Eu vou esta janela interessante. Este quadro pode ser de um exercício de sedução, sim, mas isto, isso é levar para o campo. É saudável para os que são banana, porque eu já? Porque eu ia fazer outra pergunta a seguir, que é são mais fáceis de fotografar os homens ou as mulheres de poder? Por exemplo, eu estava a pensar porque duas fotografas, três mulheres. 00:31:51:18 – 00:32:06:17 O professor Marcelo não fica zangado comigo porque o homem mais importante do país, que é o Primeiro-Ministro, ele é quem tem a capacidade de visão da nossa vida. Lamento, mas era a maioria do Parlamento tomar as decisões. Ele é a pessoa mais importante do país e. 00:32:06:19 – 00:32:28:03 Uma coisa tu estás a estorvar e provavelmente eu não o conheço, mas imagino que as suas preocupações estéticas estejam muito abaixo das suas preocupações políticas de mobilização de pensamento. E estava a pensar, se calhar, um preconceito profundamente sexista que é se for uma mulher, se calhar também. Depois até um julgamento social que nós temos. Como é que são o cabelo, Como é que são as sobrancelhas? 00:32:28:03 – 00:32:50:00 A maquiagem está perfeita. Há uns bons pés de galinha no ar. Eu gostava de me lembrar com quem conversei para uma dois dias e peço desculpa que vai me ouvir. Certamente que não me lembro, mas falámos exatamente disso que eu costumo falar, que é uma primeira ministra. Vai ser falada na semana mais facilmente pelos seus vestidos, pela repetição, pela cor, pelos claros de campo. 00:32:50:02 – 00:33:08:15 Um homem usando dois fatos sobre três um azul escuro e dois cinzentos. Varia a gravata, mas é a cor da camisa. Isso não é tão alarmante assim. Uma mulher certeza não é. A questão não é um preconceito, não é uma forma de eu ver. Mas sei que na sociedade, uma senhora que vista o mesmo vestido, se calhar duas ou três vezes na mesma semana, que horror! 00:33:08:15 – 00:33:27:21 Não vai ser uma coisa esquisita. Enquanto que um homem não está pode vestir o seu fato azul claro. Vai, o julgamento vai ser diferente. Mas voltando à pergunta inicial. Eu acho que será mais fácil se ele for uma senhora. Porque a senhora por si só, já tem uma preocupação estética maior que um homem e fica melhor nas frases. 00:33:27:23 – 00:33:52:07 Mas isso sou eu, que tem uma proteção maior. Portanto, ao ter essa preocupação, maior a sua rotação sobre o seu próprio eixo na luz, no espaço, a sugestão de espaço estará mais. Mas sei lá, mais preparada, mais habituada. Mas fico com mais noção de quais são os seus lados, quais são os seus volumes, os seus, os seus movimentos. 00:33:52:09 – 00:34:22:08 Que sejam mais positivos e que é autor, Conhece que conhece melhor, na sua forma mais comercial, pessoa as suas que são realmente muito simples. Há pessoas que são mesmo muito simples. Eu acho que o nosso Primeiro-Ministro é uma pessoa muito terra a terra. Muito, muito simples. Não é uma pessoa que tem aquele ar altivo nem muito vaidoso. É uma pessoa normal, que gosta de estar convivendo com boa apresentação, nem que fosse só pelo facto de ser a primeira vez. 00:34:22:08 – 00:34:41:11 Mas não é uma pessoa que se cuida, que tem o seu sentido de estética e preocupação, mas não é uma coisa levada ao limite. É muito normal uma pessoa normal. Olha como é que a vossa comunicação visual olha nos olhos. É muito divertida, é muito boa, é muito boa, é muito boa e muito boa. Como é que eu estou me a repetir? 00:34:41:11 – 00:35:02:04 Mas é isso, Não sei o que quer dizer mais. Acontece mais no estrangeiro do que em Portugal. No estrangeiro e mais importante que eu, lembro me e custou, não é? Às vezes, em palanques, em espaço muito longo, existem lá dezenas de pessoas, 70 fotografias de jeito que eu faço contato visual com chato, 80, 90, 120 chefes de Estado, chefes de governo, secretários de Estado. 00:35:02:06 – 00:35:21:22 Há muita gente em muitos espaços diferentes no mundo e é muito importante que eu saiba onde é que estou e quando me veem ou quando trocamos de olhar. É interessante perceber que ali ok, já apanhei, que já tive e portanto vou te dar uma fotografia. Vou com não é votar uma fotografia, mas sei que estás cá porque é óbvio, imaginando que ele não percebe que eu lá estou. 00:35:22:03 – 00:35:44:19 Pode ir direto ao espaço dele e não vai interagir ou vai interagir só com quem esteja ali. E é uma imagem mais neutra. Provavelmente não é preparar a plasticidade de imagem nem de artificialidade. Estamos a dizer que o sentir que eu estou é aquele olhar de olha, está ali um velho conhecido. Também não é isso. Mas é ter noção que trabalhamos em equipa, um trabalho de equipa, tudo um trabalho de equipa e saber que estou cá e aí e lá está. 00:35:44:19 – 00:36:16:18 E essa é isso, é essa troca de olhares, essa causa, essa ligação de permite também para ti que é o ser humano. Mas aí está o gosto de exercer. E agora, na cerimónia de trasladação do José Maria Eça de Queiroz no Panteão Nacional, há ali momentos em que aquilo já está mais exaustivo. É fácil levar as coisas p um lado é espetacular e a Lua faz lá, está lá quando se pode, Claro, quando o espaço ajuda, tudo ajuda e faz. 00:36:16:20 – 00:36:38:01 Agora, por exemplo, na primeira linha sentada, o Presidente da República, o primeiro ministro e presidente da Assembleia da República, com ar de que estava no óbvio, porque seu lema sus mor é pesado e difícil. No momento certo que estão a ler, estão, têm coisas para folhear e vão ouvindo os discursos e os e os e os vídeos e as músicas e tudo o que acontece naquele espetáculo musical. 00:36:38:01 – 00:37:06:13 Cerimónia que esta sim, sempre com a sensação de que estas cerimónias no geral e não é só esta, mas posso. São longas filas de emergência que estão em falta um coreógrafo ali. Mas uma coisa esse cansaço visual em que temos que conseguir desmontá lo não é porque há esse cansaço, essa esse semblante mais pesado do cansaço, Porque houve uma pessoa que chega lá em 20 minutos, está fresca, está com o ar há 03h00 a 03h00 cara, muda para todos, não muda para o mundo, para todos. 00:37:06:15 – 00:37:27:12 E às vezes ainda fica. Mas voltando à questão, é interessante quando cruzamos o olhar mais uma vez depois de algum desgaste e há um sorriso, há uma ligação no nosso espaço que é piscar o olho. Temos cá uma despressurização. Estamos cá, vamos e estamos juntos. Bora! E é muito bom e sabe me bem. Olha o que é esta é a tua vida de agora. 00:37:27:12 – 00:38:04:02 Mas eu encontrei te antes disto através de um teu camarada fotógrafo, um ser com quem tu desenvolver, um projecto que é um projecto para fotografar a vida. Na realidade, fotografar pessoas é um convite que depois acaba num livro. Foste à procura de quem? É muito simples a minha resposta. No final fui à procura do convívio. O objetivo foi retratar eram diários em confinamento, perspetiva a perspetiva de profissionais, O que é que conseguem narrar e documentar em com enclausura em confinamento? 00:38:04:04 – 00:38:29:12 Isso é uma desafio para toda a gente. Fica o desafio. Miguel Eu já estava a fazer um retrato bocadinho mórbido e tétrico. Estava a retratar a minha mãe doente, com quem tem uma neoplasia com cancro que que acabou porque correu muito bem durante, mas depois infelizmente ficou boa. É que foi uma recidiva e foi muito rápido. E foi muito rápido porque quiseste documentar também que tinha que se comentar. 00:38:29:14 – 00:38:49:21 Não tenho resposta. Querias ficar com quem queria ficar e lá estava assim que vi que é uma coisa que não é tão pouco tétrica. Porque não deixa o lado jornalística falar, porque não é o juiz, é o lado fotógrafo documental. Tinha que documentar e não, não num lado carregado e triste, porque não? Não fiz, Acho que não fiz. 00:38:49:23 – 00:39:11:01 Mas claro que temos uma mãe que está sem cabelo, temos uma mãe que está a tomar medicação, que está na cama, que está tapada, está sem cabelo. A tua mãe que agora eu queria ficar com aquilo que queria ficar com aquilo e até certo ponto correu muito bem porque quis colocá la no livro. Como é que ela reagiu quando lhe propuseram ou não lhe dissesse nada e fosse fazendo muito? 00:39:11:01 – 00:39:36:00 Vai reagiu muito a ver junto e riu junto. E foi à exposição e foi exposição. E depois fomos à parte da ajuda, à apresentação do livro e infelizmente o desfecho não era o que o que nós esperávamos, porque era tudo muito bem. Portanto o livro faria sentido tudo neste momento e não fazia sentido. Mas eu notei a perspetiva que eu que eu imaginei O que é que tu viste? 00:39:36:02 – 00:40:03:22 Como é que tu retratasse? Tu viste a comida? O inesperado, o incógnito, o oculto? Tudo, tudo o que seja de interrogação. Não sabíamos nada, não sabíamos nada. Não sabíamos nada. Sabíamos que precisávamos de distanciamento. Isto era. Era morno, quase que bastava respirar. Quase apanhava se, via pessoas, Estava a morrer em catadupa face aos hospitais. O não eu para o livro Não sei não. 00:40:03:24 – 00:40:33:09 Eu fiz rua, fiz praias, fiz hipermercados e farmácias, mas fiz. Sobretudo fiz talvez 70%. Nenhuma. Retratos? Retratos? O quê? Das coisas que tu retratos? A contenção. Essa distorção traduz muito aquela parte sígnica dos objetos, aquela parte da simbologia da imagem fotográfica, parte a parte de os objetos todos que têm uma leitura sígnica não têm muito uma linguagem, têm tem um sentido pontual de cada coisa. 00:40:33:11 – 00:41:07:03 Apanhar os pelos os os pinos florescentes, as fitas adesivas a bloquear espaço, jardins, espaços recreativos para crianças, tudo o que fosse confinado. Os homens, todos sul, todos os mascarados. Aqui os fatos, os fatos de proteção. Era. Foi uma coisa que tornou se banal. Mas aquele primeiro impacto de ver homens todos de branco, com máscaras, descrevê los exatamente aquilo foi uma imagem muito asiática que nós não tínhamos esta noção que íamos viver com isto diariamente. 00:41:07:03 – 00:41:36:15 E foi e é. Ser objetivo era criar um documento que ficasse perpetuado no tempo, que mostrasse exatamente o que algumas pessoas não podiam ver, porque não podiam ser caso nós podíamos e nem todos os meios podíamos. Tínhamos carteira de jornalista, tínhamos agenda e eu não tinha. Eu não tinha agenda porque não estava. Eu estava numa agência na altura que não fazia, não fazia jornalismo de genérico generalizado, fazia jornalismo técnico específico, fazia parte muito médica, HIV, oncologia. 00:41:36:17 – 00:41:59:09 Tinha uma parte da advocacia, portanto, não estava. Mas estava sem trabalho. Recebia, mas estava sem trabalho. Era uma fase que essa entidade patronal foi incrível. Pagava me imenso tempo. E, portanto, eu retratava no fundo a minha mãe. O convite foi e foi o que foi para toda a gente. Foi um dia de cada vez. Aprendemos um bocadinho mais sobre algo que não sabíamos nada e que achávamos que era o tal. 00:41:59:11 – 00:42:06:23 Para todos que seguiam tal, possivelmente com tal qual é a fotografia que ainda te falta fazer? 00:42:07:00 – 00:42:35:19 Ou que te apetece? Turva. Um. Ateísmo Professar. Eu sou muito católico. Tu és o Papa. Já fotografei, mas sempre com muitas regras e condições. O actual Papa Francisco gostava de fotografar com mais à vontade. Gostava muito de apanhar um momento mais descontraído, gostava muito de apanhar o Benfica campeão europeu Ganhar, diz sempre que nos liga. Acho que o Papa é mais fácil, mas eu também não sei. 00:42:35:21 – 00:42:56:01 Também gostava muito de você. Eu gosto muito de Eu não tenho eu para não me desiludir, não crio, não crio grandes metas nessa não. Sabe porque Já fiz muita coisa que gosto muito, mas mesmo assim gostava de apanhar um. Gostava muito apanhar o Benfica campeão europeu, ir ao estádio fotografar bola. Então faz anos e apanhar o ser campeão europeu. 00:42:56:01 – 00:43:19:02 Gostava muitíssimo. Gosto muito de ténis, gostava muito de apanhar um português numa final de um Grand Slam e fotografá lo porque eu gosto muitíssimo de desporto. Sou um praticante agora provisionado, mas muitos anos a jogar e muitos anos a jogar ténis e andar de skate. E o Miguel Lopes foi meu grande colega de rua de skate, de longboard. 00:43:19:02 – 00:43:43:20 Fizemos muito, muito ativa e muito para ser descrito. É, mas não tem. Ela está e é cada vez fazer mais trabalho de ensaios, de ensaios específicos que eu crie temáticas na rua, que me venham, que cheguem ideias do nada para rua ou criar temas específicos de futuro que me dê um prazer gigante criar temáticas. Uma altura que tive uma fezada gigante. 00:43:43:22 – 00:44:20:19 Estava obstinado com fazer relatos por Portugal inteiro, relatos noturnos com os leds das comidas sim, enfim, um mundo assim. America nada. Engordaste mais 100 quilos. Não, não, não, não Quero então fazer algo para não fazer. Mas era um foco gigante, uma paixão minha. Aquilo que acho que diriam porque fiz duas e felizes. Uma em Carcavelos, que era o barquinho a levar a pescar e depois aquele ambiente mais pesado, a noite de rulote com o asfalto que andava a filmar, mais carregado com as luzes dos médios dos carros por ser uma coisa muito americana, anos 70 anos 80 e eu fiquei me pelo país todo, Dava para fazer uma coisa muito gira, portanto, estávamos sempre surgindo 00:44:20:19 – 00:44:41:16 ideias. Vou escrevendo e vou me calando. Não me calei algumas e fiz mal porque chegaram se à frente muitas pessoas em trabalhos, mas eles não têm nada menos possível. Gostam de futebol adorável. Enfim, por ir tratar isso, não tenho aquela loucura da guerra. Nunca tive. Não, não é o gosto muito hardcore, nem os gosto de fazer coisas com impacto. 00:44:41:16 – 00:45:01:05 Já fiz algumas que estava a fazer, muitas que nunca fiz, mas a idade vai passando e não é por uma questão física que acho que espero estar capaz ainda muitos bons anos, mas a guerra obriga a treino e um espírito também não é o espírito. Acho que até tinha, mas depois vem a parte do da galinha, da família, de gostar, estar perto de todos. 00:45:01:07 – 00:45:31:06 Isso tira me. Mas eu sempre fui uma pessoa muito, muito virada para a confusão. Até dizem que sou meio com parafusos a -1 bocadinho. Olha, para fecharmos, quem é que tem as fotos da família? Estou ou em ou na família de gente? Está lá certo que quem tira aqui as fotos somos nós e tu apareces como boneco. Nos telemóveis, neste momento isso é democrático e fazemos na horizontal ou baixo ou na vertical, mas sempre porque com a malta nova, tatuada ou baixa ou alta, não é porque a família se me grande, cantamos juntos e tem que caber. 00:45:31:06 – 00:45:51:11 Todos estamos juntos. Somos pelo -14, 15, 18, 20. Somos muitos, portanto não dá para fazer no vertical. Nem sempre o baixo tem que ser sempre no horizontal, seja o Primeiro-Ministro, seja o Papa ou o Benfica. O que é incomum na fotografia é que ela nos mostra um prisma diferente. As grandes fotografias carregam em si toda a narrativa do momento e contexto em que foram tiradas. 00:45:51:13 – 00:46:19:09 Há o que vemos e aquilo que julgamos, viram, interpretamos. Há o dito e o não dito. Nas fotografias saltamos a barreira do narrador. Será que afinal, o principal sonho de um fotógrafo é ser o homem invisível entre nós e aquele que está a ser fotografado? Até para a semana? 00:46:19:11 – 00:46:38:19 Tem. https://vimeo.com/1046874482/5474c83687?share=copy…
Nunca tiveram a sensação de que o dinheiro se está a esvaziar na nossa carteira? É a economia, estúpido, dizem-me vocês, cheios de razão. Se há realidade que se altera por decisão das pessoas, essa realidade é a economia. Talvez isso explique porque é tão difícil fazer previsões económicas ou comunicar estas coisas do dinheiro. Se anunciamos a crise, as pessoas acautelam-se e compram menos. Em princípio é inteligente. Cautelas e caldos de galinha não fazem mal a ninguém. O será que fazem? Se todos ficarmos com medo, gastamos menos, compramos menos, logo vende-se menos e com isso produz-se menos. Daí à queda dos impostos cobrados e ao desemprego é um saltinho. E basta um susto. E lá se vai a expectativa por aí abaixo. Ou então o contrário: uma súbita euforia, um par de informações que nem conhecemos bem, e desata tudo a comprar este mundo e o outro como se o planeta tivesse acelerado. E o ciclo torna-se magicamente otimista. No fundo, isto da economia é uma espécie de montanha-russa: se acreditares vai, se não, agarra-te. Esta primeira edição de ano novo é sobre o dinheiro. O que temos, o que desapareceu, o que devemos e o que esperamos ter. Para onde está a ir o meu dinheiro? O custo de vida, a inflação, os salários e as escolhas económicas que definem o nosso futuro. Decidi meter-me num molho de binóculos e tentar descomplicar assuntos que, à primeira vista, parecem técnicos, mas que estão presentes no nosso dia a dia. Mas não venho sozinho. Convidei Pedro Brinca, professor na Nova SBE e especialista em macroeconomia. A economia dos grandes. A que acaba por mandar nos nossos tostões. Por que razão os preços dispararam? Pense no supermercado: o tomate que costumava custar um euro agora está o dobro, e a conta final já não parece a mesma. Durante a pandemia, muitas cadeias de produção pararam, e isso gerou um efeito dominó. Produtos essenciais começaram a escassear, e mesmo após o regresso à normalidade, a energia mais cara e os custos de transporte mantiveram os preços altos. Essa realidade chegou também à produção agrícola: os fertilizantes, dependentes de energia, tornaram-se mais caros, e isso reflete-se em alimentos básicos que consumimos diariamente. Mas será que é só isso? Ou aproveitando a maré, alguém fez subir a conta mais do que o aumento do custo das coisas? Outro exemplo prático vem do crédito à habitação. Se tem um empréstimo, já sentiu o peso das prestações a subir. Agora parece finalmente aliviar um bocadinho. Mas subiu muito nos últimos anos. Para muitas famílias, isso significa apertar o cinto, cortar viagens, refeições fora ou outras despesas que antes eram possíveis. É carestia da vida em todo o seu fulgor. Este fenómeno não é apenas uma coincidência. As taxas de juro são ajustadas pelos bancos centrais para reduzir a inflação, retirando dinheiro do consumo. Mas será justo que tantas famílias suportem esse fardo? Há também uma reflexão sobre as características da economia portuguesa. Pense nos pequenos negócios, como salões de cabeleireiro ou cafés. Apesar de serem fundamentais para a comunidade, a dependência excessiva deste tipo de empresas dificulta o crescimento do país. Negócios pequenos têm menos capacidade de gerar empregos com bons salários ou de competir no mercado global. É por isso que as economias mais dinâmicas apostam em grandes empresas e em inovação, algo que Portugal continua a desenvolver. E o que dizer dos salários? Ai que dor. Muitas pessoas sentem que, mesmo ganhando mais, o dinheiro simplesmente desaparece. Isso é explicado pela “ilusão monetária”: se os preços sobem mais rápido que os salários, o poder de compra reduz-se. Parece que se está sempre a correr atrás do prejuízo, e isso é uma das maiores preocupações para quem tenta equilibrar o orçamento doméstico. Mas há pontos positivos. A sério. Por exemplo, em comparação com outros países, os salários reais em Portugal têm mostrado sinais de recuperação, e o poder de compra está a ser restabelecido em algumas áreas. Portanto, toca a passar do pessimismo ao otimismo. Diz que pessoas felizes são boas para a economia. Além disso, há cada vez mais discussões sobre como melhorar as políticas públicas, atrair investimento e criar condições para um futuro mais sustentável e competitivo. Porque a vida não é só economia, refletimos também sobre como o desporto e outras paixões podem equilibrar a racionalidade com a emoção. Porque, no fundo, comunicar bem é essencial, seja para entender os problemas, seja para inspirar soluções. Sabiam que Pedro Brinca é um fervoroso benfiquista? Portanto, um importante pensador económico tem dentro de si um fervoroso e pouco racional adepto. Eu, que sou do FC Porto nem arrisquei contrariá-lo. Sabe deus o que poderia acontecer à dívida, inflação ou ao preço do dinheiro. LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO 00:02:07:17 – 00:02:32:14 . Um dos desafios na Europa hoje tem uma marca de um construtor de telemóveis europeu. Mas eles entraram pela net e não gostaram de ouvir. Não querem? Pois eles não. A Europa não existe no mercado mundial de semicondutores e só de competitividade a Europa não existe. Esse é que é o ponto de vista industrial. Ficamos para trás, pois é do resto, na era das ideias, da inovação. 00:02:32:16 – 00:02:51:24 . Pois não é, não é. Não é nada bom, não, eu não estou a ouvir, não está. Isto está no máximo e eu não estou a ouvir nem quer dizer, ok, era estupidez do animal, o que é normal já está, já está aqui. Eu não tinha o zingarelho aqui metido. Supostamente apanhei um perfil da minha voz, mas. Mas eu estou a gostar. 00:02:51:24 – 00:03:14:04 . Não, não, não preciso. Não há nada. Queres ouvir o que queres ouvir? O convidado fala assim Um, dois, três, três, três, um, dois, três. Até podes afastar mais o microfone se quiseres, para além de só para dar mais confortável eu ficar aqui, os meus leitores do Draghi ficas falando quero falar do Draghi, quero o driver para lá que eu tenho. 00:03:14:04 – 00:03:45:24 . Por isto aqui, no silêncio. E isto aqui no silêncio, no modo de dormir. Tens que fazer uma entrevista quando eu vou anunciar a minha candidatura à Assembleia Municipal de Santa Comba Dão por vais candidatar para jantar em Santa Comba Dão? Acho que sim, em princípio. E ao Benfica também. A sério? Ah pois é. É pá, isso é uma, isso é tudo isso, é tudo um epifenómeno, tudo um epifenómeno, para que eu não compreenda o que é o desporto, o futebol, o futuro, o futebol profissional. 00:03:45:24 – 00:04:06:01 . Eu não entendo aqui o que é que não entendo, o que é que a malta foi com Ricardo Paes Mamede? O gajo está comigo. Ele veio pela primeira vez o Estado português. Nunca tive um estalo, só tive tipo um. Vi um jogo em Itália. Tem pela cara maionese. Assim que entra lá, gostaria de 20.000 pessoas que o acho que é maluco. 00:04:06:03 – 00:04:43:12 . Não, mas. Mas eu gosto de ir, mas eu gosto de ir ao estádio. É para. Eu gosto do ambiente, está ali, o ambiente está de bom, mas tu não gostas. Epá, da polarização daquela merda é de e de imagético. Muito, muita. Eu percebo. Mas o que eu não percebo é. Como é que aquilo não é cuidado como um espetáculo no sentido de melhorar o espetáculo entre os teus pais, a tua voz, assim como não piorou, acho que ter alterou preset, piorou, pirou. 00:04:43:14 – 00:05:21:04 . Fazer uma equalização então não manda não. Não gosto, não Tem tudo do sítio não. A minha voz estava francamente melhor. Agora está francamente melhor. Vamos fazer uma batota. Tu consegues gravar, equalizar na minha voz? Epá, tá ótimo. Esta equaliza a minha voz e põe sobre isso presente. Pode ser? Se puder ser livre. Assim os ouvintes connosco, O futuro Prémio Nobel da Economia, O homem que nos vai explicar como o vencer em três penadas e a inflação tá ótimo. 00:05:21:09 – 00:05:49:24 . Epa, é um bocadinho não, Eu gosto é que consegue passar por cima dessa por por estes teus valores em cima, em cima do presente. Queres que eu fale mais bem? Pedro brinca. É economista e professor da nova Business School Economics, em Lisboa. Precisamos ter macroeconomia, política, monetária, fiscal e desigualdade económica em paz. Isto é, a tradução de inglês para português, de fiscal orçamental, orçamental, fiscal e orçamental. 00:05:50:00 – 00:06:11:11 . Então eu vou pôr já aqui. Orçamental não quer dizer que também não seja a melhor estatização, mas está muito melhor. Olha essa coisa aí, esse computador é do teu lado esquerdo. Tenho uns vermelhinhos aí. Vermelho. De resto, tá assim com ar de. Deve estar reco reco reco reco e o botão de cima que diz aqui deve estar. Eu seguro para. 00:06:11:13 – 00:06:37:20 . Orçamental Exactamente. Essa ciência ao contrário. 00:06:37:22 – 00:07:11:10 . De agora, aqui e agora. Quer vocês, ouvintes de tudo isto por aqui e coiso. E põe isso quando quem quiser. Eu também vou por aqui. São. Um Mas adorei tanto as eleições, pá! Foi espetacular. Eu tinha pago para vir, por isso é que também não. Exato. Portanto tu ganhaste. Tiveste um valor acrescentado que nem sonhaste que existia e fiz a melhor previsão da noite. 00:07:11:12 – 00:07:40:19 . Fiz a melhor previsão da noite porque ainda as pessoas não estavam a sair. Eu avisei. Olha que as sondagens estão a dar resultados muito competitivos, muito próximos. Uma eleição muito renhida. Mas os erros têm uma correlação especial, pois com toda a gente porque quer que eles façam. E eu também não sei porque é que há uma correlação espacial desde o mapa dos Estados Unidos e se as sondagens subestimarem Trump, não estava a probabilidade que no estado ao lado, que parece que está renhido a votação do Trump também ter sido subestimada é enorme. 00:07:40:21 – 00:08:11:22 . Há um contágio. É o que a fotografia da realidade pode ser contagiada e conforme vão mudando, significa que passa de um lado para o outro. Não é necessariamente. Isso quer dizer que o enviesamento da sondagem é sistemático, seja aquilo que me levou a errar, por exemplo, no raio relativamente à proporção de voto no Trump, tipicamente, esses erros também são replicados noutros estados, o que significa que se o Trump começar a ganhar por uma margem grande num Estado, é provável começar a ganhar também por margens grandes nos outros. 00:08:11:24 – 00:08:34:24 . Porque se eu fiz um erro desse tamanho na escala de direção neste estado, também é provável que faça também um erro daquele tamanho e naquela direção noutro estado. Faz sentido todo o país urrar a vibrar na coisa que não eu ouvi e o meu está no bolso. Portanto, vê. Mas eu não recebi nenhuma mensagem. Ninguém me ligou. Então pronto, então fui eu que sonhei também. 00:08:34:24 – 00:08:53:02 . Pode ter acontecido. Eu tinha aberto só por causa de mas digitarmos por foi em modo vou para lá e fica e fica. Fica o nosso problema resolvido no desligar do planeta está resolvido. Ok, vamos lá. Não é necessariamente mau. Não, não é mau. 00:08:53:03 – 00:09:21:04 . Vamos lá. Pedro brinca Viva Economista, professor da Nova Business School. Recebe assim e que é especialista em macroeconomia, em política monetária e em orçamento, que é uma espécie de ciência oculta para mim, conseguir entender um orçamento e em desigualdade económica. E isso interessa muito, porque me pergunto todos os dias, agora, nos últimos anos, onde é que está ir o meu dinheiro? 00:09:21:06 – 00:09:38:16 . É que eu geralmente olhava para a minha equipa, a minha carteira. Agora virtual, para a conta bancária, tipo está a conta bancária. Também estava a pensar passar umas férias em Lisboa já para pensar o que é que eu vou comprar a seguir. E agora parece que é um saco roto. Parece que o dinheiro se esvai. O que é que está a ficar com o dinheiro? 00:09:38:18 – 00:10:00:23 . De facto, tem havido um fenómeno que parece que já nos tínhamos esquecido. Tem piada. Se nós formos A21019 houve duas capas, uma da economia escrita da Bloomberg, que anunciavam a morte da inflação e, talvez, como Mark Twain, a morte da inflação foi precocemente anunciada. De facto, passado apenas dois anos, estávamos como aqueles de inflação, como já não víamos há 20 ou 30 anos. 00:10:01:00 – 00:10:24:13 . E nesse sentido, esta ilusão do poder de compra que é aquilo, tu me parece que está a fazer passar, era algo que já não estávamos habituados. Quer dizer, quem se viveu na década de 80 lembra se taxas de inflação elevadas em Portugal. Mas depois vieram os anos 90, vieram os anos 2000, veio 2010, a década de 2010 e durante todo esse período a inflação foi desaparecendo e tinha andado muito próxima de zero. 00:10:24:15 – 00:10:46:24 . Mudaram as coisas, mas o que é que faz com que a inflação suba O desça Porque? Porque esse é aquilo que nos interessa, que não dá para regular administrativamente. Não podemos meter uma cunha ministro das Finanças e dizer olhe, veja lá, congelei os preços um bocadinho porque estou assim 90 Pronto, Então a inflação é taxa de crescimento de preços, Ok. 00:10:47:01 – 00:11:05:22 . E porque é que os preços mudam? Os preços mudam em relação a duas coisas oferta e procura apenas isso? Só aumentar muito a oferta. É óbvio que os preços baixam. Se aumentar muito a procura, os preços sobem. Agora o que acontece todos os dias é que varia oferta e varia a procura. E porquê? Então porque é que estas. 00:11:05:22 – 00:11:40:09 . Porque é que estas variações ocorrem? Ocorrem por muitas razões. Nós, na pandemia, tivemos flutuações do lado da oferta. A capacidade da economia de oferecer mais bens e serviços. Essa capacidade foi debilitada por causa de todas as disrupções que as medidas de controlo sanitário e, principalmente o comércio internacional introduziram. De repente, começaram a faltar bens nas prateleiras. E obviamente que isso faz com que, especialmente porque um preço muitas vezes também reflete escassez importante quando nós fazemos parar a produção de uma determinada fábrica ou vamos todos para casa, ou deixamos de fazer determinadas coisas. 00:11:40:11 – 00:12:04:14 . O impacto no aumento de bens e, portanto, nos bens. Quando eu quiser que a comprar aqui esta caneca e esta caneca. Afinal, em vez de haver 100 no mercado existem apenas 50, logo o preço vai subir. Se a quantidade de pessoas que querem comprar canecas não se alterar, havendo menos canecas o preço sobe. Mas em princípio, no momento imediatamente a seguir, em que há tanta vontade das pessoas comprar canecas como se não houvesse amanhã, tem princípios. 00:12:04:14 – 00:12:36:14 . Empresas a seguir que também querem vender canecas, vão ao mercado, oferecem muito mais canecas e o preço deveria baixar de estabilizar. A questão é que na altura do convite, aquilo que aconteceu foi precisamente que as empresas estavam impossibilitadas de produzir mais canecas uns para lá. Tu é que és um economista, mas eu aqui uma coisa que me está a moer aquele eu consigo perceber que a caneca que é feita lá longe na China e que não ao barco, que a fábrica tenha fechado, que as pessoas têm ficado doentes. 00:12:36:16 – 00:13:03:04 . Eu consigo perceber isso, mas os tomates, isso, bolas! E as batatas que são feitas ali pelo meu vizinho agricultor. A escala de preço 80% do preço de uma produção agrícola. Então energia energia que aconteceu na Ucrânia, a energia foi para cima, o gás deixou de ser barato, havendo menos gás. Nós na Europa temos um défice de produção de electricidade que temos que compensar com o gás natural. 00:13:03:06 – 00:13:33:04 . O gás natural aumentou, aumentando o gás natural, aumentou o preço de eletricidade, aumentando o pensar. A sociedade contagiasse os outros mercados da energia, inclusive na produção de bens, como por exemplo, os mais agrícolas fertilizantes, 80% daquilo. A energia que é preciso fazer para produzir esses fertilizantes e naturalmente que depois sobe o preço do resto. E então e desse pequeno aumento, o grande aumento da inflação corresponde, de facto, essa aumento real da energia e da disrupção. 00:13:33:05 – 00:13:54:03 . A pergunta de 1 milhão € e foi a grande pergunta polarizadora que alimentou muito o debate sobre o que é que deveria ser feito para combater este problema da inflação? Eu que sou espertalhaço e diga assim, vou aproveitar aqui o contexto público de aumento dos preços e afinal vou aproveitar aqui umas canecas que tinha em stock. Vou vendê las a mais de 30% do preço a que estão. 00:13:54:03 – 00:14:14:24 . A questão da manipulação no mercado é crime. Aliás, especulação é um crime. Atenção, mas os preços são livres, certo? Sim, sim. Os preços são livres, mas há práticas comerciais que não são livres. Eu não posso, por exemplo, vender abaixo do preço de custo, por exemplo. Chama se dumping, ou seja, é um conjunto de práticas comerciais que não são, que não são, que são proibidas e que são regulamentadas. 00:14:14:24 – 00:14:35:12 . E bem, na altura em que tivemos esta inflação houve uma grande pressão para perceber se está de facto especulação pura. O que é que estava a passar? Já nos a distribuição que andava a enganar as pessoas, etc. E a ASAE na altura meteu uma data de inspetores na rua, fizeram verificações, dizer e os casos de crime de especulação ou de estar a um preço na prateleira e outro depois atrás da caixa. 00:14:35:18 – 00:14:57:16 . Esse tipo de coisas eram residuais e não foi de certeza por aí que tivemos a crise, a inflação, mais uma vez, como disse, o princípio que de deflação vem da oferta, havendo procura que estamos do lado da oferta foi precisamente o aumento da questão da energia, foi a questão da dificuldade no abastecimento. Nos contentores, por exemplo, passaram de três ou quatro ou 5.000 $ para 25.000 $. 00:14:57:18 – 00:15:17:07 . Os tempos médios de entrega da China para os Estados Unidos ou da China para a Europa também multiplicaram se para mais do dobro. Tudo isso gerou entropia e tudo isso gerou a falta de produto, ou seja, a oferta. A oferta estava abaixo daquilo que era normal e havendo menos oferta de bens e serviços, aqueles bens e serviços que chegam às prateleiras, obviamente ficam mais caros. 00:15:17:09 – 00:15:46:14 . Mas não era só a oferta, também era procura. E aquilo que aconteceu e que nós vimos muito foi a Europa a entrada para a pandemia. Viver uma época de histórias em termos históricos, de uma enorme confiança nas instituições. Porque, de facto, aquilo que aconteceu na crise de 2008 e aquilo que aconteceu na crise da dívida soberana foram intervenções públicas que conseguiram resgatar a economia e conseguiram estabilizar e voltar a dar a níveis normais de emprego e de atividade económica. 00:15:46:14 – 00:16:09:04 . E, portanto, em princípio, eu confio no meu governo. Eu confio no Banco Central Europeu, eu confio na estrutura. Vou confiar a eles confiarem neles, na capacidade que eles têm, eles próprios, eles próprios. E o que é que aconteceu quando veio a pandemia? Nós tivemos, tivemos injeções monetárias e e políticas orçamentais expansionistas que foram historicamente elevadas, nunca tinham acontecido nesta ordem magnitude. 00:16:09:06 – 00:16:27:19 . Vamos lá ver. Para um leigo o que é que isto quer dizer, Porque nas notas e pusemos no helicóptero lá para cima e começamos a tirar notas para o povo poder dar um exemplo o governo se tiver as contas equilibradas, tem um défice plano. Os impostos são o poder de compra que o governo retira a empresas e famílias. 00:16:27:24 – 00:16:46:21 . Se isto correr bem ao cobrar impostos, estas pessoas já não têm dinheiro para gastar, vão comprar menos bens e serviços, a procura baixa e os preços baixam. A despesa do Estado é pressão sobre as fontes de serviços, porque é o Estado a ir ao mercado a querer comprar bens e serviços e a concorrer com o resto da economia e portanto sobe o preço, sobe o preço. 00:16:46:23 – 00:17:08:24 . O que é que aconteceu na altura da pandemia de défices historicamente elevadíssimos? Seja, era preciso reinvestir, era preciso comprar coisas e era preciso entregar prestações sociais. Era preciso tudo exigir. No fundo, a sociedade e o Estado decidiram investir e retornar à sociedade de valor. A questão não é se o deviam ter feito. É uma questão, Não é a questão do final, a questão da quantidade. 00:17:09:01 – 00:17:33:12 . E hoje existe a perceção que foram longe demais, gastamos demais, gastamos mais. Essa hoje é perceção. Portugal por acaso foi dos mais bem comportados. Nós gastamos cerca. Em 2020 voltou a ir. Foi cerca de 2,8% do PIB. Em ajudas diretas, por exemplo, a Alemanha gastou 10% e os Estados Unidos gastaram 20. Ok, estamos a falar de facto de uma tempestade perfeita, porque por um lado, de facto havia problemas do lado da oferta. 00:17:33:12 – 00:17:55:08 . As redes de distribuição e as cadeias globais de valor ainda muito fragilizadas, o que na Europa depois ainda foi exacerbado pela questão ucraniana o fornecimento de gás natural e da contaminação do preço da energia para depois para tudo o resto. Ou seja, temos esses problemas lá de oferta, sobem os preços e depois de lado a procura. Também tivemos ajudas que hoje se percebe que foram sobremaneira excessivas. 00:17:55:10 – 00:18:20:06 . As ajudas foram bem sucedidas num ponto nós conseguimos evitar a destruição de emprego e destruição de empresas. Parece me uma boa notícia e a questão é que se calhar fomos longe demais. Ou seja, não só evitamos a destruição de emprego e a destruição de empresas e isso foi bom. Mas se calhar não devíamos ter ido tão longe que se calhar havia ali um espaço em que conseguimos evitar essas, esses dois, esses dois problemas, sem criar uma crise de inflação desta ordem de magnitude. 00:18:20:06 – 00:18:41:20 . Isso é uma decisão dos políticos. Ou tu e os seus primos economistas são, afinal, os culpados de não saber como é que se regula este potenciómetro? Se põe mais dinheiro na fogueira ou menos dinheiro? Isso é verdade. A economia é uma ciência que tem de entender, errar muito. Se bem que é verdade que desta vez todos economistas previram que iria haver inflação. 00:18:41:22 – 00:19:05:20 . Em primeiro lugar, porque isto era uma crise sanitária. Não foi uma crise económica no verdadeiro sentido do termo, porque era mais fácil de calcular que isto ia acontecer. No entanto, a questão do cálculo era questão de perceber que em 2008 e em 2011 tivemos crises dos sistemas económicos. Tínhamos uma bolha imobiliária, uma bolha no sector financeiro. Rebentando essas bolhas, é preciso transferir recursos desses setores para outros setores. 00:19:05:21 – 00:19:21:15 . Falamos disso. O que que é uma bolha? Uma bolha é quando o preço de algo ou a valorização de algo se afasta do seu valor fundamental. É como o valor das casas. Agora, se eu soubesse, não estava aqui a falar contigo. Estava a investir em fundos imobiliários, estava rico a comprar ou vender. A questão é a resposta a essa pergunta. 00:19:21:17 – 00:19:45:03 . Já haveria já resolvido o problema. A questão é que as bolhas são muito difíceis de detectar antes. Não é porque se não estava que quem conseguisse fazer estava rico. Mas a dinâmica da bolha é muito simples de perceber e já muito antiga. Se nós formos até ao século XVIII, século XVII, vamos lembrar da crise das tulipas. Os bolbos tulipas na altura começaram a subir de preço e as pessoas começaram a olhar para aquilo. 00:19:45:05 – 00:20:03:22 . Era assim o que era ganhar dinheiro? O que é que não quer ganhar dinheiro? Claro, estávamos. Comprávamos tulipas porque amanhã vão valer mais do que hoje. E depois vale tudo. Comprava os tulipas, tudo, comprava os livros que aconteciam por essas e depois soube quem comprou. Depois ganhou imenso dinheiro. E como toda a gente gosta de ganhar dinheiro e se gabar que ganhar dinheiro diz a toda a gente e vai. 00:20:03:22 – 00:20:25:15 . Cada vez mais gente comprava tulipas. Portanto, criou se aqui uma grande crise aqui. O meu momento em finanças chama se momento, um momento. Portanto, o que está a dar é comprar bulbos de tulipas. Até que chega uma altura que há um que pergunta para que é que isto serve? Aposto que foi o economista que perguntou um economista que não conseguiu comprar bulbos de parasitas, visse? 00:20:25:17 – 00:20:41:20 . As rosas é que é que é o novo, o novo mercado e despeja os bolos tulipas no mercado. Isso faz baixar o preço, baixar o preço. A malta começa a perceber e agora está a perder dinheiro. Melhor vender já. Então começa tudo a vender, Já começa tudo à venda, já aumenta. Só cá para nós. Portanto estoura o mercado no fundo, Exactamente. 00:20:41:22 – 00:21:06:22 . E nós hoje, em 2007, 2007, nós vivemos uma fase, uma certa euforia do ponto de vista da desregulação financeira, etc. Porque vivemos um período ali desde o fim da década de 70, quem ficou conhecido como a grande moderação, em que de facto não houve grandes crises, não houve grandes flutuações que se você, que uma certa euforia, que os mercados resolvem tudo, não é preciso regulação, mas ferro onde é? 00:21:06:24 – 00:21:34:03 . E depois chegamos precisamente à conclusão que por vezes não é bem assim e as economias precisam de alguma supervisão para ter a certeza que fenómenos como esse não acontecem porque isso depois obviamente destrói emprego, destrói empresas, destrói a vida. Muitas pessoas. E este é o tal fenómeno das bolhas. Então a inflação subiu. Nós necessariamente empobrecemos, apesar de os Estados terem injetado uma quantidade gigantesca de dinheiro, também não é necessário que empobrecemos. 00:21:34:03 – 00:21:57:18 . Vamos lá ver, não ficamos mais pobres. A questão é que não podes ter crescimento real positivo, Ou seja, se o PIB passar o PIB em Portugal são perto de 280 mil milhões €. O Dr. Guterres também tentou fazer essa coisa queda de 3% e era mais difícil, era mais difícil 280 mil milhões € se passar de 280 mil milhões para 500 mil milhões, será que estamos melhor? 00:21:57:20 – 00:22:21:05 . Depende da inflação. Mas tu podes ter inflação que não é suficientemente alta para que a o crescimento do rendimento mais do que compense o efeito da inflação. Mas a inflação come o aumento de riqueza, Óbvio, Sim, para toda a gente. Imagina tu ganhas 1.000 € amanhã ganhas 2000. Estás melhor, Estás pior. Depende da inflação. Se a inflação for 100% na mesma, então está a ilusão monetária, Sem dúvida. 00:22:21:05 – 00:22:48:18 . Aliás, ela só monetária daquilo que é mais usado na gestão económica e política de tudo e mais alguma coisa. É uma batota sem homem. É uma batata assumida por todos. Dou o exemplo todo o exemplo. Em 2002 o Governo decidiu congelar os escalões de RF. O que é que significa não sair? Diz me. Eu digo te os escalões de arresto estão definidos em função de valores absolutos de euros, ou seja, quem ganha até para rendimentos entre 10.000 € e 15.000 € tens uma taxa. 00:22:48:20 – 00:23:09:13 . Depois o rendimento da parte do rendimento entre 15 e 20000 pessoas de baixa, etc, etc. Se tu congelar esses esses escalões nesses valores de euros e tiveres inflação de 10% ou o rendimento cresce 10%, mas depois a inflação também cresce 10% e ter poder de compra estás na mesma, mas vais pagar muito mais impostos. Porquê? Porque não atualizar tu com GR? 00:23:09:15 – 00:23:27:09 . Por acaso agora no âmbito deste orçamento não é exactamente no âmbito do Orçamento do Estado? Está refletido no Orçamento de Estado, mas foi no âmbito da Assembleia da República foi aprovada uma lei que obriga ao que estabelece que as atualizações do RS todos os anos agora é feito de acordo com a inflação e com o crescimento real da economia de forma automática, de forma automática. 00:23:27:09 – 00:23:51:20 . Parece me uma coisa francamente honesta. Pois, mas em 2022 nem tu sabes que isso aconteceu, pois não? Isso aqui está um bom exemplo de ilusão monetária. Portanto, a nossa, neste caso a minha, quer dizer, as pessoas que nos escutam Seguramente não, mas a nossa ignorância sobre a maneira como estas coisas se movimentam é real. Aliás, isto até foi objeto de mais um por agora, um momento que da tarde. 00:23:51:20 – 00:24:11:18 . Mas isto até foi objeto de estudo de um economista que ganhou o Prémio Nobel do Povo, Lucas, que realmente conjetura que estes fenómenos de ilusão monetária são mais fáceis de fazer em economias que a inflação tradicionalmente é baixa, como é o caso da nossa, porque a gente nem sequer está a olhar para nós. Estamos habituados a olhar para a inflação porque a inflação tende a ser muito baixa, então nós não ligamos a inflação. 00:24:11:19 – 00:24:39:21 . De resto, como os preços, quando nós vamos ao supermercado antes dos tempos de inflação, era uma coisa que nós pensávamos nos bens que tínhamos que comprar. E agora, quando a conta do supermercado já não é 100 € e passou a ser 250, nós vamos olhar ali o que é que está a acontecer, cada pinguinha de cada lado. Ora, eu quero falar do Orçamento de Estado, mas quando a inflação sobe acima desse número mágico, 2% sabe Deus e os economistas porque é que a 2% vem aí uma receita? 00:24:40:00 – 00:24:56:19 . E então é o que fica. É pesquisadores, todos os 2%. Então porque é que esses 2% percebem? Não têm razão nenhuma. E o que é que não é? Quatro Porque é que não é uma pergunta? É porque é que não é zero? Pois isso é. Sei que existem várias, várias teorias a tentar explicar porque é que é um valor acima de zero. 00:24:56:21 – 00:25:13:03 . É a ideia que os bancos centrais, tipicamente quando olham para economia, estão preocupados, por um lado, com estabilidade. Os preços, mas por outro também com a estabilidade económica, ou seja, com o nível de emprego. Querem que a economia não esteja em recessão? Ok. No caso da Europa, nós temos uma tradição de primeiro temos que olhar para a realidade, preços. 00:25:13:05 – 00:25:36:01 . Só em segundo lugar é que olhamos para os níveis de emprego Nos Estados Unidos, o mandato do banco de reserva Federal americano e o mandato do UAU! Eles é suposto darem tanto peso à inflação como a questão do emprego. A questão é quando a inflação está muito próxima de zero. Existe um incentivo do Banco Central Europeu, do Banco Central, de fazer emissões monetárias para estimular a economia. 00:25:36:03 – 00:26:02:13 . E isso gera inflação. Muito bem. Por isso, só quando a inflação já está a um nível que de alguma forma terá ido ao emprego, estabilidade de preços é posto em causa. É que o Banco Central Europeu ou os bancos centrais deixam de querer surpreender os países com emissões monetárias para estimular a economia. Então, os 2%, os 2%, são aquele bocadinho sweet spot, um pedaço de chocolate para animar a malta. 00:26:02:15 – 00:26:27:10 . Porque quero imaginar que se a inflação, em vez de 2%, 3% ou 4% fosse negativa deflação, um impacto disto era o que ficávamos à espera para deixa la ver se o preço baixa mais um bocadinho nos keynesianos. Se fôssemos keynesianos, essa essa dinâmica que tu estás a descrever, era exactamente isso que acontecia. Nós teríamos o consumo porque pensávamos que é melhor gastar o dinheiro amanhã, que as coisas vão ser mais baratas. 00:26:27:12 – 00:26:51:06 . Ao fazer isso, estamos a provocar ainda maior deflação, porque diminui a procura de bens e serviços, isto é, entra numa espiral em capacidade económica baixa. Ok, é a economia em versão, portanto, em princípio, a baixa sucessiva de preços é uma catástrofe anunciada. Generalizadas. O pensamento keynesiano isso ok. O que é que o senhor Keynes nos traz É esta dinâmica que acabei de descrever. 00:26:51:06 – 00:27:12:01 . Portanto, convém que os preços vão subindo sempre um bocadinho, de uma forma controlada, mas que se sirva de estímulo à economia. E isso já é outra interpretação do porque é que os 2% devem estar ali. Eu diria que uma das teorias ou uma das ideias que estão por trás da inflação, a não ser zero do objetivo dos bancos centrais não ser zero, foi aquela que te descrevi antes. 00:27:12:07 – 00:27:37:01 . É uma questão de espécie de jogo de gato e do rato entre agentes económicos e o Banco Central. A segunda pode ser essa ideia de que, de facto, que um objectivo de inflação zero faz com que não seja um objectivo de 2%, faz com que exista uma certa penalização para as pessoas não investirem o dinheiro ou não, porem ao tentarem criar algum tipo de investimento ok, Existe um custo oportunidade de não ter o dinheiro parado em casa. 00:27:37:03 – 00:28:07:22 . Então vamos lá ver agora a minha tese. Nós ficamos mais pobres, a inflação subiu, os salários não acompanharam essa inflação e o Banco Central Europeu acompanharam. Portugal foi um dos únicos poucos países que teve um crescimento real dos salários. Não digas isso porque isso é uma conversa para os patrões depois não aumentarem o salário das pessoas. É importante acompanhar, porque significa que a gente não perdeu as contas, as contas, não feitas, as contas, poucos países que que recuperou mais rápido em termos do poder aquisitivo dos salários, foi isso é uma boa notícia. 00:28:07:23 – 00:28:30:19 . Bom, então, mas não estrague a história. Eu partindo do pressuposto que nós uma desgraça, pelo menos na fase inicial, perdemos poder de compra que o Banco Central Europeu decidiu ajudar nos nesta conversa e subiu as taxas de juro. E com isso o meu empréstimo da casa foi para lá das estrelas. Duplicou, triplicou. Bela ajudinha do banco, mas esse é o objetivo. 00:28:30:21 – 00:28:54:02 . Desculpa, Dilbert, mas não sejamos. Não há aqui qualquer ambiguidade. Mas é que eu já tive a vida das taxas. Eu já devo. Aquele dinheiro não vai mudar nada, Vai porque tu agora, em vez de teres um rendimento disponível de 1.000 €, estejam rendimentos por nível de 800 ou 700 porque vai te pagar mais 300 de juros. Já não vou dizer isso, já não vais de férias, já não metes pressão sobre a procura de bens e serviços e os preços já não sobem tanto. 00:28:54:04 – 00:29:17:06 . Mas aí não há ambiguidade. Nenhuma das taxas de juro é para retirar poder de compra a governos, empresas e familiares. Parece um castigo e um castigo. É uma maneira de tirar. Vamos lá ver qual é o mandato central europeu, estabilidade de preços, se os preços vão subir é porque a procura é maior que a oferta, tendo muita dificuldade do Banco Central Europeu de controlar a oferta. 00:29:17:06 – 00:29:38:13 . O que é que eles conseguem fazer? O problema é que se tu, como disseste um bocadinho a questão da inflação foi causada genericamente por disrupção na cadeia da escala dos juros. É que eu te disse que era a pergunta de 1 milhão € e que estava toda a gente a discutir Porquê? Porque se a inflação for apenas pelo lado da oferta, ela vai aumentar as taxas de juro não resolve, Mas gás natural na Ucrânia isso. 00:29:38:13 – 00:30:04:01 . Ou seja. Por isso a justificação de uma política agressiva de subida das taxas de juro, na sua maioria, não é absoluto. Mas a justificação de uma subida agressiva das taxas de juro por parte do BCE e apenas faz sentido se o problema tiver problema entrar. Se estiver do lado da procura. Então eu agora tenho outra pergunta. Por saber, deixamos perceber quanto é que desta espiral inflacionista vem de procura excessiva e quanto é que vem de oferta demasiado baixa? 00:30:04:03 – 00:30:20:23 . Está aí a chave para dizer qual é a política óptima em termos de taxas de juro. E o que nós vimos foi um debate muito polarizado entre quem achava que estava quase tudo choques de procura e quem achava que isso era quase tudo choques de oferta. Hoje conseguimos olhar para trás e perceber que, como em quase tudo, no meio está a virtude. 00:30:21:00 – 00:30:42:15 . E então e ela foi. Problemas de oferta? Sim, mas também foram problemas de lado a procura. Se o meu empréstimo da casa subiu como se não houver amanhã exatamente para ajudar a controlar a inflação, vamos ter esta ideia benigna que eu como cidadão e quer dizer agora, a partir do momento, tu passaste a pagar mais pela tua prestação, compra menos coisas. 00:30:42:17 – 00:31:13:08 . Muito bem que não havia problema. Então é ali que eu é que o empréstimo passa a prazo. Li que nós temos ali na Caixa Geral de Depósitos um crédito. Continuavam a pagarmos agora para falar de Portugal, né? Então Portugal foi de facto um dos países onde a margem financeira mais aumentou? Ou seja, o que é que a margem financeira é a diferença entre os juros cobrados pelo dinheiro que empresta e os juros pagos pelos depósitos que nós metemos no banco? 00:31:13:10 – 00:31:30:19 . Isso é uma transferência de dinheiro dos que nós paga para o momento, para a financeira, seguramente isso. Claro que eles tiveram um aumento histórico dos seus lucros e eu precisa de pôr uma luz naquilo porque estava a tentar perceber isso. Sim, sim. Mas acho que não há dúvida nenhuma. Houve momentos históricos dos lucros dos bancos nos últimos dois, três anos. 00:31:30:21 – 00:31:52:23 . É preciso também ter cuidado de não ter um discurso populista, porque se nós fomos antes, tiveram prejuízos integrados desde 2011 ou 2012, só em 23 é que a Caixa, neste período dez anos acumulou, teve lucro acumulado positivo, os juros eram negativos e não ganhava. Aí tivemos uma crise da dívida soberana. A banca perdeu essa altura. Mas como é que a banca perde dinheiro numa crise da dívida soberana? 00:31:52:24 – 00:32:14:00 . Supostamente não é uma dívida que os Estados têm, com uma enorme valorização de ativos. Ou seja, nós tivemos os bancos não comprados, nós tivemos em primeiro aí um problema. Porquê? Porque o custo financiamento da banca aumenta. Ou seja, o que é que é uma crise de dívida soberana? No caso, no contexto português, foi os mercados deixarem de acreditar que o governo português ia conseguir pagar as suas dívidas. 00:32:14:00 – 00:32:35:20 . Tamos a falar do tempo da troika. Exatamente. Isso significa que a dívida portuguesa, que não é uma palavra sofisticada para descrever a promessa que o Estado vai pagar aquele primeiro Estado tinha cada vez mais risco. Você tem cada vez mais risco. Quem empresta pede uma compensação cada vez maior para assumir esse risco nos empréstimos futuros dos empréstimos. Os empréstimos que foram feitos a partir desse momento. 00:32:35:22 – 00:33:16:05 . E é bom lembrar que a dívida portuguesa andará perto dos 270 mil milhões € e aquilo é um bloco que todos os anos é preciso fazer emissões e é para pagar ao país. Como diria um político, ultimamente tem sido pra pagar. Nós, nós, desde o PEC até agora, nós baixámos de 136% de dívida em percentagem do PIB para cerca de 97 ou 98, o que significa que o dinheiro que o Estado tem disponível para o Orçamento de Estado, em grande parte, está sido também canalizado para pagar a dívida antiga e ativa essencialmente nos superavits que temos tido primários, não tanto com o dinheiro que sobra no fundo para pagar a dívida, o dinheiro que sobra para 00:33:16:05 – 00:33:53:11 . amortizar a dívida é claro. Nós não temos que emitir a dívida, não é para assegurar as necessidades brutas, financiamento do Estado. Nós temos aprovado o Orçamento de Estado para o para o próximo ano e é sempre uma discussão política. Seguramente alguém sem ser os economistas e os políticos entende verdadeiramente o que é que lá está escrito no Orçamento para nós termos um problema sistemático em Portugal que nós só discutimos porque é que no Orçamento está apenas que temos 15 dias ou um mês para o que O que em si é mau Porque quer dizer, há poucas coisas. 00:33:53:13 – 00:34:22:21 . O crescimento resolve muitas coisas, o crescimento económico resolve muitas coisas. Adotou o exemplo de 2013, nossa maldita em este meio ponto percentual por ano. Se nós tivéssemos crescido por ano nesta década, aquilo que crescemos em 2019 não teríamos entrado na década de 2010, quando teve que vir a troika com o rácio da dívida sobre o PIB de 66%, o que era extraordinário depois, já que era quase o dobro e o que aconteceu para três? 00:34:22:22 – 00:34:48:20 . A anemia. Não sei se existe alguma explicação para isso. Há três ordens de explicações para essa anemia que Portugal sofreu nessa altura. A primeira foi a entrada da China na Relação Mundial do Comércio, o que pôs em causa o nosso modelo de internacional. Porque estamos a falar dos têxteis. Estamos a falar de dois produtos no nosso modelo o nosso modelo industrial era produzir barato e com pouca qualidade e para quem não é, mas não consegue competir ao não conseguir. 00:34:48:21 – 00:35:07:15 . Agora a China mudou muito, mas na altura que é esse o paradigma chinês que tem um problema, porque tem outros países ali à volta que têm esse modelo mais barato. Exatamente. A segunda razão foi a entrada dos países de Leste no mercado, único país com qualificações com salários mais baixos e que pôs em causa também a nossa competitividade. 00:35:07:16 – 00:35:25:02 . E depois existe uma terceira que é um bocadinho mais complexa. Não sei se temos tempo para ver tudo, mas tem a ver com o facto é que nós entrámos no euro e ao entrarmos no euro tivemos acesso a crédito muito mais barato e as taxas de juro baixaram imenso. Essa baixa das taxas de juro, a taxa de juro, O preço do dinheiro é como qualquer preço. 00:35:25:02 – 00:35:44:20 . Quando baixa, as pessoas compram mais e nós duplicamos o nosso endividamento privado. Já levou ao endividamento público. Nós duplicamos o nosso endividamento privado ali no espaço de dez, 12 anos. Portanto, fomos todos comprar uma casa. Fomos todos investir nalguma coisa. Vamos todos comprar, ter uma vida. E o que é que acontece quando tu tens imensa liquidez? Vais meter pressão sobre o quê? 00:35:44:22 – 00:36:10:00 . Preços e que acontecem? Os preços sobem todos? Não. O preço do petróleo não muda porque ficam alguns, porque os portugueses têm mais dinheiro e o preço dos bens não transaccionáveis. O que é que não está transaccionável? Estamos a falar de pequenos serviços, restaurantes, cabeleireiros, cafés, coisas desse género. E o que é que aconteceu? Passou. Como esses preços subiram a receita começou a aumentar e a rentabilidade desses negócios começou a aumentar. 00:36:10:02 – 00:36:33:10 . E começamos a ver uma transformação estrutural da economia portuguesa em termos de investimento e em termos de pessoas a dirigirem se. Pensei boa ou má, porque é que isto é mau? É mau? Estamos a falar de negócios de baixa produtividade, baixa escala, sem grande pressão competitiva, para serem mais eficientes, mais organizados, mais produtivos, mais competitivos. Portugal tornou se num país de restaurantes, cabeleireiros e esteticistas. 00:36:33:12 – 00:36:53:10 . E eu não digo isto no gozo. Portugal é o segundo país da União Europeia com uma percentagem da população em que a mulher esteticista e faltam as fábricas. Faltam os grandes investimentos. Grandes empresas em Portugal que dique que exportem e que é um bocado para aquela história do gato gordo e do gato magro. Nos restantes grandes centros, os gatos não são o gato para mim. 00:36:53:10 – 00:37:22:06 . Tenho dois em casa que eu estava mas a minha não deixa. Mas os gatos que imaginam um gato de casa mais gordinho e com gato na rua para sempre, muita comida no gato de casa fica de lado, A comidinha não tem que se mexer, O gato da rua ocorre para comer ou morre. As empresas que competem nos mercados internacionais são competitivas, organizadas, produtivas e eficientes ou morrem e nós tornamo nos uma economia com muito pouco emprego e muito pouca atividade económica, precisamente nesse setor. 00:37:22:08 – 00:37:45:13 . Para teres uma ideia, as grandes empresas, aquelas que conseguem criar economias de escala e ser competitivas e exportar, etc. De grandes empresas em Portugal têm apenas 21% do emprego, mas geram quase 40% do valor acrescentado. Portanto, o resto são micro empresas. Lá está o que é o que? O que for. Hoje não há nenhum nos números mais elucidativos, mas mais gritantes do que isto. 00:37:45:15 – 00:38:11:04 . O famoso relatório criticou a Europa por ter um peso excessivo de emprego e de atividade económica em micro empresas face aos Estados Unidos. Portugal tem 50% mais do que a média europeia que Draghi indicou, 50% mais de emprego do que a média europeia e micro empresas. Porque é que estão o problema? Porque o valor acrescentado bruto de um trabalhador numa microempresa são 22.000 €. 00:38:11:04 – 00:38:35:19 . Não temos depois um efeito de multiplicação. Sabes qual é o valor Acrescentado bruto médio de um trabalhador numa grande empresa com 84.000 €? Só temos a 20% do emprego nas grandes empresas. E dou te aqui o número. Se nós tivéssemos a mesma distribuição de emprego, o tamanho da empresa que tem a União Europeia, isto era um aumento de 16% do PIB e ficávamos quase iguais a França e a Itália. 00:38:35:19 – 00:38:52:24 . E tudo o que é preciso fazer para que nós tenhamos um conjunto de estruturas que penalizam as empresas que têm a ambição de crescer. Por exemplo, a progressividade do IRS sobre as empresas. Quanto mais ganha, quanto mais rica é a empresa, mais tem que pagar, mais rica. Essa é que é o grande engano do investidor. Tu estás à procura de quê? 00:38:53:03 – 00:39:14:01 . Rentabilidade? Rentabilidade é o retorno por dinheiro investido. E quando olho para a imprensa, vês toda a gente escandalizada com os milhões da banca, por exemplo. E este ano, pronto, foram acima do normal. Também não precisas de me bater. Quer dizer, mas o ano passado, por exemplo, o Millennium bcp teve 200 milhões € de lucro. Já está na escala. O máximo paga uma taxa máxima possível. 00:39:14:03 – 00:39:35:12 . Mas a pergunta é quanto é que tu tens que investir para ir buscar de 200 anos 60 milhões €? Eu digo captação bolsista do Millennium BCP O ano passado andava por volta dos cinco 5 mil milhões, portanto dar te uma rentabilidade 4%. Portanto não estão investidos num quiosque de jornais com 10.000 €, porque os jornais conseguem abrir para 10.000 € e tiveram um lucro de 2000, rentabilidade de 20%. 00:39:35:17 – 00:39:59:06 . Quanto é que pagas? Deve ser o mínimo. Ou seja, o nosso sistema fiscal. E não é só você não fiscal, as leis laborais, etc, estão todas desenhadas a criar incentivos para a fragmentação do capital e propostas para pequenos negócios baixo escalão que não tenham grande dimensão. Portanto, tratamento quer da parte laboral, quer da parte fiscal, muito mais amigável. 00:39:59:08 – 00:40:20:24 . Isto significa o quê? Que significa que depois as pessoas vão trabalhar nessas estruturas, vão criar pouco valor acrescentado e depois têm salários baixos. Portanto, é uma espiral. Olhando para o orçamento deste ano, todavia, há uma descida do IRC de 1% e Deus sabe o que é que teve, o que é que foi, o que é que foi acontecer para que isso acontecesse. 00:40:21:01 – 00:41:02:17 . Vamos a ver o RC podia baixar para zero juros zero, então já foi feito, não só porque porque o mal está feito. As empresas quando se deslocam e investem igualmente na escala, etc. Eles não olham um ano, elas olham para cinco, dez anos. E qual foi? O que é que esta negociação de negociação do Orçamento mostrou? Toda esta que toda esta discussão teve ao torno de baixar apenas viessem 1% e que não existe um compromisso do principal arco de países do arco da governação de que a competitividade fiscal é prioritária para o para os principais partidos em Portugal, o que significa que podias baixar o IRS e P0. 00:41:02:19 – 00:41:24:11 . Se os agentes económicos acharem que cai este governo, vem para cá o PS e volta outra vez aos 31. Ninguém se mexe, ninguém se mexe. E será que isso é possível? E porque tu fizeste esse acordo em 2013? Entre Passos Coelho, então líder seguro, conhecido do RC e do seu António Costa, tomou conta do país e subiu para níveis nunca antes atingiu antes. 00:41:24:12 – 00:41:42:12 . Não é uma questão, é uma questão política. Porque se tu me estás a dizer que o efeito entre uma taxa grande de RC e uma taxa baixa, mas no limite não teriam impacto neste caso, nestas circunstâncias eu acho que não teria grande impacto. Eu dou te um exemplo toda a gente fala da questão da Irlanda e do crescimento. 00:41:42:14 – 00:42:04:04 . É o que se passa, porque Irlanda não precisa de tal, não tem taxa de 12% e pronto. Agora é bom lembrar que parte do segredo não foram 12% partidos, foram os partidos do do arco da governação nos anos 90 terem se juntado em Evita. Meus senhores, para mal, estas são as estruturas fiscais. Nos próximos 20 anos ninguém muda. 00:42:04:06 – 00:42:28:20 . Isto levou um colapso da incerteza brutal, não é? E não existe nada mais nocivo para o investimento, o risco, a incerteza sem receita funciona. Porque é que não nascem outras Irlandas ali à volta? Podem não ser. Convence lá tu o eleitorado em Portugal, mas baixaram e até as grandes empresas como a minha pergunta 260 milhões € de lucro e não pagam tem terem 5 mil milhões. 00:42:28:23 – 00:42:53:05 . Mas para a história, porque abrir uma cimenteira, uma semente com 10.000 €, com 10.000 €, abre um cabeleireiro, mas não abre uma cimenteira. Então deixa me fazer te sindicalista. Mas eu olho para a minha folha de salário e como tu olhas para a tua, seguramente e está um valor lá muito substantivo de impostos. Mas a pergunta é legítima. Não sei se essa é a pergunta do sindicalista, mas eu não sei se ele está assim tão preocupado com os impostos. 00:42:53:07 – 00:43:09:23 . Está mais preocupado, É patrão de paga, Assim é também e também é um facto. Olha o que? O que tem o Orçamento de Estado deste ano? O que é que falhou? Houve uma uma questão que esteve neste ano no orçamento que me deixou bastante entusiasmado e acho que revela a importância do documento para a condução da política nacional. 00:43:10:04 – 00:43:36:21 . Eu não sei se sabes, mas para uma lista que dá para perceber qual é a lógica grande de municípios portugueses, todos aquilo que é derivado de bebidas destiladas com base em medronho vão ter uma exceção do Imposto Especial de Consumo de 75%. Acho que foi uma das decisões do Orçamento de Estado Orçamento de Estado que estava estão e são uma hiper regulação absurda, não é? 00:43:36:23 – 00:44:03:03 . E por isso é que eu digo realmente nós temos este aspas mau hábito de discutir política económica para o país no Orçamento de Estado. E porque é que eu acho que isso é mau? Porque o Orçamento está primeiro o Estado a funcionar numa lógica de caixa. Imagina o Estado em investir a construir um prédio para depois arrendar. Isto entra como despesa, não como investimento, não como investimento. 00:44:03:05 – 00:44:21:05 . Porque há uma lógica de fluxo de caixa, porque tu vai ter um défice. Ou seja, tivemos pior. Como não é verdade, porque está a construir riqueza. É o meu futuro. Quando estou de rendimento já vem desde Napoleão. Para ter uma ideia, ainda usamos as técnicas de contabilistas napoleónicas. Isto é, Portugal não é para fracos. 00:44:21:07 – 00:44:44:01 . Ou seja, discutir política económica neste contexto, num documento que é mais para gestão de fluxo de caixa do do que para pensar quais são as grandes orientações estratégicas do país? Na minha opinião, é mau. Primeiro porque mete o foco no curto prazo, como fazem com qualquer lógica de gestão de tesouraria e de fluxo de caixa e é anual. 00:44:44:01 – 00:45:14:18 . Portanto torna tornaria logo muito mais difícil. Daria para fazer um orçamento a vários anos plurianual. Eu não sei sequer se regulamentar mente seria possível, mesmo no contexto da União, trazer, Terá sempre que haver um orçamento anual postado, acho eu, penso eu. Até porque quanto mais ele for prolongado no tempo, mais a incerteza relativamente à execução. Quer a realização das receitas previstas, quer da realização das despesas que também estavam, que estavam previstas. 00:45:14:24 – 00:45:44:04 . O meu ênfase é outro. Nós, por exemplo, temos um documento que é o de crescimento. Se calhar devíamos passar muito mais tempo a discutir o Plano de Estabilidade e Crescimento Anual, aquele papel que nós mandamos para Bruxelas para dizer o que é que vamos fazer. O último que saiu foi de 2024, de 2028 e por quatro anos faria muito mais sentido perdermos tempo a discutir esse documento que propriamente o Orçamento de Estado, em que vamos gastar mais 1000 milhões para a saúde do que gastamos o ano passado, que depois também é tudo treta, porque andamos todos aqui a discutir quanto é que foi para cada rubrica para termos uma coisa chamada cativações e tu não 00:45:44:04 – 00:46:02:17 . executas parte da verba que estava, que para mim é uma falta de respeito democrático, porque em cima da República foram aprovadas aquelas despesas para aquele setor e tu chegas ao fim do ano e tens duas áreas em que executar metade daquilo que foi aprovado em Assembleia da República. Deixa me ver se eu entendo. Tu podes alocar um determinado orçamento e colocar lá 100 milhões. 00:46:02:19 – 00:46:22:04 . Está lá escrito 100 milhões à Assembleia para gastar, por exemplo, em escolas e escolas, 100 milhões para as escolas o ano passado. Não executar como tal, não executar, não gastar, não gastar. Então quem é que tem que tem o dinheiro na mão? O Estado, as finanças, o GCP que decide se se faz ou se na disciplina? Que circuito das finanças? 00:46:22:10 – 00:46:47:10 . Ok, não é o da educação, não. Tradicionalmente, o ministro das Finanças tem liberta. Autoriza a libertação dos fundos para que os outros ministérios possam executar. Medina queria alterar isso. Medina Honra seja feita, uma das coisas que eu queria acabar com esta questão das cativações e dar mais autonomia orgânica para cada para cada ministério, poder estudar as verbas que estavam distribuídas. 00:46:47:12 – 00:47:16:02 . Mas quer dizer, eu acho que isso não avançou tanto que acho que cativações há uma boa razão para haver cativações e o controlo orçamental apenas para saber se a receita cai muito abaixo daquilo que era esperado. O Ministério das Finanças tem ali uma arma para diminuir a despesa e não deixar que o défice. E ao longo dos últimos anos, a minha percepção desde os tempos da troika, tu vais sucessivamente cativando e vais gastando em coisas que devia estar a gastar como investimento público. 00:47:16:02 – 00:47:51:17 . Há uma degradação das coisas, das estruturas. Quando se gosta do curso. Não há dúvida nenhuma que entre 2010 e 2020, o investimento público não foi suficiente para evitar a degradação daquilo que eram as infraestruturas nacionais ao nível de hospitais, de estradas, de escolas, etc. Agora que vai custar mais caro ou não havia dinheiro e portanto, eu acho que eu acho que a questão relevante aqui é que quando chegámos, após a estabilização das contas públicas e saindo daquela parte da troika, começou se a perceber que era preciso arranjar espaço no Orçamento de Estado para investimento. 00:47:51:17 – 00:48:17:15 . Por ora, arranjar espaço no Orçamento de Estado pra investimento público é uma bomba do ponto de vista do ponto de vista da gestão política, porque é o que é que é arranjar espaço e cortar noutras coisas. Vão aumentar impostos, como já agora, é discurso público. Neste momento, à luz da guerra na Ucrânia, de que os Estados precisam de gastar mais dinheiro em defesa de 2%. 00:48:17:17 – 00:48:42:06 . E eu ouvi na semana passada o senhor importante da NATO dizer Bom, se for preciso ir buscar dinheiro, a saúde ou a educação, ou as pensões, o que era assim, então é aí que vamos buscar o dinheiro para porque dos estádios da NATO? Pois ele não é propriamente uma expressão muito folk. Trata se de uma declaração muito popular. 00:48:42:06 – 00:48:58:11 . Eu não dei e que não tem quando mas. Mas a pergunta pode ser feita ao contrário, que se é preciso aumentar um investimento numa determinada área e agora estamos a falar nisso, o outro responderia exactamente à pergunta Tu queres? Nem é só por isso. Nessa questão da defesa, nós estamos na verdade, estamos a falar da questão da possibilidade de vir a ser tornar. 00:48:58:11 – 00:49:24:04 . Portugal é dos países com taxas nominais mais elevadas. Toda ceder agora não é honesto intelectualmente falar de cortes de impostos, por exemplo, para aumentar a economia portuguesa, sem dizer onde é que só fica o dinheiro porque a presidente que baixas impostos vai perder receita. Nós Este ano estava previsto no plano Orçamento o Estado termos 800 milhões de superavit, ou seja, 3% do PIB, ou seja, basicamente orçamento equilibrado. 00:49:24:06 – 00:49:47:02 . Por isso, onde é que eu vou buscar dinheiro para esta competitividade? Ora, crias um novo défice. Não me parece muito inteligente. Não sei se tens noção que até que tu pagaste pelo défice, pela dívida portuguesa em 2022. Quanto? Jorge? Eu, cidadão quanto per capita? Cerca de 400 €, 400 € do meu bolso para pagar isso? Exactamente como tu é que vais pagar a este ano? 00:49:47:04 – 00:50:16:18 . Quanto? 700 ou dois? E baixarmos a dívida 116 para 97? Vão haver. Ou seja, o aumento da dívida não me parece muito inteligente. Chega. Este ano está previsto gastar 7 mil milhões. Mas porque é que eu vou pagar mais este ano? Em teoria, ou na dívida Diminuiu em percentagem do PIB? Não diminuiu em valores absolutos? É a boa notícia que provavelmente nos 700 € valem um bocadinho menos do que exactamente e portanto, olha, eu preciso. 00:50:16:18 – 00:50:41:21 . Nós não temos muito mais tempo, mas eu preciso de falar contigo que a primeira é que eu queria responder à questão da escola. Então vamos lá buscar dinheiro o minuto no máximo. A dívida não parece inteligente, até porque temos, já vimos, já vimos antes com a troika que não há grande solução e os juros são enormes. 7 mil milhões € num ano, metade do orçamento da saúde para trazer um aeroporto de Alcochete. 00:50:41:23 – 00:51:02:05 . A segunda opção é cortes na despesa. Qual é a despesa? Aumento de impostos ou cortes na despesa? Aumentos de impostos? Um bocado parvo, porque é esse o objectivo que nós queremos é reduzi los. No entanto, lá vamos falar das gorduras outra vez e dos desperdícios e cortes da despesa. O que é que podes cortar? Transferências sociais, que é uma grande parte não me parece inteligente por uma razão não há viabilidade sequer política nem precisão normativa. 00:51:02:07 – 00:51:21:06 . Porque vamos a falar. Se não fosse o papel redistributivo do Estado, terias uma taxa de pobreza de 42,5. Neste momento há uma taxa de pobreza de 18%, seja quase metade da população portuguesa. Se não fosse o papel redistributivo do Estado, estaria em risco de pobreza ou exclusão social. Portanto, é uma coisa que tu não podes mexer por questões normativas. 00:51:21:06 – 00:51:47:01 . Já são mais subjetivas, mas por questões políticas também possível sobra daquilo. Estamos a falar do aumento da eficiência do Estado e não que não temos tempo para discutir como deve ser. Eu sou daquelas pessoas que acreditam que tirando dois ou três partes específicas do papel do Estado, se conseguir fazer o dobro com metade dos recursos, olha, isso liga me a um tópico que tem a ver com porque é que um economista se mete na política. 00:51:47:05 – 00:52:12:23 . O que é que tu te deu na cabeça para ser candidato? Cabeça de lista, não foi isso, não é? Não é só uma candidatura cabeça de lista, neste caso pela iniciativa Liberal no distrito de Coimbra. Sabes que eu comecei a vida como prefeita. Foi bem diferente. Se calhar que a maioria das pessoas que são académicos é. O primeiro dinheiro que eu ganhei foi a jogar futebol, Por isso durante uns anos achava que ia ser jogador de bola. 00:52:13:00 – 00:52:31:18 . Depois, quando a realidade bateu, não é que eu de facto muito jeito para a coisa. Também andei uns negócios de montar computadores e vender computadores e depois, mais uma vez a realidade bateu porque os computadores começaram a ser vendidos nos centros comerciais e já não havia mercado para pessoas como eu que montavam computadores, vendiam e de que é má academia? 00:52:31:20 – 00:52:57:21 . É. E foi um período grande e é com muita da investigação que eu faço. Tem relevância política. Estamos a falar de análise política, orçamental, política, fiscal, etc. Comecei a ter um pensamento político sobre quais eram as necessidades mais importantes do país em termos das políticas para resolver o problema dos portugueses. E, de facto, fui desafiado para isso. Achei que era uma experiência que gira. 00:52:58:02 – 00:53:24:09 . O que é que aprendeste que nunca mais quero fazer? Não gostaste do contacto com as pessoas, com os eleitores? O grande problema que eu acho é que marcou mais pela negativa. Foram os debates em que a maior parte das audiências não eram o cidadão comum com vontade de ser esclarecido, eram as claques de cada um. Cada um conseguia levar de cada partido para as audiências a tal polarização do tratamento. 00:53:24:11 – 00:53:53:02 . Segundo, imagina, tu estás num debate diferente. Então em dois minutos resolve o meu problema do crescimento económico em Portugal. É capaz ser difícil, mas eu acredito em ti, ou seja, tu a única coisa que tens espaço para fazer umas palavras que ficam, umas frases ficam giras. Numa T-shirt são duas. A substância não é pouca e eu habituado a um debate mais mais denso, se calhar para usar uma palavra mais neutra e não parecer um bocado fenómeno do ponto de vista académico. 00:53:53:04 – 00:54:14:21 . Habituado a fóruns de discussão mais densos e reflexão mais densas sobre as questões do país, saí muitas vezes destes debates um bocado frustrado e tive que ouvir coisas de que os impostos são um problema porque os jovens, quando emigram, emigram para países com impostos mais elevados que eu tinha que explicar a estas pessoas que é o cão que abanar a cauda e cauda, que o cão seja. 00:54:14:23 – 00:54:44:23 . Estes países ricos, produtivos, capitalizados, têm níveis de produtividade que lhes permita sustentar estados sociais fortes com impostos elevados. Portugal não é um desses países. Eles não são ricos, têm impostos elevados, têm posse elevados, são ricos. Mas quer dizer, a. Tive num debate em Coimbra em que um dos meus estava ter comigo. Era tive. Ele começou lá. Quatro Faltou cantar o hino e falar dos combatentes do Ultramar numa resposta a uma pergunta que não tinha nada a ver com aquilo. 00:54:45:00 – 00:55:19:04 . Mas é tudo forma e tinha pouca substância. Tinha uma cassete, era um bocado isso e aquilo aquilo. Por acaso não chega, Não podia ter partido qualquer. Não estou aqui a fazer nenhuma referência particular ao comportamento desviante do Chico nestes debates do que outros também tiveram. O ponto principal é que, de facto, o debate, o estilo de debate, aquele nível, pareceu me muito pouco profundo, muito pouco científico, muito mais interessado em ganhar a luta do soundbite do que propriamente em refletir e encontrar soluções para problemas do país. 00:55:19:05 – 00:55:47:02 . Apetece me provocar te Como é que alguém que é um hiper racional que gosta de pensar as coisas com con, com com pés e cabeça ao mesmo tempo, eu vejo a fazer, enfim, figuras numa bancada de um estádio de futebol. Convém apoiar o teu Benfica Benfica. Mas eu costumo dizer às vezes as pessoas veja, eu tenho a noção que tenho a perceção pública de ser uma pessoa de direita. 00:55:47:04 – 00:56:05:19 . Apesar de não ser português, não sou uma pessoa de esquerda, não sou desta esquerda louco. Acho que esta esquerda avariada foi uma das piores coisas que aconteceu a civilização humana e nos Estados Unidos estamos a ver isso, muita dessas consequências. Portanto, tu és um economista liberal, um liberal de esquerda, um liberal de esquerda. Nós somos quatro no país. 00:56:05:21 – 00:56:29:11 . Sou eu. Acho que eu correria. Eugénia Galvão Teles e Sérgio Sousa. Não há mal grupo não tem nada a ver. Um grupo de pessoas por quem tenho uma admiração profunda. Mas má. Mas pronto, existe essa perceção pública que me sou de direita. Mas eu costumo sempre dizer eu não sou de um partido, sou do outro, Eu sou do Benfica e a minha ligação ao Benfica é emocional, é tribal. 00:56:29:13 – 00:56:46:05 . E eu não quero saber se o Benfica joga bem ou mal. Eu quero que eles ganhem. Se ganharmos com um golo no último minuto em fora de jogo, não é maneira mais honrada de ganharmos. Que se lixe. Quanto à questão política, eu não sou assim. Eu, a minha família é um bocado do PS, como eu sou do Benfica. 00:56:46:07 – 00:57:10:01 . E eu confesso que até 2015, 2018 votei sem pés, quase sempre pés, mas. Mas de facto aquilo que aconteceu depois com a pandemia, minha vacina contra o PS e estou chateado com o PS porque também é de facto eu perceber que Portugal tem um potencial brutal e que do ponto de vista das políticas económicas, dá constantemente tiros nos pés. 00:57:10:03 – 00:57:34:20 . Custa me porque eu acho que nós queremos ter uma vida melhor que aquela que temos no futebol. E tudo é racionalidade e paixão a favor, apesar de eu também já ter tido contribuições mais da parte corporate, não é? Eu produzi um estudo em colaboração com movimentação de sócios sobre o processo de negociação centralizada dos vivos, que é um tópico bastante quente e que eu contribuo enquanto académico. 00:57:34:20 – 00:58:16:04 . Não foi enquanto adepto, tenho feito outras contribuições noutras áreas, tudo de alguma forma apaixonado pelo dirigismo desportivo. Mas um candidato. Aliás, nas últimas eleições do Benfica a vice presidente, é possível que volte, volte a estar envolvido num processo eleitoral para apoiar o Benfica no futuro, precisamente porque a vida é tão chata quando para a fazer uma coisa. E eu acho que cheguei a um ponto da minha vida em que acumulei um conjunto de competências e de conhecimentos e de mundo que acho que posso fazer uma melhor conjugação entre aquilo que me apaixona do ponto de vista intelectual e daquilo que me preenche do ponto de vista emocional. 00:58:16:06 – 00:58:21:10 . E eu acho que o Benfica, por exemplo, seria uma dessas opções, Pedro brinca. Muito obrigado, Obrigado. https://vimeo.com/1041738768/c9883370f5…
Há 2024 anos nasceu Jesus. Assim reza a história e tradição cristã. E hoje ainda vale celebrar o natal? Hoje, temos uma conversa que promete iluminar muitos aspetos da nossa existência e nos levar a refletir sobre questões essenciais da vida, da fé e do mundo em que vivemos. Da fé, mas não só. O convidado é o Padre Miguel Vasconcelos , capelão da Universidade Católica de Lisboa, Alguém que se sonhou engenheiro e acabou a ser ordenado sacerdote, O Padre Miguel consegue explicar coisas tão complexas e misteriosas como a fé em três frases. Nesta conversa, exploramos o significado do Natal, mas também muito mais do que isso. Falamos de como, em tempos de escuridão – sejam eles conflitos no mundo, crises pessoais ou simples dúvidas existenciais —, o Natal pode ser uma luz. Não uma solução mágica para os problemas, mas um convite a acreditar na possibilidade de recomeçar. Discutimos o simbolismo do presépio como uma mensagem de vulnerabilidade e esperança, que nos desafia a sermos mais humildes e disponíveis para o outro. Mas não paramos por aí. Entramos também numa questão central: Deus. A ideia de Deus. Deus existe? Quem é Deus? E como lidamos com a dúvida, o silêncio ou até mesmo a sensação de abandono em momentos difíceis? Miguel Vasconcelos reflete sobre a complexidade desta relação, reconhecendo que a experiência de Deus é tanto transcendente quanto profundamente íntima. É um diálogo constante entre o que é infinitamente grande e aquilo que é infinitamente pequeno em nós. Há também espaço para uma reflexão sobre o papel da religião no mundo contemporâneo. Falamos de como, muitas vezes, a fé é vista como algo distante ou solene, quando na realidade está profundamente ligada à celebração da vida e até ao riso e à festa. Questionamos se a religião é um caminho de respostas, ou antes, um espaço para levantar as grandes perguntas da existência. Para o Padre Miguel, a fé não elimina a dúvida; pelo contrário, vive ao lado dela como um motor de busca e de encontro com o eterno. E claro, sendo o Padre Miguel um orador experiente, quis ouvi-lo sobre a arte de comunicar em público. O que significa falar de Deus para uma audiência, ou mesmo escutar as dores e os dilemas de alguém no confessionário? Para ele, a chave está na honestidade – seja na palavra ou na escuta – e em nunca transformar a mensagem num espetáculo, mas antes num ato genuíno de serviço. Este é um episódio sobre humanidade, espiritualidade e a busca por sentido, que promete trazer não só respostas, mas também muitas perguntas para refletirmos juntos. Feliz natal para todos.Até para a semana. LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO 00:00:00:11 – 00:00:30:24 . Viva Miguel Vasconcelos, padre de vocação, capelão da Universidade Católica de Lisboa. Estamos em tempos de Natal. Como é que ainda faz sentido celebrar o Natal? Como nós celebramos? Então, antes de mais, olá! Vão estar aqui sim, e acho que faz sentido. Será o Natal. E acho que nos tempos em que passamos, nos tempos que atravessamos, estava ainda seja mais evidente por que é importante celebrar agora o Natal. 00:00:31:01 – 00:00:58:16 . O mundo parece escuro à nossa volta. A gente vê as guerras. Estamos críticos, por assim dizer, às vezes sem grande promessa de melhoria. Vemos as flores e sonhos políticas e por aí fora. Vemos, enfim, tantos problemas que tive aqui elencar os que os que estão na moda, por assim dizer. Mas também sabemos que há muitos problemas mais discretos que que foi que preocupam a vida das pessoas e que afrontam a vida de qualidade de muitas pessoas. 00:00:58:18 – 00:01:26:20 . E acho que isso é um. Estes tempos são tempos em que a gente passa algum tempo a pensar o mundo parece escuro, mas também acho que é verdade que precisamente num contexto de alguma escuridão, a luz interessa nos. E eu penso que o Natal tem esse poder, tem essa capacidade de devolver alguma luz aos dias, os dias em que estamos, não que magicamente Deus vai resolver os problemas das pessoas, mas porque há uma alma expressa e sobretudo em quem tem fé. 00:01:26:20 – 00:01:54:22 . Mas eu acho que extravasa uma questão de. Extravasa meramente as questões da fé e é uma possibilidade de acreditar que as coisas podem recomeçar e que sermos todos postos diante da cena do presépio, com o recém nascido indefeso que se põe à mercê do que lhe quiserem fazer, é um motivo de esperança, é uma ideia de humildade que ali está desenhada, de humildade e de indispensabilidade. 00:01:54:22 – 00:02:21:06 . Estou no meio de agressividades que vemos à nossa volta. Está ali alguém indefeso. E eu penso que esse contraste, confrontarmos com esse contraste, como acaba por acontecer sempre no Natal, faz nos bem num mundo talvez difícil, agressivo, pesado. De repente, pormos os olhos numa criança recém nascida, indefesa, como dizia há pouco, à mercê do que lhe quiserem fazer oferecida, disponível. 00:02:21:08 – 00:02:39:07 . Acho que esse contraste tem força. O que que o que que é esse presépio? O presépio nos pode ensinar sobre a liderança e sobre a empatia do mundo e da cidade moderna? Eu não sei dizer o que é que o presépio pode ensinar de liderança, porque acho que o presépio o ensine sozinho. Mas porque está Papa, Parece que estamos. 00:02:39:11 – 00:03:08:07 . Estamos ao contrário, porque essa mensagem de vulnerabilidade, de humildade, de possibilidade, de optimismo, parece quase que o contraste parece agrilhoada com o mundo dos tanques, com o mundo do discurso agressivo, com o com o o mundo, com o mundo em que é o outro pelo próximo para para ganhar um melhor lugar. Eu lembro me esse propósito dos primeiros tempos do Papa Francisco, quando ele foi eleito Papa. 00:03:08:09 – 00:03:39:10 . Aqueles primeiros meses, primeiros primeiros dias, primeiras semanas, primeiros meses. De alguma maneira isso foi continuando. Mas nós, naquele tempo tivemos um de repente, uma quantidade de sinais e de gestos, de simplicidade, de humildade também de uma pessoa sem medo de expor as suas próprias vulnerabilidades. E isso foi absolutamente atrativo e um modelo de liderança absolutamente extraordinário. E por isso acho que o presépio, acho que o Papa se inspirou no presépio, por assim dizer, no quis também este Papa. 00:03:39:12 – 00:04:00:06 . Ele esteve cá agora nas Jornadas Mundiais da Juventude, esteve na organização também teve algum contacto mais próximo com o Papa aqui na jornada? Não. Especialmente. Quer dizer, tive um contacto muito evidente porque eu sou cristão de Universidade católica e o Papa visitou a Universidade Católica. Já fez uma carga de trabalhos, mas ainda não conhecia esse trabalho e por causa é sempre bom trabalhar. 00:04:00:08 – 00:04:22:14 . Mas. Mas o Papa foi lá encontrar se com os universitários, não apenas com os da Universidade Católica, mas com todos. E é esse. É por isso de síntese, esse momento de alguma proximidade. Mas quer dizer não, não, não foi. Não conversei com o Papa, Não, não tive. Se não tivesse bastante. Isso aconteceu em 2017, que nos teve cá em Fátima, mas desta vez não. 00:04:22:16 – 00:04:47:08 . Ainda assim, acho que a simplicidade que nós lhe reconhecemos eu lembro, evoco e acho que é bom. Trazemos à memória sobretudo aqueles primeiros meses do pontificado do Papa Francisco, porque foram cheios, preenchidos de sinais. E eu penso que o tipo de sinal que ele está é próprio do tempo do Natal, da simplicidade diante da complexidade e, curiosamente, uma simplicidade que não é superficial. 00:04:47:10 – 00:05:10:17 . O Natal é uma coisa simples, mas profunda. Às vezes nós temos uma certa tendência em ser simples e superficiais ou profundos, mas não tenho complexos. O que é que é o Natal? É ali essas duas coisas. É que o Natal é, sem grandes dúvidas. Em primeiro lugar, o Natal é para de uma maneira mais evidente possível, um nascimento de Jesus Cristo. 00:05:10:19 – 00:05:35:24 . E eu sou padre e acho que é a partir daqui que sou chamado a falar que a partir desta festa, desta consciência clara, que sou chamado a falar e isto tem impacto, é o rasto que aquela pessoa nascida há 2000 anos dá. 2024 anos deixou na história de impacto e por isso, hoje o Natal de alguma maneira capta também e agarra também o impacto que aquela pessoa teve a longo da história. 00:05:36:01 – 00:06:16:02 . E eu penso que hoje ser cristão é, obviamente, reconhecer nesta pessoa de Jesus uma visita de Deus, uma visita do infinito e do Eterno, uma visita do que extravasa o nosso mundo meramente material. E, portanto, obviamente, o Natal passa por isso, por um encontro com o definitivo, com o Eterno, que é uma coisa que às vezes nos faz estremecer, mas que me parece que faz de nós mais pessoas e de alguma maneira, parece me que a experiência da simplicidade do Menino Jesus, que vai indefeso e é uma experiência que nos pode ajudar a refazer a confiança em Deus nos nossos tempos, não muito popular, pelo menos aqui nas nossas bandas, por assim dizer. 00:06:16:04 – 00:06:41:13 . Mas, mas refazer a confiança em Deus é poder poder saber que se pode confiar no Eterno, que se pode confiar no definitivo. É porque o definitivo tem um rosto. Isso parece me significativo. Nós celebramos o Natal provavelmente em dois planos um muito interessante e recompensador, que é essa ideia da família ou da familia e de estar com pessoas de quem gostamos muito. 00:06:41:15 – 00:07:11:22 . Mas, por outro lado, aliamos isto a um espírito de Natal, a um desenfreado consumir, de comprar todos os presentes do mundo, como se isso fosse absolutamente fundamental para aquele momento. Sim, o que é que se passa? Então eu reconheço que o consumismo é uma coisa excessiva, mas eu devo dizer que não embarco muito na onda de quem acha que presente é uma coisa que extravasa o espírito do Natal. 00:07:11:22 – 00:07:39:17 . Porque não acho isso. E posso dar um exemplo Tenho dois sobrinhos agora nascidos há um ano e pouco e a maneira de expressar do amor que se tem por uma pessoa é também dar lhe alguma coisa. E eu penso que se esse for se for para isso, que o consumo, então esse consumismo não chega a ser consumismo e é bom e justo e verdadeiro e traz bem e é uma espécie de materialização dum emoção. 00:07:39:17 – 00:08:02:03 . Nós, nós temos corpo e portanto nós também nos relacionamos através da matéria e dos acontecimentos da carne e acho que sim, acho que tem essa lógica, acho que tem essa lógica. Claro que o consumo em excesso e em excesso, mas o problema é o excesso. Não parece que seja nós fazermos festa. E aí essa coisa está boa, que é quando vamos comprar essa prenda, esse e esse presente. 00:08:02:03 – 00:08:33:18 . Estamos a pensar naquela pessoa e naquilo que pode ser interessante. O que é que ela vai sentir quando? Quando pode receber uma dádiva? Nossa, Pensei. No fundo, acho que tem esse significado e tem o significado de querer valorizar a amizade que tem, o amor que está em pessoas, seja por quem for. Valorize se isso. Não se pense que não estamos a reduzir a amizade, aquela coisa material que se dá, mas estamos a valorizá la, Estamos a levá la a sério e eu gosto disso. 00:08:33:20 – 00:08:54:22 . Eu acho que a simplicidade de falar do Natal coabita bem com a ideia de fazer festa. E eu acho que isso é uma coisa que nos faz falta nos dias que passam, que fazer festa, de sermos capazes de nos alegrarmos verdadeiramente. E penso que na medida em que os presentes do Natal contribuem para isso, são uma coisa boa. 00:08:55:03 – 00:09:15:20 . O excesso é sempre mau em qualquer coisa isso não funciona. A figura do Pai Natal vem atrapalhar ou complementar o Menino Jesus? Eu acho que não atrapalha. Quer dizer, posto no seu lugar, não atrapalha o Pai Natal é inspirado na figura do São Nicolau, que dava às pessoas que tinham falta no tempo dele, que eu honestamente não conheço, especialmente na história. 00:09:15:24 – 00:09:52:00 . Era um velho generoso, portanto. Exatamente. Era um homem bom, que cuidava, que dava o que podia a quem precisava e para os que depois da coca cola, Jesus fez das suas, por assim dizer, e tornou o Pai Natal mais figura mediática, vestido de encarnado e branco. Mas, de qualquer maneira, eu penso que pôs no seu lugar na outra para ouvir há uns anos o Ricardo Araújo Pereira fazer uma reflexão sobre ele, sobre a Igreja e sobre e sobre a seriedade da Igreja com com uma declaração que é Deus não ri e que ri, que castiga quem ri, quem riu, quem der mais. 00:09:52:02 – 00:10:18:09 . E agora estou a ouvi lo. Estou vindo falar de Estou ouvido falar de festa e de e de celebração. Há aqui um contraste. Devo dizer que estive à conversa com o Ricardo na apresentação de um livro esta semana. Por isso tenho essa frase fresca porque falámos precisamente sobre isso e digo que lhe disse aquilo que é a experiência da Bíblia. 00:10:18:09 – 00:10:50:11 . Quando a gente lê os Evangelhos, vê a pessoa de Jesus, vê a história do povo de Israel. É uma experiência preenchida de festa. Aquele povo é o que? O que os Evangelhos nos relatam da vida pública de Jesus é uma vida cheia de festas. Jesus está permanentemente em banquetes, a comer e a beber, quer dizer, O1A1 passo dos textos do Evangelho em que dizem que Jesus tinha massa e que o próprio Jesus diz Há quem considere alguma coisa deixar alguém. 00:10:50:12 – 00:11:10:23 . Considere que eu tenho má fama por a vinha. João Batista. Ao contrário, há quem considere que eu sou um glutão e um ébrio, porque comigo vinha João Batista, que não comia nem bebia e de repente isso era um problema. E agora vem, venho eu que come, bebe. Dizem que eu sou um glutão e um ébrio a lamentar se um bocadinho por causa disso, convencido que. 00:11:11:00 – 00:11:38:09 . Associada a essa ideia de fazer festa, está o riso. E por isso eu não tenho grandes dúvidas que Jesus riu. Mesmo que os evangelhos não explicitem que isso tinha acontecido. Percebo. Ainda assim, percebo o que diz o Ricardo Araújo Pereira, porque, de facto, nós associamos a religião a uma experiência de solenidade e solenidade, uma maneira talvez não muito, não muito habitual nos nossos dias, mas a solenidade é uma maneira de fazer festa, uma festa diferente. 00:11:38:09 – 00:12:10:10 . Não é besteira, mas tem uma dimensão de grandeza. Claro que uma coisa é outra de ser. Parece me que é preciso equilibrar uma coisa e outra e talvez isso tenha sido uma. Talvez nós, cristãos, tenhamos tido uma certa dificuldade para fazer essa, essa contribuição, mas voltar às origens, e foram os evangelhos. Eu não tenho grandes dúvidas que a experiência da festa está presente e aquela que não só se sai e sai incompleto do Deus que é castigador, do Deus que diz não pecará este Se pecados vais para, vais para o inferno, vais para o purgatório. 00:12:10:12 – 00:12:32:01 . Então deixe me responder E essa pergunta de duas maneiras. A primeira, de maneira a minha experiência pessoal de relação com a fé e com Deus nunca teve isso e eu nunca experimentei isso. Nunca tive uma catequista que me tivesse posto as coisas nesses termos. À medida que me fui envolvendo demais na vida da igreja, nunca encontrei esse ambiente, por assim dizer. 00:12:32:03 – 00:12:57:24 . Mas eu sei que ele existe. Queria dizer a minha vida pessoal não passou por um contexto na igreja, onde houvesse nesse ambiente um certo temor de um Deus castigador. Mas sei que isso existe na igreja. Também sei que se existe na Bíblia, a gente lê os textos bíblicos, sobretudo do Antigo Testamento, e Deus aparece muitas vezes, para não dizer castigar, a mostrar as consequências de quem está a mostrar o que acontece de negativo a quem se afasta de Deus. 00:12:58:02 – 00:13:20:14 . Até se fala do último julgamento. Não é um julgamento. Sim, apesar de tudo, acho que o julgamento é uma coisa bem diferente disto. Mas podemos ler daquilo que era ainda assim, porque não é isto. Por que não parece que esse último julgamento tem como objetivo castigar? Mas é verdade. O povo de Israel no Antigo Testamento, aquele povo que Deus escolhe, experimenta muitas vezes a ideia de um Deus castigador. 00:13:20:14 – 00:13:51:15 . Mas eu, eu dou lhe a perspetiva que aquele que tem o cristianismo sobre o seu passado ou sobre o passado judaico, onde quando entronca com o passado do Antigo Testamento, é que a experiência de um povo que está a conhecer Deus e que não o conhece com perfeição, logo à partida vai conhecendo, vai se habituando, vai captando cada vez mais acerca dos traços da personalidade, vai ouvindo aquilo, Deus vai ouvindo melhor e de alguma maneira na figura de Jesus. 00:13:51:17 – 00:14:12:00 . E por isso o tempo cura tudo vem ter um propósito e um tempo para falarmos sobre isto é, na figura de Jesus, esclarece se de uma maneira definitiva Afinal, quem é que vemos? É, é. E o que nós vemos em Jesus não é um castigo nem uma atitude castigadora, antes pelo contrário, é uma atitude séria, justa. Mas não é só flores e borboletas, por assim dizer, apesar de tudo. 00:14:12:02 – 00:14:42:06 . Mas não é um castigo. Jesus na cruz pergunta ao Pai O que é que me estás a fazer? Porque é que está tão radical? Sim, porque abandonaste um exemplo com castigos. Parece me que Jesus se objetivo, por assim dizer, se a finalidade do Natal, da visita de Deus à nossa natureza, era experimentar por dentro tudo o que experimentou O ser humano, isso implicaria experimentar também o abandono do próprio Deus. 00:14:42:08 – 00:15:10:20 . Eu não acredito que Deus Pai tivesse abandonado Jesus, mas acredito que Jesus experimentou até às últimas consequências o que significa esse abandono? Porque era porque era esse o objetivo, isto é, os diversos fermentar e abraçar tudo o que são as feridas humanas. E isso implica implicava, implicou, abraçar também o abandono. Isto é, a pergunta óbvia que alguém como eu, não crente, ou aquele que nega a crença. 00:15:10:20 – 00:15:40:12 . E essa ideia de Deus é mais formidável criação da imaginação humana. No fundo, é o Deus. Deus existe. Eu acho que essa é a pergunta que que que que eu não consigo responder a essa pergunta sem me lembrar da resposta que deu exactamente a mesma pergunta. O antigo Patriarca de Lisboa Vamos aplicar o que diz ele? Perguntas. Porque a melhor resposta para ser é. 00:15:40:14 – 00:16:20:00 . Mas. Mas respondendo agora, talvez como é que se pergunta a Deus? Isso é virar se para ele e perguntar com simplicidade Quer dizer, eu louvo de qualquer maneira. Mas a experiência de fé expressa de uma relação com Deus. Eu estou convencido de que há, obviamente, um caminho da humanidade à procura de mais a procura de respostas para a sua morte, à procura de respostas para fora, para esta sensação de provisoriedade, provisoriedade que que nos habita e que é que é que todos atravessamos, por assim dizer? 00:16:20:02 – 00:16:50:16 . Mas eu estou convencido que é essa, esse caminho humano de procurar o infinito, dar lhe um nome, um rosto. Acho que Deus dar uma resposta a isso. Ou seja, estou convencido de que nos que Deus se encontrou connosco a meio caminho. Por isso, sim, há na experiência religiosa criação humana. Nós criamos alguma coisa da experiência religiosa, mas eu estou convencido de que essa nossa criação foi respondida pelo tipo, pelo definitivo e pelo Eterno a que chamamos Deus. 00:16:50:18 – 00:17:13:18 . Como é que se. Como é que se lida com a dúvida nos momentos em que em que alguém olha e há esse diálogo com Deus e ele não é dentro do lidar com o silêncio de Deus, é uma coisa séria e não é fácil. Mas também a vida adulta não é, não é para quem quer coisas fáceis. Acho que são duas coisas diferentes a dúvida e o silêncio. 00:17:13:18 – 00:17:46:11 . Às vezes eles interceptam se, por assim dizer, mas eu penso que a dúvida é a posição mais honesta. É partir da dúvida, porque há o limite ao limite, ao limite. Crentes e não crentes, temos todos uma. Partimos todos numa mesma pergunta que eu. Acho que se pode formular desta maneira como o Cardeal Ratzinger, ainda antes de ser Papa, antes de ser o Papa Bento 16, escrevia que será que este mundo, que existe, este mundo de que os nossos, as nossas mãos tocam os nossos olhos, vêem que a ciência estuda? 00:17:46:13 – 00:18:12:22 . Será que este mundo que existe é tudo o que existe ou há mais alguma coisa? E dentro desta pergunta, crentes e não crentes tem uma sustém a sua posição filosófica, por assim dizer, filosófica ou teológica. Eu posso dizer não, eu acho que não há mais nada para além deste mundo que existe e por isso sou ateu. Ou posso dizer acho que este mundo que existe não é tudo o que existe e pode haver mais é o Esqueça essa pergunta que no fundo é a pergunta da dúvida. 00:18:12:24 – 00:18:35:08 . É o nosso ponto comum e eu estou convencido de que levar a sério essa pergunta, independentemente daquilo que lhe respondo, se responde por um lado ou se responde para o outro, levar a sério essa pergunta é a existência humana em ato, em acontecimento também Isso que a vida serve para nos dedicarmos a responder essa pergunta. Nesse diálogo há um Deus transcendente, um Deus íntimo. 00:18:35:08 – 00:19:01:21 . Parece me que é isso. Como é que se consegue equilibrar precisamente esse infinitamente pequeno daquilo que está dentro de nós, com esse infinitamente grande e total de uma vida? E aquilo que é uma ideia de um Deus que tudo responde Não se não se concilia, vive se estas coisas. Não só se está em uma constituição filosófica muito evidente. 00:19:02:00 – 00:19:22:05 . Quer dizer, os filósofos e os teólogos dão ao trabalho de trabalhar esse assunto e têm respostas e propostas de caminho. Isso não é absurdo, é que é. Vale a pena pensar nisso e vale a pena falar sobre isso. Não tenho grandes dúvidas acerca disso, mas. Mas na experiência de todos os dias, que é há milhões de pessoas com fé pelo mundo fora. 00:19:22:07 – 00:19:46:18 . E não são todos nós somos todos filósofos, por assim dizer. Nós, os que temos fé e, portanto, parece me que no dia a dia, a experiência pessoal e a experiência de uma relação e por isso sim, pessoal e íntima um Tu, a tua verdadeira, é que te é tão verdadeiro e tão honesto quando formos quanto formos capazes, sendo que isto obviamente implica o nosso interior. 00:19:46:18 – 00:20:15:17 . E às vezes nós temos dificuldade em ser honestos com o nosso próprio interior, porque vamos cá encontrar coisas que preferíamos que não estivessem cá. Faz parte também do nosso próprio crescimento e da maturidade humana. Por isso acho que há essa experiência. E depois há um certo estarrecimento diante do Eterno, diante do Absoluto. E eu penso que mesmo as pessoas menos filosóficas, por assim dizer, pessoas para quem as ideias intelectuais não são o seu espaço de manobra preferido. 00:20:15:17 – 00:20:52:09 . E mais não é para o momento. A água onde são, onde mergulham. Mesmo essas pessoas, acho que acho que é inerente à condição humana alguns desses estarrecimento. E eu penso que essas coisas, mais do que querer resolver, explicar, elas vivem com a inteireza da pessoa, não num não numa lógica de não penso, não explico, não quero saber, mas numa lógica de que quem sabe que as palavras e o pensamento que deve ir o mais longe possível da investigação filosófica teológica, deve fazer o seu caminho. 00:20:52:09 – 00:21:15:24 . E ainda bem que há teólogos e filósofos a fazer isso, mas mas que tragam na consciência de que também não é a explicação lógica de tudo que explica a minha vivência. Quer dizer, nós vemos o santo. Nós somos herdeiros de uma certa atitude iluminista científica e bem, porque dá muito jeito ter um telefone que dá para ver o outro lado do mundo mesmo. 00:21:15:24 – 00:21:40:07 . Segundo, mas é essa lógica meramente racional também não nos explica o valor de uma amizade, Também não nos explica a beleza na arte e por isso esta sensação de que há aqui mais qualquer coisa não é apenas uma sensação, é uma experiência existencial. Se um cientista provasse agora a existência de Deus, isso tornaria a fé mais forte ou mais fraca. 00:21:40:09 – 00:22:10:01 . Muita dificuldade com isso. Se porque o cientista não vai provar a existência de Deus? Eu não posso. Não posso dizer, porque acho que é por aí que vai perguntar. Eu, na minha experiência, nunca vi uma oposição entre fé e razão. Nunca atravessei isso. Aliás, eu estudei engenharia no Técnico durante cinco anos. Tive uma humana desde o secundário que a minha cabeça, por assim dizer, estava mais orientada para as ciências exatas e para a física e para a matemática. 00:22:10:03 – 00:22:33:14 . É que o engenheiro depois se descobre padre e diz Aqui está a minha vocação. O que que é isso de vocação? Como é que se descobre isso? A vocação tem a ver com a certeza, com a consciência, que, dentro da relação com Deus, é o que eu sou, também se esclarecem, ou seja, aquilo que eu sofro duramente não é apenas o que me acontece ser, mas o que eu sou verdadeiramente, esclarece. 00:22:33:17 – 00:22:52:22 . Na relação com Deus, eu acho que descobrir a vocação é esse processo de esclarecimento. Não é que Deus mude o que eu sou, não é que Deus tenha para mim umas ideias diferentes daquilo que eu sou e que é a relação com Deus que vai esclarecendo a verdade acerca de mim. E por isso penso que vocação, isso é verdade. 00:22:52:24 – 00:23:15:23 . E eu tenho uma pergunta que é muito prática, que é como é que alguém que um dia de manhã ou à tarde ou à noite não interessa, tem essa primeira ideia que é eu vou dedicar me à missão de Deus e da Igreja Católica. Depois discute isto com quem conversar? Com quem? Que? Como é que isto aconteceu? Não há uma fórmula que seja igual para todos nós. 00:23:15:23 – 00:23:43:23 . Quis contar a minha experiência e para mim o que fez diferença foi que eu me fui envolvendo na vida da igreja, com campos de férias, com a vida na paróquia. Eu sou do Estoril e por isso fui crescendo ali perto da paróquia e isso foi também nesse lugar e nesse contexto que os meus amigos e as suas amizades que que as principais amizades que duram até hoje desses tempos são desse contexto, Não todas, mas, mas muitas delas. 00:23:44:00 – 00:24:06:01 . E de repente, a vida da Igreja tornou se casa para mim. E isso é um muito significativo. Claro que isso não significa ser padre, significa simplesmente querer levar a sério a vida, a vida cristã. Agora, com o passar do tempo, eu fui percebendo e fui experimentando que o meu é a minha vida, é envolvido na vida da igreja. 00:24:06:03 – 00:24:28:08 . Me fazia muito mais sentido do que outra coisa qualquer. Mas depois há um momento zero, há um momento em que passa a ser a sério, deixa de ser uma ideia, uma projeção, uma casa. E é bom. A partir deste momento vai ser ordenado padre e, portanto, aí muda tudo. Ou não. As coisas vão mudando porque não foi ordenado padre um dia para o outro. 00:24:28:08 – 00:24:56:20 . Claro que o dia da ordenação é um dia decisivo e antes da ordenação eu não era padre. Depois da revolução, passei a ser o que se pensa nesse mesmo dia a minha vida. É preciso muita coisa, pois um dia eu passei por uma experiência bonita. Eu não sou muito dada a grandes grandes emoções nem lamechices meus, mas vou parar aí agora, porque eu fui ordenado na Igreja nos Jerónimos, a Igreja de Santa Maria de Belém, que é comprida como imagem. 00:24:56:20 – 00:25:22:06 . Conheça. E nós entramos na Igreja, vindos lá do fundo e com o grande cortejo com os acólitos, outros padres, no fim, os bispos e. E à medida que avançamos pelo corredor central da Igreja e vendo nas pessoas que lá estavam nessa mesa uma quantidade de gente que tinha atravessado a minha vida noutras épocas e de alguma maneira, foi um certo reconstruo reconstituir da minha vida toda. 00:25:22:06 – 00:25:42:19 . Porque? Porque vi a minha professora primária e depois vi que já não via não sei quantos anos perdi mais isto e mais aquilo. Os amigos do secundário, os amigos daqui, os amigos dali e a família e estas e da jornada. Lembro me perfeitamente dessa experiência ser claramente a minha vida desembocar aqui. Isso foi bonito, foi uma experiência bonita que eu posso contar. 00:25:42:21 – 00:26:15:15 . Em termos práticos. Eu penso que a grande vantagem de ser padre é que, se me permite lutar, lutar todos os dias contra uma coisa que é muito tentadora, que é muito tentadora e a gente vê muito à nossa volta que fazer da nossa vida uma coisa em que nós somos a personagem principal e hoje em dia popular. Essa ideia do self-made man que me construiu a mim próprio, que faço a minha vida acerca de mim próprio e corremos o risco de usar uma expressão que não é minha, mas que eu gosto de viver. 00:26:15:17 – 00:26:41:20 . Uma vida em que eu realizo o meu filme. Sou personagem principal, o realizador, o produtor, quem trata dos figurinos, quem faz a iluminação e tudo o resto. E devo dizer que uma vida meramente fechada no que eu sou e nos meus desejos, por muito grandes que sejam meus desejos, me parece uma vida muito, muito, muito aborrecida e muito fechada, muito curta, muito pequena e por isso a possibilidade de ser padre foi uma graça que Deus me deu também por causa disso, porque eu sou obrigado, quer queira, quer não. 00:26:41:22 – 00:26:59:02 . Porque eu reconheço que é atrativo fazer da nossa vida uma coisa sobre nós, mas eu sou obrigado, quer queira quer não, a lutar todos os dias contra isso e a fazer da minha vida uma coisa sobre eu e sobre os outros. E ter essa possibilidade para mim é meio caminho andado para a minha vida ser feliz. Porque eu não acredito numa felicidade que fosse fechada a mim próprio. 00:26:59:05 – 00:27:29:20 . É uma forma jura de serviço público permanente aos outros, à comunidade, enfim, é um apagamento do seu próprio desejo individual. Não acho que seja apagamento. E eu demorei algum tempo e tive algumas, algumas lutas comigo próprio e com Deus no tempo do seminário, precisamente com isso, porque essas são à primeira vista, parece que ou eu sou de Deus ou eu sou eu próprio e é um caminho intermédio, não é um caminho intermédio. 00:27:29:20 – 00:27:55:03 . É que as duas coisas não são, não são opostas, não são mutuamente exclusivas. Elas não concorrem. E elas podem não ser só isso. Não é uma competição. E isso me foi. Foi importante perceber que a vida de serviço é disponível para os outros, que eu não posso dizer que tenho, porque, infelizmente, há muito egoísmo e muito autocentramento em mim mesmo, mas que pelo menos faço o possível por tentar ter uma vida de serviço e de missão. 00:27:55:05 – 00:28:16:02 . É o lugar onde eu encontro o que eu sou de verdade. Isso é que faz a diferença. Mas a parte da pequena vaidade humana não faz de nós também humanos. Lá está, um bocadinho mais longe dos deuses. Faz de nós humanos e por isso eu percebo que seja atrativo. Mas a minha descoberta e de alguma maneira aquilo que eu vivo é que é a maneira como me faz sentido viver a vida. 00:28:16:07 – 00:28:35:23 . E devo dizer como eu reconheço que anda toda a gente. Se me perguntar, é precisamente o contrário, É inverter essa lógica de achar que eu sei viver em função de mim próprio. Aí é que eu vou ser feliz, vou realizar os meus desejos e eu percebo que isso é atrativo e parece e é instintivo. Nós temos um certo instinto de sobrevivência que nos faz virar para dentro. 00:28:36:00 – 00:29:06:24 . Mas aquilo que que a tradição cristã me ensinou é que eu descobri existencialmente, é que a nossa vida é francamente mais aberta, mais feliz e mais inteira quando se faz da vida uma coisa sobre Deus e sobre os outros e isto é difícil. Quer dizer, eu estou a dizer isto com a certeza absoluta de que eu não vivo isto com perfeição, nem pouco mais ou menos, mas passar a vida a lutar nesta direção tem sido uma ocasião de uma possibilidade de viver muito feliz. 00:29:07:01 – 00:29:38:00 . Para alguém que tem que falar de Deus. Muitas vezes é exactamente nesse cruzamento entre o que é o serviço, o que é que é vaidade. E estou a pensar em mim, muito em particular no discurso público, nas homilias lindas e nos sermões. Portanto, aquele momento em que eu fico sempre fascinado quando vejo alguém falar bem, mesmo num num palco, num púlpito, é uma coisa que me fascina, que é quando nós vamos para cima, para um púlpito, quando nós estamos a falar a uma assembleia, estamos a falar dentro de uma igreja. 00:29:38:02 – 00:30:08:13 . Como é que esse momento, o que é, O que que se sente exactamente nessa bifurcação entre o que é que é serviço e o que é a sua vaidade pessoal de fazer aquilo. Uma magnífica homilia. Um magnífico. Ironicamente, ironicamente, se eu for fazer uma homilia que já aconteceu, preocupada em sair me bem, isso vai me fazer estar de tal maneira consciente de mim próprio que isso me bloqueia e vai ser irmão. 00:30:08:19 – 00:30:34:23 . É preciso uma irresponsabilidade e eu estou convencido disso. Pelo -1 certa dose de inconsciência, porque eu não falo como exemplo. O meu exemplo Tenho que ficar calado. Vou falar com minha consciência porque faço o possível por dizer coisas em que acredito e de propor maneiras de ver em que acredito. Mas. Mas eu tô convencido de que, pelo menos. 00:30:35:00 – 00:31:05:16 . Enfim, cada padre e cada pessoa que fala em público terá a sua experiência. Mas a minha experiência é que eu preciso, Eu estou exposto e se estiver preocupado em sair me bem, isso vai tomar conta daquilo tudo e eu vou bloquear. Não vou ter liberdade de pensamento. As ideias não vão fluir bem preparadas para ultrapassar as. Eu preparo me lendo os textos a partir dos quais vou falar os sons bíblicos da missa desse dia. 00:31:05:18 – 00:31:30:04 . E eles estão pré definidos. Já os textos são definidos para o mundo inteiro. Não são todos, são sempre os mesmos mesmos dias. O calendário para a Igreja de rito latino universal, portanto, é sempre igual. Assim, nos dias de. Há alguns santos que nós celebramos que têm mais a ver com a nossa história, com nossa tradição e que talvez nos Estados Unidos da América não sejam celebrar. 00:31:30:06 – 00:31:53:11 . E aí as leituras podem mudar, mas estão onde está lá o calendário do Leste leres os textos e assim vais fazer uma interpretação do leia os textos e a partir do que leio, procuro duas ou três ideias. O tempo que antigamente fazia pensava sempre em três ideias. Hoje em dia tento pensar só no modus, quer para não falar. 00:31:53:13 – 00:32:15:12 . Mas, mas é bom e é aqui um, três, três passos. O primeiro passo é isso ler os textos e perceber que há ali três ou quatro coisas que me dizem às vezes que tem a ver com a minha, como também com a minha maneira, com a minha própria história e que se encontram com coisas que já foram importantes, com ideias e com e com passos bíblicos que já foram. 00:32:15:12 – 00:32:47:18 . Portanto, para mim, alguma fase da vida. E obviamente, a minha história também está ali, mais ou menos inevitável. Mas tem essa, essa primeira fase. Depois eu faço um esforço para olhar para o mundo, para perceber onde é que vivemos, o que é que se passa à nossa volta. E é muitas vezes reconheço nas ideias chave que o Evangelho que as leituras desse dia trazem é uma confluência muito, muito evidente, às vezes menos evidente, mas mas possível de fazer. 00:32:47:18 – 00:33:07:05 . É relevante em relação ao mundo em que vivemos. Usas aquela lente, aquele texto, aquela filosofia, o pensamento. Isso e pensas no tempo, Pensas no tempo. Nunca que estamos a viver as nossas contradições. Faço um esforço por isso, às vezes não tenho imensa capacidade de fazer. Espero poder ser um leitor mais capaz da realidade. Enfim, cada um tem suas próprias limitações, Mas. 00:33:07:09 – 00:33:29:14 . Mas faço o possível por fazer muito para olhar para o mundo, não apenas na cronologia, mas no significado e no sentido do que andamos a viver. E penso que não é só pensar. Os textos bíblicos são o resultado de uma experiência de milhares de anos, de um povo e de uma e de uma igreja e por isso as nossas experiências não são assim tão originais. 00:33:29:14 – 00:33:49:14 . Vão se repetindo, a natureza humana é a mesma e depois o fermento das coisas, que é a retórica, A maneira como tu organizas esse pensamento para cativar as pessoas que estão ali, naquela para dizer eu não penso muito nisso, ou seja, a forma. Não penso muito nisso, mas não vais vendo como é que as pessoas estão a olhar, de como é que estão a ser dito. 00:33:49:14 – 00:34:17:13 . Era isso que eu ia dizer. Ficam mais felizes, ficam mais zangadas contigo. Faz muita diferença o retorno das pessoas. Toma de frente porque as pessoas estão caladas e estão a ouvir mas, mas, mas, vão, mas tem expressão, eu faço, Eu não estou a falar para uma plateia anónima falar para pessoas concretas. E é por isso reconheço na Ana, nesse retorno, no olhar, na Ana, percebo que as pessoas estão atentas ou não estão atentas. 00:34:17:13 – 00:34:24:20 . Percebe que os Clara já começam a ver que já está a pensar noutra coisa, que está na altura de eu me calar. 00:34:24:22 – 00:34:50:21 . Mas isso faz diferença às vezes. Houve uma altura da minha vida em que em que eu estava, em que eu, além de de ser capelão do Universal, de católica, também estava a ajudar nas paróquias aí em Algés, em Miraflores e na Cruz Quebrada. E às vezes tinha duas ou três missas no mesmo dia e por isso duas ou três homilias em sítios diferentes e eu reconhecia que o impacto da reação das pessoas que me estavam a ouvir mudava a maneira como eu estava a falar. 00:34:50:23 – 00:35:22:20 . Mas sim, isso é importante. Mas eu não penso muito na forma por ignorância e não é por nada, porque não, não, não estudei o suficiente para conseguir teorizar muito acerca das formas, mas. Mas percebo, eu preciso e faz toda a diferença perceber que estou a falar de uma pessoa que me está a ouvir. Lembro me de nos tempos da pandemia em que estávamos todos em casa, nós filmávamos e transmitimos em streaming as celebrações. 00:35:22:22 – 00:35:44:11 . E é muito, muito difícil falar para um computador, falar com uma lente porque não está lá ninguém. Lá ninguém. É muito difícil, não. Tinha que fazer um esforço diário e permanente para estar atento para aquilo, para conseguir. Quer parar para desenvolver isso? Isso não era em geral. Olha o que é que, o que é que foi? O que quer fazer? 00:35:44:13 – 00:36:06:01 . Lá está uma homilia ou um sermão num momento de grande festa, um de casas, uns amigos onde fazes um batismo de manhã, de uma criança, de alguém que esteja muito próximo. Esses dias são os dias mais fáceis de dizer, porque Primeiro porque a festa ajuda e as pessoas estão predispostas a estar ali, de boa disposição e com vontade de lá estar. 00:36:06:03 – 00:36:29:14 . E isso são os dias mais fácil, porque são dias de beleza e de grandeza. E é Deus tem tudo a ver com a beleza, com grandeza. Portanto, não é nada difícil fazer essas pontes e, portanto, é mais fácil ligar. Olha, o ato da fala é obviamente importante, mas depois há o ato de escuta. Por maioria de razão, o momento em que tu escuta as pessoas num confessionário nem consegues. 00:36:29:16 – 00:36:55:21 . Como é que se escutam pessoas? Então, o primeiro ponto é não querer encaixar o que as pessoas estão a dizer. Na minha própria experiência, porque é tentador nós ouvirmos e é verdade. Vamos ouvindo e vamos conseguindo nos relacionar com o que estamos a ouvir. Mas é importante fazer um esforço para não reduzir o que a pessoa me está a dizer ao que eu já vivi, porque isso deixe de estar a ouvir e passe passar mais uma vez. 00:36:55:21 – 00:37:29:04 . Estaria tudo a passar pelo filtro do eu. Isso seria bastante destrutivo ali daquela experiência. E eu penso que a linguagem verbal, mas vai sempre acompanhada pelo resto e por isso aquilo que eu me sinto chamado a fazer diante de uma pessoa que está a falar comigo é sobretudo quando começa a falar de coisas que lhe são íntimas e é nós e eu, como padre, as pessoas, porque confiam na Igreja, mesmo sem me conhecer especialmente, falam me de coisas que às vezes não falam sobre a sua mulher. 00:37:29:06 – 00:37:56:10 . E é então parece me que o grande ponto é sempre reconhecer a pessoa inteira e o que ela está a dizer. A sua expressão é tentar estar atento a isso, atento a inteireza daquela pessoa. Eu faço esse esforço, você se corre sempre vai deixa fazer esse esforço só para que me critiquem. Não, não é só para aqui uma coisa que está a fazer um ruído. 00:37:56:12 – 00:38:15:02 . Há um ruído aqui nesta mesa de mistura. Há um microfone que está para aqui a subir e a descer. Ok. Eu estava a ouvir aqui um barulho de. 00:38:15:04 – 00:38:44:11 . Alguém? Então eu estava aqui na manutenção que pode resolver isso. O.k. Voltamos. Não tem problema, não estamos. Estamos absolutamente tranquilos. Já não se deitava? Não se preocupe. Não, não. Eu repito. Não tenho. Não tenho problema nenhum. E quando as coisas que tu ouves são demasiado difíceis para tu próprio conseguires absorver e ajudar aquela pessoa. E isso acontece muitas vezes. 00:38:44:11 – 00:39:05:05 . Ou seja, eu não tenho resposta para tudo, mas também não acho que o meu papel como padre ao ouvir alguém seja em acompanhamento espiritual, seja em confissão, não me parece que seja em conversas naturais que vão surgindo. Não parece que o meu papel não parece sequer que o que as pessoas esperam de mim é que eu tenha resposta para tudo. 00:39:05:07 – 00:39:30:09 . Porque não tenho e não há. Não há resposta por tudo que a gente vê. Eu vim já, já, Já me falaram de grandes sofrimentos de tal maneira injustos e me à primeira vista sem sentido, que é muito difícil ter resposta para aquilo sobre isso não tenho grandes dúvidas, mas eu também não sinto que seja de repente da resposta das coisas todas. 00:39:30:11 – 00:39:56:04 . Eu acho que quando o assunto é especialmente difícil e doloroso, o que isso quer de mim é que é a companhia de alguém que a acompanhe naquilo. É compaixão. Compaixão e companhia são próximas. Companhia no sentido de pessoa não se sentir sozinha naquela que é o sofrimento. Uma vez posso contar uma história. Acho que não cometi nenhuma inconfidência. 00:39:56:06 – 00:40:20:23 . Houve uma pessoa que foi falar comigo que era uma pessoa que estava doente, terminal e sabia que ia morrer em meses e devia ter talvez 50, 60 anos, portanto, relativamente nova, muito nova para morrer. Certamente com filhos e preocupada. Essa pessoa estava preocupada com o que aconteceu aos filhos, etc, etc. E eu não sei lidar com isto. Quer dizer, não sei, não sei, não sei como é que se resolve isto. 00:40:21:00 – 00:40:47:04 . Não sei, não tenho que saber porque dizer não é possível ter resposta para tudo. Agora, o que fazer? Depois da nossa conversa? Essa pessoa ficou muito contente e agradeceu me muita conversa, embora eu tivesse dito muito pouca coisa e penso que esse é o ponto e não é preciso dizer nada. Eu preciso de explicar à pessoa que percebi o que ela me está a dizer, que a pessoa não está sozinha naquilo. 00:40:47:06 – 00:41:16:15 . E às vezes basta devolver à pessoa o que ela acabou de dizer. Não para fazer ricochete do género não tenho nada a ver com isso, mas para dizer eu percebi isso eu consigo. Eu não faço ideia o que é estar naquela circunstância, nesse sentido, não percebo na primeira pessoa, mas. Mas captar é tanto quanto podia captar o que a experiência dura e sofrida daquela pessoa. 00:41:16:17 – 00:41:37:04 . Isso faz com que a pessoa não se sinta sozinha. Claro que isto não é tudo. Há coisas para fazer. Às vezes é preciso recomendar à pessoa que procure ajudas profissionais na psicologia, na psiquiatria, porque eu também não sou psicólogo. Onde é que está a fronteira entre o acolhimento e ouvir aquela pessoa? E a fronteira da recomendação do Conselho? 00:41:37:04 – 00:41:55:16 . Ou o caso de uma intervenção para aquela, para que aquela pessoa tenha consciência de que, nesse caso é um caso extremo, mas obviamente que que não está a fazer a coisa certa, o que pode ainda, de alguma maneira mudar as coisas. E eu não sei do que é que as pessoas falam quando são professor. Não se salvam, são só um conjunto de tópicos. 00:41:55:22 – 00:42:33:01 . Estás à vontade. Seria um péssimo cliente? Provavelmente. Mas embora é a arte do diálogo, é um trabalho seguramente muito, muito interessante. Mas há um conjunto de tópicos um Um cardápio que tu hoje consigas dizer quais são as coisas com que habitualmente te vão bater à porta. Ou seja, têm dificuldade em fazer esse cardápio já pré estabelecido. Tenho isso na Universidade Católica e por isso também a maioria das pessoas que falam comigo são de uma faixa etária determinada, que são estudantes universitários, de que eles falam o que os inquieta. 00:42:33:03 – 00:43:06:05 . É isso que eu tenho uma visão enviesada, em que eu também por causa disso. Mas há muita ansiedade dos outros. Há coisas que são mais ou menos do conhecimento geral nos dias que correm. Muita ansiedade, muita pressão que eles próprios sentem às vezes. Às vezes é a família que põe alguma coisa dessa pressão. Mas também acho que às vezes é mais a interpretação que eles fazem do que do que vão ouvindo da família, do que porque acho que não são os pais nem os irmãos que estão a querer objetivamente pôr a pressão para que ele seja o melhor aluno que às vezes acontece. 00:43:06:05 – 00:43:30:03 . Mas isso é relativamente raro. Mas há ali uma certa, um certo desfasamento entre o que me parece ser as boas intenções das famílias. Tudo o que a pessoa estudar é que tem que ter boas notas. E como é normal os pais dizerem aos filhos e depois o peso com que muitos dos estudantes vivem isso. Isso acontece e é um falar em ansiedade, mas talvez mais do que ansiedade, o que eu vejo? 00:43:30:03 – 00:43:50:17 . Esta pressão é muita pressão, muita expectativa sobre eles. Eles têm muitas expectativas sobre os próprios à sua volta, tem muita expectativa sobre eles próprios. Claro que as pessoas são todas diferentes e eu não posso dizer que isto acontece a toda a gente, nem quero ser redutor nesse aspeto, mas isso é claramente um assunto que não estão a usufruir e a viver a vida de uma forma mais serena. 00:43:50:17 – 00:44:14:03 . Mas estão com essa, com essa dimensão, com essa pessoa. Sim, eu estou convencido que o nosso mundo tem uma velocidade que não tinha há uns anos atrás. Eu fui estudante universitário num tempo em que os telemóveis mandava mensagens, fazíamos chamadas e cresci na escola secundária, num tempo em que não havia telefones e por isso era um descanso. Sim, em certo sentido. 00:44:14:03 – 00:44:43:21 . Eu às vezes apetece me pegar, mandar para o lago com o microfone. Mas, mas a experiência, a experiência destas pessoas, destes meninos, destes universitários, dos discursos nos dias de hoje, é uma experiência de alguma saturação. O sujeito está em agendas cheias de coisas, mesmo em âmbito de fé. A vida da Igreja, na sua diversidade, oferece lhes propostas a toda a hora. 00:44:43:21 – 00:45:16:05 . É momento de hoje. É uma noite de oração não sei onde e depois é uma conferência e depois, aí sim, depois aquilo. E todos os dias há propostas e coisas e há uma certa necessidade que vem de querer estar em todo o lado e de ter muita dificuldade em dizer que não é o grande. Para mim, a grande consequência é negativa, que extravasa, que é difícil para os universitários hoje em dia estarem inteiros alguma coisa, porque estão sempre são sempre a coleccionar muita experiências, mas muitas experiências parciais. 00:45:16:07 – 00:45:31:19 . Porque vou a uma conferência mas saio mais cedo, porque a seguir a minha amiga faz anos e depois a seguir ainda vou beber e portanto vou jantar com ela e a seguir ainda vou beber um café com outro amigo que vai preparar nos para a semana e portanto a despedida é no intervalo. Estou com o telefone ligado e a mandar para o telefone. 00:45:31:22 – 00:45:54:07 . E é essa, essa velocidade que satura as agendas. E se existe às vezes nos grupos que acompanho, é preciso marcar uma reunião e não dá para marcar a reunião no próximo mês. Não há agenda que não há um dia livre no próximo mês. Eu tento dizer isto na minha agenda também. Às vezes é assim. Mas quer dizer, nós vivemos assim nesta velocidade e há uma saturação. 00:45:54:08 – 00:46:13:22 . Eu estou convencido de que essa é uma das características principais de saturação que leva depois a acumular experiências parciais e a ter dificuldade a estar inteiro nalguma coisa. Muita dificuldade em dizer que não, em renunciar, porque isto parece que estou a perder alguma coisa. Parece que parece que me vai ser tirado alguma coisa porque eu disse que não. 00:46:13:22 – 00:46:40:07 . Já não vou estar muita dificuldade em renunciar, em dizer isto, não em viver uma certa solidão que é renúncia, sempre implica o como faço? Como faço para para uma coisa agora que estou a ouvir falar? Que é que a experiência, se calhar diametralmente oposta a essa que é a experiência da peregrinação até muitas vezes solitária, e da Fátima, a ida a Santiago de Compostela, que. 00:46:40:09 – 00:47:02:03 . O que se tira dali é exactamente esse sair da agenda. E é a agenda, é simplesmente caminhar consigo próprio até um determinado objectivo. E sendo que o objectivo não é chegar a um sítio, é pensar sobre a proibição. É uma imagem muito forte da vida. A nossa vida começa e tem um fim e tem um destino, um objetivo. 00:47:02:05 – 00:47:24:21 . Para quem tem fé, o fim não é apenas um ponto final, é um ponto de chegada. E por isso a peregrinação é tão forte. Parece me, é muito. Há muitas proibições e são muito procuradas, por assim dizer. Também me parece que por causa disto, porque Porque há ali uma imagem da minha vida, dos passos no caminho que me deixa cansado, que depois às vezes eu me engano no caminho. 00:47:24:21 – 00:47:59:15 . Depois tem que voltar, que essa preocupação em que o sítio onde eu quero chegar impacta o passo. Que luz isso é, isso é a nossa vida, isso é nós. O futuro, o futuro está à nossa espera. O futuro, o que nós vamos ser no futuro começa hoje a ser construído e por isso gosto da imagem da peregrinação, porque me parece que se reconhece a vida e a uma certa viagem interior e a acontecer, isso sim, é uma coisa que eu queria dizer que nisso também nós estamos a ironia hoje em dia, porque uma profissão é isso. 00:47:59:17 – 00:48:22:19 . Só que ainda há uma certa tendência para pelo menos não começa nesses termos. Eu só posso ir lá no sábado à tarde, portanto só faço metade. E isto é uma coisa que me está dizer Não, não, fazes me, não é válido. Ou vais no princípio ou não vais, porque senão não vai ser mais uma experiência parcial. E o objetivo desta peregrinação era dar te exatamente o contrário dar um tempo para estar inteiro, desligado. 00:48:22:21 – 00:48:44:08 . Começa no princípio, vais no fim. Não tens de preocupar onde é que para declararmos isto vai te ser dado nesse tempo concentrado no na possibilidade do encontro contigo, com Deus e tu com o definitivo. O que é que te traz? O que é que nós aprendemos numa peregrinação? Muita coisa. E eu penso que numa profissão principal há professores de profissões. 00:48:44:08 – 00:49:01:04 . Não há gente para fazer só caminhadas ou para fazer uma preleção. Mesmo como peregrinos, que é como quem diz eu sei que vou chegar a um santuário, sei que vou chegar, que sei que tenho um ponto de chegada e sei que sou esperado. E eu penso que isso de ser esperado é uma das coisas que uma peregrinação a sério traz. 00:49:01:10 – 00:49:21:22 . Eu sei que sou esperado. Não é que quando se vai para a Fátima, não é que esteja lá uma pessoa concreta no Santuário de Fátima à minha espera. É, apesar de tudo, com pessoas que, mesmo que não tenham crença religiosa, a peregrinação também pode ser vivida com essa espiritualidade ou não? Sim e não. Ou seja, eu não, eu não acho. 00:49:21:22 – 00:49:48:15 . Não acho que premonição seja um exclusivo de quem tem fé. A peregrinação, que é como quem diz reconhecer que a minha vida tem um ponto de chegada onde eu sou esperado extravasa os limites visíveis da religião e, portanto, nesse aspeto, sim. Mas acho que é uma experiência espiritual. E agora é verdade que cada pessoa viverá a espiritualidade da maneira que quiser. 00:49:48:17 – 00:50:14:13 . É verdade também que nos dias que correm, muita gente procura a vivência espirituais fora da dimensão institucional, como me acontecia no passado. Mas eu estou convencido que a dimensão institucional não é apenas uma dimensão institucional. A Igreja Católica não é apenas uma instituição. A Igreja Católica é não é o lugar do acesso a uma tradição de 2000 anos. 00:50:14:15 – 00:50:39:00 . É mais porque entronca também numa tradição ainda anterior a essa que me parece pertinente para sobreviver a vida. E eu penso que é o encontro com uma sabedoria de vida. Também é um encontro com Deus, mas um Deus que se foi manifestando ao longo da história, que foi ensinando a viver ao longo da história, que foi ajudando a levantar as questões fundamentais da existência. 00:50:39:02 – 00:51:03:22 . E por isso, a premiação. Uma peregrinação pode ser um lugar de encontrar tudo isso e de reviver isso tudo numa viagem seguramente com liberdade. A Bíblia seguramente, sendo que a Bíblia são muitos livros. Quem nunca leu a Bíblia começa por onde? O que é que tu? Qual dos livros da Bíblia Aquele que tu aconselharia a quem nunca entrou nessa porta e tu é que podes ler qualquer coisa da Bíblia? 00:51:03:24 – 00:51:27:20 . Tenho muita dificuldade em escolher um, mas eu acho que, na minha perspetiva, a Bíblia converge para a pessoa de Jesus mesmo os tais textos antigos convergem para ali e para isso eu diria que ler, ler, ler um evangelho, ler o Evangelho de São João, talvez que é o mais refletido, mas, mas, mas teológico talvez pode ser uma boa ideia. 00:51:27:22 – 00:52:02:05 . Mas talvez todos os homens ler o Evangelho de Marcos, que é mais curto, mas mais conciso, menos elaborado, mas ao mesmo tempo também, mas talvez até por ser literariamente mais rudimentar e mais espontâneo, mas mais terra a terra. Nesse aspeto acho que isso é sempre uma coisa boa. Agora eu tenho imensa dificuldade em preferir um livro da Bíblia em relação a outros, porque a Bíblia tem literatura, uma beleza absolutamente extraordinária em tantas páginas. 00:52:02:07 – 00:52:23:06 . E são textos onde se trabalham todos os temas da existência. Isso é o que me fascina na Bíblia. Não é apenas isso, mas é uma das coisas que me fascina a Bíblia. Todos os temas fundamentais do que significa ser pessoa tão trabalhados. E é curioso porque estão todos trabalhados de propósito. Eles não estão lá respondidos. A Bíblia não é um livro de respostas, é um livro de perguntas. 00:52:23:06 – 00:52:46:18 . É um livro de perguntas e de caminhos. E isso acho absolutamente fascinante. O livro das respostas também os temos, mas são os catecismos, são as doutrinas. E ainda bem que eles existem, em certo sentido, porque sistematizou um caminho de sistematização para viver. Mas. Mas a beleza extravasa tudo isso. A Bíblia tem tem um, uma profundidade, precisamente porque ali estão todos os temas da existência. 00:52:46:22 – 00:53:17:09 . Já que falamos em perguntas e para fechar, que pergunta farás a Deus quando agora o encontrares dali, dali a bocadinho e ele aparecer? Então, Miguel, qual é a tua pergunta? Eu não sei. Tenho menos coisas para perguntar e mais para contemplar. Mas sim, se tivesse que escolher uma pergunta, talvez eu lhe perguntasse porque tanto? Porque então, porque tanto? 00:53:17:11 – 00:53:48:15 . Porque? Porque uma das coisas que me fascina em Deus é a abundância e a grandeza. E isso, isso é uma das coisas que marca e marca decisivamente a minha história nos museus, que marca a história da fé cristã, que é um encontro com uma grandeza e por isso, de facto, é muito e de coisas grandes que se trata de uma vida elevada, de uma vida que aponta para o alto, que não se contenta com pouco e por isso essa grandeza e aquilo que me fascinei era aí que eu queria, era nisso que eu queria que Deus me respondesse, acho eu. 00:53:48:17 – 00:53:54:06 . Obrigado, Miguel Vasconcelos. E eu de gosto. https://vimeo.com/1041738078/7cbeb02098?share=copy…
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Pergunta Simples
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Hoje, falamos de um tema urgente: a infância e como as experiências vividas nesta fase moldam o futuro. Tempo de necessidade máxima de amor e proteção. O que acontece quando a proteção falha? Como podemos ajudar crianças em risco? E o que podemos aprender sobre o papel das famílias, das escolas e da sociedade? Nesta conversa ouço Rui Godinho , psicólogo e diretor da Infância e Juventude da Santa Casa da Misericórdia, um especialista com décadas de experiência a salvar, literal e simbolicamente, crianças maltratadas. Por vezes acordamos, chocados, com as consequências diretas de uma infância infeliz. Uma adolescente de 16 anos matou a irmã e, no tribunal, disse: “Estar na cadeia é melhor do que estar em casa.” Este caso, que começou com maus-tratos familiares e culminou numa tragédia, expõe um padrão: a comunidade, muitas vezes, não vê os sinais ou não age a tempo. “ Este não foi um crime isolado ”, ouvi eu explicar Rui Godinho. “ Ele é o resultado de anos de negligência e violência .” Professores relataram que a jovem era agredida pelo pai à porta da escola, e ainda assim, ninguém interveio. Este caso levanta questões difíceis: por que motivo instituições como escolas ou centros de saúde não identificaram o problema antes? Provavelmente os sistemas de proteção estão desatualizados e focados apenas nos sinais mais óbvios, como pobreza extrema ou agressões físicas visíveis, enquanto maus-tratos psicológicos, mais subtis, continuam a ser ignorados. Quando a negligência ou maltrato é detetada, estas crianças são retiradas do seu ambiente familiar. Idealmente para encontrar uma vida melhor. Muitas crianças em risco são acolhidas por famílias ou colocadas para adoção. Entretanto, ficam à guarda de instituições financiadas pelo estado. Mas tanto o acolhimento como a adoção requerem mais do que boa vontade. “Estas crianças vêm de histórias difíceis”, ouvi eu “ Muitas vezes, testam os limites dos novos cuidadores porque nunca tiveram estabilidade .” Rui Godinho dá um exemplo simples: quando uma criança finalmente encontra um ambiente seguro, pode desafiar os pais adotivos como forma a verificar se os laços são reais. Esse comportamento não é de rejeição, mas sim uma tentativa de construir confiança. De validar. Uma espécie de “ vamos lá ver se gostas mesmo de mim a sério ” O psicólogo sublinha a importância de preparar as famílias para lidarem com estas situações. Além disso, destaca que, em Portugal, ainda há uma cultura muito centrada em instituições, quando o ideal seria que mais crianças pudessem ser acolhidas em famílias. A lei tem hoje várias possibilidades: da clássica adopção, às famílias de acolhimento e até ao apadrinhamento civil. E o número de crianças em instituições tem vindo a descer. Nesta conversa olhamos também para as infâncias felizes. E ao extremo oposto: os pais demasiado protectores. Fixem o conceito “hiperparentalidade negligente”. Este tipo de proteção excessiva reflete um medo exagerado dos riscos, que impede as crianças de aprenderem a lidar com desafios. Ele sugere que os pais deixem espaço para os filhos experimentarem e errarem, de forma segura. É nesse equilíbrio entre proteção e liberdade que as crianças desenvolvem competências para a vida adulta. A educação na Primeira Infância é crítica. As diferenças no início da vida podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma criança. Aos 3 anos, uma criança de uma família com menos recursos pode conhecer 400 palavras, enquanto outra, de um contexto mais favorecido, pode chegar às 1200. Esta disparidade, explica, não é apenas numérica: é uma barreira que define o acesso ao conhecimento, à leitura e, mais tarde, ao emprego. A solução? Investir na educação desde cedo. Creches e pré-escolas de qualidade são fundamentais para reduzir estas desigualdades. Mais importante ainda, criar ambientes que estimulem as crianças a explorar, pensar e interagir com o mundo. Afinal comunicar. Saber ler e falar para o mundo. LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO 00:00:12:23 – 00:00:40:14 . Ora, viva! Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso Podcasts sobre Comunicação. Nesta edição retornamos à infância, aos tempos da meninice que sequer feliz, mimada e cheia de boas memórias. Mas nem sempre assim acontece. Hoje falamos de um tema urgente a infância. Como as experiências vividas nesta fase da nossa vida moldam o nosso futuro. Tempo de necessidade máxima de amor e protecção. 00:00:40:16 – 00:01:18:00 . E o que acontece quando essa protecção falha? Como podemos ajudar as crianças em risco? E o que podemos aprender sobre o papel das famílias, das escolas e da sociedade? Nesta conversa ouço Rui Godinho, psicólogo e diretor de Infância e Juventude da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, um especialista com décadas de experiência a salvar, literal e simbolicamente crianças que foram maltratadas pelo mundo. 00:01:18:02 – 00:01:45:18 . De vez em quando acordamos chocados com as consequências directas de uma infância infeliz. Dou um exemplo. Uma adolescente de 16 anos matou a irmã e, no tribunal assumiu que estar na cadeia era melhor do que estar em casa. Neste caso, tudo começou com maus tratos familiares e culminou numa tragédia, expondo um padrão da comunidade. Muitas vezes não vê os sinais e não age a tempo e horas. 00:01:45:20 – 00:02:08:22 . Este não foi um crime isolado. Ouvia o explicar Rui Godinho. Ele é o resultado de anos de negligência e de violência. Professores relataram que esta jovem era agredida pelo pai à porta da escola e ainda assim, ninguém interveio. Esse caso levanta questões difíceis Por que motivo instituições como as escolas ou centros de saúde não identificaram o problema a tempo? 00:02:09:01 – 00:02:35:15 . Provavelmente os sistemas de protecção estão desatualizados e mais focados nos sinais mais óbvios, como a pobreza extrema ou as agressões físicas, enquanto que os maus tratos psicológicos mais subtis continuam a ser ignorados quando a negligência, o maltrato e até destas crianças são retiradas do seu ambiente familiar, idealmente para encontrar uma vida melhor. Muitas das crianças em risco são acolhidas por famílias ou colocadas no sistema para a adopção. 00:02:35:17 – 00:03:04:20 . Entretanto, ficam à guarda de instituições financiadas pelo Estado. Mas tanto o acolhimento como a adoção requerem muito mais do que boa vontade. Estas crianças têm histórias difíceis, ouvi eu muitas vezes. Testam os limites dos novos cuidadores, porque nunca tiveram estabilidade. Rui Godinho dá um exemplo simples quando uma criança finalmente encontra um ambiente seguro, pode desafiar os pais adoptivos como forma de verificar se os laços são reais. 00:03:04:20 – 00:03:33:15 . Se é mesmo a sério esse comportamento não é um comportamento de rejeição, mas sim uma tentativa de construir confiança, de validar numa espécie de vamos lá ver se gostas mesmo de mim. A sério. O psicólogo sublinha a importância de preparar as famílias para lidarem com estas situações. Além disso, destaca que em Portugal ainda há uma cultura muito centrada em instituições, quando o ideal seria que as crianças pudessem ser acolhidas em famílias. 00:03:33:17 – 00:04:03:23 . A lei tem hoje várias possibilidades da clássica adopção as famílias de acolhimento e até ao apadrinhamento civil e o número de crianças em instituições tem vindo a descer. Nesta conversa olhamos também para as infâncias felizes, claro, e até ao extremo oposto os pais que cuidam demais, que são demasiado protetores, que sem o conceito hiper parentalidade negligente. Parece um contrassenso, mas importa perceber de que é que estamos a falar. 00:04:03:24 – 00:04:27:15 . Este tipo de proteção excessiva reflete um medo exagerado dos riscos que impede as crianças de aprenderem a lidar com os desafios. Ele sugere que os pais deixem espaço para os filhos experimentarem e errarem de forma segura, claro. É neste equilíbrio entre protecção e liberdade que as crianças desenvolvem competências para a vida adulta. A educação na primeira infância é crítica. 00:04:27:15 – 00:04:57:03 . Já sabemos. As diferenças no início da vida podem determinar o sucesso ou o fracasso de uma criança. Aos três anos, uma criança de uma família com menos recursos pode conhecer cerca de 400 palavras, enquanto que outra, num contexto mais favorecido, pode chegar às 1200 e o triplo. Esta disparidade, explica, não é apenas numérica. É uma barreira que pode definir o acesso ao conhecimento, à leitura e, mais tarde, ao emprego. 00:04:57:05 – 00:05:21:02 . A solução? Investir na educação desde cedo. Creches e pré escolas de qualidade são fundamentais para reduzir estas desigualdades. Mais importante ainda, criar ambientes que estimulem as crianças a explorar, a pensar e interagir com o mundo. Afinal, comunicar, saber ler e saber falar para o mundo. 00:05:21:04 – 00:05:47:04 . Play Godinho licenciado em Psicologia desde 2016, que é diretor de Infância e Juventude e Família da Santa Casa da Misericórdia. Mas posso apresentá lo como um expert nestas coisas da infância e da juventude. Pode ser. Obrigado por ter aceitado o convite. Muito obrigado e esperto, eu diria, Mas diria um entusiasta e relativista também. E também não é porque vem falando muito sobre isso. 00:05:47:04 – 00:06:35:02 . Quando estava a preparar aqui esta esta nossa conversa. Saltou me uma uma notícia que que me. Que me afligiu. Acho que a palavra é essa. É uma. Uma história de um tribunal. Culminou num tribunal em setembro deste ano, mas tudo aconteceu em agosto de 2023. A notícia é um relato dos repórteres que estão no Tribunal de Leiria no julgamento de uma adolescente que confessa ter matado a irmã mais velha em agosto de 2023 e o que me tocou neste relato foi a maneira como esta adolescente assumiu o crime no tribunal. 00:06:35:04 – 00:07:04:21 . E ela disse Eu passo a citar Estar na cadeia é melhor do que estar em casa. Esta adolescente matou a irmã por causa de um telemóvel. No julgamento, não compareceu ninguém da família. Algumas das professoras estiveram lá e contaram que esta jovem, com 16 anos, na altura do crime, era maltratada em casa. Chegou a ser espancada pelo pai à porta da escola e que o telemóvel era a única porta aberta para o mundo que lhe era permitida. 00:07:04:23 – 00:07:28:13 . Como é que um psicólogo especialista em em jovens e em crianças de risco, muitos deles olha para este caso? Bem, o primeiro comentário é O que é que terá acontecido até este momento? E porque nós só conhecemos a história a partir desse dia do homicídio, o que é que se passou para trás? Porque isso é um caso absolutamente extremo e para ter um comportamento completamente extremo e assumido. 00:07:28:13 – 00:07:47:04 . Pelos vistos, da forma como disse, muita coisa passou se para trás, não sabe? E a segunda pergunta é onde é que esteve a comunidade? Onde é que teve os professores? Onde é que esteve a família? Onde é que vocês de saúde? Porque, naturalmente, não foi a 16 anos, Num episódio que isso aconteceu, há toda uma um histórico que motivou essa situação. 00:07:47:04 – 00:08:15:10 . Não sabemos um pormenor sobre aqui, alguma descompensação psicótica, alguma questão de saúde mental. Seguramente houve. Agora, não conhecendo o histórico, conseguimos intuir e com todo sistema, uma vida de maus tratos e de contextos adversos para o seu desenvolvimento. Portanto, na escola, nos vizinhos, seguramente na família também passavam as coisas. Elas estão relatadas pelos professores, coisas graves de humilhação desta pessoa. 00:08:15:12 – 00:08:46:20 . E nós, comunidade, a dormir No fundo, a fingir ser instrumentos para conseguir ver permissivos. O que é que não está a acontecer? Eu Isto tem uma resposta, uma pergunta complexa, tem uma resposta complexa, mas uma das de duas dimensões que podem explicar esta questão. E nós temos um grande estigma sobre a questão dos maus tratos a coisas, que é evidente Se uma criança aparecer com um livro, ninguém questiona que é um maltrato, mas uma humilhação psicológica está na zona cinzenta para muita gente, sendo que o efeito é muito mais. 00:08:46:20 – 00:09:12:23 . Até pode ser muito mais negativo para a criança ter com os neuro é uma coisa física, nós reparamos logo e temos tendência para intervir ou pelo menos para estar atentos. Se for um maltrato, uma humilhação, não é assim, pois não é porque é invisível. E depois outra questão e passa se no contexto da família e portanto, aquela coisa que entre marido e mulher se mete a colher ainda é uma coisa que, não sendo hoje uma realidade como era há uns anos atrás, ainda é muito. 00:09:12:24 – 00:09:39:15 . É uma esfera privada. E essas dimensões que não são tão explícita e tão evidentes no muitas vezes ficam no segundo plano e que ninguém quer interferir, interferir. Agora, esta é uma resposta a toda a comunidade, não é? Como é que nós conseguimos identificar de forma precoce uma criança que está em risco e que potencialmente alguma coisa pode correr ainda pior nos nos uns meses ou nos anos vindouros? 00:09:39:17 – 00:09:59:07 . Nós temos de ter. Nós temos, digamos, um radar, isto é, a escola, um radar. Os centros de saúde são um radar, As comissões de protecção de crianças e jovens são o radar. O que eu acho é que são radares. Foram criados num paradigma em que era muito. Acho que esse perigo. Eram muitas as crianças de carência económica e, portanto, há aqui um preconceito social. 00:09:59:07 – 00:10:26:13 . Não é? Na base. E, por outro lado, uma tipologia de perigo que é muito efetiva, como a mendicidade, os maus tratos físicos, digamos. E hoje temos uma diversão idade de de. De problemáticas que esses radares não apanham. Portanto, diria que temos radares um pouco obsoletos face à complexidade real em que vivemos. Então é que o que acontece na lente que está, em que tipo de situações são aquelas que estão para além do óbvio? 00:10:26:15 – 00:10:50:13 . Eu posso dar lhe até uma imagem realista. Nós temos que considerar o Metropolitano de Lisboa e para isso a ideia dos processos de protecção são que eles já chegaram ao radar. Portanto, eu ainda estou mais preocupado com aqueles que chegaram a Radar. Cerca de 35% dos processos violência doméstica e aqui no estrato socioeconómico democrático, é dos traços mais baixos aos mais altos. 00:10:50:13 – 00:11:11:14 . Portanto, lá cai o preconceito. Não é uma coisa das famílias pobres e carenciadas, é uma coisa que é transversal nas famílias, sim, sendo que as famílias mais diferenciadas, que têm mais condições para ocultar, porque se calhar não tem divulgados, têm especialistas. As crianças estão em escolas privadas com menor sinalização do que as escolas públicas e, portanto. Mas não deixa de lá está o problema. 00:11:11:18 – 00:11:43:17 . Nós temos os consultórios dos nossos colegas psicólogos completamente seis vezes desses, deste estrato de situações numa outra dimensão que vem logo a seguir. É o Conselho Parental, que era uma coisa que há 15 anos naturalmente havia, mas não tinha uma expressão. Mas cerca de 15% é conflito parental. São pais que se separaram e que a criança está no meio do conflito e que são coisas muito danosas para as crianças, porque o conflito lealdade e partido entre dois pais é um trauma primário, pode ter efeitos gravíssimos. 00:11:43:17 – 00:12:11:03 . Possivelmente a criança gosta mais do papel da mamã e estamos a falar desse género que implicitamente é a criança estar dividida, não é? E isto cria danos muito significativos para o desenvolvimento. Mas são matérias que, na minha opinião, há uma certa tolerância social que é intolerável. Ou seja, nós só ver uma questão a uma criança que é agredida queria ser tirada só ver uma criança durante quatro ou cinco anos em contexto de tribunal, com os pais a conflituar com auto violência, não é? 00:12:11:05 – 00:12:33:23 . Há uma tolerância que, na minha opinião, não deveria ser permitida porque os danos são brutais para as crianças, não é? Em que tipo de danos é que podem subsistir de uma situação, de de uma crise, de uma batalha campal entre duas das pessoas mais queridas que moram lá em casa, Eu diria. Primeiro, é um trauma que é um trauma primário, porque supostamente a pessoa que cuida de mim é a pessoa que me está a maltratar. 00:12:34:03 – 00:12:58:15 . É isto mesmo, não seja essa a sua vontade. Eu, até porque as crianças têm sempre mama olho é uma lente benevolente como são tratadas pelos pais, não é? Mas a criança fica perdida. Não é porque chega a casa da mãe e a mãe diz Tu o teu ser, o teu pai tem que comprar uns, teres que comprar os últimos e depois chega a casa do pai e o pai diz Tens ser a tua mãe e a criança anda aqui perdida no meio disto gerir e a gente não. 00:12:58:15 – 00:13:21:05 . Só pessoas muito pequenas, com uma pressão psicológica brutal e com um sofrimento muito grande. Só que como não está ligada à família, não a uma parte protetora, é muito difícil ser neutro. E é o sistema. O sistema não tem muitos mecanismos, porque a judicialização só aumenta a litigância e o conflito. Portanto, é muito difícil de atenuar esta conflitualidade. 00:13:21:07 – 00:13:44:16 . Eu tenho uma curiosidade que é quando as coisas correm verdadeiramente mal neste caso, ou quando há violência sobre as crianças, um maltrato sobre as crianças e elas são muito, muito pequenas. Como é que se ouve meninos e meninas de dois, três, quatro anos, se é que são ouvidas num tribunal? Bem, estamos em duas camadas, uma coisa a ser atribuídas, outra coisa a ser ouvidas no tribunal. 00:13:44:16 – 00:14:04:24 . Não há mecanismos de ouvir as crianças, nomeadamente os psicólogos e sobretudo, aqueles que especializaram nestas áreas. Mas na primeira infância, através do desenho, através da brincadeira, porque as crianças não têm uma capacidade de verbalização, não há um interrogatório, não há um território. Não é, portanto, aliás, o que é crítica quando são ouvidos como se fosse um inquérito policial? 00:14:04:24 – 00:14:24:12 . Porque a criança não sabe lidar com isto e fica muito perdida em o que é o significado que as coisas têm para ela. São muito diferentes. Portanto, eu diria sim a mecanismos tem que ser mecanismos, são muito especializados. Não basta dizer ah, eu consigo falar com crianças ou tenho jeito de falar com crianças. Não chega. Nomeadamente o tribunal, que é uma instituição muito formal. 00:14:24:14 – 00:14:55:05 . A verdade tem se feito um caminho. Já tribunais têm espaços próprios para ouvir crianças, mas ainda assim, na minha opinião, para falar com crianças, sobretudo crianças mais pequenas, têm que ser especialistas. Deviam ser psicólogos que saibam comunicar e trazer as questões colocadas pelos estudos. Outras vezes, com certeza. Mas porque muitas das vezes aquilo que é o impacto que tem para a criança estar num contexto tribunal ou perante o juiz, com uma pergunta bem intencionada, mas mal feita, pode até por respostas dar um sentido diferente da realidade. 00:14:55:05 – 00:15:15:02 . Isto é uma coisa muito fácil de acontecer e até para nós é assustador quase pisar num tribunal, naquele, naquele, naquele sítio, com pessoas vestidas de preto que falam alto e que estão lá em cima, quanto mais para intimidatório. Há sempre aquela sensação para estamos numa operação stop. Será que têm o seguro em dia? Todos os documentos têm um preço que temos sempre que comentar em falta. 00:15:15:02 – 00:15:32:23 . Não é para nós que somos adultos. Para as crianças é particularmente difícil. É como é que uma criança depois reage a uma coisa dessas se for exposto a um ambiente desses? Depende. Há crianças que se fecham e não partilham. Começa logo. Por exemplo, nas situações de conflito parental, a criança vai ser ouvida pelo seu futuro juiz e chega ao tribunal. 00:15:33:00 – 00:15:56:10 . Tem na sala de espera a família da mãe, a família do pai e ela não sabe se vai ter como é. O pai fica zangado se vai ter com o pai. Isto é dolorosíssima para as crianças e, portanto, eu acho que nós temos que muitos países já tem em Portugal também já muitos projetos desta dimensão. Acho que temos que criar um contexto que seja amigo das crianças para as crianças serem ouvidas, que proteja as crianças destas questões e que sejam ouvidas por pessoas que os ajudem. 00:15:56:10 – 00:16:18:01 . Porque o objetivo não é procurar litigância do pai contra a mãe ou vice versa. É dar a paz que a criança precisa e esse é o caminho. Portanto, eu acho que aqui o foco é muito mais leve. Tem uma lista de perguntas para fazer quando está a avaliar um caso de uma criança. Nessas não depende muito da circunstância, mas a questão de fundo é como é que a criança se sente. 00:16:18:01 – 00:16:42:04 . Não é uma grande preocupação, é sobre o bem estar da criança, porque quando os pais separam, não pode ser uma disputa de poder. Quem é que cria que fique com a criança com quem a criança tem direito a ter um pai e uma mãe por inteiro? Isso não é? E o envolvimento parental é uma coisa positiva, a não ser que haja questões e aí muitas vezes não é de pais maltratando que são pai ou mãe, ou de pais ausentes. 00:16:42:06 – 00:17:06:22 . Mas o que seria normal a uma criança, independentemente dos pais separados deixarem de ser um conjugal, continuam a ser os pais daquela criança e participarem na vida dela. Isso seria natural. Então e qual é a explicação para a explicação? Enfim, até pode ser bastante óbvia para o facto das crianças serem quase um joguete nesta. Nesta batalha entre entre duas pessoas que definitivamente partiram para um momento entre elas. 00:17:06:24 – 00:17:28:05 . Cá está a pergunta complexa. Mas eu acho que há aqui uma dimensão cultural. Nós há 20 anos isto mal, mas estava resolvido porque o normal era vir uma separação. A criança ficava com a mãe e o pai 15 em 15 dias e a criança era mau para a criança. Portanto, meu pai participa na vida dele e meus estudos sobre o efeito negativo das crianças não ter os pais ausentes. 00:17:28:11 – 00:17:53:02 . Então os pais, porque culturalmente eram mais os pais também havia ao contrário, mas, mas verdadeiramente eram os pais os Felizmente temos um maior envolvimento parental. Temos os pais a querer participar na vida das crianças, mas não os problemas, porque de representação social aquilo que estava resolvido fica em cima da mesa como um problema, quase como estamos a disputar a parentalidade na representação social. 00:17:53:04 – 00:18:16:11 . Porque? Pois não são só os pais, são os avós, são os familiares, são os amigos. E às tantas parece fica Sportem, que com vir quem é que vai ganhar o jogo? E às vezes a cria se fica um pano de fundo, fica esquecida no meio. E eu acho que aqui tem que haver uma intervenção clara e imediata para proteger a criança, porque esses danos não vão ficar só na criança enquanto acontecesse. 00:18:16:11 – 00:18:39:18 . A clivagem só fica para o resto da vida como futuro pai, como futuro cônjuge. Porque? Porque é o modelo que internalizou, ou seja, é o modelo que internamente tem do que teve ser uma vida de conjugal ou parental. Quem não fica esquecido lá na infância, ele continua dentro de dentro de nós. Eu, eu concluo outros colegas como Dr. Paulo Guerreiro, Pedro Gaspar. 00:18:39:20 – 00:18:55:22 . Há pouco menos de um ano fizemos um livro com 50 pessoas que vimos sobre a infância, chamado exatamente isso, que era o que fica. O que passa no impasse na infância, não fica na infância, porque o que passa na infância é aquilo que deixou marca para nossa vida e, portanto, não se pode menosprezar o impacto que essas posições adversas têm na infância. 00:18:56:02 – 00:19:33:21 . Isso falamos um pouco antes de termos a palavra nesta conversa a propósito dos modelos de aprendizagem do ir à escola. Hoje a escola primária a partir dos seis anos. Mas, de facto, muito antes, no jardim de escola em que as crianças em que as crianças começam para lá ir e onde se começa a ter contacto com as cores, com as palavras, com as primeiras letras, Fica desde logo aí um quase uma marca para a vida da decisão de um maior ou menor sucesso daquela criança enquanto adulto no futuro. 00:19:33:23 – 00:19:55:09 . Sem dúvida. Aliás, isso é a grande novidade. Na última década sobre educação. Para nós que somos desta área e para os pediatras, isso era uma coisa evidente. Mas hoje a própria economia tem um conhecimento profundo sobre esta matéria e sobre os impactos que isso tem para desigualdade. O foi Prémio Nobel da Economia em 2020 diz que o maior retorno de investimento é nos 3/1 anos de vida. 00:19:55:11 – 00:20:16:02 . E quanto anos a investir na idade adulta já temos. Já tem um efeito de retorno muito pequeno. E então o que é que está a acontecer? É o olhar, sobretudo para os 3/1 anos de vida com uma grande prioridade e há pouco dava lhe o exemplo com um estudo grande que existem na Europa e que diz o seguinte crianças vão aos três anos com protegidas, os pais protegidos pelo estatuto. 00:20:16:04 – 00:20:39:06 . De qualquer forma, têm um vocabulário médio de 400 palavras. Se for classe trabalhadora, working class, como dizem aqueles trabalhos mais tipo supermercado, coisas mais de funcionamento básico, 600 palavras. Se tiver pais licenciados 1200, ou seja, aos três anos de idade pode ter o dobro ou o triplo do vocabulário. Quando aos três anos temos o dobro ou o triplo do vocabulário. 00:20:39:06 – 00:21:14:05 . Há uma diferença entre uma vida de inclusão. A exclusão não existe, há uma igualdade de oportunidades, há uma disparidade enorme. Portanto, é logo na primeira infância que tem que se atacar este problema. E depois a maneira de recuperar. Porque, no fundo, o saber mais palavras ou menos palavras depois tem implicações na maneira como se lê um livro mais tarde, da maneira como se entende o mundo, da maneira como se fala uns com os outros, como é que depois se consegue fazer a recuperação deste, deste traço muito, muito fundamental que, segundo julgo ter entendido, é sempre possível porque recuperarmos o esforço, o investimento é muito superior. 00:21:14:05 – 00:21:40:02 . É, em média, a taxa de probabilidade de sucesso diminui. Claro que quando falamos de médias, há sempre os outliers, mas estamos a falar daquilo que que que é o normal. Isto não é só no vocabulário, isto é, em várias áreas, até em áreas de motricidade. Há um estudo que chamado de jump, que é o salto ao pé coxinho e por exemplo, as crianças de famílias mais diferenciadas em termos da formação, que têm mais capacidade de saltar vezes seguidas ao pé coxinho. 00:21:40:02 – 00:22:18:05 . Crianças com os pais em situação de exclusão, até em dimensões. Porque estas questões da motricidade e da educação e daqui cognitivas estão muito ligadas e, portanto, uma coisa impactar a outra, também a ciência está a nos oferecer cada vez mais conhecimento. Disse um pouco que há coisas que são de conhecimento comum dos psicólogos e dos que há muitos anos, todavia, a sociedade e os políticos, nós, os leigos, não tendo consciência de que essas coisas acontecem assim, continuamos infinitamente a fazer os mesmos erros durante, durante os próximos anos. 00:22:18:07 – 00:22:38:20 . Sem dúvida. Eu acho que hoje as tecnologias e a participação na União Europeia, ou seja, o nível de conhecimento que existe hoje é enorme para nós sabermos como é que funciona todas as crenças na Europa. Temos estudos muito aprofundados aqui. Por que é que não mudamos? Porque eu, por várias que por várias questões, eu acho que logo uma é intolerável. 00:22:39:01 – 00:23:01:07 . Abril 2025 Tomar as decisões técnicas sem ser na base do conhecimento, muitas vezes são questões meramente crenças ou impeditivas. Não é por todos. Fomos alunos, achamos como é que sabemos fazer funcionar a escola. Isto é um erro, não é? Outro erro é que as crianças não voltam porque se as queria, terão daqui muitos anos sim, mas até lá não há um olhar sobre isso e, portanto, estas matérias implicam um investimento. 00:23:01:07 – 00:23:29:03 . Só que o retorno não vai ser nas próximas eleições. As crianças. Só verei o retorno desse investimento daqui a 20 anos e, portanto, nós sabemos. Do ponto de vista da gestão política, acaba por não ser uma prioridade planejar. Eu vi no curriculum que até já tive oportunidade de aconselhar alguns políticos que argumentos e que usa para convencer os políticos de que vale a pena investir se não acho que o mundo hoje é muito complexo. 00:23:29:05 – 00:23:45:15 . Vivemos num mundo global. Esta questão, por exemplo, que se fala de as pessoas quererem imigrar porque os jovens querer ir para a Europa. Nós hoje temos que saber. Temos no mundo global e temos que ser competitivos não só na economia, mas também na qualidade de vida que se dá. É uma coisa que nós temos para mim, em Portugal, que é muito importante. 00:23:45:15 – 00:24:05:06 . Nós temos muitas situações, crianças vítimas de maus tratos e etc. E isso é apenas o tablier que tem sintomatologia daquilo que é uma sociedade que não é amiga das crianças e das famílias. Por exemplo, nós temos em Portugal uma coisa que é incomum na Europa que a escola a tempo inteiro, que as crianças chegam à escola às 08h00 e isso precisa chega tarde. 00:24:05:08 – 00:24:25:13 . O qual é que é o argumento? O argumento é que isto é para ajudar os pais a trabalhar, não é? É para um apoio à parentalidade. Só que isso não se resolve um problema com outro problema, o que não seria normal para os pais seria chantagear depois de entrarem as oito. Os horários de trabalho deviam ser amigos das famílias e das crianças, então resolvemos um problema de cada problema. 00:24:25:13 – 00:24:46:00 . Por exemplo, na Suécia, as crianças com 5 e 6 anos foram de bicicleta para a escola. Em Portugal, vão de carro com os pais para a universidade, porque criámos uma dinâmica de sociedade que não é amiga das crianças famílias. A questão é absolutamente estrutural, não é? Quando olhamos para a sintomatologia dos problemas, é já reduzida a anos. Mas é aqui que está a mudança, que é profunda. 00:24:46:01 – 00:25:16:07 . Não é porque as nossas cidades não estão feitas para que as crianças possam ir e nós, como pais, se calhar também com nosso jeitinho superprotetor, também estamos a fazer uma parte má do trabalho. Sim, eu uso uma expressão que é polémica, mas que o que acredito nela que eu costumo dizer que a hiper parentalidade, ou seja, uma puta de uma parentalidade excessiva por parte dos pais, não é hiper protetora, não é simétrica, é uma negligência. 00:25:16:09 – 00:25:41:07 . Só que é socialmente aceite porque os pais na porta da sala dos grupos de WhatsApp é uma coisa que às vezes podem ser excessivo, mas é porque gosta muito do filho, portanto, tem uma certa tolerância social. Uma mãe deixa uma criança sozinho mesmo a brincar, e uma mãe negligente é criticável. Mas o efeito é assimétrico, porque por termos a criar crianças que depois não sabe resolver os problemas da vida prática e até queremos uma situação você dar o exemplo. 00:25:41:07 – 00:25:58:11 . Eu já escrevi um artigo sobre isso que eu chamo de O Paradoxo do escorrega, que é quando eu era criança. Tenho 51 anos, sou de Évora e quando era criança para o parque infantil e tinha o escorrega que era muito íngreme, tinha quase dois metros de altura, tinha uma caixa de areia e quando chegava abaixo esfolava o joelho. 00:25:58:15 – 00:26:20:08 . Que eu saiba nunca morreu ninguém, mas aquilo era altamente desafiante. Hoje em dia, com o mito que existe, que haja perigo, o que é que acontece? O escorrega que tem um metro são quase horizontais. É que as crianças de dois anos, quando querem deslizar como no filho, ficam preso com roupa porque aquilo tem uma viga metálica que nem permite deslizar e portanto estamos a criar uma sociedade que é completamente artificial. 00:26:20:08 – 00:26:37:03 . O que Kardec diz? Filtramos a realidade da criança, ela destrói e nós estamos a criar uma uma sociedade muito protetora. Mas as crianças não aprendem a crescer e a viver. É o paradoxo, é isto é que a sociedade hoje é muito mais complexa na vida adulta, mas as crianças não aprendem a lidar com a diversidade durante o seu desenvolvimento. 00:26:37:05 – 00:26:59:24 . E estamos a criar uma sociedade menos elástica, menos responsiva. E eu acho que eu acho que sim, porque isto é como tudo, tem que haver equilíbrios, não é? Eu quando era miúdo, na primária só tinha aulas de manhã, eu à tarde. Isso quer dizer, eu almoçava em casa dos meus avós e brincava a tarde toda no bairro e lanchar a casa de um amigo ou de outro. 00:27:00:01 – 00:27:22:08 . Se fossemos roubar fruta ao vizinho, tínhamos a dizer que ia falar coma e portanto a comunidade por dia. E havia um contexto de vida comunitária. Hoje existe muito pouco e eu moro num prédio que eu conheço os meus vizinhos e, portanto, essa receita resulta de não haver uma partilha de responsabilidade que é da vida coletiva. E eu acho que isso é uma dimensão que temos de melhorar. 00:27:22:08 – 00:27:49:20 . Sem dúvida. Vamos lá regressar aos anos 80, lá está, aos anos em que estávamos na na na, na escola em Évora e o encaminha lá em cima que a escola era só uma. Da mesma forma que o infantário era só um e lá estavam as crianças das famílias mais ricas, mais pobres, mais remediadas. Estávamos todos juntos na mesma sala de aulas e todos tínhamos que fazer as mesmas tarefas e aprender o que havia para aprender. 00:27:49:23 – 00:28:19:20 . Já não falo nas reguadas, não é politicamente correcto. Hoje em dia há uma espécie de segregação. As pessoas que as crianças que vêm de famílias que têm mais posses económicas vão ao colégio privado ou então vão para uma escola pública que é mais reconhecida, Os outros -1 menor mistura, uma menor diversidade social. E eu julgo que genericamente, sim, particularmente nas grandes cidades, porque as as mais pequenas, por uma questão de escala, não se consegue, não se sente tanto. 00:28:19:20 – 00:28:44:15 . Isso eu julgo que sim e acho que é um caminho errado. Eu acho que falar de um exemplo das crenças, isto são estudos do Banco Mundial e do Banco Mundial em que diz o seguinte crianças de um setor mais carenciado, famílias mais carenciadas ter acesso uma creche de qualidade média, ganham se forem famílias de classe média com pais diferenciados. 00:28:44:17 – 00:29:04:11 . Se a qualidade for média e ela por elas forem pais diferenciados e com competências educativas, a criança perde. Portanto, a solução que se diz o Banco Mundial. Estamos a falar do Banco Mundial, porque quando falamos de dinheiro é importante os feliz desta vida tem também. Se para as coisas boas, o que é que se diz para haver um modelo universal, que é o que o governo português defende que é ser universal? 00:29:04:11 – 00:29:37:08 . O pré escolar e a creche. Temos de ter respostas de alta qualidade para todos ganharem. É claramente intuitivo nós percebermos que pessoas de famílias mais carenciadas terem crianças que vêm de outros contextos familiares ganham com isso porque creio que têm mais vocabulário, têm mais miúdos, mais sentido. Isso é intuitivo. Mas o que é interessante também é crianças de níveis de de muito diferenciados do ponto de vista das competências dos pais estarem com peixes, Então crianças também têm outro tipo de ambientes, também ganham com isso, ou seja, por terem experiência social. 00:29:37:08 – 00:30:01:12 . Hoje há estudos que sobre isso e que mostra que há um contexto em que inclui todos, é benéfico para todos. Não é só para as crianças mais carenciadas ou para as famílias mais carenciadas. Só que isto é uma mudança de paradigma. Tem que acontecer sobretudo na cabeça dos pais, porque há muito preconceito social sobre isto e, portanto, isto tem que ser combatido, sobretudo no campo das ideias com as quais nós estamos a proteger. 00:30:01:12 – 00:30:25:10 . Proteger, porque há alturas em que proteger é absolutamente necessário e quando as coisas correm definitivamente mal, há um caso de violência, há um caso de negligência. Aí o braço do Estado move se e estas crianças são retiradas das famílias. Como é que o processo de comunicação de um evento tão traumático como retirar uma criança do seio da família? 00:30:25:12 – 00:30:45:06 . Por razões que obviamente tem, que têm que acontecer, que são de violência, de negligência, de maltrato, enfim, podemos fazer uma lista imensa de malfeitorias, mas por uma questão que é quase filosófica nós da nossa lei, bem, nossas leis são muito boas, são ótimas, nossas leis são dos mais evoluído no país, vão para civilização. Nem sempre há uma mudança muito inicial que significativa. 00:30:45:06 – 00:31:04:12 . Há uns anos que os pais deixaram ter o poder paternal sobre as crianças para ter o exercício das responsabilidades parentais. Ou seja, os pais não são os donos das crianças. É um poder perpétuo e uma responsabilidade que não se habilidade que tem. Ora, se os pais não cumprem essa responsabilidade pondo as crianças em perigo, e como tem sido o Estado intervir para que a criança não esteja em perigo? 00:31:04:14 – 00:31:37:05 . Como é que acontece toda a comunidade pode sinalizar um centro de saúde que encontra uma criança que traz marcas ao que a criança verbaliza. Tem que comunicar imediatamente uma polícia, uma escola tem um vizinho e um dever. Todos nós, enquanto cidadãos, percecionam com calma sobre comunicar. Isto pode ser de dois níveis um primeiro nível a nível de CPCJ, a CPCJ Comissão, porque esses jovens implicam consentimento dos pais, Ou seja, para os técnicos poderem intervir, os pais têm de dar consentimento, mesmo que as coisas estejam o corrimão. 00:31:37:10 – 00:31:56:16 . Se tiverem corrimão e houver perigo e os pais não derem consentimento. O que acontece é que o processo para tribunal, ou seja, a CPCJ, diz a criança, está em perigo. Os pais não deram consentimento, então o processo vai para tribunal e aí já tem uma força diferente. Já não é uma questão optativa dos pais terem ajuda ou não, mas é o Estado a dizer que, independentemente da vontade dos pais, o Estado tem que intervir para proteger a criança. 00:31:56:16 – 00:32:20:02 . E quem é que intervém? Quem é que lá vai? Depois depende do grau de gravidade. Se estamos a falar de uma situação de perigo de vida, tem que haver uma retirada. E aí, quem é que vai? As equipas de assessoria ao Tribunal da Segurança Social ou na área municipal de Lisboa da Misericórdia, que, em articulação com as polícias e com o Tribunal, executam mandados de condução em que vão a família retirar a criança ao contexto. 00:32:20:02 – 00:32:41:16 . Às vezes, numa família, às vezes é mais protetiva ir à escola. A preocupação sempre é proteger a criança nesse processo, que é potencialmente muito traumático. É uma criança de repente ser afastada da família. Depende da idade, depende do contexto, mas é potencialmente muito traumático. Como é que um psicólogo explica a uma criança pequena que a sua família, que já não vai ver a sua família nos próximos tempos? 00:32:41:18 – 00:33:01:18 . Bem, a questão não se trata de não ver a família. Aliás, uma boa prática é ver a família. Eu fui diretor de uma casa de acolhimento durante 15 anos e a primeira coisa que fazíamos quando nos comunicavam com a polícia através do tribunal, que uma criança entre entrar, a primeira coisa que fazíamos era ligar aos pais e dizer quero que venham cá ter convosco a ver os vossos filhos para ver onde é que eles estão. 00:33:01:23 – 00:33:20:16 . E vamos em conjunto pensar como é que podemos ajudar, que eles possam voltar para casa. Ou seja, a forma como se lida com isso pode ser paga pela seguradora, quer das crianças, quer das famílias. Porque é o que dizia sempre vocês que somos pais, temos o vosso filho e nós somos funcionais, queremos ajudar, temos o mesmo objetivo, aquilo que tem de bom e portanto, há que fazer uma aliança. 00:33:20:18 – 00:33:43:22 . Agora não quer dizer que aconteça sempre desta maneira, Não é importante. Mas isto era o que seria. Quatro E e as famílias compreendem. Olhe, eu tive 15 anos no direto com contingentes. Eu diria que às vezes, no meio da crise, porque é muito abrupto em nós, imagina estrearem nos um filho que está connosco sair e muitas vezes há muita conflitualidade. 00:33:43:24 – 00:34:08:05 . Mas eu, em 15 anos que passaram por mim mais 500 crianças, eu diria, Houve momentos muito tensos de tentativa, pais, batavo, enfim, porque as pessoas estão muito zangadas e pois o projeto em que está à frente deles, os seus. Mas eu caminho. Eu acredito mesmo nisto. Sentiu se em risco real? Às vezes é um bocadinho, não é? Ter um pai que ande com dois metros a dizer que vai perseguir os meus filhos e que os vai matar. 00:34:08:05 – 00:34:31:11 . Não é uma coisa agradável de ouvir, mas eu da minha experiência. E é mesmo verdade o que eu vou dizer que eu acho que tratamos as pessoas com ética, com transparência, com clareza nos olhos mesmo, a dizer coisas difíceis, eles de momento podem não entender e ficam muito zangados, mas no médio prazo não é isso não existe. Aliás, eu encontro muitas crianças e famílias na rua da minha vida. 00:34:31:11 – 00:34:56:03 . Não eu no supermercado, no futebol que passaram por mim há dez anos, há 15 anos e até hoje não tive uma única situação em que as pessoas sentissem de outra maneira. Mas é isso. Temos que ser profundamente responsáveis do ponto de vista ético e muito empáticos da forma. Mesmo quando as coisas dizemos coisas difíceis. Eu já disse pais, que eu vou informar o tribunal, que vou inibir os contactos, porque a sua presença junto do seu filho é altamente prejudicial. 00:34:56:05 – 00:35:12:19 . Há casos, por exemplo, de abusos sexuais ou de coisas assim. É duro ver isto a um pai a zurzir isto a uma criança, mas ao dever de proteção. As pessoas podem não compreender ali, mas no médio prazo, eu acho que há o entendimento de que aquilo foi que era correto. E depois, como é que são as conversas com estas crianças? 00:35:12:21 – 00:35:33:16 . Muitas idades da maturidade, da capacidade intelectual. Há uma revolta. Varia muito. Eu vou dar lhe um exemplo que eu percebo que é difícil Notícias de violência doméstica um caso que conta uma história. Um jovem com 16 anos que entrou na casa de acolhimento que era a sexta vez que era retirado porque? Porque o pai batia e batia nele e no irmão eram retirados. 00:35:33:18 – 00:35:50:20 . E depois este jovem passou por. Quando chegou era a sexta casa de acolhimento, já tinha passado por cinco casas de acolhimento e o que acontecia quase sempre por regra, era isto. Ele na primeira semana dizia me Eu quero ir à polícia fazer queixa contra o meu pai, porque meu pai me batia para ter a minha mãe. E não pode ser. 00:35:50:20 – 00:36:11:15 . Ele quer que eu seja preso. E passado duas ou três semanas estávamos a dizer Não posso, me perdoou, Quero ir para casa. E eu, neste caso em concreto, está a história real O que é que eu fiz? O pai Missão de gastar essas coisas todas. E na altura o que eu fiz foi uma exposição para tribunal. Sei que esta criança não tinha capacidade psíquica como a história dele demonstrava já por seis vezes para tomar esta decisão. 00:36:11:15 – 00:36:36:10 . Porque estas questões da violência doméstica também é uma patologia não só do agressor, mas também da vítima, também tem dinâmicas patológicas. E o que eu disse é que havia uma toxicidade que não lhe permitia seguir aquilo que era melhor para ele e na altura usei o artifício porque eu fazia pequenos consumos da X. Propus ir para compulsivamente uma comunidade terapêutica, mas o objetivo não era desintoxicar, fumar um charro de uma forma recreativa que não tinha impacto nenhum, mas afastá lo do pai. 00:36:36:10 – 00:37:03:16 . E eu consegui desintoxicar. Passado três, quatro meses estávamos a trabalhar com ele. Eu ir viver para outra cidade e seguir o seu caminho, mas sempre a prerrogativa do projeto de vida para a criança. Muitos destes casos acabam até com uma retirada definida IVA por parte do duo do tribunal e os tribunais. O Ministério Público e os juízes compreendem sempre a melhor coisa para fazer. 00:37:03:18 – 00:37:30:09 . Ou ainda tenho uma resistência cultural em relação a. Enfim, aqui a família e a família é quase um um esteio primário da sociedade. Entrou entre o peso da família e é o direito do projeto para para a criança. Em Portugal tinha uma visão muito biologista sobre a questão da infância. Portanto, o papel dos laços de sangue ter uma importância, na minha opinião, sobre estimada. 00:37:30:10 – 00:37:58:08 . Faça aquilo que é o interesse da criança, porque o que a lei diz, e bem, é que a criança tem direito a família não. A sua família tem direito, a família está a crescer em família, que é diferente. Eu acho que excessivo, mas eu acho que há aqui algumas dimensões que são necessárias, que nós temos de ter protocolos de avaliação para não ficar na discricionariedade de cada um, porque estão entre o modelo de crianças, do juiz, do procurador, do psicólogo, da equipa de da casa de acolhimento e estamos a fazer. 00:37:58:08 – 00:38:30:06 . No fundo, é o encaixe de perceções, de crenças e de modelos, de ter sempre papel familiar distintos, com pouca tecnicidade. Onde é que está essa escala? Onde é que está essa regional? Não existe, não existe. Nós estamos a trabalhar e faz parte de uma associação, que é o projeto. Qual e porque envolve muito universidades está a Santa Casa, portanto é um laboratório colaborativo de investigação aplicada e nós estamos a tentar desenvolver exactamente um protocolo de avaliação, porque nós conseguimos avaliar as famílias de acolhimento, conseguimos avaliar as famílias adotivas por maioria de razão. 00:38:30:06 – 00:38:50:17 . Temos que saber avaliar as famílias biológicas para perceber estes pais têm ou não têm potencial para exercer a parentalidade e segundo, que têm potencial de mudança no tempo da criança ou não. Por ter potencial mudança em abstrato qualquer pessoa, mas tem que ser no tempo da criança. Podemos ficar à espera três anos, quatro anos, cinco anos, seis anos que a família muda e nunca tem nada. 00:38:50:17 – 00:39:06:12 . E depois chega um tio e depois a mãe tem um namorado novo e depois a razão? Um emprego. E passaram seis anos e temos uma criança equilibrada, sem perspectivas para o futuro. E isto porque de doença mental as pessoas pensam que a doença mental as vezes, por exemplo, a decisão é que a doença mental e vamos de Arrupe que nos vamos, que fiquemos, que a esquizofrenia não é assim. 00:39:06:14 – 00:39:43:00 . A doença mental resulta de experiências traumáticas, de ambivalências, de sofrimento que se vão acumulando, sobretudo crianças que não têm o nível de maturidade para processar os seus sentimentos e, portanto, nós temos de proteger as crianças, desenvolverem dinâmicas patológicas. Fruto dessas indefinições e da incapacidade do sistema em ser mais atuante. Não um dado que a mim me choca eu não tenho o número de cabeça, mas se eu disser 15.000, mas não fundo, é melhor não fazer nisto, neste número que nós retiramos crianças de famílias e depois pomos em casas de acolhimento, onde às vezes me parece que é pior a emenda que o soneto. 00:39:43:02 – 00:40:00:15 . Não há maneira de fazer melhor, mas no primeiro ano são 15.000. Já foram e já foram. O número já foram e fiz parte de um programa, na altura na Segurança Social, que era o plano de Ação, que era de qualificação das casas de acolhimento e quando começámos teve 15.000. Neste momento, felizmente, já melhorámos. Estamos na ordem dos 6000, 6300, portanto já foi um ganho grande. 00:40:00:17 – 00:40:20:20 . Ainda assim, a questão de fundo é esta é a casa de acolhimento, que são óptimas, mas independentemente de serem ótimas e misericórdia. 17 Portanto, eu já nem falamos ou só para nós e acho que são excelentes casas de acolhimento, mas o que cada criança tem direito é crescer em família. Então o ideal era era. Nós encontramos uma família de uma forma, nem que fosse temporária, para que ela conseguisse crescer. 00:40:20:22 – 00:40:54:07 . Sem dúvida, o que é o que acontece em praticamente todos os países europeus? Que o acolhimento residencial é residual e o acolhimento familiar e que é dominante em Portugal. Temos uma inversão por uma questão cultural. Nunca avançou o acolhimento familiar e agora está a avançar. Não é isso? Porquê? Porque o ambiente familiar. Imagine um bebé com um mês, uma casa de acolhimento não consegue dar aquilo que uma família dá, porque a pessoa que tem o biberão é sempre a mesma, as rotinas são sempre as mesmas, a tranquilidade é sempre a mesma de uma casa que tem dois ouvindo bebés é impossível. 00:40:54:09 – 00:41:09:22 . E portanto, aliás, a nossa lei proíbe que crianças com menos seis anos seja em casa acolhimento, Mas não diz que tem que se evidenciar, que é do interesse da criança com menos seis anos estar em casa de acolhimento. O problema é que não temos famílias de acolhimento em número suficiente. Nós damos e já temos 100 famílias de acolhimento. 00:41:09:24 – 00:41:33:06 . Começámos há quatro anos, estamos a conseguir e queremos aumentar significativamente, mas no país não é um grande caminho a fazer. Mas essas famílias de acolhimento são necessariamente temporárias. Isto não é uma forma de adoção paralela? Não, porque o objetivo, quando a criança é retirada, é que volta à família de origem, ou seja, a uma família que comprou na cria que estava em perigo de vida. 00:41:33:06 – 00:42:03:09 . Se for tirada o primeiro objetivo, a criança possa voltar para a sua expressa, a sua família e, portanto, esta família acolhimento garante o ambiente familiar até que a criança possa voltar para o seu contexto normal. Esse é o final feliz que se pretende e precisamos que as famílias de acolhimento sejam colaborantes, com famílias de origem e da nossa experiência nas crianças que já voltaram para as suas famílias ou que foram adotadas as famílias de acolhimento que continuam na vida das crianças como se fosse uma espécie de padrinhos não só da criança, mas da própria família. 00:42:03:10 – 00:42:30:07 . Eu acho que isso é uma coisa muito positiva. Vamos falar de adoção. Vemos muitos casais a quererem adotar. Vimos claramente que há crianças com que precisam de um projeto de família, mas volta e meia a manifestação de uma incompreensão que é mas porque é que nunca mais chega a minha criança? A minha no sentido de que ela leva me a perguntar qual é a parte do projecto que vão oferecer para a criança o projeto não fazer para si próprios. 00:42:30:07 – 00:42:53:17 . Mas enfim, pode ser uma contradição. Isso é mesmo utópico, porque a questão que se coloca é o processo educativo para proporcionar uma família à criança. Não é para propor ser um filho, uma família. Só que muitas vezes as expetativas são controladas. Como é que a explicação muito simples, primária de explicação, é o número de crianças para adoção é muito inferior, cerca de 20 vezes inferior ao número de casais que quer adotar. 00:42:53:19 – 00:43:13:20 . E então, se vamos a falar de crianças bebês brancas sem doenças, é exponencialmente inferior o número de crianças que estão disponíveis para adoção do que os casais que queria adotar. Daí o tempo. A criança quando tem um processo, a adoção rapidamente é adotada. Quando tem estas idades contra adolescentes, não conseguimos a família que está à espera porque é uma expectativa errada. 00:43:13:20 – 00:43:37:18 . E o que é importante é um justo expetativas para dizer se calhar não é preciso mais candidatos à adoção nesta fase, porque já temos uma lista tão grande. Não é que não é que que nunca vai adotar. Porquê? Porque o número queria ser menor. Isso é uma coisa negativa, porque é um sintoma de desenvolvimento numa sociedade. Se for na Dinamarca e crianças dinamarquesas serem adotadas apenas na Dinamarca e residual Porque? 00:43:37:18 – 00:43:57:11 . Porque é um país que oferece condições às famílias para cuidarem das crianças, formos a países mais subdesenvolvidos, o nível da adoção é muito maior. Nós passávamos nos últimos 15 anos 600 para 150. Portanto, isto é um lado positivo. É que as crianças conseguiram estar num contexto familiar natural e não precisaram de ser adotadas agora, pois os casais querem adotar, ficam com o sentimento. 00:43:57:13 – 00:44:24:05 . Mas há tantas crianças em casas de acolhimento e não podem ser adotadas. Mas estamos a falar de adolescentes. 72% das crianças em casa, com imensos adolescentes com problemas de comportamento, com comportamentos delinquentes e essas famílias não querendo falar dessas crianças, portanto, há uma rejeição. Como é que se faz a avaliação destas, destas famílias que querem adoptar? Há todo um processo de avaliação com entrevistas psicológicas com domiciliares, falar com outros familiares que se vai avaliar as competências para exercício da parentalidade. 00:44:24:07 – 00:44:40:18 . A grande questão é como há uma fusão muito grande entre oferta e procura? Como estava a dizer muitas das vezes quiserem um bebé, podem ter oito anos a espera porque não há. E o problema é que ao fim de oito anos já somos outra pessoa. A diferença é muitas, as vezes temos espera. Faça uma expectativa de uma coisa que não acontece, é demolidor. 00:44:40:19 – 00:44:57:14 . E como nós sabemos que os casais também que não conseguem ter filhos e vão para os testes de fertilidade, o impacto que isto tem também na dinâmica familiar, conjugal e portanto, este tempo de espera para uma coisa que não vai acontecer ou se acontecer, vai ser daqui muito tempo, não é? Também tem um efeito negativo para as famílias. 00:44:57:14 – 00:45:27:15 . Portanto, eu acho que há muito tempo defendo, devia haver maior transparência para dizer não é necessário termos mais famílias candidatas à adoção porque não temos crianças adotadas. Ou então outra coisa que termos candidaturas para perfis de crianças com deficiência. Esses mais velhos, porque essa necessidade tem de ser ao contrário, fazer ao contrário. Em Espanha fazem isso, fazem campanhas para dizer precisamos de famílias adotivas para crianças com mais de 12 anos ou para crianças com deficiência e então as motivações é ajudar essa criança. 00:45:27:17 – 00:45:46:13 . E isso acontece em Portugal. Continuamos a pensar que a adoção é a cegonha que leva o bebé para casa da família. Isso é quase um mercado de bebés. No fundo, hoje comparado é mais pequeno que a generalidade das pessoas. Tem melhor por vontade e desejo, mas não é claramente coincidente com aquilo que é. As características e necessidades das crianças. 00:45:46:13 – 00:46:09:10 . E quando se faz a avaliação das famílias, podemos chegar à conclusão que aquela família definitivamente não é uma boa família para acolher uma criança, para adotar uma criança sem atenção, a família adotiva, a família, acolhimento tem características diferentes porque pretende se coisas diferentes. Mas sim, nós fazemos muito isso porque é diferente ser pai biológico do que acolher uma criança, porque estas crianças tiveram uma experiência traumática. 00:46:09:12 – 00:46:34:09 . E quando chegam ao contexto familiar, sobretudo o acolhimento familiar, uma criança de oito anos que viveu oito anos em contexto de vida, tudo de exclusão. E é num contexto em que foi vítima de experiências traumáticas. Quando chega a nossa família, traz questões. Não é que é difícil uma familiaridade precisa de nós. Temos que escolher famílias. Tenho essas competências plus e temos que as ajudar a lidar com essas situações, porque há um choque. 00:46:34:11 – 00:46:54:15 . E essas, essas crianças testam a família. Sim, isso é normal. Mas tem a ver com a questão da vinculação. E nós queremos testar. Eu dou lhe o exemplo. Quando o meu filho, o segundo filho, nasceu, o Pedro, o João estava habituado a ser filho único, não é? De repente, o pai com uma não col exime assim o papá pode pôr o Pedrinho no chão e vai brincar. 00:46:54:15 – 00:47:13:13 . Como é que ele gosta muito no chão? Isso é natural das crianças. As crianças, as crianças, as crianças também querem ter a segurança do seu amor, não é? E, portanto, sobretudo crianças que nunca tiveram esse amor. Quando têm alguém que gosta deles, há uma ambivalência eles vão fazer o quê? Aquilo que nós chamamos a psicologia. Vou atacar o vínculo para confirmar. 00:47:13:18 – 00:47:34:09 . Deixa lá ver se isto aguenta. Deixa lá ver se posso abonar na família. Esses vocês estão bons, estão palavras é um pouco isso. É esse abanar? Não, não provoca aí umas más tensões, sem dúvida. Por isso é que nós temos de preparar as famílias perceberem. Isto vai acontecer a priori. E elas acreditam. As pessoas contam querer ter. As crianças estão muito a pensar no bebé e no que não. 00:47:34:10 – 00:47:51:23 . Houve muito que nós devemos ter uma audição seletiva. Mas esse trabalho das equipas técnicas, nós temos de trabalhar muito com os miúdos. Pelos peritos não teve consigo e sem ver com ele, teve com a criança que ele tem tanta insegurança que já não suporta mais ser rejeitado. Então a primeira coisa que vai fazer é tentar rejeitar para ver se o aguentas ou não. 00:47:52:00 – 00:48:13:02 . E se tu não aguentar mais errar mais um como os outros todos e confirmo se tu aguentares, ele começa a ficar ambivalente. Eu costumo fazer esta metáfora. É como um surfista entrar no mar contra picado, não é? O que é difícil é passar a zona de rebentação. Às vezes a onda sobe e voltamos para trás e depois, quando passamos a zona de rebentação, o mar fica mais forte e aí sim conseguimos ter uma certa estabilidade. 00:48:13:07 – 00:48:41:00 . Quando nós estamos a falar de filhos biológicos e eles se portam mal, nossos pais, eu, pelo menos quando me zango, posso me zangar tranquila e à vontade, porque? Porque, porque me zango e sei que nada de substantivo vai mudar nessa nossa relação. Quero imaginar que nessa relação entre pais adoptantes e crianças que têm essa biblioteca de vida difícil, seja um pouco mais difícil estabelecer a fronteira. 00:48:41:02 – 00:49:01:20 . Sem dúvida, essa, essa e essa é um tema muito, o que é muito rica tecnicamente. Mas é muito efetivo que nós, como pais, nós não racionalizamos a relação com os nossos filhos. Nós agimos emocionalmente. Não é isso, meu filho. Fizeram grandes separados. É isso que eu estou cansado, porque? Porque nós também não podemos ter o modelo dos pais omnipotentes, que são perfeitos. 00:49:01:20 – 00:49:18:18 . Nós somos carne e osso e temos excessos. E às vezes, como é que a diferença é que é inequívoco? Nós temos esse ser, o meu filho, está tudo do lado o tempo todo. Lá vai para o quarto e vamos pensar um bocado, Já vamos falar isso, levantar a voz que não devo. Isso quer dizer isto por pedido, mas ele sabe que eu o amo e a seguir evolui. 00:49:18:18 – 00:50:02:16 . Reparo estas crianças, como tiveram muitas experiências traumáticas, a mesmo comportamento pode reativar sentimentos mais traumáticos e activar comportamentos. Não é que são mais críticos, portanto, não podemos agir apenas com o coração como fazemos com os nossos filhos. Temos que ter um pensamento sobre aquilo que nós fazemos, aquilo que eu chamo intencionalidade terapêutica. Um Quando, já agora, aparece uma criança que é adoptada no seio de uma família que está em princípio equilibrada e aparece essa criança que oferece esse amor, mas ao mesmo tempo uma biblioteca de vou testar a ver até onde é que aguentam as fundações daquela família também podem ficar em causa. 00:50:02:16 – 00:50:22:13 . Podem abalar, sem dúvida, sem dúvida. Por isso é que o acompanhamento técnico é muito importante. Aliás, eu conheço vários testemunhos de famílias que adoptaram frutinhos de acolhimento e eu gosto quando são muito genuínos e dizem muitas As vezes penso porque a verdade é esta nós muitas vezes pensei desistir. Isto é muito duro. E as pessoas que conseguem compreender porque é que aquilo funciona. 00:50:22:14 – 00:50:42:21 . Mas é preciso muito empenho, muito importante apoio das equipas. Nós temos equipas, estão disponíveis 24 horas por dia, de forma sempre ligado, porque quando acontece, as pessoas não podem ficar sozinhas com o problema. Tem que cuidar e ter ajuda, mas depois também quando se consegue superar essas adversidades, também ficamos mais ligados, ficamos mais com isso e também somos melhores pessoas e aprendemos melhor a olhar para a vida, não é? 00:50:42:21 – 00:51:08:07 . Portanto, se me é exigido que exista uma visão romântica sobre a coisa, mas também muito gratificante. E quando as coisas correm definitivamente mal, até me custa usar a palavra e é uma devolução. Não quero ficar com esta criança. Uma rejeição já aconteceu, não é de quer na adoção, no acolhimento familiar, nós temos cerca de 180 cria zero 500 familiar, temos um, Temos cerca de 1% de situações de crianças que tiveram que sair. 00:51:08:09 – 00:51:26:21 . Muitas das vezes também foi no processo de aprendizagem de métodos. Não é que nós pensamos esta família ser esta criança e depois lá chegando, porque a gente vai ver o sobrinho do que se percebe como um erro de avaliação de função e informação que nós temos também deveria ser residual. Seguimos aquela informação naquele dia e conseguimos projetar um determinado tipo de funcionamento. 00:51:26:23 – 00:51:53:05 . E nem sempre nem todos os casamentos são perfeitos à primeira vista, não é? Mas o que diria? O que diria? Era isto que. Mas da adoção também, porque muitas das vezes há um romantismo sobre a coisa e não quero estar com isto. As pessoas querem adotar, mas quando adotamos uma criança que tem teve dois anos acolhida numa instituição porque foi vítima de maus tratos, as próprias crianças não verbalizar o seu sofrimento. 00:51:53:07 – 00:52:14:07 . O sofrimento está. Eu costumo dizer, é como se os seus órgãos emocionais estivessem danificados por dentro, só que não são vistos. E geralmente depois, ali na fase de latência, até aos seis, dez anos, a coisa não é visível. Mas quando chega a pré adolescência, aquilo que era o sofrimento estava cá dentro. Muitas vezes, vezes há uma externalização e vem cá para fora e de repente diz Eu estou me. 00:52:14:07 – 00:52:35:24 . Se eu era tão quietinho, agora tenho este tipo de comportamentos, agora é agressivo, agora mente, agora rouba. Porquê? Porque esta criança muitas das vezes teve coisas difíceis de gerir emocionalmente, com as quais teve sozinha. Por isso é que é muito importante o acompanhamento. Nós não temos agora como programa que é que que novo, que é muito importante na nossa opinião, que o acompanhamento após a adoção. 00:52:35:24 – 00:52:58:17 . Um casal quando adota tem que ter, tem como e porque atualmente, quando se adota, acabou, portanto, o Dr. João sensível e o filho e segue a vida é o que nós estamos a tentar fazer. É um projeto que é voluntário, mas com uma grande aceitação das famílias. E nós queremos continuar a vida das famílias adotivas não como imposição, não como vitimização, mas como uma relação de ajuda para quando começam a haver questões difíceis de digerir. 00:52:58:17 – 00:53:26:11 . Tem um outro filho biológico e esta criança começa a bater o outro, ou que é o outro a dizer agora o que é isto em casa? Estas coisas acontecem e é importante que as famílias fiquem sozinhas com isto e portanto, nós temos estar na relação de ajuda com as famílias para em conjunto, conseguimos ajudar a que consigam lidar com estas situações e nesse caderno imaginário ou real que mantenha ao longo dos últimos anos, onde é que estão as histórias que mais me encheram o coração? 00:53:26:13 – 00:53:49:20 . Eu assimilei um pouco melhor uma coisa eu estou há 25 anos do sistema. Eu bati durante 20 anos para ver que o limite familiar em Portugal e quando conseguimos finalmente lançar o programa de acolhimento familiar, aí estamos a aprender. Fomos, claro que fomos castrar, fomos estudar todos os modelos que vi na União Europeia, ver quais é que eram as melhores práticas termos colegas nossos foram um Quem andava com pessoas que não queriam lá porque temos que aprender a fazer bem. 00:53:49:22 – 00:54:23:14 . E quando nós percebemos que as crianças. Eu agora já não tanto, mas ao início todas as crianças que entravam nós tirávamos. Temos o grupo do WhatsApp, que é da família e com a família para trocarem fotografias a partilhar com a família de origem, porque quem está no filme de acolhimento tira a fotografia e manda para o nosso técnico, manda para os pais biológicos que eles terem acesso e nos meses ano estava e linha com quase todos as situações de uma coisa que é absolutamente inacreditável, que é a cara da fotografia da criança quando é tirada tinha sempre um ar triste, cansado, fechado, às vezes bebés recém nascidos passado uma semana e outra criança com os 00:54:23:14 – 00:54:52:09 . olhos a brilhar. A magia do ambiente familiar é uma coisa altamente mágica. Eu sei. Isto nos livros, mas ver isto na realidade é uma coisa absolutamente emocionante. Isso E nós temos famílias de grande qualidade. Nós temos famílias que têm cinco filhos e que acolhe núcleo familiar. Nós temos um caso de uma criança finlandesa cujos pais voltaram para a Finlândia e, passado três anos continuam a ter contacto com a família de acolhimento e fazem times e vêm cá visitar. 00:54:52:11 – 00:55:16:19 . E, portanto, como eu costumo dizer, o amor acrescenta sempre. A criança teve uma relação de amor na família, de acolhimento, volta para a família de origem, é adotado e transporta esse amor para outra relação e, portanto, atenua, portanto, não retrai. Isso é ser uma coisa positiva. Nada como puxar com esperança. Afinal, aquilo que todos nós, os mais afortunados sabemos, pode ser replicado nas vidas das crianças que foram maltratadas pelas suas famílias desde tenra idade. 00:55:17:00 – 00:55:23:04 . É bom saber que as missões de resgate podem, afinal, ter finais felizes até para a semana.…
Oficialmente é médica psiquiatra. Na prática, é uma ouvidora profissional ajudando pessoas a quem foi diagnosticado cancro. Ouve doentes, famílias e profissionais que tratam esta doença no IPO do Porto . Susana Almeida dirige o serviço de psiquiatria deste hospital. Mas de facto é uma especialista em transformar dor em narrativa, sofrimento em resiliência e perda em oportunidade de crescimento. No seu dia-a-dia aprendeu que a “A nossa cara diz muito sobre nós”, explicando que o trabalho de um psiquiatra começa antes mesmo de o doente nem sequer abrir a boca. É no detalhe que Susana encontra o primeiro capítulo de cada história. O olhar desviado, a hesitação ao caminhar, a escolha das palavras — tudo é revelador. Voltamos à observação da linguagem não verbal. Onde o gesto fala. E diz coisas que aa pessoas não conseguem colocar em palavras. É como se a palavra angústia estivesse em cada trejeito, tremura ou olhar vago. Claro, há o gesto e a palavra. Mas comunicar é também não comunicar. Explico-me: o não dito é uma forma de dizer. O desafio de Susana Almeida não é apenas escutar o que é dito, mas decifrar o que fica por dizer. A sua experiência diz-lhe que o confronto com uma doença grave é, muitas vezes, um momento de balanço. O momento da nostalgia do que poderíamos ter sido. O confronto com as escolhas da vida. Porque escolhi ser isto e não aquilo. Porque decidi estar com esta pessoa e não outra. Ou nenhuma. Perguntas sem resposta apaziguadora. E sem tempo para reviver. Depois há o confronto com o corpo. Com a possível ou real mutilação. Com o impacto no lar. Ouvi a história de uma mulher que recusava a ideia de ter de tirar uma mama porque os seios eram parte fundamental e inegociável da sua identidade pessoal. Mas este episódio não é só dor. É uma conversa carregada de energia e esperança. De pacificação, crescimento e possibilidade. Bem-vindos à discussão milenar da condição humana. Vale ouvir. Vale partilhar. A luta contra as grandes adversidades recolhe forças nos dias bons. Nos dias que passaram, nos dias que hão de vir. A alegria de um momento robusto de afetos funciona sempre como uma bateria. E as esperança do melhor como dínamo de energia. Vale sempre ouvir. Vale falar. Vale ser humano. Na mais universal das definições. RESUMO No Instituto Português Oncologia do Porto, num gabinete repleto de histórias não contadas, a psiquiatra Susana Almeida enfrenta diariamente as fragilidades da condição humana. Diretora do serviço de Psiquiatria, Susana Almeida é especialista em transformar dor em narrativa, sofrimento em resiliência e perda em oportunidade de crescimento. “ A nossa cara diz muito sobre nós ”, começa por explicar, sublinhando que o trabalho de um psiquiatra começa antes mesmo de o doente abrir a boca. É no detalhe que Susana encontra o primeiro capítulo de cada história. O olhar desviado, a hesitação ao caminhar, a escolha das palavras — tudo é revelador. “ A observação do não verbal é essencial. Como alguém chega à consulta pode dizer mais do que qualquer exame. ” No IPO, onde os doentes frequentemente enfrentam diagnósticos de cancro, estes sinais tornam-se ainda mais importantes. “Muitas vezes, as pessoas não conseguem verbalizar a angústia, mas ela está lá, evidente nos gestos e na postura.” O desafio de Susana não é apenas escutar o que é dito, mas decifrar o que fica por dizer. A sua experiência diz-lhe que o confronto com uma doença grave é, muitas vezes, um momento de balanço. “ Há quem se foque no presente, mas muitos são assombrados pela nostalgia do que poderia ter sido. Escolhas que não fizeram, caminhos que não tomaram, relações que não cultivaram. É como se o tempo parasse num passado idealizado, mas a verdade é que o que não foi vivido não é garantia de nada melhor. ” Entre os relatos que marcaram o seu percurso, Susana recorda uma paciente que recusava a ideia de uma mastectomia. “Ela dizia: ‘ As minhas mamas são parte crítica da minha identidade .’ Cada pessoa atribui valor ao corpo de forma única, e o papel do médico é ajudá-la a reconstruir essa relação consigo mesma.” Este apoio vai além da saúde física — trata-se de restaurar um sentido de identidade e dignidade. Mas e quando a saúde mental de um doente colide com a dinâmica do lar? Susana explica que as relações, tal como os corpos, sofrem transformações sob o peso da doença. “S e o casal já tem uma boa comunicação, é mais fácil enfrentar os desafios juntos. Mas, se há lacunas ou tensões, estas tornam-se evidentes. ” Em muitos casos, Susana convida os parceiros para as consultas, criando um espaço seguro para as dificuldades poderem ser discutidas. “ A ideia é encontrar novas formas de conexão e intimidade. Muitas vezes, é um momento de reconstrução para ambos .” Há um fio condutor que atravessa o trabalho da psiquiatra: a esperança. “ A esperança é uma força motriz épica. Nunca devemos castrá-la ”, afirma com a convicção de quem já viu o pior e o melhor da natureza humana. Mesmo em cenários de prognósticos difíceis, a escolha das palavras faz toda a diferença. “ Não se trata de pintar um cenário irreal, mas de mostrar que, mesmo num contexto difícil, há caminhos a explorar. As palavras têm peso, e o tom certo pode ser decisivo. ” No entanto, este equilíbrio entre realismo e esperança exige muito dos profissionais de saúde. “ Os médicos mais motivados são, muitas vezes, os mais vulneráveis ao ‘burnout’. Têm uma enorme disponibilidade emocional e acabam por negligenciar o auto cuidado.” No IPO, há mecanismos de suporte para a equipa de psiquiatria, incluindo supervisões regulares. “ Precisamos de espaços para refletir, validar o que fazemos e apoiar-nos mutuamente .” Quando lhe pergunto como encontra forças para lidar com tanto sofrimento, Susana sorri. “ O que me move são as pequenas vitórias. Ver que um doente conseguiu voltar a jantar com a família ou que encontrou paz num momento de caos é o que me valida. ” TÓPICOS & CAPÍTULOS [00:00] Introdução ao Tema da Comunicação em Momentos de Dor O episódio aborda a importância da comunicação em momentos de dor extrema e vulnerabilidade, especialmente em situações de diagnóstico de doenças graves, como o câncer. [00:12] Apresentação de Susana Almeida Susana Almeida, médica psiquiatra e ouvidora profissional, fala sobre a sua experiência em ajudar doentes diagnosticados com cancro e as suas famílias. [00:46] A Linguagem Não Verbal na Psiquiatria A importância da observação da linguagem não verbal e como os psiquiatras interpretam sinais antes mesmo do doente falar. [01:46] O Confronto com a Doença e a Identidade Discussão sobre como a doença pode levar a reflexões sobre escolhas de vida e a identidade pessoal, incluindo a resistência e superação. [03:01] A Comunicação em Casais Durante a Doença Como a comunicação entre casais pode ser afetada por diagnósticos de doenças graves e a importância de abrir diálogos sobre intimidade. [04:50] A Importância da Observação no Atendimento Psiquiátrico A prática de observar o comportamento e a aparência dos doentes como uma ferramenta diagnóstica. [06:34] A Coerência entre Verbal e Não Verbal A busca por coerência entre o que é dito e o que é comunicado através da linguagem não verbal. [09:04] O Papel do Psiquiatra no Acompanhamento de doentes com Câncer Como os psiquiatras auxiliam os doentes a lidar com o medo e a imprevisibilidade da doença. [10:24] Nostalgia e Reflexão sobre Escolhas de Vida A ideia de nostalgia em relação ao que poderia ter sido, especialmente em momentos de crise. [12:44] A Comunicação sobre Mutilações e Identidade Discussão sobre como as mutilações afetam a identidade e a sexualidade, e como isso é abordado em casa. [14:12] Abertura de Diálogo em Casais A importância de ter um histórico de boa comunicação para lidar com questões difíceis. [16:09] Consultas com Parceiros A prática de incluir parceiros nas consultas para facilitar a comunicação e o apoio mútuo. [19:57] A Superação de Mutilações e a Relação Como casais podem encontrar novas formas de intimidade após uma mutilação. [22:31] O Impacto da Doença nas Relações Reflexão sobre como a doença pode revelar fragilidades nas relações e levar a separações. [25:57] Crescimento Pessoal Após a Doença A ideia de crescimento pós-traumático e como as pessoas se reavaliam após experiências difíceis. [27:51] A Conversa sobre a Morte A dificuldade de abordar a morte e como isso varia entre culturas. [30:06] A Importância da Comunicação Clara A necessidade de uma comunicação clara e sensível sobre a morte e o tratamento. [32:35] O Cuidado Pessoal dos Profissionais de Saúde A importância do auto cuidado para os profissionais de saúde e como eles lidam com a carga emocional do trabalho. [35:25] O Luto dos Profissionais de Saúde A necessidade de processar a perda de doentes e o suporte entre colegas. [39:39] A Responsabilidade dos Profissionais de Saúde A importância de cuidar de si para poder cuidar dos outros. [43:06] A Esperança como Força Motriz A esperança como um elemento essencial na vida dos doentes e como isso é percebido pelos profissionais. [47:56] A Comunicação de Más Notícias A formação e a importância de comunicar más notícias de forma sensível e clara. [51:33] Conclusão sobre a Prática Psiquiátrica Reflexão sobre a satisfação que vem de auxiliar os doentes e a importância de ouvir e entender as suas experiências. LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO Transcrito Automaticamente Com Podsqueeze JORGE CORREIA 00:00:12 Ora vivam! Bem vindos ao Pergunta Simples o vosso Podcasts sobre Comunicação. Não encontro momento mais importante para comunicar do que aquele instante em que sentimos uma dor extrema ou uma vulnerabilidade infinita. Porque é necessário, porque é relevante e porque ajuda muito. Podemos fazer uma lista infinda de situações em que a dor, a fala e a escuta se encontram. Mas poucas situações se comparam às da perda de vida humana ou de grave ameaça sobre a sobrevivência. Este programa é sobre a forma como reagimos, como pedimos ajuda e confessamos os nossos mais íntimos sentimentos. Em particular quando alguém nos informa de um diagnóstico terrível, uma edição sobre coisas difíceis, mas também sobre esperança contagiante e resistência humana às maiores adversidades do mundo. Oficialmente é médica, psiquiatra na prática e uma ouvidora profissional ajudando pessoas a quem foi diagnosticado cancro. Houve doentes, houve famílias e até houve profissionais que tratam esta doença o cancro no IPO do Porto. Susana Almeida dirige aí o serviço de Psiquiatria, mas de facto é uma especialista em transformar dor em narrativa, sofrimento em resiliência e perda em oportunidade de crescimento no seu dia a dia. JORGE CORREIA 00:01:46 Aprendeu que a nossa cara diz muito sobre nós. Explicando que o trabalho de um psiquiatra começa mesmo antes do doente sequer abrir a boca. É no detalhe que encontra o primeiro capítulo de cada história. O olhar desviado, A hesitação ao caminhar, a escolha das palavras. Tudo é revelador. Voltamos à observação da linguagem não verbal, onde o gesto fala e diz coisas que as pessoas não conseguem colocar em palavras. É como se a palavra angústia estivesse em cada trejeito, em cada tremura ou em cada olhar vago, claro, ao gesto e à palavra. Mas comunicar é também não comunicar. Eu explico me. O não dito é uma forma de dizer. O desafio de Suzana Almeida não é apenas escutar o que é dito, mas decifrar o que ficou por dizer. A sua experiência diz lhe que o confronto com uma doença grave é muitas vezes um momento de balanço, um momento da nostalgia do que poderíamos ter sido entre as escolhas da vida. Porque escolhi ser isto e não aquilo, Porque decidi estar com esta pessoa e não com aquela? Perguntas sem resposta, apaziguadora à primeira vista e sem tempo para as poder reviver, Afinal, são coisas que ficaram lá atrás no passado. JORGE CORREIA 00:03:01 Depois, ao confronto com o corpo, com a possível ou real mutilação com impacto no lar, Lá em casa eu vi, por exemplo, a história de uma mulher que recusava a ideia de ter de tirar uma mama por causa do seu tratamento, porque os seus seios eram parte fundamental e inegociável da sua identidade pessoal. Mas este episódio não é só sobre dor, é também sobre superação numa conversa carregada de energia e de esperança, de pacificação, de crescimento e de possibilidade. Bem vindos à milenar discussão sobre a condição humana. Susana Almeida, médica psiquiatra, dirige neste momento o Serviço de Psiquiatria do IPO do Porto. Estávamos aqui a falar naqueles testes que se fazem sempre antes de começar uma gravação sobre a questão da nossa imagem, como é que é e como o penteado está melhor, não está? Eu estou bem, Fique bem. A luz está boa, não está? A nossa, nossa relação com a nossa cor, nossa imagem pessoal está sempre em causa. Estamos sempre a olhar para o espelho. SUSANA ALMEIDA 00:04:09 Eu acho que às vezes não estamos a olhar para o espelho, mas pensamos que estamos a para o espelho. SUSANA ALMEIDA 00:04:13 Não é uma espécie de sentido de oportunidade de darmos o nosso melhor. E isso não é mau. É uma característica que mostra Abril e gosto. Gosto em darmos o máximo, mas de facto, às vezes não é uma prioridade. JORGE CORREIA 00:04:26 É uma espécie de brio para a maneira como nós estamos a olhar para a maneira como gostamos que os outros olhem para nós e dizer assim olha, está muito bem e gostamos, Eu gosto de a ver. Aliás, a nossa cara diz muita coisa sobre nós. A maneira como eu imagino que alguém entre aí no consultório, um médico, um psiquiatra, ainda por cima uma psiquiatra, olha e tira logo a pinta ao que aí vem. SUSANA ALMEIDA 00:04:50 Não devemos tirar logo a pinta. Aliás, é muito mau irmos, como se diz em Portugal, em português corrente, irmos de carrinha. Não é a fazer um pressuposto até preconceituoso porque associamos algumas características de gosto ou de estilo a classes sociais ou etnias ou subgrupos e às vezes até é bastante enganador. Mas há, de facto uma coisa que os psiquiatras sempre se habituaram a fazer, que é a minúcia da observação. SUSANA ALMEIDA 00:05:20 Por exemplo, eu faço muito gosto e é assim que ensino os os internos que estão comigo e os outros que estão comigo a ir buscar os meus doentes à sala de espera para poder ver muito antes como eles chegam e com quem estão, como estão, se estão a conversar, se estão a olhar para o chão, se estão isolados, estão sozinhos, socializam e, portanto, como se levantam? Como caminham? Qual é a sua indumentária? A velocidade, a forma como caminham, tudo isso é uma informação preciosíssima para um psiquiatra, porque acrescenta muito àquilo que eu já estive a consultar no processo antes chamado doente. E nesse sentido, se quiser. Para o psiquiatra, a observação do não verbal mais do que até o aspecto só da compleição da face ou do cansaço, acrescenta imenso valor, imenso valor e, portanto, sim, sobretudo neste contexto, muitas vezes um aspeto muito determinante. Infelizmente, às vezes eu vejo pessoas com pior aspecto que o que eu esperaria, mas muitas vezes, surpreendentemente, eu vejo pessoas como muito melhor aspeto que eu esperaria. SUSANA ALMEIDA 00:06:20 Portanto, isso também é gratificante. JORGE CORREIA 00:06:22 Então, Susana, E pode ensinar nos a nós, leigos, não psiquiatras e que não trabalhamos como doentes. O que é que lê? Como é que se leem as pessoas? O que é que vai à procura? SUSANA ALMEIDA 00:06:34 Eu vou à procura daquilo que nós normalmente vamos à procura numa interação social, mas um bocadinho mais além, se quiser. Aquilo que eu tive, tentei dizer no início. É uma das características mais importantes da comunicação não verbal e até uma ferramenta do psiquiatra chama se a aparência e o comportamento. É uma forma que nos ajuda a perceber se a forma começou a se apresenta e se fala. É coerente com a forma como a pessoa normalmente é e com a mensagem que nos quer transmitir. Portanto, o que é que nós estamos à espera? De uma certa coerência entre o verbal e não verbal ou de uma incoerência? Vamos à espera de ver se a pessoa está a comunicar connosco ou com mais alguma entidade que pode ser produzida pelo seu cérebro, como por exemplo, na doença psicótica, na esquizofrenia. SUSANA ALMEIDA 00:07:22 De facto, responde a estímulos que não tem perceção, portanto algo que acontece dentro do seu cérebro, mas que eles interpretam como vindo do exterior. É uma coisa fascinante e assustadora, porque, de facto, nós percebemos que o mundo está perturbado com qualquer coisa que ele vê e sente ou só ouve. E nós percebemos que está ali uma espécie de interrupção na comunicação. Mas o doente habitual aqui, por exemplo, no sítio onde eu trabalho, há um doente que não é habitualmente o doente dito psicótico. É um doente que pode estar e. Digerir, por exemplo, o diagnóstico, processar o que lhe está a acontecer, às vezes de uma forma mais ansiosa, às vezes de uma forma mais depressiva e às vezes até com alguma normalidade. Tudo o que eu tento procurar é se aquilo que me está a dizer, então, coerente com tudo aquilo que eu estou a tentar perceber, se esquiva os olhos, se olha bem, se fica manchado, se chora, se chorei um choro triste, se é um choro gritado de revolta também acontece. SUSANA ALMEIDA 00:08:27 Se é um doente que não prefere falar comigo porque está zangado e até está indignado com vir à psiquiatria. Existe imenso estigma ainda hoje e, portanto, muitas vezes o que eu pretendo é só uma forma de tentar chegar até ele. E às vezes todas essas pistas são importantíssimas. Até posso às vezes começar uma consulta por refletir isso mesmo. JORGE CORREIA 00:08:48 Como é que se ajuda doentes, neste caso doentes de cancro, que acabaram de saber ou que já estão em tratamento no instituto? A lidar com essa noção de imprevisibilidade e de medo do futuro. SUSANA ALMEIDA 00:09:04 É engraçado. Eles nós ajudamos, mas às vezes eles até nos ensinam a nós como é que se pode fazer isso de forma competente. Eu acho que estou numa posição de grande privilégio, porque eu todos os dias aprendo muito e aprendo com as pessoas que tenho a sorte de poder consultar. Ora bem, pensemos na pessoa e nós chegamos a alguém novo, um médico, neste caso uma psiquiatra com toda uma bagagem de quem eu fui até hoje. A minha identidade, a minha cultura, o meu meio, os meus recursos internos e externos. SUSANA ALMEIDA 00:09:41 E é essa pessoa que adoece. Portanto, eu adoeço dentro de uma personalidade, de um contexto e uma forma de estar. E nós temos de conhecer exactamente essa pessoa para perceber a forma como ela vês. Por exemplo, uma coisa que é muitíssimo relevante essa pessoa já teve antecedentes de um adoecer patológico perante o sofrimento. Há pessoas que o sofrimento não é uma doença de todo. Aliás, muitos de nós vamos ter se tudo correu bem, muitas perdas ao longo da vida. Desde logo, quando fazemos escolhas, as escolhas importantes da nossa vida importam sempre um caminho e outro que ficou para trás. Portanto, se nós vamos para a medicina ou se vamos para o jornalismo, deixamos de poder ser arquitetos ou pilotos de aviação, pelo menos em tempo real. E ao mesmo tempo, podemos ter um dia. JORGE CORREIA 00:10:24 Isso dói nos. Essa, essa escolha que em princípio é positiva. Nós, perante os dados que nós temos da nossa vida naquele momento, fizemos uma escolha positiva. Como é que essa ideia do que não escolhemos nos dói? Então, passamos a nossa vida sempre a choramingar Não. SUSANA ALMEIDA 00:10:42 Não, não, não, não nos dói sempre. Vai nos sempre ser a escolha que nós tomamos não nos agradar ou não se cumprir. Não, não, não nos permitir concretizar aquilo que esperamos que ela pudesse ser. E nesse sentido, muitas vezes temos uma coisa que é peculiar, que é uma nostalgia do que poderia ter sido. E essa nostalgia do que poderia ter sido acontece muitas vezes, quando depois a vida corre mal. JORGE CORREIA 00:11:04 Como é que é isso? Eu quero saber sobre isto. Nostalgia daquilo que poderia ter acontecido. Portanto, eu fui por aqui e agora estou aqui, como se diz também no meu norte. Estou aqui a torcer a minha orelha, porque que diabo, fiz a escolha errada. SUSANA ALMEIDA 00:11:18 E olhe se imenso cá nesta vivência da doença. E foi por aí que a gente começou. Imagine que eu adoeci com uma doença, neoplasia e essa doença neoplasia feita, por exemplo. A minha vida relacional começa por afetar a minha profissão e, portanto, eu vou para casa. Sou casada, imagine, e ganho menos dinheiro. SUSANA ALMEIDA 00:11:39 Sinto me afetada na minha autoestima porque não consigo providenciar para a minha família da mesma forma, é porque sinto me incapacitada e portanto, fragilizada numa posição de semi dependência, se quiser. E na sequência dessas perdas eu noto que o apoio que eu gostaria de ter do meu marido não é exactamente aquilo que eu esperaria se um dia ficasse doente, porque as coisas correm bem à partida. Quando a vida corre bem, às vezes a vida começa a correr mal e normalmente, na versão lógica, é uma situação desagradável, mas frequente, de perdas sucessivas, pelo menos transitórias. Lá está, porque a incapacidade para trabalhar muitas vezes resulta nestas circunstâncias que eu estou a dizer. Mas imaginemos como, por exemplo, e eu vi hoje, que é o caso de haver uma senhora que tem um tipo de neoplasia que afecta muito a sua sexualidade e a sua identidade feminina, com alterações no corpo que são marcantes e hormonais, por exemplo. Nessa altura a pessoa pode sentir que esta pessoa está a desiludir. A pessoa que está aqui ao meu lado não me está a apoiar nem me sabe cuidar na medida que eu gostaria. SUSANA ALMEIDA 00:12:44 Sempre fui um homem frio. Se eu tivesse ficado com aquele meu primeiro namorado que era carinhoso, talvez isto fosse diferente. Está a ver como é engraçada a vida? Como se o tempo ficasse ali congelado e o que era fosse o que eu esperaria que fosse, não é? Não é. O tempo passou e aquele namorado ou aquela pessoa que uma vez conhecemos que era carinhoso e simpático, se calhar hoje é uma pessoa desagradável e muito ressabiada com a vida. Nós não sabemos, mas nós fazemos este exercício em permanência. O ser humano fá lo muitas vezes. E se eu tivesse escolhido ser enfermeira, sei que agora talvez pudesse ajudar melhor. E se eu tivesse, em vez de ter ido ver? Como se nós tivéssemos uma capacidade de manipular o tempo e pudéssemos ir rebuscar oportunidades sem perceber que houve uma modificação radical. O tempo passou, eu também sou diferente. JORGE CORREIA 00:13:34 Estamos a falar agora dessa mulher que sofre uma questão que afeta a sua sexualidade, a sua, a sua doença. Provavelmente até pode sofrer uma mutilação numa mama onde for. JORGE CORREIA 00:13:47 Como é que se conversa lá em casa? E eu estou a falar de uma mulher no caso da mama de um homem, no caso da próstata, no órgão sexual. Como é que? Como é que se abrem vias de diálogo lá em casa, quando se calhar muitos destes casais nem sequer habitualmente falavam de coisas mais normais e comezinhas e depois lhes caiu uma desgraça em cima. SUSANA ALMEIDA 00:14:12 Está a ver como é o ponto? O ponto é esse. Se o casal a comunicar ou tem um histórico de boa comunicação verbal, não verbal, sexual, conjugal, habitualmente nós temos isso a nosso favor, como é evidente. Portanto, é um casal que vai ter menos dificuldades, que vai ter mais capacidade em pedir ajuda e encontrar outras formas até de se encontrar. Peço desculpa pela redundância na forma como encontra o corpo e encontra o outro. Como pensa essa intimidade? Novas formas de excluir o erotismo. Eu vejo aqui coisas fantásticas na forma de um casal muito cúmplice encontrar formas satisfatórias de ter uma sexualidade plena, não aquela que era, mas a que passou a ser. SUSANA ALMEIDA 00:14:50 Se o casal já traz problemas, se a pessoa que há dois já tem timidez ou dificuldade em ser sentida e percebida pelo seu parceiro e vice versa, o parceiro tem dificuldade em exprimir se porque também muito frequente. Nós ainda temos uma cultura em que as pessoas do género masculino têm alguma dificuldade em dizer ou verbalizar fragilidades desse género, quase como se a virilidade fosse uma condição sine qua non para eu ser a pessoa que sempre fui. E desconstruir isto, sobretudo nas gerações mais velhas, é muito complicado. Portanto, como é que se chega lá a casa com naturalidade? E se eu entendo, por exemplo, na consulta nós temos uma colega que é mesmo especialista em homossexualidade e trabalha com estes casais. Mas se eu perceber em consulta que há algum tabu ou obstáculo que isto está a cavar o isolamento da pessoa e torná la mais doente e naturalmente, uma pessoa doente afetam o sistema e o sistema e a família, e vai muitas vezes além do casal. Eu às vezes convido a pessoa a vir, o companheiro, o parceiro, se quiser, companheiro. SUSANA ALMEIDA 00:15:55 É uma forma que às vezes é uma palavra até bonita, mas que está destituída de seu sentido quando nós falamos em termos. JORGE CORREIA 00:16:03 O que acontece nessas consultas? Em que? Em que convida o outro ou a outra a estar presente? SUSANA ALMEIDA 00:16:09 Eu preparo, às vezes até escrever uma carta, faço questão. Gostaria muito de ter presente. Gostaria muito de o conhecer. Desculpa este abuso, portanto, quando vejo que a pessoa se calhar vai estranhar ser convocada a uma consulta e depois é com naturalidade, sempre à frente da pessoa que está doente para que ela não se sinta excluída ou sentir que há uma espécie de conspiração contra ela. E se nunca nos abordamos com a naturalidade que tem que ser. Podemos muitas vezes com de uma forma que eu penso que facilita, que é legítima. Nesta consulta, em que eu já estou há muitos anos, é habitual que pessoas que passem por aquilo que está a passar, a sua mulher ou o seu marido refiram que complexo o retomar da intimidade, que há uma insegurança com o próprio corpo e que isso transforma muitas vezes uma insegurança na relação. SUSANA ALMEIDA 00:17:02 Não sei se isto vos tem acontecido, se algo em que tenham refletido. Gostaria muito de ouvir ambos na forma como se adaptaram a esta situação ou se estão a tentar adaptar a isto. Como é que se. JORGE CORREIA 00:17:11 Ultrapassa depois uma situação de uma mutilação, por exemplo, ainda que possa ser temporária, no caso de, enfim, de uma mama, que uma mulher releva muito como como parte da sua própria identidade, quer. Quero imaginar esta coisa de chegar a casa sem algo que era muito importante para aquela relação, para aquele casal. Sim, estou. Estou a pensar em casais heterossexuais, enfim, comum como uma norma mais genérica, mas isto pode aplicar se a qualquer, a qualquer. SUSANA ALMEIDA 00:17:38 Jornada, É. JORGE CORREIA 00:17:39 Verdade. E tipo de. SUSANA ALMEIDA 00:17:40 Relação é engraçado. Tudo depende da forma como a pessoa valoriza o órgão. E uma vez tive aqui uma situação bizarra em que uma mulher disse que se a proposta for mastectomia, prefiro morrer, porque as minhas mamas, para mim, são uma parte crítica da minha identidade. SUSANA ALMEIDA 00:17:59 Eu não consigo imaginar me sem elas e, portanto, uma delícia, mesmo com gravidade. Um caso que me recordo e tivemos que trabalhar isso muitíssimo bem. E foi possível fazer a cirurgia de uma forma mais poupadora para ela conseguir lidar com o processo. Mas também já tive pessoas para quem o cabelo era a nossa, que chamávamos a essa paciente Rapunzel. O cabelo era a identidade. Era um cabelo gigante, maravilhoso, de um volume e de uma beleza que de facto, era a identidade que ela sempre reconheceu em si. Tenho o cabelo comprido desde pequenino, portanto, partindo do princípio genérico que nós valorizamos sempre são órgãos que, dentro da sua individualidade, da sua singularidade, da sua forma e do seu e da sua textura, contexto, etc, São profundamente íntimos e normalmente são órgãos eróticos a que se atribui o sentido erótico. A maior parte das pessoas, curiosamente, passa por isso de uma forma brilhante. Custa, mas nós podemos facilitar isso. E se no início há uma certa timidez e até há mulheres que não gostam de se destapar ou descobrir para quem estar nu em presença da pessoa que é o seu objecto de amor e da pessoa com quem partilha a sua sexualidade. SUSANA ALMEIDA 00:19:15 É quase horrível. Horrível no sentido de eu tenho medo que eu não me vejas como algo desejável. Eu tenho pânico em que eu deixo de ser um objecto de amor para ti ou de desejo. E nesse sentido, o que é surpreendente é que a pessoa que de facto se importa e tem uma relação madura e de grande qualidade com quem passa por uma coisa dessas, não vê isto todo como um obstáculo. A maior parte das pessoas passa por isso. Se tiverem uma relação sã, se tiverem uma relação sã, conseguem ultrapassar esse obstáculo. O mesmo para o homem e apesar de não se ver na próstata, mas às vezes há cancros do pénis ou do testículo também passam por isso. JORGE CORREIA 00:19:57 Já aprendi agora nesta conversa que o sexo fraco afinal é o dos homens. Então é exemplos de homens que afinal se tenham portado surpreendentemente bem neste processo e que é que a Susana tenha tenha acompanhado. SUSANA ALMEIDA 00:20:14 Eu nem sequer consideraria que o sexo fraco é o dos homens. Eu pensei que as mulheres, na nossa cultura, porque também trabalhei na cultura anglo saxónica, fiz a minha especialidade em Inglaterra. SUSANA ALMEIDA 00:20:24 Eu acho é que as mulheres na nossa cultura têm uma posição mais estoica, se quiserem, geracionalmente, Realmente são as pessoas que são expectáveis serem cuidadoras dos mais velhos, mesmo quando não são os seus pais, quando são só as noras. E esse contacto mais se calhar natural, com um corpo doente e vivido pela mulher que de uma forma mais natural do que o filho ou o genro. Portanto, o corpo que adoece normalmente fica mais recatado e é observado mais pelas mulheres. Esse foi assim que se foi educado cá menos e, portanto, é uma forma mais natural de ver o corpo doente por parte da mulher, por parte do homem. Mas não concebo que seja de todo fraco e vejo, de facto, cuidadores masculinos que são extraordinários. Como é que um homem extraordinariamente, Posso lembrar me, por exemplo, de um caso fora de série porque é fora de série e nem sequer é uma atração sexual direita. Um doente meu que nem sequer é meu doente. Ele nunca foi meu doente. Ela foi só um homem que eu pude acompanhar porque ele nunca adoeceu Do ponto de vista psiquiátrico, até foi uma doença oncológica muito complicada. SUSANA ALMEIDA 00:21:30 é uma doença oncológica que o obrigou desde pequena a fazer cirurgias e uma tipo de cancro que aparece repetidamente porque é hereditário. Portanto, ele a fazer esta série de cirurgias ficou com aquilo que a gente chama sacos à exaustão. Portanto, ele ficou com quatro ostomia, Jorge, quatro dores urinárias e duas daquilo que a gente chama colostomia do cólon. Portanto, ele ficou com dois sacos à frente. Como é que se sobrevive? E com a dignidade e um brilho que não tem no chão? Este homem veio à minha consulta muito triste e disse me que esta última cirurgia tinha sido o fim do seu relacionamento, que ele tinha que se divorciar. E eu perguntei então porquê ele? Porque a minha mulher é linda, maravilhosa e eu não posso obrigá lo a viver com uma pessoa como eu. Fica. Portanto, eu preciso de me divorciar para que ela possa ser feliz e encontrar a felicidade com outra pessoa que lhe possa proporcionar o que eu não consigo. E eu disse Mas não percebo. Então vocês não são felizes e gostam um do outro? Como é que acha que ela agora vai ser feliz só porque. SUSANA ALMEIDA 00:22:31 O meu doente, vamos chamar de António, adoeceu. Ele diz Então amar é libertar. E nós éramos autores, não tem noção. Nós éramos profundamente realizados sexualmente. Como é que eu posso impor a minha mulher esta limitação horrível? Tem noção do que é Dois sacos à frente e dois sacos atrás? O medo que isto de escola, o medo que transborda, o medo que haja uma fuga inadvertida. Isto é uma. Isto é muito difícil. Olha, não foi nada difícil. Nós chamamos o casal, tivemos aqui umas reuniões a dois e depois a três. A mulher dele era extraordinária também e eles encontraram um equilíbrio satisfatório e muito realizado para poderem ver a sua sexualidade. E sabe qual é a ironia? Passados dois anos, foi ela que adoeceu com cancro da mama. E sabe o que é que é engraçado? Já sabe, claro. Eles viveram muitíssimo melhor essa, essa doença, porque sabiam exatamente o que era preciso fazer para que as coisas corressem bem. JORGE CORREIA 00:23:37 O que é que acontece? Estávamos a falar agora aqui deste vou me divorciar para a libertar. JORGE CORREIA 00:23:43 Quando acontece? Quando acontece exactamente o divórcio? Mas pelas más razões que é alguém que sofreu uma doença oncológica e que ainda por cima, quando chegou a casa recebeu mais uma notícia que é essa pessoa que está está lá em casa, diz que se vai embora, que não aguenta. SUSANA ALMEIDA 00:24:02 Sim, isso é um bocadinho o início da conversa, não é? Naquela sucessão de perdas que às vezes sucede. É triste e às vezes é por isso que eu posso ir à sala de espera. Às vezes nós vemos pessoas que chegam acompanhadas e nós percebemos na primeira consulta ou na segunda que a relação é frágil, tem ali vulnerabilidades complicadas que já vem de trás. A doença é só uma espécie de reforço dessas vulnerabilidades. E às vezes a terceira consulta já não está lá ninguém. A pessoa já vem sozinha, é a quarta ou a quinta. Confirma se que houve uma separação. E habitualmente as pessoas têm o entendimento de o meu marido não aguentou, a minha mulher não conseguiu mais e, portanto, o casamento não sobreviveu à doença. SUSANA ALMEIDA 00:24:46 Algumas pessoas com mágoa, algumas pessoas com rancor, outras pessoas com naturalidade, até quase que um alívio, como se aquilo fosse uma coisa que já era má. E então, olha, mais vale sozinho que mal acompanhado. Portanto, temos sempre surpresas. As pessoas não vivem como nós esperamos, vivem como elas próprias aprendem e nos ensinam. E no nosso processo. E essa é ajudar as pessoas nesse caminho. O que é fabuloso ao trabalhar cá é que a gente percebe que a maior parte das pessoas tem de facto um crescimento pós traumático. Ou seja, eu não sou igual e tive muitas perdas com a doença. Mas eu sei melhor o que quero e sei melhor escolher. E parece que aquele caminho que agora se abre é exatamente o caminho que eu quero traçar, que é uma coisa que nós, quando não temos dificuldades físicas, relacionais, quando temos aquilo que a gente se chama a ideia da imortalidade, porque somos jovens e nunca percebemos o que poderá ser correr mal antes de chegar à velhice. Porque a gente jovem não é tudo falado de gente jovem, sei lá, pessoas com menos de 30 anos ou 40 acham sempre que se olhar para frente eu vou viver até os 80 ou até os 90 de acordo com estas estatísticas e tudo irá correr mais ou menos bem. SUSANA ALMEIDA 00:25:57 Se eu tiver os meus sapatos feitos e tiver alguns cuidados. Porém, não é bem assim, né? É o que é. O que é fantástico é a gente perceber que a maior parte das pessoas, depois de um processo de adaptação, é duro. Às vezes demora umas semanas, encontra um caminho e um caminho que lhes faz sentido. Um caminho muito difícil de encontrar, mas que é profundamente rico em significado. Ou seja, eu sei quem são as minhas pessoas? Não sei quem são os meus amigos e eu sei que amo quem eu quero passar tempo. Eu sei o que é que gostaria de fazer ao meu tempo. E não é de uma forma supérflua ou bacoca do género vou deixar de trabalhar para gozar a vida. Não é nada disso. Às vezes as coisas que me deixam sempre com vontade de rir e de uma forma genuína é que o tempo não é um dado adquirido. A qualidade de vida não é um dado adquirido à sobrevivência nem nada adquirido. Portanto, tenho que fazer o melhor que posso com o que tenho. SUSANA ALMEIDA 00:26:49 E isso nós vemos. JORGE CORREIA 00:26:50 É uma espécie de restauro que vem das cicatrizes onde fundamos a nossa forma de ser e de estar, precisamente. SUSANA ALMEIDA 00:26:57 Até tecnicamente, entre pessoas que trabalham na oncologia. Nós chamamos a isto um crescimento pós traumático e é magnífico de ver. Nós acompanhamos a pessoa, faz o caminho, fazemos umas dicas e refletimos com ela o que possa ser. Mas é engraçado pessoas com muito poucas opções, com aquilo que chamaríamos comumente um caminho curto Conseguem vivê lo com uma plenitude e uma verdade em paz. JORGE CORREIA 00:27:26 Muitas vezes falamos agora da questão da imortalidade, da finitude. Como é que. Como é que presumo que a conversa do fim esteja sempre inerente quando não estamos a falar de doenças tão importantes e relevantes como como esta? Como é que? Como é que se lida com isto? Como é que se lida com esta ideia do fim da morte? SUSANA ALMEIDA 00:27:51 Olha, é um bocado como a ideia da sexualidade. Há coisas que de que a gente não fala, exceto se nos perguntarem ou se nós nos sentimos mesmo muita necessidade de falar. SUSANA ALMEIDA 00:28:00 É quase como se fosse um reduto de privacidade, com uma uma sentença de quase que é feio. Porque é que eu ia falar da morte com alguém que está a tentar tratar me? Ou porque é que eu havia de trazer a morte à baila quando a pessoa está a tentar fazer o seu melhor para me curar um bocadinho. O psiquismo do doente que chega a um instituto oncológico para tentar curar se, acha muitas vezes que o médico está demasiado ocupado com os tratamentos para ser possível colocar a questão sobre. E agora? Como vai acontecer quando? No fundo, a pergunta subjacente é eu vivo? Eu sobrevivo? E muitas vezes as pessoas não conseguem fazer a pergunta. O que nós tentamos é que esse assunto possa ser conversado cedo. Se nós vemos que as coisas estão a descarrilar, é muito importante que esse assunto possa ser discutido e discutido num sentido construtivo, para que a pessoa depois não seja apanhada numa situação de não poder tomar decisões ou não ter tempo para tomar decisões, porque achava que o horizonte era mais largo do que na verdade era. SUSANA ALMEIDA 00:29:06 Eu tenho muito a ver com a deficiência, com a justiça e eu preciso de tempo para fazer algumas coisas que o doente partilha connosco, que são muito importantes. Portanto, eu tenho. Não vou dizer que o horizonte é tanto tempo ou é realmente um horizonte sem esperança? Isso não é? Não é assim que se faz. Mas falar da morte. JORGE CORREIA 00:29:24 E depende muito das culturas, porque falamos a um bocadinho das consultas das culturas mais anglo saxónicas, onde vemos as coisas serem discutidas com mais crueza. Se calhar é na nossa cultura, mais com base nos influenciados, naquilo que nós percebemos que podemos perguntar ou aquilo que não perguntamos bem, mas queremos saber a resposta. SUSANA ALMEIDA 00:29:45 Sim, mas é engraçado. A transcultural mente, independentemente do pragmatismo. De facto, eu, que não tenho muito quando estava lá, é que as pessoas não têm. Não rodeiam as questões e perguntam as mesmas perguntas. Numa cultura anglo saxónica, Podem vir, podem ser curtas e simples, mas podem ser uma pergunta a parte ao lado e sei lá. SUSANA ALMEIDA 00:30:06 Imagine quantos tratamentos eu tenho daqui para a frente, se eles são todos os meses, quantos tratamentos é expectável que eu faço e as pessoas estão a fazer juízos que têm, Portanto, muitas vezes a pergunta é no fundo eu estou capoeira? É esta? Esta é a sensibilidade que nós temos que ter e perceber o que está a ser dito, para lá do que está a ser verbalizado. E muitas vezes, aquilo que a pessoa precisa é só ser pacificada, que há muito a fazer, que há um caminho a percorrer. Com o tratamento hoje em dia é muito mais eficaz do que o que foi que vamos apostar na qualidade de vida, proporcionar e estar atentos àquilo que, para ela ou para ele é importante? Conseguir conciliar, por exemplo, as pessoas valorizam muito uma coisa extraordinária, que é o controlo. Eu hoje estive aqui, amanhã tenho consulta maravilhosa que me dizia Doutor, eu só preciso de me organizar. Eu sou muito metódico. Eu só preciso me organizar. Quando me dizem não sei o que vai ser o seu tratamento a seguir à cirurgia, eu fico aflita e para mim é melhor saber. SUSANA ALMEIDA 00:31:03 Quimioterapia dez sessões e eu já me organizo do que ficar assim uma espécie de algo no ar. E ela tem razão. É uma mulher de 50 anos que trabalha, ativa, trabalha por conta própria. Preciso saber quanto tempo é que vai estar fora do trabalho, como é que se vai organizar, se vai precisar de mudar, se tem dinheiro para pagar as contas. Isto é a nossa vida e, portanto, dá às pessoas um bocadinho de controlo e crítico. Voltando à pergunta sobre como é que se fala sobre o fim quando a pessoa estiver preparada? Quando vemos que as coisas estão a correr mal e havendo sempre a disponibilidade da nossa parte de falar sobre coisas que são difíceis e às vezes nós só conseguimos mostrar disponibilidade de falar coisas quando são difíceis, quando mostramos esperar para falar o que quer que seja e particularmente quando valorizamos qualquer pergunta, seja ela a pergunta mais descabida. E podemos começar por dizer isso não a perguntas descabidas. É importante que me fale das suas preocupações, sejam elas quais forem. JORGE CORREIA 00:31:58 Susana, eu estou a pensar naquilo que é o seu dia a dia. JORGE CORREIA 00:32:03 Todos os dias alguém entra dentro desse consultório, seja doente, seja um colega profissional com um imenso saco cheio de dores e de angústias e de. Como é que se lida com isto? Não profissionalmente. Quando vai para casa e tem essas coisas todas lá dentro, dentro de si, dos seus ouvidos, da sua mente. Como é que se. Como é que se funciona? Como é que se sobrevive a isto? SUSANA ALMEIDA 00:32:35 Eu ainda acho, por muito que às vezes é difícil, de facto. E muitas vezes eu vejo mais coisas tristes, coisas que me deixam feliz, mas vejo muitas coisas que me deixam feliz e muitas das coisas que me deixam feliz quase que validam as que me trouxeram Triste. E o que é que é triste? E o que é que é feliz? Feliz é conseguir que alguém que esteja muito doente encontra momentos em que está tranquilo, seja junto da sua família, seja aliviado, sem ter dores, a conseguir dormir, a conseguir a casa, a conseguir comer, ir à mesa, ir à mesa. SUSANA ALMEIDA 00:33:03 No Natal. Às vezes nós damos de barato coisas que as pessoas valorizam tanto. Fazer uma videochamada, alguém que não está habituado ou familiarizado com mídia a fazer uma vida chamada conflito, que está a estudar longe Todas essas pequenas coisas nós estamos de fato, nós aqui parecem coisas triviais, mas a nós damos muita satisfação, pois facilitá las é o grande sentir, minorar a angústia, minorar a ansiedade, possibilitar que a pessoa se sinta menos depressiva. Tudo isso é muito importante e dá nos uma enorme sensação de prazer. E o que é engraçado é que é. Acho que isto ajuda a perceber. Os doentes graves valorizam imenso estes pequenos acrescentos. São têm uma forma de de nos devolver essas melhorias que é quase. Eu costumo dizer que é quase um egoísmo altruísta da parte do médico. Eu sinto me feliz também e nesse sentido, e ao vê los bem, fazem faz me faz com que eu me sinta bem e portanto, eu de facto levo muito daqui. Agora, quando eu perco um doente, quando os dentes morrem, quando a gente os acompanha até o fim ou quando a gente sente que as coisas estão a agravar ou estão a perder muita qualidade de vida, custa horrores. SUSANA ALMEIDA 00:34:18 Não há dúvida que custa horrores. Custa muito E nós temos várias coisas que nos ajudam. Falamos entre nós, temos uma equipa muito coesa e vamos falar entre nós em intervenção, se quiser, ou em supervisão com outros colegas fora de cá, em sigilo absoluto, para nos ajudarem a ver outros ângulos ou a tentar perceber o que é que poderia ser feito. Mas também é muito importante, dizem uns aos outros. Nada de especial. Anonimamente, discutimos as situações para que tenhamos uma validação de que estamos a fazer tudo o que é possível ser feito. Nós só somos uma cabeça, dois olhos. Portanto, pode haver alguma coisa que nos esteja a escapar. É essa intervenção que é a discussão entre pares dentro desta, desta especialidade ou com outros colegas. No caso, é um bocadinho o suporte da intervenção psicoterapêutica É muitíssimo importante para recompormos aqui. Alguma intersubjetividade. Objetividade? Nunca. Mas pelo menos há uma intersubjetividade que nos ajuda a perceber se não falhou nada. Mas há outra coisa que eu acho que é crítica e é uma coisa que eu aprendo tanto, tento aprender, aprendo. SUSANA ALMEIDA 00:35:25 Já é um bocado arrogante. Tento aprender com o que vivo todos os dias na minha profissão que adoro, que é. O que é que eu tenho que fazer para viver o melhor possível a minha vida, para estar ao melhor nível, para ajudar estas pessoas? Ou seja, nós sabemos muito bem e temos a obrigação de saber muito bem o que é também a prioridade e, portanto, uma vida estável e realizada fora do trabalho, com autocuidado, com todas as medidas que nos fazem felizes, são diferentes entre pessoas, são críticas para se trabalhar bem e, portanto, eu vou para casa ansiosa por ir para casa. Adoro ir para casa, adoro. É parte das pessoas que gosto muito e fazer as coisas que gosto como exercício físico com eles, caminhar na natureza, fazer o que gosto de facto. Mas isso é também uma responsabilidade. Eu tenho que o fazer para poder cuidar bem dos meus doentes e eu não posso levar os meus doentes para apenas com os que gosto. Às vezes levo aquilo para a faculdade e eu tenho duas filhas e às vezes elas, desde pequeninas, são miúdas perspicazes. SUSANA ALMEIDA 00:36:33 E olhavam me. Diziam Nem hoje estás um bocadinho triste. E eu explicava, sem grandes pormenores, que de facto estavam tristes porque tinham doente, que não estava tão bem como eu gostaria. E elas diziam sempre Andávamos sempre com palavra de consolo. É engraçado. E porque. JORGE CORREIA 00:36:50 Isso? As crianças conseguem ver nos quase como um aquário? Nós mostramos na cara aquilo que sentimos. O que me leva a perguntar Aí está a energia para para para aquele dia que foi mais difícil. Como é ter que ajudar Para uma família de uma criança que tem uma doença oncológica. SUSANA ALMEIDA 00:37:13 Olha, eu acho que é das coisas mais difíceis que a minha profissão encerra e eu tenho uma colega que é dedicada a isso cá no meu serviço. Ela é extraordinária e isto traz um peso devastador, porque é uma exigência. Nós, como seres humanos, temos muita tendência à identificação. Nós somos até isto, identificação projetiva. Nós sentimos o outro porque imaginamos. E se fosse eu a perder o meu filho, não é? E é uma situação de empatia extrema. SUSANA ALMEIDA 00:37:39 É muito difícil às vezes ultrapassar isso e, portanto, implica que a pessoa consiga estar bem e com a distância certa para manter os limites dessa própria relação. Aliás, nesses momentos da relação são muito importantes para que não seja uma relação de simpatia e passa a ser uma relação terapêutica que é só da empatia, é só empatia. É muito bom porque quando nós passamos para lá da simpatia, nós estamos com os amigos, choramos com eles e nós não podemos chorar com os doentes sem sentir que nós aguentamos a dor deles e estamos lá para suportar e para cometer. Porque no fundo, nós aguentamos e estamos lá disponíveis. É sinal que há esperança, há um caminho. Não é um apoio, mas é um trabalho complicado. A grande, grande maioria das crianças, felizmente, passa por isto e sobrevive. Mas não há. Não há maioria que não nos traga mágoa dos que não passam pela sobrevivência. Portanto, é um trabalho muito difícil e eu admiro extraordinariamente os meus colegas da pediatria oncológica e os meus colegas dentro do serviço que se dedicam a estas situações. SUSANA ALMEIDA 00:38:44 E eu não me dedico particularmente. Mas pode acontecer. JORGE CORREIA 00:38:48 O que é que uma psiquiatra faz ou usa para sobreviver quando se sente que se está a ir abaixo? SUSANA ALMEIDA 00:38:57 Excelente pergunta. E nós, ainda por cima temos a responsabilidade de olhar também para os nossos pais. Nós aqui no serviço temos uma consulta de psiquiatria na Suíça ocupacional que realizam, em que tentamos ajudar os nossos colegas que estejam mais em risco de sobrecarga profissional de adoecer, como até que já disseram também ajudá los nisso. Primeiro temos estar atentos. É muito fácil chegar à Linha Vermelha. Nós, quando damos por ela, já passamos à laranja. Isso acontece porque? Porque há um sobre envolvimento com as outras coisas e há uma característica pessoal que nos vulnerabiliza para o Arnault, que é o excesso de motivação. JORGE CORREIA 00:39:39 Os profissionais não não cuidam muito de si próprios. SUSANA ALMEIDA 00:39:42 Os profissionais às vezes não cuidam muito de si próprios, particularmente quando são tão motivados que estão sempre disponíveis. Nós até dizemos que são as pessoas mais altas, motivadas e com um nível de tolerância e disponibilidade emocional muito alto, que são mais vulneráveis e as pessoas que são mais frias e que se afastam mais deste tipo de interações normalmente não são as que são chamadas para substituir alguém ou que estão disponíveis para ir falar com a família e, portanto, as pessoas que já trabalham muito e trabalham bem são as pessoas normais mais disponíveis para continuar a trabalhar em excesso e, portanto, são essas que são mais predispostas a adoecer. SUSANA ALMEIDA 00:40:14 E nesse sentido, porque se preocupam se vão entrar por horas fora de horas de serviço e se vão dar mais horas e mais horas. Obviamente que há uma coisa que vai ficar sacrificada, que é o autocuidado. Vão dormir menos, vão fazer menos exercício, vão estar menos tempo com a família e você ter remorsos e vão sentir culpabilidade. E a partir daqui instala se uma espécie de campo minado, não é? Se eu não tenho, se eu não estou bem em casa porque chego tarde e a minha família recrimina, eu vou chegar triste ao trabalho e vou sentir me revoltada com o trabalho que está a estragar a minha vida pessoal. E quando se dá por ela, todas, todas as áreas estão infestadas de maus sentimentos. E a gente sente porque é que eu ia tentar medicina se a medicina me está a fazer isto a mim? E acontece o grau, o último do Arnaldo, que é a despersonalização. Eu, que tanto quis ser médico e que foi um médico tão bom. Mas sentir empatia e deixo de gostar da minha profissão que me deixa de trazer, já não traz realização pessoal e é tristíssimo. SUSANA ALMEIDA 00:41:10 Portanto, como é que a gente se cuida? Como é que a gente se, se, se olha? Primeiro, a principal garantia como profissional no campo, Arnaldo, tem que ser institucional. A instituição tem que olhar para os profissionais, tem que lhes garantir condições para trabalharem dentro do limite. Porque se a própria instituição quebra o limite e pede mais e mais e mais, se não protege os tempos, os turnos, o excesso de horas. Obviamente, por muito que eu tenha cuidado comigo próprio, estou sempre em risco. E depois há uma característica também institucional que que tem a ver com o desentendimento com a organização superior. Se eu, como profissional, estou em desacordo com as minhas chefias ou até se tenho um conflito ético com o meu líder imediato, porque eu vejo as coisas a serem feitas de uma forma com a qual não me identifico. Muitas vezes há um fator de risco também para para esse mesmo burnout e nós não podemos. Deixar de desatender aquilo que é uma obrigação nossa entre pares, como foi a intervenção de falarmos entre nós de doentes dentro do anonimato e do sigilo? Também é muito importante se ouvir um colega que antes era muito entusiasta, prestável e amável, ficar triste, baço e até arisco, irritável. SUSANA ALMEIDA 00:42:34 Uma pessoa que já não fala comigo ao telefone. Sou um doente com o mesmo gosto que sempre falou e eu tenho a obrigação de perguntar então o que se passa contigo? Tu estás bem? Precisa de alguma coisa? Eu não posso passar pelas pessoas sem verificar ou tentar perceber se há alguma coisa que eu possa fazer. Afinal, nós também somos profissionais e, nesse sentido, os médicos têm uma obrigação de autor. Eu não diria. Nós não podemos estar a ser médicos uns dos outros, mas temos que estar pelo menos atentos. Acho que é um dever. JORGE CORREIA 00:43:06 Tem que haver uma espécie de missões de resgate de vez em quando, quando nós vemos que o outro se está a afundar. SUSANA ALMEIDA 00:43:11 É o mínimo E o ideal é antes de ele se afundar. E quando percebemos que alguma coisa está a mudar e não é uma coisa tuga de cusquice, ataque de sapateiro não é nada disso. A psicologia não tem de enfrentar alguma coisa que se possa fazer. Alguma coisa. Só isto. Não te vejo cansado. Estás triste? O que é que se passa contigo? Há qualquer coisa que tem que ser feita em privado, mas na mesa da cantina tem que ser no recato da privacidade. SUSANA ALMEIDA 00:43:42 Não podemos aparecer no gabinete e perguntar entre dentes está tudo bem contigo ou no fim das consultas ou ligar ao fim do dia. Mas é importante. É mesmo importante possibilitar a pessoa reflectir que talvez não esteja bem, porque o próprio às vezes uma nota de tamanho. JORGE CORREIA 00:43:58 Quando eu olho para os médicos, vejo os como uma profissão que dificilmente tolera a ideia de falhar, de que algo que eu não consegui salvar esta doente, resgatar este, este, este doente. Como é que é a conversa entre médicos nesses nesses momentos em que em que não foi possível? SUSANA ALMEIDA 00:44:22 Eu acho que é muito triste. E todos nós precisamos de suporte nesses momentos. Há colegas que não falam. A gente só vê que eles estão transtornados. Mas eles precisam do seu tempo e do seu espaço para poder processar a coisa. É engraçado. Nós a cada vez mais falamos do luto dos profissionais. Nós temos que identificar que custa e é possível. E é desejável até haver uma expressão emocional depois de um acontecimento destes. É um bocado como na perda de alguém que a gente gosta muito. SUSANA ALMEIDA 00:44:55 Nós vamos sempre fazer uma espécie de autópsia emocional. O que é que eu devia ter feito? O que é que eu podia ter feito mais? O que é que eu não fiz? E se nós fazemos isso com o ente querido que está na nossa casa, ou que passou por nossa pela nossa vida, então, quando temos a responsabilidade de cuidar dessa pessoa, isso ainda se torna mais avassalador. E depois há características de cada um, não é? Há pessoas que são mais obsessivas e muito perfeccionistas e levam isso de uma forma pessoal. Há pessoas que, se calhar, às vezes a experiência ajuda a perceber que, apesar de tudo o que pudessem ter feito, havia coisas que não dependiam de si e que estariam, se calhar muito mais na dependência da natureza, do problema e das circunstâncias da pessoa para correrem menos bem. Mas é importante. Seria crítico que as pessoas pudessem também, num sítio seguro e num ambiente seguro, normalmente entre pares, poder falar disso, nem que fosse dentro da equipa, brevemente sinalizar. SUSANA ALMEIDA 00:45:46 Engraçado, nós temos uma estrutura que é uma espécie de uma terapia chamada Grupos de Balint, que são grupos de suporte para profissionais. em que as pessoas podem exatamente falar ao abrigo do sigilo como líder, que é o nome de um psicoterapeuta sobre as coisas que sentiram como difíceis na profissão. E esses comportamentos são particularmente úteis nessa reflexão. Por exemplo, às vezes não é só perder em uma coisa que correu menos bem uma amputação que nós nunca esperaríamos que sucedesse termos transferiram dentro para cuidados paliativos. JORGE CORREIA 00:46:24 Eu quero resgatar esta conversa. E tu é a esperança da esperança como? Como motor de de conseguir coisas que se calhar nem a ciência consegue explicar assim logo à primeira vez. SUSANA ALMEIDA 00:46:37 A esperança é 1A1 força motriz épica. Aliás, a esperança não se pode mesmo castrar a esperança. Cada um sabe o que tem e eu vejo pessoas com esperança nas últimos no último mês de vida e a esperança é só de passarem esse mês. Bem, quem sou eu para dizer que essa pessoa. As vezes a semântica e o léxico é devastador e a gente nem tem noção do que diz. SUSANA ALMEIDA 00:47:04 Imagine dizer a um colega que está a tratar um paciente com tratamento quimioterapia, mas que por acaso é paliativo no sentido em que não pode tratar a doença até ao fim, mas está a tentar conter a doença. Quando se diz olhe, vamos ter de parar com esta linha de tratamento porque não há mais nada a fazer. Wow, isso é muito doente. Eu vou morrer, mas não é isso que ele está a dizer. O problema é que a semântica ou a escolha de palavras não foi feliz. E às vezes o que se pode tentar dizer não é uma lavagem às palavras, pondo lhes perfume e alfazema e dizer o que é verdade. Esta este tipo de tratamento está a trazer mais prejuízo que benefício. Felizmente há outros tratamentos que podem trazer muito mais qualidade de vida e essa qualidade de vida vai lhe permitir estar em casa, estar. JORGE CORREIA 00:47:47 No papel do outro, ter essa empatia, tentar perceber o que é que cada palavra pode ter como impacto naquela pessoa que ali está connosco. SUSANA ALMEIDA 00:47:56 Exactamente. As palavras pesam muito mais às vezes do que gestos. SUSANA ALMEIDA 00:48:01 E quando nós notamos que andamos doentes, nós também estamos muito atentos. Não são só os psiquiatras estão muito atentos àquilo que está a ser dito. O doente está profundamente atento à comunicação do médico. E às vezes os doentes dizem A doutora Alice vai correr bem. Mas ao olhar para baixo, olha para o computador. A voz falhou lhe. Portanto, não foi isso que eu ouvi. E, portanto. JORGE CORREIA 00:48:23 Uma coisa é o que diz a linguagem verbal, outra coisa é aquilo que diz a linguagem não verbal. Não posso deixar de perguntar os médicos são bons a contar más notícias? Eu acho que a maioria das pessoas, a maioria de nós, somos péssimos a contar más notícias más. Mas os médicos têm essa, têm essa obrigação, Treinam, isso. SUSANA ALMEIDA 00:48:43 Sim. Por exemplo, na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que é de onde eu venho, existe mesmo uma disciplina que se se caracteriza por treinar no pré graduado os estudantes de medicina, mas há muitas formações pós graduadas e até profissionais. Nós fazemos aqui no IPO, que prepara os profissionais para esses momentos. SUSANA ALMEIDA 00:49:03 Há protocolos quase tão protocolado como alguns procedimentos cirúrgicos e pode ser feito. E quanto mais difícil para a pessoa, quanto mais o profissional sente que tem dificuldade nesse gesto ou até responder às emoções do doente, mas deve treinar. São competências de comunicação que devem ser exercitadas até que a pessoa se sinta confortável na sua, na sua práxis. É sempre difícil e nunca podemos transformar uma má notícia numa boa notícia ou uma boa notícia. Afinal, só vai precisar de se fazer tirar a mama em vez de fazer quimioterapia. Onde é que isto é uma boa notícia? Percebe? Na nossa ideia, às vezes até parece que é preciso fazer a cirurgia. Não precisa de fazer quimioterapia, mas a pessoa Salvio, precisa tirar a mama. Portanto. não podemos ir ao ponto de tornar uma coisa que é mais uma coisa que pode ser menos má. Mas podemos falar com com verdade, de forma adequada, particularmente adequada ao contexto. A literacia e a cultura da pessoa que está à nossa frente foram pausadamente, permitindo fazer perguntas, tentando sempre reiterar que estamos a ser claros. SUSANA ALMEIDA 00:50:12 Eu estou a ser claro. Isto é difícil de explicar. O ónus em meu coração é a pessoa tentar perceber. A senhora percebe o que eu estou a dizer? Não, eu não tenho perceber e vai ter que me fazer entender. Eu é que sou profissional e dar tempo para a informação. Pequenos passos permitem que a pessoa reflita à medida que está a ouvir, que se exprima emocionalmente, à medida que está a ouvir. Se nós fizermos isto assim, a pessoa se sai melhor do que o que a gente imaginaria. Se nós estamos treinados? Às vezes nós até nos esquecemos de ter a certeza que a pessoa não vem sozinha para um momento desses. Imagine alguém que trabalha aqui nesse hospital e que tem que ir para o Brasil ensaiar. Eu não posso dar uma má notícia para ele se for muito mal e depois deixar a pessoa ir embora às 19h00 para casa, para Bragança Aguiar. Ainda por cima se a senhora tiver 77 anos. Ou seja, há algumas coisas de cuidado, de preparação desse momento que nós temos que aprender a salvaguardar e preparar. SUSANA ALMEIDA 00:51:10 E se quiser, Jorge, o maior obstáculo é a falta de tempo que nos dedicam para fazer isso. Acho que nós, médicos, precisávamos de mais tempo de consulta para fazer isso com a dignidade que o gesto merece. JORGE CORREIA 00:51:20 No meio de tanta esperança, de tanta dor, de tanta dificuldade e de tanta superação. Podemos definir o que é que seria para si, Susana um dia rechonchuda? Mente bom. SUSANA ALMEIDA 00:51:33 Mas parte dos dias são bons e isso é mensagem. Falamos em esperança em levantar isto. Eu diria que a maior parte dos meus dias são muito bons e às vezes eu paro a minha consulta e antecipo que possa ter uma primeira consulta até muito difícil e fico surpreendida como as pessoas vivem de facto a adversidade. Apesar das minhas expectativas, elas vivem com segurança, tranquilidade e nem precisam de mim. Podem para a vida delas sem um psiquiatra e muito -1 receita. Portanto, eu acho que um dia rechonchudo de coisas boas e um dia em que eu senti que vi pessoas que pude ajudar, eventualmente algumas diagnosticar e tratar, medicar. SUSANA ALMEIDA 00:52:09 Eventualmente garantimos que as vou seguir e que as vou acompanhar. Muitas vezes lá está a doentes a quem eu não precisei de ajudar porque eles encontraram a sua forma de sair e às vezes só a oportunidade de reavaliar pessoas e perceber que muito mais depressa do que o que seria expectável, eles encontraram um caminho que as faz felizes. E é ter o privilégio de ouvir isso, ouvir as entrelinhas, ouvir as coisas que às vezes não são passíveis de ser contadas ou partilhadas noutras consultas, que estão mais sobrecarregadas em termos de Técnicos ou ou exigências de perícias. E eu penso que neste sítio há um sítio seguro para que as pessoas possam de facto partilhar aquilo que elas são e a vida que têm. E isso enche me o coração. JORGE CORREIA 00:52:55 A luta contra as grandes adversidades recolhe forças nos dias bons, nos dias que passaram, nos dias que hão de vir. A alegria de um momento robusto de afetos funciona sempre como uma bateria e a esperança do melhor no futuro, como um dínamo de energia. Vale sempre ouvir, vale sempre falar. JORGE CORREIA 00:53:12 Vale sempre ser humano na mais universal das suas definições. Até para a semana. https://vimeo.com/1035577752/7246e2ad21?share=copy…
A maneira como narramos as histórias conta. Como contamos o que vemos. Como ignoramos o que não queremos ver. Neste episódio vamos ao bairro. Ao bairro que insistimos em não ver. O bairro são muitos bairros. Mas todos, sem exceção, são chamados periféricos ou de intervenção social. Um lugar onde tudo é difícil. Da vida até às histórias que se contam dele. O bairro veio ao Pergunta Simples. E simples é tudo o que o bairro não é. António Brito Guterres é um alquimista dos estudos urbanos. Da formação em assistência social ao trabalho diário nos bairros onde é mais difícil viver. Ele assume-se como um narrador das vidas que por lá se vivem. Ou sobrevivem. No seu trabalho, ele escuta as comunidades, observa os seus gestos, compreende as suas dores e, mediante narrativas genuínas, auxilia-as a ressignificar as suas realidades. É alguém que acredita que toda a história merece ser contada — principalmente aquelas que ainda não saltaram os “muros” das periferias e que, por isso, permanecem invisíveis para grande parte da sociedade. Como urbanista e investigador, António tem estado na linha da frente da reflexão sobre como as cidades são desenhadas, quem nelas vive e como podemos construir espaços mais justos e inclusivos. Ele trabalha nos “pontos de dor”, como ele próprio descreve, onde as contradições do nosso sistema ficam expostas: bairros marginalizados, escolas com altas taxas de retenção, espaços urbanos negligenciados e vidas empurradas para o silêncio. Durante a conversa, exploramos como as desigualdades estruturais perpetuadas pelo urbanismo, pelas políticas públicas e pela comunicação. Falámos muito sobre Importância das Narrativas: Como as histórias das periferias são frequentemente limitadas a narrativas de crime ou tragédia nos ‘media’ tradicionais, ou nas redes sociais. As mesmas redes socais que abrem caminhos para exemplos de resistência narrativa, como movimentos culturais que emergem desses bairros, desafiando preconceitos e estigmas. Músicos que nem sabíamos existirem até terem milhões de ouvintes, poetas escondidos que fazem as letras para a cantiga de protesto, artistas plásticos que mais depressa ganham um prémio internacional do que aparecem na televisão portuguesa. Quão surdos estamos para não querer ouvir estas vozes? Quão alto é o muro criado pelo urbanismo do betão feio? Do Urbanismo como ferramenta de exclusão ou emancipação: Falámos da forma como a arquitetura pode ser usada para segregar comunidades e criar “gaiolas” em vez de trampolins sociais. Da forma como a educação pode ajudar ou deixar que se repita o ciclo da Pobreza: Mas não desistimos por aqui. Porque navegamos na cultura como Forma de resistência: A ascensão de artistas periféricos, como rappers e criadores culturais, que usam a arte para reescrever as narrativas dos seus territórios. Proponho que viajemos aos bairros. Ouvir. Simplesmente, ouvir. Há uma história que precisa de ser recontada. LER A TRANSCRIÇÃO DO EPISÓDIO 00:00:12:24 - 00:00:44:07 JORGE CORREIA Uma dádiva. Um Bem vindos ao. Pergunta simples O vosso pecado sobre a comunicação. A maneira como narramos as histórias conta como contamos o que vemos, como ignoramos o que não queremos ver. Neste episódio vamos ao bairro, ao bairro que insistimos em não ver o bairro. São muitos bairros, mas todos, sem exceção, são chamados de periféricos ou de intervenção social, num lugar onde tudo é mais difícil da vida e das histórias que se contam dele. 00:00:44:13 - 00:01:01:00 JORGE CORREIA Do bairro veio a pergunta simples e simples é tudo aquilo que o bairro não é? 00:01:01:02 - 00:01:30:16 JORGE CORREIA António Guterres é um alquimista dos estudos urbanos, da formação em essência social, ao trabalho diário nos bairros onde é mais difícil viver e assume se como um narrador das vidas que por lá se vivem ou sobrevivem. No seu trabalho, ele escuta as comunidades, observa os seus gestos,…
Dizem que há três linguagens universais: a música, a matemática e o desporto. No desporto, o futebol destaca-se como a língua franca mais consensual. É um idioma que todos parecemos entender, independentemente da idade, do género ou da geografia. São 11 jogadores contra outros 11. Um campo, uma bola, e tudo o que fazem parece ser compreendido por todas as pessoas. De José Mourinho ao adepto mais comum na bancada ou em casa. Todos sabemos quando era penálti. Todos vemos a genialidade de um passe ou sentimos que o falhanço podia ter sido o nosso, mesmo que só joguemos no sofá. Mas o futebol é um paradoxo de comunicação: da simplicidade absoluta de “marcar um golo” à complexidade tática de uma equipa que joga rápido, bem e em harmonia. O futebol também é emoção. Hoje, o treinador é o melhor do mundo. Amanhã, devia ser despedido sem pestanejar. E tudo depende de uma coisa tão simples como a bola entrar ou não entrar. Mas será que o futebol é só isso? Emoções e golos? Para entendermos melhor a linguagem deste jogo universal, convidei uma das melhores treinadoras portuguesas de futebol: Helena Costa. Atualmente, Helena aparece nos grandes estádios da Europa, explicando-nos os jogos como poucos conseguem — de forma simples, acessível e direta, que até eu consigo entender. Helena Costa tem no currículo momentos extraordinários. Participou na formação de talentos de elite, como Bernardo Silva, quando treinava nas escolinhas do Benfica. Aceitou o desafio de ir ao Qatar para criar, do zero, uma seleção nacional feminina. E foi até ao Irão, um país onde a cultura e a condição feminina levantam barreiras que poucos ousam enfrentar. Esta conversa é sobre a comunicação no desporto de alta competição. Mas também é sobre talento, liderança e a melhoria constante do desempenho. A nossa convidada não é apenas treinadora e comentadora desportiva. Ela é também scout, ou seja, 'olheira' de talentos. Helena tem o olhar treinado para identificar o que separa um bom jovem jogador de alguém que, um dia, vestirá a camisola da seleção nacional. E spoiler: não é só a técnica que conta. É também a rapidez de pensamento, a leitura tática e a capacidade de ver o jogo como um todo — a sua equipa, o adversário e o momento certo para agir. No entanto, mesmo os craques, ou talvez especialmente eles, nem sempre lidam bem com as críticas dos treinadores. Porque, no futebol, o talento só é suficiente quando é acompanhado de resiliência, disciplina e a vontade de melhorar. E é aqui que entra a comunicação. É através dela que treinadores e jogadores se afinam, que talentos se desenvolvem e que equipas se tornam campeãs. Esta pode parecer uma conversa sobre futebol, mas é muito mais do que isso. É sobre liderança, sobre ultrapassar limites e, acima de tudo, sobre a condição humana. TEMPOS E TEMAS [00:00] Introdução ao PodcastTítulo: Boas-vindas e Introdução ao TemaResumo: O apresentador dá as boas-vindas aos ouvintes e introduz o tema do episódio, que explora a comunicação no futebol, destacando a universalidade do desporto e a complexidade da comunicação envolvida. [00:35] Apresentação da ConvidadaTítulo: Apresentação de Helena Costa Resumo: O apresentador apresenta Helena Costa, uma treinadora e comentadora desportiva de renome, mencionando a sua experiência em treinar jovens talentos e a sua atuação em diferentes países, incluindo Qatar e Irão. [01:35] Comunicação e Emoções no FutebolTítulo: A Complexidade da Comunicação no FutebolResumo: Discussão sobre como o futebol é um paradoxo de emoções e comunicação, onde a simplicidade de marcar um golo contrasta com a complexidade tática do jogo. [02:53] O Papel do Treinador e do ScoutTítulo: A Missão de Identificar TalentosResumo: Helena fala sobre a importância da comunicação na formação de jogadores e como ela visa identificar talentos que podem se destacar no futebol. [04:09] Desafios de Ser Mulher no FutebolTítulo: Desafios de Ser TreinadoraResumo: Helena discute ...…
Pedro Coelho dos Santos revela como a comunicação estratégica pode moldar percepções, inspirar ações e influenciar decisões. Descubra técnicas práticas, histórias reais e lições que transformam líderes em comunicadores eficazes. Uma conversa imperdível sobre empatia, simplicidade e impacto. Uma conversa sobre liderança e técnicas de comunicação usadas por todos os melhores e mais visionários líderes do mundo. Assim como por cá.…
Hoje falamos da mais profissional, eficaz e eficiente máquina de criação e gestão das expectativas: a política. Usando as ferramentas da comunicação, os políticos de todo o mundo criam percepções favoráveis às suas causas. São essas percepções que permitem um suporte da opinião pública para as posições e decisões que os políticos tomam no nosso nome. E essa máquina das percepções obedece a regras e estratégias muito bem definidas. Pelo menos assim era no tempo dos ‘media’ tradicionais. Agora há um novo mapa a ser desenhado: o mundo alimentado pelas redes sociais. Trocaram-se os editores e jornalistas por robôs e algoritmos. E a comunicação política repensou a sua forma de fazer o que sempre fez: influenciar o pensamento da opinião pública. Com um refrescado conceito chamado polarização. Não é novo. Mas está na moda. Do telejornal às manchetes dos jornais. Da voz na manhã da telefonia até aos programas de debate. Do contacto direto com os cidadãos até à transmissão em direto de eventos criados precisamente para serem transmitidos. E agora as redes sociais: o velhinho Facebook onde todos continuamos a estar. O Twitter agora batizado de X, por onde correm as mais disputadas e virulentas discussões políticas e sociais. Ou mesmo o Instagram e o TikTok, lançados para criar atenção pela beleza da foto-autorretrato ou da dança da moda, entretanto transformadas em máquinas de ‘marketing’ directo. Estes dois mundos são o palco do mundo moderno. E quem deseja mandar no mundo, no planeta, do país, município, aldeia ou grupo sabe que tem de usar estes canais e criar receitas que nos agradem. Este programa é sobre o cruzamento da arte da comunicação com o da política. Numa frase: a comunicação política e a política na comunicação. A convidada é Susana Salgado, investigadora deste campo do saber no Instituto das Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Exploramos como os media e as redes sociais desempenham um papel crucial na maneira como as pessoas entendem a política e tomam decisões. A conversa aborda temas como a polarização, o efeito dos algoritmos das redes sociais e o impacto dos preconceitos cognitivos, que criam uma espécie de “bolha” em que cada um de nós vive, condicionando como recebemos e interpretamos as mensagens políticas. Um dos principais pontos de reflexão neste episódio é o impacto da comunicação polarizadora. Segundo ela, a política contemporânea tende a afastar os cidadãos do debate e a empurrá-los para os extremos, limitando a capacidade de entendimento e troca de ideias. Ela explora como, muitas vezes, os temas mais sensíveis ou “incómodos” são excluídos da discussão pública, não por falta de relevância, mas por uma espécie de censura social. Isso faz com que pessoas que partilham de opiniões não convencionais sejam empurradas para a margem, onde encontram espaço em movimentos ou partidos mais radicais. Esse fenómeno é reforçado pelas redes sociais, onde o anonimato e a liberdade de expressão permitem que as pessoas exponham visões mais extremas do que fariam em interações presenciais. Nesta conversa aprendi muito sobre o conceito de criação de agendas públicas. Em particular, como criar estratégias para colocar o nosso tema na agenda e criar percepções favoráveis ao nosso ponto de vista. Criar agenda, enquadrar factos e apontar o foco de luz para o que mais no interessa. Ou criar distrações para desviar a atenção geral para o que não nos interessa discutir. Susana Salgado explica como estas estratégias ajudam a moldar as perceções dos cidadãos, enfatizando certos temas e desviando a atenção de outros. Estes mecanismos são, segundo ela, particularmente eficazes para criar uma “máquina de perceções” onde o que ganha é visibilidade mediática, interpretada como sendo mais relevante, muitas vezes à custa de temas de interesse real para a população. Real ou percebido como real?…
Hoje vamos dançar. A forma mais natural em que acertamos o nosso movimento ao ritmo dos sons ou até dos pensamentos. Sim, hoje acertamos os passo na arte humana da dança. Dos mais talentosos dos bailarinos ao mais descoordenado dos seres. Eu pecador de confesso. E por isso convidei o actor, coreógrafo e bailarino Bruno Rodrigues para me ensinar sobre o movimento do corpo. Sou o mais descoordenado dos seres a habitar sobre a terra. Poderia dizer que tenho dois pés esquerdos, o que até poderia ser elogioso porque até se dá o caso de eu ser canhoto. Por isso simplifico: não tenho jeitinho nenhum para dançar. O que me angustia porque o meu sentido de ritmo é bom. Acho eu. Sinto que sim. Ritmo dentro da minha cabeça. Depois os braços e as pernas é que não acompanham. Parecem ter vida própria, lançando no espaço pernas e braços num louco, levemente assustador e definitivamente esquisito movimento. E um dia conheci o Bruno. Num evento experimental sobre o movimento. E aprendi que todos temos uma espécie de biblioteca de movimentos. E nessa biblioteca estão os livros de instruções para nos mexermos. É só ler esses livros. Embora muitos de nós nem sequer nos atrevemos a pegar neles. Nos livros. Nas ancas, rótulas, ombros ou pescoço. Volto ao movimento. Basta respirar, diz ele, o Bruno, e o movimento aparece naturalmente. Esta conversa é sobre isso. Sobre o movimento. Sobre a maneira como dançamos. Na conversa saberemos como alguém descobre que a sua vocação, como experimenta e aprende sobre a arte da dança. Hoje é coreógrafo, actor e formador na área do movimento. Naturalmente falámos da maneira como o nosso corpo fala, como comunica. E de como a dança pode ser uma ferramenta social de inclusão e partilha. Aprendi que todos podemos dançar. E sabemos dançar. À nossa maneira, mas é uma maneira tão certa como qualquer outra. Saia lá daí, da frente do espelho. E liberte-se. Claro que depois há o bailado, como expressão plástica maior. A expressão do belo e do sublime. Afinal o uso do corpo para nos fazer sentir as emoções. O corpo como espelho da alma. O movimento e a dança como uma forma universal de nos entontarmos mutuamente. De olhos nos olhos. De mão na mão. Num compasso certo dos pés que seguem num movimento síncrono. Isto nas danças a dois. Mas também valem os grupos que dançam num concerto. Ou até aquele que dança sozinho na praia, sem música, apenas ao ritmo dos pensamentos. E tudo se move. E tudo dança. Até os planetas à volta do sol. Ou o sentir. Ao ritmo dos batimentos do coração. O ritmo primordial da dança da vida. Da Química à Dança: O Início da Jornada Inicialmente estudante de Engenharia Química, Bruno descobriu a dança por acaso, quando uma colega o convidou a experimentar uma aula. Essa experiência revelou-lhe um novo caminho, onde se sentiu verdadeiramente “em casa”. O que começou como uma simples curiosidade tornou-se rapidamente a sua paixão e carreira. No episódio, ele descreve o momento inicial, numa sexta-feira de outubro, que marcou o encontro com a dança. A sensação de “pertença” era tão intensa que ele a lembra com detalhes, incluindo as cores, os cheiros e a música daquela primeira aula. A Dança Como Forma de Comunicação e Intervenção Bruno vê a dança como uma linguagem universal, acessível a todos e não apenas a quem se dedica profissionalmente a esta arte. Para ele, todos dançam a partir do momento em que respiram, pois a base do movimento é a respiração. Ele explora a ideia de que a dança está presente nos pequenos gestos do dia a dia e que cada movimento entre duas poses ou “fotografias” forma uma coreografia única. O Movimento do Corpo e a Relação com a Identidade A entrevista toca em questões profundas sobre como o movimento expressa a relação de cada um consigo mesmo. Bruno reflete sobre a relação entre corpo e identidade, afirmando que a maneira como nos movemos espelha a nossa auto p...…
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